Categoria: Política
A presença de manifestantes à frente dos quartéis e as dúvidas que alguns setores mais radicais tentam levantar sobre a posse de Lula ajudam na aprovação da Proposta de Emenda à Constituição da Transição, ou fura-teto. A ideia de muitos congressistas — e que começa a se cristalizar nos partidos de centro — é passar uma mensagem de tranquilidade ao país e de apoio ao presidente eleito, fortalecendo a posição em defesa da democracia. Assim, dizem alguns, será possível arrefecer movimentos favoráveis à ruptura institucional.
Os partidos de centro veem essa necessidade de aprovação da PEC para conter o golpismo. Porém, isso não significa aprovar o texto da PEC do jeito que está. A aposta hoje é de que Lula conseguirá um prazo de dois anos de valores fora do teto. Será o tempo para o governo definir uma nova âncora fiscal. Resta definir os valores, para os quais ainda não há um consenso (leia notas ao lado).
Mercadante ministro
Lula está a cada dia mais convencido de que o ex-deputado, ex-senador e ex-ministro Aloizio Mercadante é o nome para a articulação interna do governo. Falta definir se esse trabalho será feito pela Casa Civil. Se essa for a ideia, é lá que Mercadante estará.
Malandro é malandro…
Integrantes da equipe de transição têm dito aos parlamentares que, quanto mais programas sociais fora do teto de gastos, mais sobrarão recursos para as emendas. A ideia é ver se, assim, a turma se convence da necessidade de aprovar o texto tal como
foi apresentado, sem
redução de valores.
… E mané é mané
Só tem um probleminha: o caixa é o mesmo, ou seja, ficar dentro ou fora do teto pode até facilitar a vida do governo, no sentido de evitar “pedaladas” como a da ex-presidente Dilma Rousseff. Mas isso não aumentará o volume de dinheiro no cofre.
Acalma aí, PT
Nos próximos dias, além de negociar a PEC, Lula aproveitará para dizer aos petistas que é hora de segurar o apetite. Mais à frente, quem sabe, haja mais espaço
para o partido.
Olho nele/ O prefeito de Santo André, Paulo Serra, é apontado no PSDB como alguém em franca ascensão no partido, com a chegada do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (foto), ao comando tucano.
Comprou “na planta”/ Paulo Serra ficou ao lado de Eduardo Leite contra o então governador João Doria na disputa da prévia para escolha do candidato do PSDB à Presidência da República. Agora, com Doria fora do partido, ganhará mais espaço na cúpula partidária. Igual a um apartamento que se compra antes da construção, e o imóvel valoriza.
Objetivo/ A missão de Leite no comando do PSDB será no sentido de tentar recuperar os votos que perderam para Jair Bolsonaro, por causa de Lula, e aqueles que perderam para Lula, por causa
de Jair Bolsonaro.
Copa & política/ Com o Brasil passando para as quartas de final, depois de vencer a Coreia por 4 X 1, a intenção de Lula é deixar qualquer anúncio da futura equipe para depois do jogo contra a Croácia. Quem tem tempo, não tem pressa. A prioridade neste momento é o hexa.
Bora, Brasiiiiilllll!!!!
José Múcio sugeriu ‘tratamento vip’ a militares na transição
Denise Rothenburg | Brasília-DF
Partiu do ex-presidente do Tribunal de Contas da União (TCU) José Múcio Monteiro, cotado para assumir o Ministério da Defesa, a ideia de deixar que os novos chefes militares façam a transição direto com os atuais ocupantes dos comandos das Forças Armadas e, talvez, com o futuro ministro da Defesa, sem precisar passar pelo Centro Cultural do Banco do Brasil. Os petistas — alguns, inclusive, que não gostaram dessa ideia — afirmam que, se Lula aceitar, é mais um sinal de que José Múcio será ministro. Lula não quer marola com a caserna e nem os militares querem saber de ruptura institucional.
Jogos políticos I
O PT e o PSB chegam juntos no apoio a Arthur Lira (PP-PL) para mais dois anos de mandato no comando da Câmara de olho na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e outros postos estratégicos. Só tem um probleminha: o PL, maior bancada da Casa, integrará o bloco de Lira e, desde já, reivindica a CCJ.
