Em guerra interna, União Brasil sonha com o segundo escalão do governo Lula

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O União Brasil terá sua primeira reunião no final deste mês e, a contar pelas conversas que dominam os bastidores, a tendência é mesmo de independência em relação ao governo. Isso porque os ministros anunciados, Daniela do Waguinho, Juscelino Filho e Waldez Góes não representam a maioria dos deputados. A esperança dos ministros é de que, até lá, eles possam ter força para tirar o eixo de poder das mãos do líder Elmar Nascimento (União Brasil-BA) ou acalmá-lo. A de Elmar, avisam seus fiéis escudeiros, é emplacar bons aliados em postos-chaves, como a Codevasf. A corrida para saber quem controlará o partido segue até o final do mês.

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Com tantos aliados interessados nos “filés” do segundo escalão e o que isso passou a representar na correlação de forças da frente ampla e internamente nos partidos, o presidente Lula precisou antecipar a reunião ministerial. Melhor conversar agora do que deixar que essas rusgas virem uma crise de, como se diz no jargão da política, de vaca não reconhecer bezerro.

Todo o cuidado é pouco

Servidores do Planalto desconfiaram de pessoas sentadas nas antessalas e tentaram saber de quem se tratava. Eram ocupantes de cargos de confiança do governo Jair Bolsonaro que simplesmente ficaram por ali. Delicadamente, foram encaminhadas à porta de saída.

Difícil missão
Muito bem acomodado no primeiro escalão, o PSB terá dificuldades em emplacar os seus integrantes nas estatais e outros cargos. O partido, inclusive, já foi avisado.

Emplacou e desgostou
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, entrega hoje três nomes para assumir a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), área cobiçada também pelo PSD de Carlos Fávaro. O nome mais forte é Edegar Pretto, que esteve cotado inclusive para ministro. A Frente Parlamentar da Agricultura (FPA) preferia a Conab no Ministério da Agricultura.

Alckmin para acalmar
A alta na Bolsa de Valores foi vista como um alívio pelos ministros do governo Lula 3, mas não vem sendo atribuída apenas à declaração de Jean Paul Prates, futuro presidente da Petrobras, sobre não-intervenção nos preços do petróleo. Houve também o discurso seguro e em defesa da iniciativa privada e da reforma tributária feito pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, em sua posse como ministro de Indústria e Comércio.

Tempo esgotado
Vence hoje o prazo de 48 horas para que sindicatos e associações do setor de combustíveis e até o Instituto Brasileiro de Petróleo prestem esclarecimentos sobre a manutenção dos preços elevados, mesmo depois de o governo prorrogar a isenção. Se não explicar, punições virão.

A queda de braço não cessa/ A bolsa subiu, mas, enquanto o governo não disser a que veio em termos de âncoras fiscais, o dólar não baixa. Entre os ministros, a ordem é manter o sangue frio, mas, na bancada do PT, nem tanto: “O mercado precisa descer do palanque”, diz o deputado Henrique Fontana (PT-RS).

Elas vão ter que se entender/ Com a ex-ministra do Meio Ambiente Izabela Teixeira muito bem instalada na ONU e com muito trânsito internacional, a ministra Marina Silva pode ter em Izabela uma ponte para ajudar. O nome de Marina tem peso como representante da floresta, e Izabela tem fama de boa gestora.

Virou moda/ Dona Lu Alckmin, esposa do vice-presidente Geraldo Alckmin, saía do salão nobre do Planalto quando um menino da sua cidade lhe mostrou as meias coloridas. Alckmin fez escola com seu estilo divertido nos pés.

Governo Lula tem pressa de mostrar resultados na economia

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A maratona de transmissões de cargos desses dias não tirou o foco dos ministros. Cientes de que o tempo agora corre contra o novo governo no sentido de mostrar resultados, os titulares da Fazenda, Fernando Haddad, e de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, começaram ontem mesmo a cuidar do futuro. Haddad, que, em conversas com aliados não se cansa de repetir que a “confusão é grande”, colocou toda a equipe para trabalhar as pontes com o mercado financeiro. A ordem é buscar uma trégua, depois da queda da Bolsa e alta do dólar no primeiro útil do governo, logo após o discurso de posse do ministro. E assegurar algo melhor como âncora fiscal do que a “estupidez chamada teto de gastos”.

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Quanto a Alexandre Padilha, a prioridade é atender a todos antes da reabertura do Congresso, em fevereiro. Nesses primeiros dias, é preciso dar uma acalmada no União Brasil, que não conseguiu garantir os votos dos quais o governo precisará, e os partidos que ficaram de fora do primeiro escalão.

