“Brasil terá que ser um grande supridor de alimentos”, afirma Arnaldo Jardim

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Por Eduarda Esposito — O deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), afirma que o Brasil tem se preparado para alimentar o mundo devido às limitações do continente europeu e dos Estados Unidos em aumentar suas produções.

Crédito: Felipe Gonçalves/LIDE

“É estimado até 2050 termos mais 2 bilhões de pessoas no planeta, um desafio de aumentar a oferta de alimento, pelo menos em cerca de 40%, não só pelo aumento do número de pessoas, mas pelos desafios de melhor alimentar as pessoas particularmente de regiões menos desenvolvidas como da África, da Ásia, nós sabemos do limite que há no continente europeu para aumentar a sobreprodução, nos limites que há no continente americano para aumentar a sua produção e o Brasil terá que ser um grande supridor de alimentos e nós estamos nos preparando, do ponto de vista de cuidados, mas do ponto de vista de inovação, do ponto de vista de pesquisa, do ponto de vista de produtividade para poder fazer frente a esse desenvolvimento”, disse durante LIDE Brasil Reino Unido Fórum nesta sexta-feira.

Jardim destacou ainda que, em 2024, o agronegócio brasileiro produziu R$ 1,34 trilhão e, desse valor, R$ 886 bilhões foram das lavouras e R$ 450 bilhões. O parlamentar ressaltou ainda que o Brasil, em pouco mais de 20 anos, saiu do status de importador de alimentos para um aumento de produção de mais de 450% e ampliação de apenas 33% em área de produção. “É uma mágica? Não, mas é um milagre brasileiro você quadruplicar a produção e aumentar somente em 30% a área ocupada”, explicou. E o segredo é a produtividade. O deputado disse que o investimento do melhoramento genético e o desafio ambiental e sustentável permitiram que o Brasil pudesse se desenvolver desta maneira.

COP 30

Outro ponto que foi comentado durante o evento pelo deputado foi a COP 30. De acordo com Arnaldo, o país vai ter a oportunidade de apresentar ao mundo todos os compromissos ambientais que tem mantido mesmo com o crescimento do agro no Brasil. “Daqui a 10 dias, vamos sediar a COP 30 e ter neste momento uma oportunidade de demonstrar aquilo que são os nossos compromissos ambientais de uma forma geral, mas particularmente incorporados e praticados pelo setor agropecuário”, relembrou.

O parlamentar destacou que são 851 milhões de hectares plantados no Brasil, e que isso permitiu que o país se tornasse o maior exportador de soja, suco de laranja, café, celulose e outros produtos do mundo. E, com essas áreas somadas ao plantio de madeira, milho, sorgo e soja, territorialmente não chega a 10% do território nacional. “Se nós formos somar a área utilizada pela nossa pecuária, aí essa somatória chega a 30% do nosso território”, disse.

Outro ponto que não foi deixado de lado por Jardim é que no Brasil ainda é mantido 66% da reserva natural, além de o país ter a lei ambiental mais rigorosa do planeta, que obriga os estados a preservarem parte das áreas cultivadas e, ainda assim, alimentar cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo.

Parceria Brasil e Reino Unido

Como o evento ocorre em Londres, o parlamentar ainda destacou a parceria que o Brasil e Inglaterra têm no agronegócio, principalmente na área de fertilizantes. “O agro tem sido uma das fontes de parceria do Brasil com a Inglaterra na dimensão da sua logística, que é muito mais do que o ato de plantar e colher ou de criar. Tem toda a sua infraestrutura logística a ele vinculada e isso passa pelo dinamismo e desafio da necessidade de fazer chegar os insumos, escoar a produção, e isso passa por toda uma indústria sofisticada de equipamentos e por parcerias no setor de fertilizantes. E nós temos tido a presença de várias companhias do Reino Unido que têm sido parceiras sistematicamente do agro”, ressaltou.

Protejam o presidente e o governo

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Coluna Brasília-DF publicada na sexta-feira, 31 de outubro de 2025, por Denise Rothenburg com Eduarda Esposito

Com a eleição presidencial logo ali, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer os ministros mais proativos e dedicados à defesa dele e do governo. No Palácio do Planalto, muitos consideraram que, por exemplo, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, foi muito “polido” nesse episódio do Rio de Janeiro, em que o governo foi acusado de não cooperar com as autoridades. Agora, mesmo com a poeira mais baixa depois das reuniões entre o estado e a União, a avaliação é de que não dá para relaxar em relação aos ataques que Lula e o governo sofrem por todos os lados. A ordem é vigiar e rebater de pronto, haja vista a reunião dos governadores de oposição, no Rio de Janeiro, ontem, criando o “consórcio da paz” . Para o governo, é o consorcio da guerra eleitoral.

Crédito: Kleber Sales

Outro estilo/ Entre os petistas, houve quem dissesse que o tom seria outro se o ministro da Justiça fosse alguém com o perfil de Flávio Dino. Ocorre que não dá para comparar. Lewandowski é um jurista que saiu da carreira jurídica para o governo. Dino saiu da política para o Supremo Tribunal Federal. Estilos diferentes para momentos distintos.

Quase 100%

As chances de o processo contra o governador fluminense Cláudio Castro (PL), no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ser suspenso na sessão da próxima terça-feira, é de muito mais do que 50%. O pedido de mais tempo para analisar o caso deve ser feito pelo ministro Nunes Marques ou pelo ministro André Mendonça. Castro tem uma megaequipe de advogados atuando a seu favor — são pelo menos 20 profissionais —, integrada por pesos-pesados do direito, como o escritório Lacombe e Neves da Silva. O governador está sendo processado por abuso de poder econômico na eleição que o reconduziu ao Palácio Guanabara.