Jogos políticos II
No Senado, o PL, por enquanto, pensa em lançar um candidato à Presidência — no caso, o senador Rogério Marinho (RN). Mas os próprios integrantes do partido acreditam que é para retirar mais à frente e garantir o comando da CCJ da Casa. Afinal, diante da dificuldade de conseguir emplacar o comando do Legislativo, o PL quer usar sua bancada para conquistar nacos importantes de poder.
Tensão à frente
Um dos cargos que o PL não vai abrir mão é a relatoria do Orçamento da União de 2024, que, no ano que vem, caberá à Câmara dos Deputados. Os petistas desejam a mesma coisa. Lira terá que navegar com muita habilidade entre as pretensões do PL e do PT, para conseguir agradar todos os seus aliados.
Nem a pau, pica-pau
A PEC da Transição, ou Fura Teto, que o futuro governo chama de PEC do Bolsa Família, vai mudar. Os senadores, em sua maioria, não concordam com o valor de R$ 198 bilhões, nem tampouco com a concessão do valor extrateto por quatro anos. “Eu vou trabalhar para que o prazo seja de um ano”, avisa o líder do PSDB, senador Izalci Lucas (DF).
À la Alckmin
Lula recorre à mesma estratégia que Geraldo Alckmin sempre adotou na sua vida pública: deixa “vazar” as decisões sem anúncio oficial. Assim, quando chega a hora de oficializar, tudo já está mais “natural”. O ex-tucano agiu dessa forma, por exemplo, quando saiu do PSDB para ocupar a vice na chapa do petista. Esse estilo está em curso tanto para a indicação de José Múcio para a Defesa, quanto de Fernando Haddad para a Fazenda.
CURTIDAS
A vez delas/ Para marcar uma homenagem ao Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, comemorado em 3 de dezembro, a sessão plenária de hoje do TCU julgará processos de fiscalização de políticas públicas voltadas a esse público, que corresponde a cerca de 24% da população brasileira.
Temas não faltam/ Os processos em pauta abrangem questões como aposentadorias especiais; descumprimento pelo Banco do Brasil da lei que obriga a contratação de percentual mínimo de pessoas com deficiência; omissão de órgãos públicos e autarquias federais em relação à falta de acessibilidade — entre outros.
Merece atenção/ A sessão representa um esforço do TCU para enfatizar a necessidade de aperfeiçoamento de políticas públicas que impactam a vida desses brasileiros. Durante a sessão presencial, será disponibilizada tradução e interpretação em Libras. No plenário, estarão demarcados lugares adequados para cadeiras de rodas e para pessoas com deficiência auditiva e visual.
Ministro eu?!/ O advogado Antonio Carlos de Almeida de Castro (foto) chegou para a reunião da equipe de Justiça no CCBB soltando um “ministro, bom dia!”. Pelo menos cinco dos presentes olharam para a porta. Entre eles, o senador eleito pelo Maranhão, Flávio Dino (PSB).
PEC vem com “gordura” para garantir uma margem de negociação
A intenção do futuro governo em pedir quatro anos de duração dos programas sociais extrateto, e a inclusão de vários benefícios e não apenas do Auxílio Brasil (que voltará a se chamar Bolsa Família), é justamente para garantir uma margem de negociação à PEC da Transição ou Fura-teto. O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sabe que o Congresso, mais conservador do que em seu primeiro governo, não lhe dará tudo que deseja. Por isso, é preciso pedir o céu para obter um meio-termo. Por exemplo, dois anos de validade do novo Bolsa Família fora do teto.
Agora, começam as negociações diretas, que certamente passarão pela formação do novo governo. Até aqui, o que se ouve na equipe de transição é que Lula ainda não está seguro sobre anúncio de nomes esta semana, embora haja uma torcida interna para que ele oficialize logo alguns ministros. O presidente, porém, tem dito que esses próximos dias serão mais para ouvir do que para anunciar.
Aposta I
Desde que Fernando Haddad foi escolhido para representar o presidente Lula no almoço da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), os políticos têm certeza de que o ex-prefeito de São Paulo será o ministro da Fazenda. Só tem um probleminha: se a economia ficar “PT demais”, o governo terá problemas com o mercado e com os empresários. Haddad, porém, é um curinga e pode ir para qualquer pasta.