Um passado para o futuro

O presidente Lula ainda deve demorar um tempo para voltar a despachar no Planalto. Ele deseja ver o gabinete do jeito que era quando deixou a Presidência. Se resolver fazer isso em todo o Palácio, terá que tirar as salas novas, instaladas na ampla e antiga sala de estar do quarto andar, que havia sido concebida no governo Lula.

Uma Conab para três
A divisão do Ministério da Agricultura levou a um acordo de cavalheiros sobre com quem ficará a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). E, como a empresa tem interface com Agricultura, Desenvolvimento Agrário e Indústria e Comércio, as três pastas terão voz na diretoria da Conab.

De Padilha para Padilha
Transferido para a Casa Civil nos tempos do ministro Eliseu Padilha, do governo Michel Temer, o chamado “Conselhão” será reeditado e volta para Alexandre Padilha, da Secretaria de Relações Institucionais. Lá, onde funcionava quando foi criado no governo Lula 1. O conselhão reúne, governo, empresários, e líderes da sociedade civil, que analisam políticas públicas e dão sugestões.

Olho neles
Além do núcleo duro do governo, as atenções sobre como será o andar da carruagem da gestão Lula 3, se voltam também ao Itamaraty, onde está de volta a diplomacia presidencial. Aliás, muitos embaixadores brasileiros vieram para a posse a fim de saber o que novo governo lhes reserva. A movimentação será intensa por esses dias no MRE.

Cada um com seu cada qual/ Sem a tradicional transmissão de cargo na maioria das cerimônias de posse, senadores, deputados e até presidentes de partidos, e a ex-presidente Dilma Rousseff fizeram as honras das casas. Na transmissão de cargo de Rui Costa, na Casa Civil, reinaram os baianos. Até o governador Jerônimo Rodrigues discursou.

Enquanto isso, nos Portos…/ Quem fez as “honras da Casa” foi o PSB. Discursaram o senhor Dario Berger, o líder da bancada, deputado Felipe Carreiras, o presidente do partido, Carlos Siqueira. Geraldo Alckmin foi, mas preferiu guardar o discurso para hoje, quando assume o Ministério de Indústria e Comércio.

Com um apelido desses…/ … O nome virou detalhe. Ao discursar na posse de Ester Dweck no Ministério da Gestão a ex-presidente Dilma Rousseff começou a citar as pessoas presentes. Ao perceber a presença do ex-senador Lindbergh Farias, não lembrava o nome dele de jeito nenhum. Porém, emendou com o apelido. “Chamo sempre ele de Lindinho, experiente. Seu primeiro nome é difícil de lembrar”.

Por falar em Dilma…/ Em vários discursos, os ministros que entraram se referiram ao processo de impeachment de 2016, quando Dilma Rousseff foi apeada do poder. O novo chanceler, Mauro Vieira, foi direto, ao citar que retomava o mesmo cargo que deixou em maio daquele ano: “em meio a um doloroso processo de impeachment que fraturou o país e deixou marcas profundas”. Para os petistas e aliados, chegou a hora de reescrever essa página da história. E quem conta a história são os vencedores.

Enquanto isso, na Casa Civil…/ As plaquinhas das salas estão sobre a mesa de entrada da Casa Civil, à espera da distribuição dos espaços palacianos aos novos ministros. Tudo será remodelado.

As contas de Fernando Haddad e Simone Tebet para reconstruir ministérios

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Passado o dia da festa, o momento é de se agarrar ao serviço, e o principal é definir o dinheiro para o mar de prioridades. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a ministra do Planejamento, Simone Tebet, têm o desafio de reconstituir o orçamento dos ministérios ainda em janeiro. Até aqui, as pastas do Trabalho, do Esporte e de Minas e Energia, por exemplo, estão com poucos recursos e precisarão de revisão, conforme diagnóstico da equipe de transição já entregue a Haddad.

Os ministérios que não têm do que reclamar são aqueles que concentram as emendas parlamentares. Saúde, Educação, Desenvolvimento Regional, Infraestrutura (dividido em Transportes e Portos) e o de Cidades. Só para o Minha Casa Minha Vida, por exemplo, há R$ 10,5 bilhões, avisa o relator do orçamento, Marcelo Castro.

O aviso a Bolsonaro

Ao dizer em seu discurso que não adotará uma postura revanchista, mas que cumprirá o “devido processo legal”, o presidente Lula mandou uma mensagem direta a Bolsonaro: qualquer crime que tenha sido cometido no governo anterior será devidamente punido.