Climão

A demora da Câmara dos Deputados em aprovar o projeto de lei que pune devedores contumazes — aqueles que sonegam impostos de forma deliberada — tem causado enorme incômodo no Senado. Prova disso são as críticas do presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), senador Renan Calheiros (MDB-AL), à Câmara. Nos bastidores, a fala de Calheiros foi interpretada como um puxão de orelha no presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que vinha resistindo em pautar o texto para votação no Plenário.

Graças às operações

No Senado, a proposta ganhou força depois da Operação Carbono Oculto, conduzida pela Receita Federal (RFB) e pela Polícia Federal (PF), que revelou um esquema bilionário de sonegação e lavagem de dinheiro ligado à organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). O setor de combustíveis é um dos mais afetados pela ação dos devedores contumazes, responsáveis por sonegar bilhões em impostos todos os anos. Agora, na Câmara, a operação contra o Comando Vermelho (CV), no Rio de Janeiro, deu um empurrão.

Evitem isso aí

O ministro dos Transportes, Renan Filho, foi à Câmara dos Deputados para enfrentar o lobby das autoescolas. De acordo com fontes da pasta, essas empresas trabalhavam com deputados para que se aprovasse uma lei obrigando as aulas que oferecem. O Código Brasileiro de Trânsito não obriga que o ensino seja nessas instituições — inclusive, as permite com instrutores autônomos. A obrigatoriedade está em uma resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), que deve ser alterada, para atender o que está na lei.

CURTIDAS

Crédito: Eduarda Esposito

Climão entre as Casas/ O Senado baixou uma ordem de que servidores da Câmara só podem entrar nas comissões da Casa acompanhados de parlamentares. O deputado Sargento Fahur (PSD-PR) precisou sair da sessão na Câmara para levar um assessor parlamentar até a Comissão Mista da medida provisória do setor elétrico.

Vapt-vupt/ A sessão no Senado que aprovou e enviou para a sanção presidencial a MP do setor elétrico durou exatos 7 minutos e 40 segundos. Ao final, todos que estavam ali se juntaram para a foto de “quem estava trabalhando” . Os senadores Davi Alcolumbre (União-AP), Eduardo Braga (MDB-AM), Izalci Lucas (PL-DF), Randolfe Rodrigues (PT-AP) e Fernando Farias (MDB-AL) posaram com o presidente da comissão da MP, deputado Fernando Coelho Filho (União-PE), e servidores.

Modo diálogo/ Os líderes do Senado se reunirão, na semana que vem, para decidir o destino da isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil e do projeto de compensação de gastos do governo, aprovado na Câmara esta semana. A oposição no Senado contou à coluna que não há movimento para barrar a matéria.

Lide na Espanha/ O grupo Líderes Empresariais (Lide), criado pelo ex-governador de São Paulo João Doria, abrirá sua 27ª unidade internacional. Desta vez, na Espanha, consolidando a Península Ibérica como uma porta de entrada dos negócios entre Brasil e Europa. A nova unidade será comandada pelo empresário Fábio Fernandes, head de expansão global do Lide e sócio-administrador do Lide Portugal e Ribeirão Preto.

Educação técnica pode ser o diferencial para os brasileiros

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Por Denise Rothenburg* com Eduarda Esposito — Dados brasileiros de educação foram abordados pela chefe da Divisão de Educação do Banco Interamericano de Desenvolvimento no Brasil (BID), Mercedes Mateo, durante o evento LIDE Brazil Development Fórum, que ocorre hoje (8/9) em Washington DC, nos Estados Unidos. De acordo com Mateo, os jovens brasileiros estão atrasados em cinco anos se comparados com estudantes de outros países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Crédito: Will Volcov e Vanessa Carvalho/LIDE

“O problema é que a região, especialmente o Brasil, está com cinco anos de atraso em relação aos seus pares nos países da OCDE. E também sabemos que temos um atraso com outros países latino-americanos. Estamos lá embaixo nos resultados da última rodada de avaliação do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) em matemática, leitura e ciências. Não só o nível de aprendizagem não está onde deveria estar, mas temos grandes inequidades entre os mais abastados e os mais carentes”, demonstrou.

Esse déficit de eficiência na educação brasileira tem impactado o PIB brasileiro e também gerado uma desigualdade geracional. “Apenas 19% de baixa renda chega ao ensino superior e isso leva a uma falta de mobilidade intergeracional. E, como sabemos, essas trajetórias de educação vão ter impacto nos salários futuros, perpetuando as desigualdades e também têm impacto no PIB. Aprendizado insuficiente, resultados desiguais e interrupção da trajetória de aprendizado têm um impacto a longo prazo, porque o Brasil já se esforçou e conquistou muito em relação à mobilização de mais recursos para educação. Em relação ao gasto do PIB em geral, o Brasil está acima da tendência em relação aos países da América Latina e OCDE, no entanto, quando consideramos os gastos por aluno, o que observamos é que o nível de gasto no Brasil é menor do que em outros países da OCDE”, observou a chefe da divisão.

Mateo enfatizou que, apesar dos números, o Brasil é líder em muitos aspectos, inclusive na educação, e que outros países poderiam aproveitar essa experiência. “O financiamento com pesos iguais para fortalecer a gestão é uma solução. O Brasil é líder na região em relação a isso, muitos países, Argentina, Uruguai, estão discutindo reformas e estão considerando o Brasil como um exemplo de boas práticas nessa dimensão. Também há uma oportunidade de investir e reduzir a evasão escolar, melhorando o nível dos estados para os investimentos. Uma oportunidade também para trabalhar com municípios, para melhorar a cobertura e a qualidade de serviço nessa área e também dimensões transversais que são importantes e dizem respeito a melhorar a locação e qualidade dos professores e a digitalização do sistema”, destacou.