Aposta II
A visão dos petistas é de que Haddad pode terminar sendo bem recebido mais à frente, conforme ocorreu com Antônio Palocci, o ministro da Fazenda, em 2003. Vale lembrar que, naquele ano, Palocci foi um dos ministros que seguiu a receita da responsabilidade fiscal e de equilíbrio das contas. Agora, não dá é para terminar como Palocci — preso e delator na Lava-Jato.
Enquanto isso, na oposição…
A PEC da Transição não é um teste apenas para o futuro governo. Vale também para a futura oposição. Até aqui, Jair Bolsonaro (PL) não assumiu a liderança desse grupo e, se não o fizer, outro nome ocupará esse espaço.
… a hora é de definir o tamanho
Com Bolsonaro em silêncio e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) passeando no Catar, a avaliação de muitos é a de que o bolsonarismo tende a perder a força que obteve
nas urnas.
Valdemar na área…/ O PL de Valdemar Costa Neto tem um jantar marcado para hoje, a fim de avaliar o clima da bancada em relação à PEC da Transição ou Fura-Teto. Também vai aproveitar para explicar a um pedaço do partido que lutará até o fim na Justiça para anular a multa de R$ 22 milhões, imposta pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, por causa da ação do partido pedindo investigação das urnas.
Por que apoiar Lira já?/ O PT não quer ser o último a apoiar a reeleição do presidente da Câmara. Quer ser partícipe da vitória para não melindrar o alagoano. Arthur Lira é de cumprir todos os acordos que faz e tem uma outra característica: quando percebe que alguém lhe puxa o tapete, a vingança vem cedo ou tarde.
Detalhe/ Para retomar o nome Bolsa Família, o atual governo terá que aprovar no Plenário. E os apoiadores de Bolsonaro vão apresentar emendas para tentar manter o nome Auxílio Brasil.
Torcida/ O vice-presidente eleito Geraldo Alckmin faz das meias sua marca registrada. Depois das bolinhas, foi a vez de um par todo listrado de verde, amarelo, azul e branco, para ver o Brasil vencer a Suíça. Ele postou a foto em seu Twitter (foto). Agora, que o Brasil ganhou, a meia listrada tende a virar uniforme para o jogo das oitavas.
PP vai pular fora da ação contra as urnas: “Não fomos consultados”, diz Cajado
O presidente em exercício do Progressistas, deputado Claudio Cajado (BA), afirma que seu partido não será parte da ação do PL contra as urnas eletrônicas. “Não fomos consultados, não demos procuração. Entendemos que o processo eleitoral acabou”, disse Cajado ao blog. O PP entende que a coligação só era válida ao longo do processo eleitoral e esse processo acabou quando terminou o segundo turno. “Reconhecemos o resultado das eleições e não pretendemos contestá-lo”, afirmou.
Pelo menos, nesse quesito, investigação das urnas, o PL está sozinho, uma vez que o PP segue na mesma linha ja adotada pelo presidente do Republicanos, Marcos Pereira, que também alega não ter sido consultado sobre a ação para investigar as urnas eletrônicas. Com a saída dos dois partidos, a conta da multa de R$ 22 milhões ficará restrita aos recursos do PL. Nos bastidores, há quem diga que ou o PL esquece esse assunto das urnas e se prepara para liderar a oposição, com seus 99 deputados, ou, mesmo com a grande bancada, correrá o risco de ficar restrito a reclamações sobre o processo eleitoral, que já passou.
Ao dizer em nota que são “condenáveis tanto eventuais restrições a direitos, por parte de agentes públicos, quanto eventuais excessos cometidos em manifestações que possam restringir os direitos individuais e coletivos ou colocar em risco a segurança pública”, os comandantes militares mandam um recado aso Poderes Constituídos e ao país, em nota preparada nesta manhã (leia a íntegra abaixo). Não sobrou ninguém no chamamento à razão, como eles têm dito em conversas reservadas. O recado é para todos: Dos manifestantes que lotam a frente dos quartéis, inclusive o QG do Exército em Brasília, ao Poder Judiciário e até ao Legislativo, “Casa do Povo, destinatário natural dos anseios e pleitos da população, em nome da qual legisla e atua, sempre na busca de corrigir possíveis arbitrariedades ou descaminhos autocráticos que possam colocar em risco o bem maior de nossa sociedade, qual seja, a sua Liberdade”, diz o texto.