A pressão do etanol
A turma do agro presente à festa da posse de Lula chegou disposta a cobrar do governo a revisão da desoneração de impostos de combustíveis fósseis. Os produtores de etanol, que têm sido uma ponte do agro com a nova administração do país, querem que esse assunto seja tratado o mais rápido possível, antes da reforma tributária.

Recado aos sindicalistas
Àqueles que sonharam com a volta dos impostos, o secretário da CUT, Wagner Ribeiro, avisa: “Não tem volta do imposto sindical”, diz ele, que é muito ligado ao ministro do Trabalho, Luiz Marinho, e deve ser secretário-executivo.

Prioridade
Na construção que fará do Ministério do Trabalho, Marinho já elencou como prioridade três frentes: requalificação profissional, emprego para a juventude e as novas profissões que surgiram com a tecnologia.

Detalhe importante/ Um grupo de mulheres chegou à festa do Itamaraty comentando que Lula nomeou mais ministras do que Dilma Rousseff, e coisa e tal. A ex-ministra Ideli Salvatti, que estava no grupo na hora fez uma ressalva: elas agora estão fora do núcleo de governo.

Memória/ Houve um tempo em que a reunião de coordenação do Planalto era composta apenas por mulheres. Dilma, Gleisi Hoffmann (Casa Civil), Ideli (Relações Institucionais) e Helena Chagas (secretaria de Comunicação). Agora, o núcleo de poder será masculino.

Por falar em Ideli… / Perguntada se voltaria para Brasília, ela respondeu assim: “Donde hay gobierno soy lejana”.

A ponte na ONU/ Outra que não quer saber de voltar ao Poder Executivo é a ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira. Ela é consultora da ONU e funcionará como um posto avançado do governo para o setor.

E a Janja, hein?/ A primeira-dama passou pela prova da posse. Quem a conhece bem relata que será uma figura de destaque. É inteligente, articulada e… Manda. Manda muito.

Pura emoção/ O ponto alto da posse foi a subida da rampa com os representantes da sociedade brasileira. Se Jair Bolsonaro queria passar a ideia de posse “capenga”, Lula deu a volta por cima.

Montagem das equipes preocupa ministros de Lula

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A maioria dos ministros do governo Lula 3 toma posse hoje preocupada com a estrutura para montar suas equipes. É que o número de cargos disponíveis vem sendo comparado a colocar a população da cidade de São Paulo dentro do Plano Piloto, com acomodações confortáveis. Ou seja, não cabe. São 9.587 cargos comissionados para distribuir nos Ministérios e estruturas vinculadas. A forma de resolver isso, a fim de trazer técnicos gabaritados ainda não foi definida. Por enquanto, dentro do segundo escalão predomina a certeza de que, quem conseguir chefe de gabinete e secretária que se dê por satisfeito. A avaliação de alguns é a de que a promessa de não aumentar o número de cargos não chega a fevereiro.

Em 2010, o Ministério do Planejamento apontou que, entre 2002 e 2009, período do primeiro governo Lula, o gasto com cargos de confiança aumentou 119%. A pressão de muitos agora é para que o presidente repita a dose no governo Lula 3. O petista disse que, no momento, isso está fora de cogitação. O estica-e-puxa em torno desse tema começa amanhã. Hoje, é dia de festa e de pronunciamento presidencial. Os problemas, Lula vai tratar a partir de segunda-feira.

O jogo mudou

O ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, se reuniu com o ex-ministro da Secretaria de Governo Célio Faria Júnior, dia desses no Planalto. Lá, foi informado que as emendas parlamentares estão a cargo do Congresso e que ele não cuidava delas há tempos.

Fim de festa
As antessalas palacianas, sempre lotadas nos últimos dias do ano, com os parlamentares ávidos por garantir a liberação ou inclusão nos restos a pagar, estavam praticamente vazias na última semana.

Lábia e cargos
Com o Congresso no controle de grande parte das verbas discricionárias do orçamento, resta ao futuro governo formatar a maioria com os cargos. Ou com o convencimento, dentro do mérito dos projetos. Essa é a forma mais republicana e que tende a prevalecer no futuro, talvez distante.

Congresso do futuro
Muitos dizem que a era do “rolo compressor”, ou seja, aprovação na base do toma-lá-dá-cá de cargos e emendas, está nos estertores. Afinal, não vai dar para trocar ministro a cada votação importante. A próxima Legislatura será o ensaio de algo novo na relação entre os Poderes e os partidos.

