Chef Alexandre Rigon leva monumentos como a Catedral e Ponte JK a pratos, agradando visão e paladar
Quando se admite o conceito de que comida é arte, sobre o qual não há mais qualquer dúvida, descortina-se na alta gastronomia um universo que poderá levar o profissional a um monte de criações sem limites. O gaúcho Alexandre Rigon, de 56 anos, chef de cozinha com formação na França, é um exemplo de alguém que abraçou a food art focando justamente os pontos turísticos de Brasília, como a Catedral, o Congresso Nacional, a ponte JK e outros.
Atuando como responsável pelo bistrô de uma empresa de móveis da cidade, Rigon desenvolveu, durante três anos, um trabalho conduzido através de instalações e performances, com vistas a montar um cardápio alusivo aos 60 anos da capital. O ineditismo e a qualidade artística da proposta despertaram a atenção da jornalista e produtora de conteúdo digital, Monica Nóbrega, que intermediou a apresentação da obra à secretária de
Turismo do Distrito Federal, Vanessa Mendonça.
A convite do empresário Henrique Bertolazzi, diretor da Bontempo, instalada num loja no SIA, onde se deu o almoço nessa semana, Vanessa degustou os pratos de Rigon, acompanhada de Richard Dubois, principal executivo do consórcio que assumiu o concessão do estádio Mané Garrincha. Com narrativas associadas à arte e ao design, o menu foi um extenso desfile de aquarelas pintadas com monumentos de Brasília, acompanhadas da personificação das obras arquitetônicas.
A própria localização da cidade, representada pelo quadradinho no mapa brasileiro, é evocada por cubos de carne de porco na lata desfiada com refogado de bertalha e empanados em crosta crocante. O prato que lembra a ponte JK é uma quenelle de surubim com gel de leite de tigre, arcos de poke de hortelã e água de tomate. Já a homenagem a Athos Bulcão é um duo de manjares com flor clitoria, no qual um triângulo é feito de flan de maracujá e o outro de flan de erva cidreira colorida pela flor.
Vitrine para estrangeiros
“Estou emocionada”, exclamou a secretária de Turismo ao se deparar com a estética das criações. “Ver Brasília literalmente construída através da gastronomia é mais um sofisticado atrativo para nosso turismo”, declarou Vanessa Mendonça, para quem “as obras de arte elaboradas com ingredientes fornecidos por produtores locais valorizam ainda mais as qualidades do chef Rigon”.
Richard Dubois reagiu com o mesmo entusiasmo, declarando-se impressionado com a inusitada experiência à mesa e afirmou: “Temos aqui uma grande vitrine gastronômica para estrangeiros e brasileiros”. Foi a primeira vez que o chef Alexandre Rigon exibiu suas esculturas comestíveis para convidados fora do circuito empresarial da loja. Há muitas outras composições, algumas com uma pitada de crítica como a do Congresso Nacional representado por duas esferas de burrata crocante de massa sem glúten com os dizeres “Tudo acaba em …”
Já a Esplanada dos Ministérios é confeccionada com blocos de tofu de baru, agar agar, sal e óleo de gergelim encimados por gelatina de teriyaki sobre seu grande gramado de ciboulette. Acarajé de soja com vatapá de guariroba compõem outro prato alusivo aos combogós, enquanto o monumento a JK é representado por uma curva fatia de abóbora grelhada com melado, charque de picanha, requeijão gel de cebola queimada e crispy. Rigon ressalta que o trabalho “não pretende retratar fielmente a estética dos prédios, mas sim buscar na vanguarda gastronômica redefinir sua finalidade para ilustrar a perspectiva em relação às obras dos arquitetos e artistas que construíram a cidade”.
A partir de seus estudos, o chef elaborou com a colaboração da mulher, Maria do Carmo Rigon, um artigo (já aceito) para ser submetido ao 9* Encontro Latino-Americano de Food Design, que será realizado em Curitiba, nos dias 13 a 16 de outubro deste ano. Telefone para contatos: 99124-1608.