Em conversas reservadas, não são poucos os militares que se dizem desconfortáveis com a situação de restrição de direitos e também com as manifestações. Disciplinados e “sentados na Constituição”, como têm dito sempre em suas conversas, querem ver as soluções por parte dos Poderes. Leia a íntegra:
Às Instituições e ao Povo Brasileiro
Acerca das manifestações populares que vêm ocorrendo em inúmeros locais do País, a Marinha do Brasil, o Exército Brasileiro e a Força Aérea Brasileira reafirmam seu compromisso irrestrito e inabalável com o Povo Brasileiro, com a democracia e com a harmonia política e social do Brasil, ratificado pelos valores e pelas tradições das Forças Armadas, sempre presentes e moderadoras nos mais importantes momentos de nossa história.
A Constituição Federal estabelece os deveres e os direitos a serem observados por todos os brasileiros e que devem ser assegurados pelas Instituições, especialmente no que tange à livre manifestação do pensamento; à liberdade de reunião, pacificamente; e à liberdade de locomoção no território nacional.
Nesse aspecto, ao regulamentar disposições do texto constitucional, por meio da Lei nº 14.197, de 1º de setembro de 2021, o Parlamento Brasileiro foi bastante claro ao estabelecer que: “Não constitui crime […] a manifestação crítica aos poderes constitucionais nem a atividade jornalística ou a reivindicação de direitos e garantias constitucionais, por meio de passeatas, de reuniões, de greves, de aglomerações ou de qualquer outra forma de manifestação política com propósitos sociais”.
Assim, são condenáveis tanto eventuais restrições a direitos, por parte de agentes públicos, quanto eventuais excessos cometidos em manifestações que possam restringir os direitos individuais e coletivos ou colocar em risco a segurança pública; bem como quaisquer ações, de indivíduos ou de entidades, públicas ou privadas, que alimentem a desarmonia na sociedade.
A solução a possíveis controvérsias no seio da sociedade deve valer-se dos instrumentos legais do estado democrático de direito. Como forma essencial para o restabelecimento e a manutenção da paz social, cabe às autoridades da República, instituídas pelo Povo, o exercício do poder que “Dele” emana, a imediata atenção a todas as demandas legais e legítimas da população, bem como a estrita observância das atribuições e dos limites de suas competências, nos termos da Constituição Federal e da legislação.
Da mesma forma, reiteramos a crença na importância da independência dos Poderes, em particular do Legislativo, Casa do Povo, destinatário natural dos anseios e pleitos da população, em nome da qual legisla e atua, sempre na busca de corrigir possíveis arbitrariedades ou descaminhos autocráticos que possam colocar em risco o bem maior de nossa sociedade, qual seja, a sua Liberdade.
A construção da verdadeira Democracia pressupõe o culto à tolerância, à ordem e à paz social. As Forças Armadas permanecem vigilantes, atentas e focadas em seu papel constitucional na garantia de nossa Soberania, da Ordem e do Progresso, sempre em defesa de nosso Povo.
Assim, temos primado pela Legalidade, Legitimidade e Estabilidade, transmitindo a nossos subordinados serenidade, confiança na cadeia de comando, coesão e patriotismo. O foco continuará a ser mantido no incansável cumprimento das nobres missões de Soldados Brasileiros, tendo como pilares de nossas convicções a Fé no Brasil e em seu pacífico e admirável Povo.
Brasília/DF, 11 de novembro de 2022.