A vida como ela é/ Petistas passaram os últimos dias reclamando com a indicação de Daniela do Waguinho (União Brasil-RJ) para o ministério do Turismo. Lula, então, foi direto: “Os nossos, nós já temos. Precisamos que ela traga os votos deles”.

Tem que conviver com o coleguinha/ No Rio, Daniela apoiou Claudio Castro (PL) ao governo estadual e não Marcelo Freixo, que assumirá a Embratur. No União, já tem gente se referindo a Freixo como “olheiro”. Na turma mais lulista, porém, o que se comemora é Claudio Castro dizer, em entrevista ao Estadão, que trabalhará junto com Lula.

Que pressa, hein?/ Um carro preto, com o adesivo de pára-brisa para estacionamento na posse e a placa “Veículo Oficial”, transitava a mais de 120km/h no Eixão Sul, ontem, às 11h. Quem deveria dar o exemplo de direção responsável, quase provoca um acidente.

Dia da Paz Mundial/ Espera-se que este 1º de janeiro seja realmente de paz. Quem venceu, que governe para todos. Quem perdeu, que organize uma oposição fiscalizadora. E vamos em frente, porque faltam apenas 51 sábados para o próximo Natal. Feliz 2023!

Prorrogação de isenção de impostos sobre combustíveis é recado: quem manda é o partido

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A decisão de prorrogar a isenção de impostos sobre os combustíveis por parte do futuro governo, depois de o ministro da Fazenda se posicionar em sentido inverso, deu um sinal ao mercado de que Fernando Haddad tem o cargo, mas o PT tem a força. Especialmente depois que a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), disse em entrevista à Globo News que o melhor seria prorrogar por um período.

A decisão, porém, vem no sentido de evitar o mau-humor do eleitorado logo na largada do futuro governo. Internamente, prevaleceu o receio de disparada dos índices inflacionários. Agora, caberá à nova gestão, depois da posse, mostrar que Haddad terá, sim, força para comandar a área econômica. Este ano, avisam alguns, ainda não houve esta demonstração.

A legenda que mais preocupa Lula

De todos os partidos que se juntaram na frente ampla encabeçada pelo PT, o União Brasil é considerado o que pode “entregar menos”, uma vez que o futuro ministro da Integração Nacional, Waldez de Góes, está no PDT e já existe um movimento de deputados para tentar barrar seu ingresso na legenda.

Ministro sem bancada
Góes não tem trânsito na bancada da Câmara. Terá que construir essa relação via senador Davi Alcolumbre (União-AP) e o presidente do partido, deputado Luciano Bivar (PE). Só tem um probleminha: conforme o leitor habitual da coluna já sabe, Bivar tentou, mas não conseguiu tirar o deputado baiano Elmar Nascimento do cargo de líder na Câmara. Elmar, que integra o grupo dos “sem-ministério” e tem respaldo da bancada, já se proclamou independente.

Foi o único
Lula, que de bobo tem nada, fez uma “nota de rodapé” ao declarar Góes como ministro de seu governo. Foi o único que ele mencionou como alguém que, além da gestão da pasta, terá que cuidar da “articulação com o Congresso” — ou seja, arrumar votos. Aliás, na bolsa de apostas sobre quanto tempo vai durar a equipe que posará para a primeira foto ministerial, amanhã à tarde, no Palácio do Planalto, o ministro da Integração é visto como o primeiro a ser trocado.

Apito de cachorro
A última live de Jair Bolsonaro como presidente da República foi vista por alguns com algum sinal de preocupação. Embora ele tenha dito com todas as letras que condenava os atos terroristas, o fato de mencionar a posse como algo “previsto para 1º de janeiro” deixou uma certa tensão no ar. Alguns aliados dele acham que pode ter sido um “dog whistle politics”, aquele “apito de cachorro político” que só os extremistas escutam.

Nem tanto
Aliados de Bolsonaro têm dito que o objetivo, agora, é buscar reconstruir uma imagem longe dos extremistas que atearam fogo a carros e ameaçaram explodir um caminhão de combustível nas imediações do aeroporto.

Recursos humanos togado/ Integrantes do PL têm se referido ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, como o “RH” do partido. É Moraes quem libera o dinheiro para pagar 13º salário e tudo mais dentro da legenda.

Olho nele/ O aviso de que haverá um pronunciamento do presidente em exercício, Hamilton Mourão, hoje, às 20h, foi enviado às emissoras de tevê assim que Bolsonaro decolou. Senador eleito pelo Rio Grande do Sul, há quem diga que o general da reserva veio para ficar na seara da oposição.