Crédito: Will Volcov e Vanessa Carvalho/LIDE

Mas, para a chefe de divisão de Educação do BID, apesar dos avanços do FUNDEB, é necessário que o Brasil avance em parcerias público-privadas na educação. “Os recursos são mal distribuídos entre as escolas e os alunos para cobrir essas desigualdades. O FUNDEB tem se esforçado para, por meio de subsídios, reduzir as desigualdades entre a distribuição de recursos. Mas isso é insuficiente, como se pode ver, a infraestrutura também apresenta disparidades nas escolas. Uma oportunidade é a expansão da cobertura e qualidade do programa de educação. Nós vemos aqui os programas do BID, temos os projetos com PPPs para melhorar esse tipo de serviço. O Brasil é um bom exemplo de como isso pode ser feito de forma eficaz em escala”, afirmou.

Ensino técnico

Ainda no mesmo painel, o co-chairman do LIDE e ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, destacou que o Brasil precisa oferecer e incentivar o ensino técnico, levando em consideração as vocações regionais e utilizando o sistema S (Senai, Sesi, Senac e Sebrae) para isso.

“A educação é um investimento de longo prazo, começando no ensino básico, passando pelo ensino médio. Então, isto é absolutamente vital, mas é algo que toma tempo. E o Brasil, pelas suas condições atuais, de desafios, de desigualdade, precisa apresentar, o mais rápido possível, resultados concretos. Nós temos, de um lado, o investimento do ensino fundamental, básico, chegando até o ensino superior. Mas, além disso, nós temos um fundamental, que é uma experiência muito bem-sucedida, mas limitada, que é o sistema S, que treina os trabalhadores que já estão no mercado há muito tempo e treina para situações específicas do nível de especialidade. Então, o cidadão que está na indústria automobilística, por exemplo, para receber um treinamento técnico sobre esse trabalho na indústria automobilística, e isso é uma experiência interessantíssima”, disse.

Crédito: Will Volcov e Vanessa Carvalho/LIDE

Contudo, Meirelles destacou que só o sistema S não é suficiente, o Brasil precisa avançar também na implementação de um programa técnico mais amplo. “A ação do sistema S é importante, sim, mas é insuficiente para o Brasil. Então, nós precisamos de um amplo programa no país todo de ensinamento técnico. Em São Paulo, por exemplo, foi feita uma experiência importante por definição de vocações de determinadas áreas. Por exemplo, você tem hoje no ABC um foco do setor automobilístico, a concentração. Então, o treinamento ali tem que ser muito concentrado no treinamento técnico para trabalhadores na indústria automobilística e incentivar a concentração industrial de diversas áreas, inclusive agrícola”, defendeu.

Rossieli Soares, secretário de Educação de Minas Gerais, ex-secretário de Educação de São Paulo e ex-ministro da Educação, também defendeu o aumento da oferta de ensino técnico no Brasil. De acordo com Soares, 27% da população brasileira entre 25 a 34 anos não concluiu o ensino médio e isso tem impactado o mercado de trabalho. “Somente nesta faixa da população, isso faz com que, num país onde temos uma taxa de natalidade muito menor, essas pessoas tenham um prejuízo direto de R$ 159 mil abaixo da renda ao longo da sua vida. Parece pouco, mas esse jovem trabalhador não conseguirá um emprego, por exemplo, no comércio, que hoje exige, minimamente, o ensino médio. Então nós estamos jogando para a exclusão à medida que nós não olhamos para a formação”, explicou.

Por esse motivo, o ex-ministro da educação acredita que a oferta do ensino técnico pode ser uma solução, já que incentiva o término do ensino médio e a pessoa já sai apta para o mercado de trabalho. “A possibilidade da educação técnica pode impulsionar, além da atratividade para que esse jovem possa concluir o ensino médio, ter uma formação que já o coloque melhor posicionado no mercado de trabalho. Portanto, abrindo outras portas para trazer mais renda e assim continuar os estudos. Inclusive há a indicação de que a educação técnica aumenta hoje a possibilidade de ir para o ensino superior. No Brasil, infelizmente, se criou uma mentalidade onde o sucesso é somente fazer o ensino superior, e esse é um desafio gigantesco que nós temos no Brasil”, afirmou.

Crédito: Will Volcov e Vanessa Carvalho/LIDE

Soares também comemorou que a meta de ensino técnico no país está chegando a 50% devido ao Plano Nacional de Educação, e que foi um salto muito grande de quando esteve à frente da pasta de Educação em 2018, que era de 8%. Para o secretário de Educação, o técnico tem um grande potencial de transformação. “Aqui tem uma grande oportunidade de transformação da educação pública no Brasil, por ter um impacto diretamente no seu negócio, na empregabilidade, na formação desses jovens. A educação profissional no Brasil teve uma mudança de financiamento muito importante nos últimos anos desde a reforma do ensino médio, que é o aumento do valor de financiamento do FUNDEB, e no Brasil, essa é a principal fonte. Toda vez que a matrícula de ensino médio for de educação profissional, dobra-se o valor da matrícula hoje no país. Ou seja, fazer educação profissional no Brasil vai trazer um equilíbrio muito maior”, ressaltou.

Entretanto, o ex-ministro destaca que só o Estado não tem capacidade suficiente para esse financiamento, é preciso que o privado também participe. “O estado não tem capacidade de fazer isso sem a iniciativa privada. Temos primeiro que identificar as oportunidades e onde está a força de trabalho ligada para a empregabilidade desses jovens. Portanto, sem a iniciativa privada para apoiar na identificação disso, nós não conseguimos”, concluiu.