Almirante de Esquadra ALMIR GARNIER SANTOS
Comandante da Marinha
General de Exército MARCO ANTÔNIO FREIRE GOMES
Comandante do Exército
Tenente-Brigadeiro do Ar CARLOS DE ALMEIDA BAPTISTA JUNIOR
Comandante da Aeronáutica
Decisão do STF de 2021 pode dispensar PEC da Transição para Auxílio de R$ 600
Um mandado de injunção decidido em 2021 pelo ministro Gilmar Mendes manda o governo pagar uma renda mínima de cidadania a cada brasileiro dentro da linha da pobreza. Logo, avaliaram juristas em jantar na noite desta segunda-feira em Brasília, o governo já tem amparo legal para esse pagamento. Falta apenas definir o valor, o que, conforme juristas, pode ser feito por meio de crédito suplementar. Esse é o mais novo ponto colocado à mesa dentro da cesta de saídas legais para o futuro governo pagar o Auxílio Brasil de R$ 600.
O mandado de injunção 7.300 veio depois de uma série de discussões sobre o projeto de renda do ex-senador Eduardo Suplicy, aprovado em 2004 e nunca cumprido. A primeira decisão do STF tinha sido no sentido de pagar essa renda a todos os brasileiros, mas o mandato de injunção, proferido com base em uma ação da Defensoria Pública do Rio Grande do Sul, restringiu o pagamento aos mais pobres. Não estipula valores, mas obriga o pagamento de uma renda. Isso significa que autorização legal para efetuar o pagamento do Auxílio Brasil, o governo já tem. Falta apenas assegurar os recursos.
Essa medida evita em parte que o presidente Lula fique dependente do presidente da Câmara, Arthur Lira. Porém, há quem argumente que é melhor pecar pelo excesso, ou seja, a aprovação de uma PEC, do que ficar restrito à decisão do mandado de 2021. Há quem diga que, o caso das pedaladas fiscais, Dilma tinha todo o respaldo jurídico para os programas de governo, mas, tal e qual o futuro governo agora, faltavam os recursos orçamentários. E ainda tem o problema relativo ao teto de gastos, que não está equacionado pelo mandado de injunção. Isso significa que, sem uma PEC, o governo irá que cortar despesas para efetuar esse pagamento e se adequar ao teto. A decisão final sobre a PEC ou simplesmente pedido de crédito orçamentário, será tomada nesta quarta-feira. A briga agora é para “arrumar e esticar’ os recursos e furar o teto.
Mercado e políticos querem projetos às claras para aceitar PEC da Transição
O caminho da PEC da Transição, também conhecida como “fura-teto”, sofre hoje duas pressões, uma política e outra econômica. Obrigatoriamente, passará pelo aval do presidente da Câmara, Arthur Lira, e, neste embalo, envolve a disputa pelo cargo no ano que vem. Lira avisou aos petistas que terá um comportamento republicano, mas quer um jogo às claras. Isso significa que se Lira sentir que o PT adotará uma postura de “amigo” e, nos bastidores, puxar seu tapete, a situação vai ficar difícil e o futuro governo obterá da Câmara, o velho ditado _ aos amigos, tudo; aos inimigos, a lei. Ou seja, nada de jeitinho na hora de votar a PEC.
A pressão econômica vem do mercado financeiro e do empresariado, em sua maioria apoiadores de Jair Bolsonaro. Esses segmentos pressionam pela definição de uma equipe técnica para o Ministério da Fazenda, que será recriado, assim como o Ministério do Planejamento. Ou seja, estão mais para o perfil dos economistas André Lara Rezende, Pérsio Arida, Henrique Meirelles, do que de um político. Seja na economia, seja na politica, todos querem clareza de propostas e de propósitos.
Menos é mais
Na equipe do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva há um consenso na ala dos economistas mais liberais de que a PEC da Transição deve ser enxuta. A ideia é não dar margens à transformação da proposta numa “árvore de Natal”, cheia de penduricalhos, o que abriria o apetite dos parlamentares.
Isonomia
A avaliação dos políticos aliados ao governo é a de que, se essa PEC vem recheada de promessas a serem cumpridas de imediato, os parlamentares, a maioria reeleita, também vão aproveitar o embalo.
Descanse uma rodada
As pressões políticas para a PEC da transição indicam que está muito difícil para Lula atender o aliado Renan Calheiros (MDB-AL), que adoraria ver o isolamento de Arthur Lira, seu maior adversário em Alagoas. Já tem gente dizendo que o momento é de Renan aceitar que, melhor se recolher agora, e trabalhar para eleger Renan Filho presidente do Senado daqui a dois anos.