Acalma aí/ Dizem também que Mourão, além de desejar um Feliz Ano Novo a todos os brasileiros, deixará claro que amanhã vai ter posse, no sentido de tentar dissipar a tensão.

Feliz Ano Novo/ Hora da virada no governo, no país, enfim, na vida. A você, leitor, obrigada por mais um ano e que 2023 venha repleto de saúde, paz, prosperidade, democracia, serenidade e boas notícias para todos os brasileiros.

Presidente eleito deixa três pontos para amarrar até fevereiro

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A demora do presidente eleito em montar a equipe do governo Lula 3 deixa pelo menos três pontos pendentes para ajeitar até fevereiro. Primeiro, a amplitude da base e resistências do PT a nomes de alguns partidos. Em segundo, a aposta dos agentes econômicos de que a inflação deve subir por causa da decisão do futuro governo de não prorrogar a isenção de impostos sobre os combustíveis. Afinal, na cabeça do povo e do “Seu José da Quitanda”, vale a máxima: quando a gasolina sobe, sobe tudo.

E ainda há um terceiro ponto: a desconfiança mútua entre Lula e o Centro/Centrão. O presidente eleito terá que dissipar a suspeita de que deu um empurrãozinho na decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) — de acabar com as emendas de relator, o chamado orçamento secreto. Até aqui, há mais desafios do que motivos para relaxamento no dia da posse. Aliás, relaxar mesmo, só o “Lula Palooza” idealizado por Janja.

MDB apoiará, mas…

A opção de Lula por Renan Filho e Jader Filho para ministros de Lula deixou uma parcela expressiva dos emedebistas se sentindo como o “patinho feio”. Ainda que o Pará tenha eleito nove deputados dos 66 deputados emedebistas, soou com a volta da “velha politica” dos caciques partidários.

…tem problemas
Além das parcelas do próprio MDB, Lula corre o risco de não ter todos os votos, caso aceite o pedido do PT para que não dê porteira fechada aos aliados. A guerra, a partir de agora, será em torno dos cargos nos estados.

Ele tem a força
A resistência do PT em aceitar Elmar Nascimento (BA) como ministro com a grife União Brasil arrisca jogar a maioria dos deputados do partido na oposição. Quem conhece a fundo a agremiação avisa que Luciano Bivar não controla a bancada de
59 deputados.

Na ponta do lápis
Este ano, Luciano Bivar tentou correr uma lista para tirar Elmar da liderança do União Brasil. Não conseguiu sequer 20 assinaturas.

O clima do momento/ Lula chega hoje à situação em que todos os partidos que o apoiaram em outubro se acham “o ponto percentual” que garantiu a vitória no segundo turno. O Solidariedade, de Paulinho da Força, é um deles. Até agora, não tem um ministério.

Virou chacota/ Nos bastidores dos partidos quase aliados, a tal frente ampla que Lula prometeu na campanha vem sendo chamada de “Frente Ampla do PT”, onde todas as tendências foram contempladas.

Esqueceram deles…/ A virada do ano está logo ali e nada ainda de Ministério para o PT de Minas Gerais. Ali, está com jeitão de “santo de casa não faz milagre”.

…e ajudaram os outros/ Até aqui, de políticos raiz no ministério Lula 3, Minas terá o senador Alexandre Silveira, que deve ser confirmado na pasta de Minas e Energia. É o nome defendido por Rodrigo Pacheco (PSD), presidente do Senado e candidato a mais dois anos no comando da Casa.

Gente para demonstrar força/ Os petistas não vão desistir do show, todo concebido pela futura primeira-dama Janja. A ordem é reunir uma multidão capaz de mostrar que o PT não perdeu apoio nas ruas. Aliás, dado às nuvens escuras no horizonte, o PT vai precisar de apoio popular para ajudar a criar um ambiente menos tenso.

Simone Tebet ganha um farol para ver todo o governo

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Ao fazer as contas, os emedebistas concluíram que Simone Tebet está melhor no Planejamento do que estaria em áreas como Educação ou Desenvolvimento Social. Ali, no coração da organização do que o governo deve priorizar, ela terá uma visão multitemática com acesso a todos os dados das políticas a serem adotadas a partir de janeiro. De quebra, ainda fará o acompanhamento das estatais, função que, até o governo Dilma, estava a cargo da pasta entregue e aceita pela senadora. O PT, que tanto fez para evitar dar visibilidade a Tebet, terminou entregando um farol para que ela visse todo o governo.