*Enviada especial

“Daqui a pouco volta ao Supremo buscando proteção”, diz Gilmar Mendes sobre fim do foro

Publicado em Bolsonaro na mira, Câmara dos Deputados, Congresso, Crise diplomática, Crise entre os Poderes, Economia, EUA, Política, Politica Externa, Senado, STF, Tarifaço de Trump

Por Eduarda Esposito — O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes comentou sobre a PEC que prevê o fim do foro privilegiado, que foi colocada na pauta para votação na Câmara dos Deputados durante o “Seminário Econômico LIDE” em Brasília nesta quarta-feira (27/8). “Isso seria a inversão completa da nossa tradição jurídica e da nossa cultura jurídica. O que está a ocorrer, talvez, seja um tipo de casuísmo. ‘Mudando o foro, eu tiro a matéria da competência do Supremo. Daqui a pouco a gente volta ao Supremo buscando proteção’. Então, é bom que a gente tenha juízo nessas mudanças”, declarou Gilmar.

Crédito: Gustavo Moreno/STF

Para o decano, a questão do foro privilegiado é uma prerrogativa do STF e que medidas advindas de tribunais regionais poderiam causar mal-estar. “Foro por prerrogativa de função, acho que faz todo sentido deixá-lo no STF. Nós assistimos, não faz muito tempo, a episódios lamentáveis com a possibilidade de uso e abuso desse foro em todas as instâncias. Fico a imaginar uma busca e apreensão determinada pelo juiz de Cabrobro na Câmara dos Deputados, ou uma ordem de prisão determinada por um juiz de Diamantina a um senador ou presidente do Senado”, destacou. Quanto à possibilidade de a Suprema Corte considerar a PEC inconstitucional, o magistrado defendeu que é preciso esperar as deliberações nas duas casas antes que o STF faça uma análise sobre a matéria.

Moraes x Bolsonaro

O ministro do STF também evitou falar sobre as recentes medidas cautelares do ministro Alexandre de Moraes ao ex-presidente Jair Bolsonaro, reforçando a segurança de Bolsonaro durante a sua prisão domiciliar, mas voltou a afirmar seu apoio incondicional ao ex-presidente da Primeira Turma do STF. “Não conheço no detalhe, obviamente, como os senhores sabem, eu não sou dessa turma, mas apoio o ministro Alexandre de maneira inquestionável. Acho que o Brasil deve muito ao ministro Alexandre de Moraes. Eu sou plenamente solidário a ele e, se nós estamos aqui hoje, num ambiente democrático, deve-se muito ao ministro Alexandre de Moraes e sei que a história vai lhe fazer justiça”, ressaltou.

EUA e o tarifaço

Ainda a jornalistas após a fala durante o evento, o ministro Gilmar Mendes voltou a condenar as ações dos Estados Unidos ao sancionarem o Brasil como uma forma de intromissão no julgamento de Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado. “Claro que isso é de todo impróprio. É evidente que negociações comerciais podem se fazer, e se fazem a toda hora. Agora, tentar envolver nesta cesta o papel institucional do país, a independência do Judiciário, ou seja lá o que for, não faz sentido algum. Nós não temos nada a ver com a jurisprudência sobre o aborto nos Estados Unidos. Da mesma forma, não faz sentido tentar alterar a jurisprudência da Corte Constitucional Brasileira”, concluiu Mendes.

Já sobre o tarifaço, o vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Sérgio Longen, afirmou que o Brasil está atrasado nas negociações e defendeu que é necessária a abertura de novos mercados. “Olha, precisamos buscar oportunidades. Entendemos que a tarifa está aí e vamos buscar outras opções de colocar os produtos brasileiros. Não temos outra saída ou venderemos para os americanos com novos preços. O governo está atrasado nas discussões, precisaríamos ser mais objetivos e mais rápidos, mas o caminho é a discussão sobre o assunto e a busca de novos mercados, que os empresários já estão fazendo”, destacou.

O recado cristalino de Eduardo Bolsonaro

Publicado em Bolsonaro na mira, Câmara dos Deputados, coluna Brasília-DF, Congresso, CPMI do INSS, Crise com os EUA, Crise diplomática, crise no INSS, Economia, Eleições, EUA, GOVERNO LULA, Política, Senado, STF

Coluna Brasília-DF publicada na quarta-feira, 27 de agosto de 2025, por Denise Rothenburg com Eduarda Esposito

Crédito: Kleber Sales

Dos Estados Unidos, onde acompanha os processos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) alerta quem escolherá o substituto de seu pai numa corrida presidencial, “se houver necessidade”. Em suas redes sociais, ele traz uma foto do ex-presidente ladeado pelos quatro filhos: o deputado, o senador Flávio (PL_RJ) e os vereadores Carlos Bolsonaro e Jair Renan. Até aqui, o que se sabe é que essa decisão do substituto de Bolsonaro será tomada em conjunto por eles, sem pressões. A família sabe que, hoje, Bolsonaro tem capacidade de transferência de votos e condições de colocar seu candidato num segundo turno. E, nesse sentido, o mais seguro, na avaliação de quem acompanha de perto os movimentos do clã, é ter o sobrenome da família na urna.

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Ação e reação/ Quanto mais os governadores, inclusive o de São Paulo, Tarcísio de Freitas, se apresentarem — especialmente, nesse período tenso em que o ex-presidente espera por seu julgamento —, mais Bolsonaro se afastará dessas pré- candidaturas. Quem se apressar, na visão dos filhos do presidente, tem mais a perder do que a ganhar.

Apostas

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está convencido de que quanto mais polemizar com os Bolsonaro, mais terá a ganhar. Daí, a citação a Eduardo no discurso de abertura da reunião ministerial. Só tem um probleminha: os bolsonaristas avaliam que a tensão entre o Executivo brasileiro, o Judiciário, e o governo Donald Trump ainda vai piorar muito antes de melhorar.

E aí?

Apesar da presença do presidente do MDB, Baleia Rossi, no aniversário de 20 anos do Republicanos, interlocutores do partido de Marcos Pereira disseram que a federação não está fechada ainda. O Republicanos quer resolver algumas pendências estaduais entre as legendas e saber se o MDB vai desembarcar do governo Lula.

