Um amigo meu, pioneiro da cidade, viveu a seca de 1932 no Ceará. Num domingo, o pai o levou à casa de um compadre, próspero boiadeiro. Diante da mesa farta, o menino, por timidez, não se serviu. Ao que o compadre o exortou: “Coma, meu filho, é ruim, mas é muuuito!”
Lembrei dessa história, só que ao inverso, ao experimentar no restaurante Dalí Camões o novo cardápio Ravenna (estará disponível na próxima terça, 29), que alguns consideram insuficiente. Não é. Começa por porções generosas de sopa e de salada e encolhe um pouco no prato principal. A essa altura, porém, o comensal já atingiu o nível de saciedade e ainda pode contemplar a degustação com uma sobremesa, café ou chá. São, ao todo, cinco etapas de uma refeição, servida no almoço e no jantar, e elaborada sem qualquer gordura. Tem de 300 a 350 calorias.
“A ingestão de alimento em temperatura mais alta, como a sopa, inibe as papilas gustativas e o tempo gasto no consumo, mediante colheradas, serve para regular o hipotálamo, glândula cerebral que controla a fome, dando um efeito de saciedade”, explica a nutricionista Isadora Fadul. Pertencente aos quadros do Centro Terapêutico Dr. Máximo Ravenna, há quase nove anos, Isa, como é conhecida a profissional, que também é gestora da clínica, desenvolveu o menu com Myriam Carvalho, chef executiva do Complexo Brasil 21, onde se situa o restaurante.
Refogado na água
“Quando a Isa me disse que não poderia usar nenhum tipo de óleo na moqueca de camarão — nem azeite, nem óleo de coco —, apenas água, duvidei que fosse ficar bom”, confessa a chef, com humildade. Escoltada por banana-da-terra cozida, é uma das melhores sugestões. Os ingredientes básicos na confecção dos pratos são alho, cebola e todas as ervas, especialmente tomilho, salsão e alho-poró que dão muito sabor.
Outro carro-chefe é o bacalhau à nata (lascas de gaddus morhua com creme de leite light), servido com brócolis no alho. Ambos saem por R$ 80, cada, com direito ao combo completo que inclui o caldo, a salada e a sobremesa. Outras duas opções são um medalhão de filé ao molho Dijon com flor de pimentão e ovo (R$ 70) e torre de legumes com muçarela light e chimichurri (R$ 65).
Até paleta mexicana
Na escolha do caldo, você tem três opções: verde, com couve-manteiga, espinafre e cenoura; de cebola, lembra a sopa francesa; e de frutos do mar. Já as saladas vêm com grande diversidade, como cogumelos, cebola roxa, camarões, aspargos e todas as folhas.
Difícil é se decidir pela sobremesa. Tanto a pera assada com especiarias, como a ambrosia de leite desnatado, casca de laranja e sucralose agradam o paladar, mas ainda tem uma surpresa: paleta mexicana com frutas regionais e adoçante virou caipilé de morango. No dia da estreia, o combo sairá por R$ 62. Comanda a cozinha do Dalí Camões (que foi de Natividade Pires), o chef Victor André, (ex-Limoncello, La Tambouille e Gero). Há dois meses na casa, já participou da elaboração do menu Ravenna (o terceiro desde 2014) ao lado de Myriam, com quem compartilha a chefia executiva do Brasil 21. A casa fecha domingo. Reservas pelo telefone: 3039-8156.