IBGE preocupa
A equipe de Simone Tebet está para lá de preocupada com o IBGE. O Instituto ainda não conseguiu terminar o censo, teve sérios problemas de contingenciamento de verbas e, sem informações precisas, nenhum planejamento funciona. Na largada é ali que Simone atuará com mais afinco.

Muita calma nessa hora
A senadora não pretende chegar logo em 2 de janeiro trocando todo mundo. É preciso, primeiramente, saber “quem é quem” e não permitir a descontinuidade no censo.

A disputa por Cidades

Ainda não é hoje que Lula deve tirar foto com os futuros ministros. É que há uma briga interna pelo ministro das Cidades. O PT de Minas, por exemplo, considera que ainda está a ver navios e precisa ser contemplado.

Sai daí rapidinho!
O quase ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi aconselhado a “mergulhar” nesse período em que Brasília se mostra tensa. Os mais próximos esperam que ele viaje para os Estados Unidos, a fim de não ser acusado de ampliar a tensão até a posse.

Fica por aqui
Muitos daqueles que gostariam de ver Bolsonaro liderando a oposição, entretanto, estão frustrados com essa atitude. Deixar Brasília, para alguns, pode ser até compreensível. Agora, sair do país, soa como medo do futuro.

A conselheira…/ Economista responsável pelo programa de governo de Simone Tebet ao longo da campanha, Elena Landau, cotada para a equipe do Planejamento capitaneada pela senadora, é citada nas conversas internas dos petistas como alguém que não pode integrar o futuro governo.

… falou demais/ Na última sexta-feira, Elena foi direta em seu artigo no Estadão. Escreveu que “Lula tinha uma oportunidade de montar um ministério plural em todos os sentidos e a jogou fora”. Acrescentou ainda que o presidente acertou em recriar o Ministério do Planejamento e “errou” ao criar um “desnecessário” Ministério da Gestão. Concluiu dizendo que o “conjunto da obra mostra uma aposta no que sempre deu errado neste país. 2023 já nasce envelhecido”. Elena é uma das pessoas a quem Tebet mais ouve.

O árbitro/ Lula já avisou que, quando houver divergência na equipe econômica, será ele a decidir. E, pelo visto, terá muito trabalho.

Enquanto isso, na Defesa…/ O futuro ministro, José Múcio Monteiro, esticou até onde conseguiu a saída dos comandantes militares. Esta saída entre o Natal e o Ano Novo não é vista como um problema.

Por falar em problema…/ A tensão em torno da posse que toma conta desses dias não cessará em 2 de janeiro. Pelo menos, é assim que alguns no entorno de Lula pensam. Aliás, vale a pena assistir à entrevista do deputado distrital reeleito Chico Vigilante (PT) ao CB.Poder. Ele considera que o melhor seria não ter show na Esplanada. O momento é de trabalho. Uma festa tão efusiva só se justificaria se o futuro governo fosse uma unanimidade no país.

 

Alexandre de Moraes reforça que não há meios de reverter a eleição

Publicado em coluna Brasília-DF

O discurso contundente do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, na diplomação de Lula e Geraldo Alckmin, foi para deixar claro aos bolsonaristas que não há meios de reverter o resultado das urnas. Quem foi derrotado que se prepare para a próxima eleição presidencial, daqui a quatro anos. De quebra, ainda deu o recado de que outras punições virão. Se vai atingir o presidente Jair Bolsonaro ou os filhos, é algo que só será decidido no ano que vem.

O tom mais incisivo do ministro foi decidido depois que o presidente Jair Bolsonaro disse a apoiadores, na porta do Alvorada: “Tudo dará certo no momento oportuno”, “Quem decide meu futuro são vocês”, “Vamos vencer” e “Quem decide para onde vão as Forças Armadas são vocês”. As frases foram vistas como um estímulo à ruptura. A ordem agora é deixar claro que não haverá interrupção democrática.

Terroristas querem barrar a posse

As ações terroristas menos de 12 horas depois da diplomação de Lula têm o objetivo de tentar impedir a posse. Enquanto os mais radicais queimam ônibus, carros e criam tumultos, outros, mais moderados vão se transferindo do QG do Exército para a porta do Palácio da Alvorada. A ideia é não deixar sair a mudança de Jair Bolsonaro e nem a de Lula entrar. A confusão não vai terminar tão cedo.

Argumento básico
O presidente Lula acredita ter encontrado um motivo muito justo para que o PT aceite a concessão do Ministério de Desenvolvimento Social para Simone Tebet, do MDB. Os petistas vão ficar com todos os ministros “da Casa”, ou seja, Casa Civil, Relações Institucionais, Secretaria Geral da Presidência e por aí vai.