A hora é agora
Na seara dos partidos aliados a Lula, a preocupação hoje é não deixar morrer a ideia de frente ampla que o presidente vendeu aos eleitores na disputa do segundo turno contra Jair Bolsonaro. Lula está disposto a fazer um governo de coalizão nessa área, mas o PT pressiona para ficar com os cargos mais importantes. Os pedidos do PT são naturais, mas não poderão ser cumpridos à risca. Se Lula seguir o modelo de 2003, quando os petistas ficaram com todas as pastas e estatais mais importantes, terá problemas.
CURTIDAS
Começou pela Bahia…/ O ex-ministro da Cidadania João Roma, que concorreu ao governo da Bahia, acaba de assumir a presidência do partido no Estado. Há previsão de outras mudanças.
…e não vai parar por aí/ Não está descartada uma mudança na direção do PL no Distrito Federal, onde a ex-ministra Flávia Arruda perdeu a eleição e agora corre o risco de perder a direção partidária para a deputada Bia Kicis (DF), a mais cotada do país.
Por falar em PL…/ A entrevista do presidente do partido, Valdemar da Costa Neto, para firmar a postura de oposição ao próximo governo, abre o portal para o “varejo”. Já está certo que, quem quiser se alinhar ao futuro governo, não será punido.
A la PSD/ O presidente Lula está disposto a negociar primeiro a PEC nesses próximos dois dias, para votar rápido. O antigo PSD, dos tempos de Juscelino Kubitschek, combinava tudo antes de se reunir.
Comissão do Senado tem 12 sabatinas com embaixadores em um dia
DENISE ROTHENBURG
A pressa para nomeação de embaixadores, relatada aqui pela coluna esta semana, chegou ao Senado. A Comissão de Relações Exteriores (CRE) tem 12 sabatinas marcadas para esta terça-feira, sendo quatro presenciais e oito remotas. Só tem um detalhe: nenhum relator apresentou parecer ainda. A praxe da CRE tem sido dar uma semana para que cada parlamentar avalie o parecer do relator, de forma a conhecer o currículo dos indicados antes das sabatinas. Desta vez, a pressa promete gerar constrangimentos
no plenário.
Estão na lista das sabatinas presenciais a indicação para o Vaticano, Achilles Xaluar; para a FAO, Carla Barroso; para Roma, Fernando Magalhães; e para a Unesco, Paula Alves de Souza. As sabatinas por videoconferência incluem Benedicto Fonseca Filho (África do Sul) Evaldo Freire (Mauritânia), Fernando Abreu (Tunísia), Hélio Vitor Ramos Filho (Argentina), Henrique Sardinha (Guatemala), Leonardo Monteiro (Guiné Equatorial), Marco Farani (Vietnã) e Rubem Amaral (Sudão).
Muitos embaixadores estão preocupados com essas sabatinas e com receio de o Brasil acabar passando por algum constrangimento, porque, mesmo se o presidente Jair Bolsonaro for reeleito, terá que reposicionar o Brasil no cenário internacional e há dúvidas se os perfis seriam os dos embaixadores indicados. No caso da eleição de Lula, a mudança certamente virá.
Giro internacional
As urnas mal começam a chegar às sessões eleitorais e já tem gente na equipe de Lula pensando em agenda na Europa, como presidente eleito. A ideia é estreitar laços em países como a França.
Preserve-se
Geraldo Alckmin já foi aconselhado por amigos a não aceitar qualquer ministério num eventual governo Lula. Um vice-presidente, avaliam muitos, não pode ser subordinado ao presidente. E, se algo der errado na área destinada ao vice, seja qual for, ele será considerado culpado.
Tiro no pé
Viraliza nas redes sociais um vídeo em que duas pessoas vestidas de verde e amarelo pedem voto útil em favor de Lula, com uma paródia da música “deixa isso pra lá”, de Jair Rodrigues, em que o casal indiretamente chama Simone Tebet e Ciro Gomes de “ninguém”. No MDB, o vídeo foi considerado um desrespeito.
E o debate, hein?