Tem ministro…

… mas nunca foi da base. Parlamentares do Republicanos disseram que quando Sílvio Costa Filho foi convidado para comandar o Ministério de Portos e Aeroportos, o presidente da legenda, Marcos Pereira, deixou claro que era um chamamento pessoal, e não uma parceria do partido com o governo.

Muita calma nessa hora

Aliados do governo falaram à coluna que o PT quase “atrapalhou de novo” a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS ao tentar apoiar o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) como vice-presidente, e não o deputado aliado Duarte Jr. (PSB-MA). Na visão de quem torce pelo sucesso do governo, o momento exige um deputado calmo e que tenha mais diálogo do que um com perfil mais combativo.

E o IR?

Tem reunião marcada para esta semana entre a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, e os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), a fim de definir um calendário de votação do projeto de isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil. Mas, nos bastidores, se diz que esse tema só entrará em pauta para valer quando houver acordo e só deve ser colocado quando houver garantia de aprovação.

CURTIDAS

Crédito: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

A culpa é do Rui/ Se tem algo que incomoda muito os parlamentares, é fechar um acordo com os líderes do governo pela aprovação e, depois, ver o projeto vetado no Planalto. No governo Dilma Rousseff, muita gente reclamava que isso era uma constante. Agora, tem voltado a ocorrer. Os parlamentares creditam isso ao ministro da Casa Civil, Rui Costa (foto).

Nome trocado/ A coluna trocou as bolas no último sábado. Na verdade, quem teve um projeto vetado integralmente pelo Palácio do Planalto depois de ter feito um acordo para veto parcial com o líder do governo, Jaques Wagner, não foi o deputado Beto Pereira (PSDB-MS). Foi o senador Carlos Portinho (PL-RJ).

A esperança/ Portinho defende que 22 municípios do Rio de Janeiro, que sofrem com estiagem, sejam classificados como semiárido e, assim, possam ter garantidos os benefícios da região nordestina, mesmo sem serem incluídos na Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste). Agora, Portinho vai conversar com o deputado estadual do Rio André Ceciliano, secretário no Planalto, para tentar reverter o veto.

Justa homenagem/ O ex-presidente José Sarney será homenageado, hoje, pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen). Em 1986, Sarney sancionou a lei que regulamentou o exercício do profissional da enfermagem no Brasil. A solenidade será no Edifício Anna Nery (em frente à estação de metrô da 108 Sul), às 9h.

A palavra do decano/ Próximo do evento que homenageia Sarney, o ministro Gilmar Mendes abre o seminário econômico do Lide. É no hotel Royal Tulip, às 8h.

“Respeito se dá pela independência do Judiciario”, diz Moraes após discurso de Mendonça no LIDE

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Por Denise Rothenburg* com Eduarda Esposito — O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes também compareceu ao 24º Fórum Empresarial LIDE no Rio de Janeiro nesta sexta-feira (18). Moraes encerrou o evento e afirmou que o respeito ao Poder Judiciário se dá pela sua independência e afirmou que resistirá aos ataques que vierem de dentro ou de fora do Brasil.

Crédito: Evandro Macedo LIDE

“Só um poder judiciário independente é respeitado. O respeito se dá pela independência. Um judiciário vassalo, covarde, que quer fazer acordos para que o país momentaneamente deixe de estar conturbado, não é um judiciário independente. E o judiciário no Brasil é um judiciário independente. O judiciário que não é independente não tem o direito de ser chamado judiciário. Eu posso garantir aos senhores e às senhoras que no Brasil o judiciário é independente e é corajoso. Os ataques podem continuar a ser realizados de dentro ou de fora. Pouco importa o juiz que não resiste à pressão, que mude de profissão e vá fazer outra coisa na vida. O judiciário cresce com a pressão, porque a função do juiz é julgar e decidir, manter a democracia e o estado de direito”, declarou Moraes.

O ministro também deixou de falar sobre os ataques nas redes sociais e citou as Big Techs. “Não se pode atentar contra a democracia. A liberdade é com responsabilidade. Quem não quer ter responsabilidade é porque não tem coragem de assumir os seus atos. E no Brasil, nós mantivemos, e nós que eu digo é a sociedade brasileira, nós mantivemos firmes os três pilares das democracias ocidentais. A imprensa vem sofrendo ataques incessantes, a imprensa livre, tradicional, séria, vem sofrendo, há anos, de direcionamentos pagos pelas Big Techs, mas a imprensa livre, que é pilar da democracia, permanece firme”, ressaltou.

Dever do Judiciário

Alexandre de Mores aproveitou também para abordar a questão da insegurança jurídica que o Brasil tem sofrido ao julgar liminares no campo empresarial. “Aqui o judiciário deve fazer uma mea-culpa. Há necessidade de reformas, mas não só legislativas, reformas no funcionamento do Poder Judiciário. Não é possível, e eu digo isso com absoluta tranquilidade, que a cada empreendimento haja um inquérito civil e, eventualmente, uma liminar e que ela demore anos para ser julgada e os investimentos fiquem parados. Não importa se está certo ou errado o investimento. Importa que nós temos que alterar o funcionamento do Judiciário para que se resolva. Logo, você quer construir uma empresa, vai gerar milhares de empregos, milhões em impostos, desenvolvimento, e aí vem uma liminar e para julgar leva dois, três, quatro anos. Quem vai investir no Brasil assim? Então, a segurança jurídica é um grande desafio, mas que nós vamos avançar”, garantiu o ministro.