E tem mais
O PT deve ficar ainda com Saúde e Educação. Só tem um probleminha: se o PT não se entender sobre o nome do ministro da Educação, Gabriel Chalita (PSB) entra no páreo.

Chamariz
O futuro governo encontrou um meio de atrair os deputados do Centrão ao voto sim à PEC da Transição, sem tirar um centavo do que foi aprovado pelo Senado: destinar parte dos recursos de infraestrutura para as obras que os políticos gostam. Vai crescer o orçamento do Departamento Nacional de Infraestrutura em Transportes (Dnit) e da Codevasf, para alegria do líder do União Brasil, Elmar Nascimento.

Apostas/ No último domingo, por volta de meio-dia, um senhor falava em alto e bom som para quem quisesse ouvir: “Apostei duzentas pratas que o Lula não sobe a rampa”. O interlocutor, cético em relação à aposta respondeu: “Vai subir. Só não sobe se matarem ele”.

O que vale/ O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros, fez chegar a todos os parlamentares que, pelo menos até a tarde de segunda-feira, ainda não havia nada oficial sobre a discussão e votação da PEC da Transição ainda hoje.

A ordem dos fatores/ O presidente da Câmara, Arthur Lira, pode até ter dito que iria votar, mas só o fará depois que conversar com os líderes partidários nesta terça-feira. Difícil votar tudo hoje.

A volta dos convescotes/ Com Lula em Brasília e alguns ministros escolhidos, a cidade volta à temporada dos jantares. Às vezes, dois por noite. Esta semana, por exemplo, será a vez do deputado eleito Eunício Oliveira (MDB-CE) receber a bancada de seu partido. Lula deve comparecer.

Aliados dizem que pauta tributária pode dar sensação de base ampla a Lula

Publicado em Política

Aliados do futuro governo consideram que a pauta capaz de dar uma sensação de base ampla ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) será a tributária, com o novo marco fiscal. O setor produtivo e a classe trabalhadora desejam esta reforma. E, assim como ocorreu com a previdenciária, depois de mais de duas décadas de idas e vindas, o texto em tramitação na Câmara pode dar algum alento. A ordem, agora, é tentar convencer Arthur Lira (PP-AL) a recolocar o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) como relator.

Aguinaldo foi relator da reforma tributária da Câmara, a PEC 45/2020, mas a proposta terminou inviabilizada com a troca de comando na Casa, em 2021. Agora, o novo governo espera apaziguar e colocar esse projeto de novo em andamento. Aguinaldo tem dito a amigos que basta uma atualização do texto para colocar em votação. É por aí, pela reforma tributária, que o novo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tentará se aproximar mais dos agentes econômicos.

O céu é o limite

Com 16 partidos na base de Lula e a maioria reivindicando mais de um ministério, está difícil fechar os 20% que não estavam na cabeça do presidente eleito. O PV, por exemplo, que está na federação do PT, reivindica pelo menos um Ministério e apresentou ao presidente uma lista tríplice de cargos: Cultura, Turismo ou Esporte. Cultura ficará com a cantora Margareth Menezes.

Aos sem-mandato, as autarquias

Sem espaço para todos no primeiro escalão, a tendência é colocar quem perdeu eleição em escalões inferiores e agências. O martelo será batido hoje, na reunião que fechará o número de ministérios.

Há exceções

Nem todos os que perderam a eleição estão destinados ao segundo escalão e autarquias. A senadora Simone Tebet (MDB-MS), que fez campanha para Lula no segundo turno, e Márcio França (PSB), que abriu mão de disputar o governo de São Paulo para apoiar Fernando Haddad (PT), serão ministros.

Enquanto isso, no Parlamento…

A candidatura do senador eleito Rogério Marinho (PL-RN) a presidente do Senado é olhada com algum interesse por senadores que, em 2026, terão que concorrer a um novo mandato. É que muitos estão de olho no mega fundo partidário e eleitoral do PL para financiamento da reeleição. Parece distante, mas tem muitos senadores pensando na própria sobrevivência na próxima eleição.

Um cargo para acomodar dois/ Um dos nomes cotados no MDB para assumir um ministério é o do deputado Hildo Rocha (foto) (MDB-MA). Hildo ficou na primeira suplência. Se Roseana Sarney (MDB-MA) for para o governo Lula, ele assume o mandato. Se ela não quiser, Hildo pode virar ministro.

Neri na área/ Neri Geller (PP-RS), que foi ministro da Agricultura da presidente Dilma Rousseff (PT) tem encontro marcado com o presidente da Associação Comercial da Indústria Frigorífica Brasileira, Maurício Reis Lima. É mais uma ponte que o pessoal da transição faz com a turma do agronegócio.