Depois do último confronto, tarde da noite, a avaliação geral era de que não foi ali que o eleitor silencioso e desconfiado da política definiu o seu voto. “As regras precisam mudar”, prega o cientista politico Antonio Lavareda, disposto a barrar os candidatos que menos pontuam nas pesquisas, leia-se o candidato do PTB, Padre Kelmon, que virou meme na mesma noite, depois do embate com Lula.
Dilma na área
A ex-presidente Dilma Rousseff (foto) gravou uma mensagem para os eleitores do DF: “O debate do voto útil não inclui, não pode e nem deve incluir candidatas ou candidatos bolsonaristas, porque, aí, o voto seria inútil”, afirma Dilma, numa campanha aberta por Rosilene Correia, a candidata ao Senado pelo PT, que corre o risco de perder votos para Flávia Arruda, numa campanha pelo voto útil contra a ex-ministra Damares Alves.
Por falar em DF…
Candidatos do PL para a Câmara dos Deputados estão preocupadíssimos com a perspectiva de o partido perder um caminhão de votos. É que, com o fim da candidatura de José Roberto Arruda, todos os votos dados a ele serão considerados inválidos.
Enquanto isso, na Bahia…
A curva ascendente do candidato do PT, Jeronimo Rodrigues, tem preocupado os aliados de ACM Neto. É que, em 2006, quando a eleição estava polarizada por lá, o petista Jaques Wagner começou bem atrás e venceu no primeiro turno, embalado por Lula.
… o destino prega peças/
Se houver segundo turno, ACM Neto precisará dos votos do ex-ministro João Roma, do PL, seu antigo aliado, compadre, com quem está rompido há mais de um ano e brigou feio no último debate.
Regras limitam espaço para confronto direto entre Lula e Bolsonaro
O primeiro debate entre os principais candidatos à Presidência da República começa daqui a pouco e terá poucas chances para o confronto direto entre o ex-presidente Lula (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), que, de acordo com as pesquisas, mantêm a disputa polarizada. Um dos únicos momentos que possibilitará um embate entre os dois será no primeiro bloco, quando Bolsonaro abre a rodada de candidato pergunta para candidato. Ele escolherá um adversário para fazer perguntas e cada candidato só pode ser perguntado uma vez, para que todos tenham a chance de participar. Lula será o quinto, conforme a definição por sorteio. O segundo a perguntar será Ciro Gomes (PDT) , seguido por Luiz Felipe D’Ávila (Novo) e Soraya Thronicke (UB). Simone Tebet (MDB) será a última. Portanto, quando chegar a vez de Lula fazer a pergunta, dificilmente ninguém terá feito pergunta ao presidente da República. A segunda chance de confronto é no terceiro bloco, mas o sorteio ficou com a seguinte ordem de perguntas: Simone Tebet, Soraya Thronicke, Ciro Gomes, Jair Bolsonaro, Lula e Luiz Felipe D’Ávila. A hipótese de “sobrar” Lula para Bolsonaro, ou Bolsonaro para Lula, é praticamente zero. O segundo bloco será dedicado a pergunta dos jornalistas com tema livre, onde o jornalista escolherá quem pergunta e quem comenta. Cada candidato também só poderá ser escolhido uma vez.
O debate desta noite é promovido pela Band, TV Cultura, Uol e Folha de S. Paulo começa 21h, com transmissão ao vivo pelas emissoras do pool, além de YouTube e Uol. A ordem de posicionamento de cada candidato no palco foi definida por sorteio. Luiz Felipe D’Ávila, Soraya Thronicke, Simone Tebet, Jair Bolsonaro, Lula e Ciro Gomes. Bolsonaro e Lula lado a lado. Um registro histórico e imperdível.
Em suas redes sociais, Michel Temer segue com uma espécie de pré-campanha presidencial. Em seu Instagram, por exemplo, a imagem de destaque, neste fim de semana, era uma foto dele, as cores da bandeira do Brasil e as palavras “pacificação, articulação, conhecimento, união e diálogo”.
Veja bem
A avaliação de emedebistas que estão diariamente com o ex-presidente é de que ele teria tudo para atrair um grande time de políticos. Só tem um probleminha aí: o MDB não se uniria nem a Temer.
Por Denise Rothenburg, notas publicadas na coluna Brasília/DF de 24 de julho de 2022.