8 de Janeiro

Alexandre de Moraes também abordou em seu discurso a tentativa de golpe de Estado cometida em 8 de janeiro de 2023. Para o ministro, a polarização política que o Brasil vive impediu que o povo comemorasse a resistência da democracia. “Neste momento em que nós estamos, um momento que, se não fosse essa odiosa polarização ideológica, infelizmente muito capitaneada pelas redes sociais e pelo ódio que se destila nas redes sociais, todos os brasileiros, independentemente da posição política, de direita, de esquerda, de centro, liberal, progressista, conservador — todas as posições são razoáveis e respeitáveis —, se não fosse essa odiosa polarização, repito, insuflada pelo ódio das redes sociais, todos os brasileiros deveriam estar comemorando que o Brasil resistiu a ataques. O Brasil passou nesses 35 anos por diversas provações e chegamos hoje, em 2025, como estado democrático de direito, com a imprensa livre e com eleições. Daqui a um pouco mais de um ano teremos novas eleições e com Judiciário independente”, destacou o ministro.

Crédito: Evandro Macedo LIDE

Sistema eleitoral brasileiro

O magistrado do STF também elogiou e exaltou o sistema de urnas eletrônicas do Brasil e pelo sistema eleitoral, que promove a cada dois anos eleições livres. “O Brasil dá um exemplo ao mundo. A cada dois anos, nós temos eleições. De dois em dois anos, ou nós elegemos os nossos representantes gerais ou os locais, tanto do Legislativo quanto do Executivo. E é o único país do mundo que, com 158 milhões de eleitores, em pouquíssimas horas, dá o resultado das eleições. Nós não deixamos, enquanto sociedade, e aqueles que viveram sob a ditadura sabem isso, não podemos deixar que retirem das brasileiras, dos brasileiros, esse orgulho. Quem ganhar assume, quem perder tenta daqui dois ou quatro anos. Isso é democracia, isso é liberdade com responsabilidade”, defendeu Moraes.

*Enviada especial

“O bom juiz tem que ser reconhecido pelo respeito, não pelo medo”, afirma o ministro do STF André Mendonça

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Por Denise Rothenburg* com Eduarda Esposito — O ministro do Supremo Tribunal Federal André Mendonça afirmou que “um bom juiz tem que ser reconhecido pelo medo, não pelo medo” durante seu discurso no 24º Fórum Empresarial LIDE no Rio de Janeiro. A fala do ministro se deu na abertura do evento na manhã desta sexta-feira (22). “O fortalecimento do estado de direito passa por haver instituições justas, pelo fortalecimento do princípio da legalidade, pela autocontenção do poder judiciário, pela garantia do justo processo e pela garantia das liberdades básicas do cidadão. Para isso, precisamos fazer um compromisso público de que o bom juiz tem que ser reconhecido pelo respeito, não pelo medo. Que as suas decisões gerem paz social e não caos, incerteza e insegurança”, disse.

Crédito: Evandro Macedo LIDE

Mendonça também ressaltou que é preciso haver autocontenção do Poder Judiciário para garantir o equilíbrio entre os poderes. “Não bastam instituições justas e o princípio da legalidade fortalecido. O estado de direito fortalecido demanda uma autocontenção do Judiciário, tenho legitimidade para dizer isso, pois integro a mais alta corte do nosso país. O estado de direito não significa a prevalência da vontade ou das pré-compreensões dos intérpretes da lei. Eu tenho meus valores, minhas pré-compreensões, mas devo servir à lei e à Constituição. O que significa que o Judiciário não pode ser o fator de criação e inovação legislativa. O estado de direito impõe a autocontenção, que se contrapõe ao ativismo judicial. O ativismo suprime, desconsidera e supera os consensos sociais estabelecidos pelos representantes periodicamente eleitos pelo verdadeiro detentor do poder, que é o povo. Implica no reconhecimento implícito de que o Judiciário tem a prevalência sobre os demais Poderes, na superação da vontade democrática — cujo consenso legítimo pode ser decidir, mas também pode ser não decidir. Implica no enfraquecimento e na superação do princípio democrático e no reconhecimento implícito, ainda que não desejado, do enfraquecimento dos demais Poderes”, ressaltou o ministro.

Para o ministro, o ativismo judicial acaba tirando o senso de responsabilidade dos demais Poderes em assumir suas obrigações. “Por isso, ao invés de fortalecer a democracia, o ativismo a uma só vez é sintoma e causa do seu enfraquecimento. É sintoma porque se parte do pressuposto de que os demais Poderes não estão funcionando adequadamente, e pode ser que isso seja verdade, mas também a causa, porque impede o indispensável amadurecimento dos demais Poderes que se sentem desobrigados a assumir as suas próprias responsabilidades a partir das legítimas pressões exercidas pela sociedade a fim de legislarem, ainda que tomando decisões difíceis, e a fim de construírem o bem comum”, ponderou Mendonça.

Crédito: Evandro Macedo LIDE

O magistrado ainda citou a Constituição Federal de 1988 para destacar a independência e harmonia entre os Poderes. “Na nossa Constituição se fala de independência e harmonia entre os Poderes, o que demanda um equilíbrio institucional e demanda mais do que isso. Demanda instituições justas, responsáveis com a sociedade e com o bem comum. Na perspectiva do direito, significa que esse Estado é onde as leis governam, não é mais a vontade pessoal, não são mais os interesses individuais, mas a governança e o império, está na lei. É o estado onde a racionalidade deve estar presente, onde a lei e a racionalidade funcionam como um fator de estabilidade e não de crise. É o estado onde o arbítrio deve ser contido e a justiça deve estar presente”, pontuou o magistrado.

Liberdade de expressão

Em seu discurso, André Mendonça também defendeu que a liberdade de expressão do cidadão é um mecanismo chave para o fortalecimento do estado de direito. “Garantir as liberdades básicas significa que ninguém pode ser obrigado a fazer, ou deixar de fazer algo, senão em virtude de lei, é o que diz a nossa Constituição. Significa garantir que os cidadãos possam livremente se expressar e emitir suas opiniões, defender suas ideias sem censura, direta ou indireta, isto é, sem medo de serem perseguidos por suas falas públicas ou de terem suas falas privadas expostas de maneira ilegítima”, disse.