Diplomação curta/ A cerimônia de diplomação do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva será vapt-vupt. Não está prevista sequer a fila de cumprimentos. A ordem é se agarrar no serviço da transição e fechar logo a equipe para que todos os futuros ministros possam passar o Natal em seus respectivos estados.

Por falar em Natal…/ O presidente Jair Bolsonaro (PL) planeja permanecer no Alvorada, na noite de 24 de dezembro. Será praticamente uma despedida do Palácio e dos aliados do cercadinho.

Prioridade de Lula será acalmar os ânimos na Câmara

Publicado em coluna Brasília-DF

Além do jogo do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva dedica esses dias a tentar acalmar os ânimos na Câmara. É que, desde que o Supremo Tribunal Federal (STF) adiou o julgamento das emendas de relator — vulgo Orçamento Secreto —, os aliados de Arthur Lira (PP-AL) passaram a desconfiar de que o presidente eleito atua para tirar fôlego da reeleição do deputado, embora publicamente e reservadamente diga que o PT apoiará a recondução. Neste sentido, ainda que haja um sentimento de que é preciso dar lastro a Lula, nada caminhará a contento se a turma de Lira não sentir lealdade no trato político.

Se o petista quiser apoio, é bom juntar as declarações à prática. Lira, da sua parte, está disposto a ajudar a aprovar a proposta de emenda constitucional, mas desde que se sinta apoiado pelo futuro governo. Até aqui, o governo não tem os 308 votos para aprovar a PEC e dificilmente obterá esses votos na Câmara se não obtiver o apoio do presidente da Casa.

Escalação para reduzir pressão

Os ministros a serem anunciados hoje são aqueles considerados imprescindíveis para deflagrar a transição em suas respectivas pastas o mais rápido possível. Defesa, para acalmar militares; Justiça e Segurança Pública, onde está a Polícia Federal e a Rodoviária Federal; Casa Civil, de onde saem leis e decretos; e Fazenda, onde é preciso montar a equipe que demonstre lastro ao fiscal com um olhar social.

Foi demais…
Muitos deputados deram um pulo quando perceberam que a PEC da Transição permitirá a abertura para operações financeiras, junto a organismos internacionais, fora do teto. Como se trata de uma emenda constitucional, alguns técnicos entendem, e já avisaram aos parlamentares, que o futuro governo poderá captar esses empréstimos sem aval do Parlamento.

…para precisar menos
Esse “pequeno detalhe” da PEC levou muitos na Câmara à desconfiança de que a ideia do texto é fazer com que o futuro governo possa prescindir do Parlamento para tocar suas obras e programas sociais. Assim, pode até aprovar, mas vai ser difícil manter o texto intacto.

E o Geraldo, hein?
Na entrevista à Globonews, o vice-presidente Geraldo Alckmin deu um recado direto à presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Perguntado sobre a vontade dos partidos de ocupar espaços no primeiro escalão, especialmente o PT, ele lembrou os tempos da pressão do PTB de Getúlio Vargas pelos ministérios e saiu-se com esta: “Getúlio dizia: vocês já têm a Presidência da República”.

Uma homenagem a Eduardo Campos/ Com o PT pressionando pelo Ministério das Cidades, que cuidará do Minha Casa Minha Vida, o presidente eleito acenou com a acomodação do ex-governador Márcio França (PSB) no Ministério da Ciência e Tecnologia. Foi a pasta que o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos ocupou no antigo governo Lula.

Não conte com eles/ O deputado Sanderson (PL-RS) avisou ao partido que votará contra a PEC da Transição, ainda que o valor seja reduzido. Aliás, outros bolsonaristas pretendem seguir pelo mesmo caminho.

“Sessão do avião”/ É assim que muitos apelidaram as sessões da Câmara das quintas-feiras, quando a maioria dos deputados passa por ali “à paisana”, sem terno, registra a presença e sai correndo para não perder o voo. Ontem, véspera do jogo do Brasil contra a Croácia, não foi diferente.

Enquanto isso, no intervalo…/ Estava tão tranquilo que o deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG) pediu à mulher, Janaína, que levasse os filhos, Paulo e Sofia, para o Plenário. As crianças até discursaram na tribuna, antes da reabertura da sessão no início da tarde.

A PEC não é um cheque em branco. É um cheque especial sem limite. O Senado optou pelo liberou geral”
Danilo Forte, deputado (União Brasil-CE)