Citou ainda o voto do ex-ministro do STF Celso de Mello na reclamação 1.856 para condenar a prática judicial inibitória. “O ministro Celso de Mello, quando do julgamento da reclamação 1856, deixou registrado que em diversas ocasiões, ou diversas decisões, que o exercício da jurisdição não pode converter-se em uma prática judicial inibitória, muito menos censória da liberdade constitucional de expressão e de comunicação. Isso não tem apenas uma dimensão privada, liberdade de expressão não é apenas uma dimensão de um direito individual, ela tem uma dimensão pública. Porque sem liberdade de expressão e de opinião, não há democracia. Assim, a democracia está diretamente relacionada ao livre exercício da razão pública, não há democracia se as liberdades de expressão e de opinião estão cerceadas de maneira direta ou indireta”, declarou.

*Enviada especial

Políticos e empresários brasileiros desaprovam a conduta de Lula frente ao tarifaço

Publicado em Crise com os EUA, Crise diplomática, Economia, GOVERNO LULA, Lula, Politica Externa, Tarifaço de Trump
Crédito: FTF/LIDE

Mumbai, Índia — A decisão do presidente de Lula, de não se “humilhar” com um telefonema a Donald Trump para tratar das tarifas foi criticada abertamente por empresários e políticos reunidos no Lide Brazil India Forum nesta quinta-feira. “A discussão não pode ser nesse tom. Essa discussão tem que ser levada de maneira mais pragmática mais objetiva, é o que eu acredito. Acho que o Brasil precisa ligar, sentar e negociar, seja pelos diplomatas, seja pelo presidente. E deveria fazer isso sem abrir mão das suas prerrogativas de soberania e tudo mais, mas sentar para negociar com altivez aquilo que é de interesse da economia brasileira, porque o maior prejudicado é o próprio país. A gente tem que ter essa clareza”, comentou o governador do Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel, que participa do evento.

Os empresários que estão na Índia em busca de alternativas ao tarifaço trumpista vão na mesma linha: “O presidente (Lula) tem uma forma de trabalhar, temos que entender, mas, na nossa visão empresarial, precisamos de mais ações. É ir lá bater na porta para negociar”, comenta o vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Sergio Logen, que comanda a Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul.

Crédito: FTF/LIDE

O ex-governador de São Paulo João Doria, fundador do Lide, concorda com a posição dos governadores, como Eduardo Riedel. “Não há humilhação nenhuma em você telefonar, desde o seu objetivo seja tratar economicamente do tema e não politicamente. O outro lado não está com a razão, o presidente Trump não tem razão de impor ao Brasil, como impôs a outros países, uma sobretaxa de 50 por cento, mas isso não impede que você tenha destreza, capacidade e liderança de telefonar ao presidente dos Estados Unidos da América para falar clara e objetivamente, sem ofensas, sem transformar este encontro num embate, mas de maneira objetiva, construtiva, no sentido de reverter essa posição, seja integralmente ou para ampliar os pontos que podem unir o Brasil aos Estados Unidos e não estabelecer a distância. Não há humilhação nenhuma em você telefonar para um chefe de estado. Não vejo nesse sentido, essa é uma visão política. E, sendo uma visão política, talvez o presidente Lula fique muito próximo também do equívoco do presidente Trump, que transformou as medidas com base numa visão política equivocada, de proteção e amparo ao ex-presidente Jair Bolsonaro, e não numa visão técnica, objetiva, amparada em razões comerciais. Eu duvido que o presidente americano vá maltratar o presidente do Brasil num telefonema, não creio que pudesse chegar a este ponto”, disse Doria.

A posição dos empresários não fez com que Lula mudasse de ideia. A avaliação do governo brasileiro é a de que Trump não quer conversar. Além disso, aliados de Lula temem que o presidente brasileiro seja exposto a constrangimentos, tal e qual o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, num encontro na Casa Branca. Antes de falar com Trump, Lula deixará que os diplomatas e os próprios empresários atuem, no sentido de tentar reverter os 50%.

*Enviada Especial

Em dia de tarifaço à Índia, empresários brasileiros e indianos se reúnem no Lide Brasil Índia Forum

Publicado em Crise com os EUA, Crise diplomática, Cúpula dos Brics, Economia, EUA, Política, Politica Externa, Tarifaço de Trump

Mumbai, India — Empresários brasileiros e indianos que tiveram seus produtos taxados na faixa dos 50% nos Estados Unidos acreditam que, a partir de agora, estão abertos os canais de negociação entre países, sem precisar das bênçãos dos EUA ou sua interferência. A ideia deles é a de que, enquanto cada país busca renegociar suas novas tarifas com o governo de Donald Trump, esses “taxados” precisam se unir para ampliar seus mercados. Pelo menos, essa é a opinião de muitos industriais que, esta semana, voaram para a Índia a fim de participar do seminário Lide Brasil Índia Forum, promovido pelo grupo Líderes Empresariais coincidentemente um dia depois de Trump anunciar a taxação dos produtos indianos em 50%.

Crédito: Caio Gomez

Nos bastidores do jantar de abertura do evento às 20h desta quarta-feira (10h30 da manhã, horário de Brasília), por exemplo, o tema recorrente foi o da taxação sobre produtos indianos, anunciada quando os convidados do Lide ainda estavam à mesa, jantando com o ex-governador de são Paulo João Doria, fundador do Lide.

Os empresários, otimistas em relação ao futuro entre os dois países, consideram que não dá para dissociar as tarifas aplicadas por Trump ao fato de os BRICS buscarem negociações longe do dólar. Embora uma moeda dos BRICS não seja consenso no bloco e esteja longe qualquer solução que possa levar o mundo a prescindir do dólar, a avaliação da diplomacia é a de que os movimentos nessa direção pro parte da china e do governo brasileiro contribuíram para as sanções tarifárias.

Razões à parte, a maioria afirma que a política trumpista abre caminho de busca de novos mercados e que a Índia, com 1,4 bilhão de pessoas, 17% da população mundial, está no top 5 desse projeto, uma vez que foi o país que mais cresceu no ano passado, com um PIB de 6,5% acima da China. Ao mesmo tempo em que bate recordes de crescimento, a Índia precisa de alimentos. Por isso, a grande aposta para os empresários que passam por Mumbai é o agro, objeto do segundo painel desta quinta-feira (7), em Mumbai, no seminário.

Outros temas que prometem ter bastante espaço é a tecnologia e o de energia e mineração, objeto do último painel do dia, sob o comando do ex-presidente da Petrobras Jean Paul Prates, responsável pelo Lide Energia. O seminário deixará claro que, se os Estados Unidos promovem as tarifas que desejam, os países taxados não ficarão de braços cruzados apenas reclamando, embora as reclamações façam parte do jogo.

*Enviada Especial

Governo sofre sem articulador com o Legislativo

Publicado em Câmara dos Deputados, coluna Brasília-DF, Congresso, Economia, GOVERNO LULA, Orçamento, Política, Senado, STF

Coluna Brasília-DF publicada na sexta-feira, 27 de junho, por Denise Rothenburg com Eduarda Esposito

Enquanto a cúpula do governo digere a derrota desta semana no Parlamento, seus mais fiéis escudeiros concluem que, enquanto o PT ocupar todos os cargos palacianos e continuar puxando o governo para a esquerda, a situação tende a se agravar. A entrada do presidente Lula na negociação com os presidentes da Câmara, Hugo Motta, e o do Senado, Davi Alcolumbre, adia a crise, mas não arruma a Casa. A avaliação dos aliados é a de que, enquanto o governo não tiver um articulador político mais ao centro, tudo ficará como está. O que se diz, no governo e fora dele, é que não será com Rui Costa na Casa Civil e Gleisi Hoffmann na coordenação política que Lula terá sucesso na Câmara ou no Senado.

Crédito: Caio Gomez

Será declaração de guerra/ É assim que os congressistas têm se referido à ideia do governo de levar a derrubada do decreto do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) ao Supremo Tribunal Federal. Para eles, a situação requer diálogo, e não de imposição de projetos.

Movimentos opostos

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, foi recebido com toda a pompa na sede do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). A entidade está fechada com ele em defesa do marco regulatório dos metais críticos. Nos bastidores, o que se diz é que, se levar em conta as atitudes de Lula e dos setores minério e energia, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, não conseguirá derrubar o ministro, ainda que trave todas as indicações das agências reguladoras.

O sentimento dos senadores

Muitos garantem já ter ouvido de Alcolumbre que as indicações para as agências reguladoras não sairão do papel enquanto os indicados não forem substituídos. E as agências que atuem com os diretores interinos e, em sua maioria, desmotivados.

Situação difícil

O governo tentou apelar aos deputados, mas, ao conseguir menos de 100 votos, ficou claro que o PT voltou aos velhos tempos de oposição, lá no início do governo Fernando Henrique Cardoso. Sem força para fazer valer a sua vontade.

Incongruências

O projeto que aumenta o número de deputados não está sendo bem aceito pela sociedade, e o Ranking dos Políticos alerta para a ampliação de despesa do Estado. “Aumentar o número de deputados é ampliar o custo da máquina pública sem garantir retorno algum à sociedade. O Brasil precisa de eficiência, não de mais cadeiras ocupadas por quem já tem dificuldade em entregar resultados” , critica Juan Carlos Arruda, diretor-geral do instituto.

Na contramão

Para ele, o Parlamento está na direção errada. “O Congresso deveria estar discutindo como ser mais enxuto, mais eficaz e mais responsável — não como se tornar maior, mais caro e mais ineficiente” , conclui.

Todo mundo quer a sua

Quem também quer uma federação, melhor dizendo, uma nova, é o Cidadania. A federação com o PSDB vai acabar, e o partido estuda uma aliança com o PSD, PSB ou MDB — que está quase federando com o Republicanos. Até o momento, o favorito da direção da legenda é o partido de João Campos.

CURTIDAS

Crédito: Ukinbrazil

A “rainha ambiental”/A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, faz sucesso. Em Londres. Ela esteve esta semana com o Rei Charles III (foto), do Reino Unido, e aproveitou para mencionar a ele que a castanheira que o rei plantou no Brasil, em abril de 1991, continua viva e está com 15 metros de altura.

Celebridade I/ Aliás, não são poucas as autoridades que pedem para conversar com Marina. Ainda no governo Fernando Henrique Cardoso, quando o presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, esteve no Brasil, em outubro de 1997, ele pediu que seu cerimonial desse um jeito para conhecer a então “senadora da floresta” . Marina, que estava bem atrás no coquetel do Itamaraty, longe de onde o presidente estadunidense passaria, foi colocada num local estratégico. O intérprete da conversa foi o presidente Fernando Henrique Cardoso.

Celebridade II/ À época, a coluna acompanhou de perto a conversa. Clinton parabenizou Marina pelo trabalho em defesa do meio ambiente, relatado a ele alguns meses antes pela então primeira-dama dos Estados Unidos, Hillary Clinton. Marina havia conversado com Hillary Clinton durante encontro promovido pela então primeira-dama Ruth Cardoso, quando da visita da autoridade norte-americana ao Brasil.

Lide Coreia/ O fundador do Lide e ex-governador de São Paulo João Doria anunciou, em conversa com o cônsul da Coreia do Sul, Jin-Weon Chae, que o grupo Líderes empresariais abrirá seu escritório em Seul em 2026. A ideia é ampliar a conexão do Brasil com outros mercados estratégicos no plano internacional.

Colaborou Israel Medeiros