As apostas de Lula

Publicado em Lula

Coluna publicada em 6 de agosto de 2024, por Denise Rothenburg 

O entorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalia que diante da não apresentação das atas que confirmem a vitória de Nicolás Maduro na Venezuela, as cobranças sobre um posicionamento mais enfático em defesa da democracia e da transparência vão crescer de forma exponencial. Porém, lá na frente, os aliados do brasileiro consideram que a posição atual de Lula, de muita cautela, se transformará num ativo, no sentido de mostrar que o governo soube preservar o diálogo com um vizinho complicado.

Pesos eleitorais

Os lulistas avaliam que a situação da Venezuela vai passar e o que vai pesar mesmo na temporada da próxima eleição presidencial, ou na popularidade de Lula, é a comida na mesa dos brasileiros, tema que o presidente tem abordado em todos os discursos. No Chile, por exemplo, mencionou o fato de ter reduzido, em um ano e meio, o número de brasileiros no mapa da fome. Esse será o fator principal, segundo os mais próximos de Lula.

O foco é nacional

O presidente tentará passar olímpico pela maioria das capitais nessas eleições. Ainda que o PT pressione por apoio aos candidatos que estiverem no palanque, tem muita gente no entorno presidencial com receio de perder apoios fundamentais no Congresso.

O passado recomenda…

Há 20 anos, o governo perdeu a mão no processo eleitoral e também na eleição para presidente da Câmara. Vieram Severino Cavalcanti e, em seguida, as denúncias de Roberto Jefferson sobre o mensalão. O governo foi salvo por uma engenharia comandada por Aldo Rebelo (PCdoB), Eduardo Campos (PSB) e Eunício Oliveira (MDB).

… muita cautela

Atualmente, essas três legendas não têm mais a força do passado. Os partidos de direita têm mais voz no Parlamento e o Orçamento, antes sob o comando do Poder Executivo, está sob a batuta do Congresso. Portanto, todo cuidado é pouco, seja na eleição municipal, seja na corrida pela Presidência da Câmara.

Campanha necessária

Com Pablo Marçal (PRTB) e José Luiz Datena (PSDB) na disputa pela prefeitura de São Paulo, a avaliação de muitos bolsonaristas é de que o ex-presidente precisará entrar na campanha, a fim de deixar bem claro aos seus eleitores quem ele apoia nesse pleito — ou seja, Ricardo Nunes (MDB). Afinal, à esquerda, Lula já entrou no barco de Guilherme Boulos (PSol).

Enquanto isso, em Belo Horizonte…

O fato de Romeu Zema (Novo) não apoiar Bruno Engler (PL) na capital mineira é visto como uma forma de o governador de Minas Gerais marcar distância do bolsonarismo e fazer acenos ao centro conservador. É um gesto local que dá uma sinalização
rumo a 2026.

Momentos decisivos/ Com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL, foto), disposto a anunciar na próxima semana quem terá apoio à sua sucessão na Casa, os parlamentares estão a caminho de Brasília. Aliás, é esse tema que embalará a largada das eleições municipais.

Por falar em eleições…/ A disputa paulistana e a de Belo Horizonte são vistas como aquelas em que o governo precisa ter muita cautela para não deixar que respinguem nas articulações em Brasília. Com aliados divididos, não se pode deixar que mágoas atrapalhem a relação política. Tudo terá que ser conversado e avisado.

Tema do momento/ O show As V Estações, com Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, exibiu um vídeo com indígenas fortes e saudáveis, em suas aldeias, no início do século passado. Um contraste com a situação desses dias, em que as comunidades nativas sofrem com a violência e a desnutrição. Na voz de Dado, a música Índios soou como mais um alerta nesse período de discussão do marco temporal das terras dos povos originários.

Posição de Lula vai atrapalhar a reforma

Publicado em Economia

Blog da Denise publicado em 02 de agosto de 2024, por Denise Rothenburg

Os senadores não estão com a mesma pressa do governo em relação à reforma tributária. Nesse sentido, tudo o que o governo e Lula fizerem será motivo para levar os oposicionistas e até uma parcela dos partidos de centro a desacelerar a análise da proposta votada na Câmara. Na semana que vem, por exemplo, os senadores retomam os trabalhos, mas os debates devem se concentrar na situação da Venezuela e na demora do governo Lula em pressionar o aliado venezuelano a apresentar as provas de que foi eleito, ainda que esteja cada vez mais claro que não há meios de comprovar a vitória de Maduro nas urnas. Até aqui, o Brasil cobrou as atas, o PT saudou a reeleição do presidente e Lula disse ser “normal” o que está acontecendo no país vizinho. Nessa toada, dificilmente o governo conseguirá ampliar a convicção de que defende a democracia.

Trabalho aos domingos

O governo adiou para 2025 a implantação das novas regras de trabalho aos domingos, expedida por portaria do Ministério do Trabalho. Porém, ainda não acertou os ponteiros com o Congresso. Se não o fizer, a ideia dos parlamentares é aprovar logo uma lei que garanta esses serviços. E há propostas no sentido de deixar a definição de compensações — por exemplo, dia de descanso — para livre acordo entre patrões e empregados, sem precisar, necessariamente, passar pelos sindicatos.

A hora dos partidos

O jeito com que o presidente da Câmara, Arthur Lira, tocou a reforma tributária na Casa — com grupos de trabalho formados pelos 14 maiores partidos com representação — será repetido em outras propostas. A ideia é para valorizar os partidos como promotores das propostas. Nas comissões técnicas da Casa, avaliam alguns, esse trabalho partidário fica diluído, além de ser mais demorado. As prioridades dos deputados deverão ser tratadas assim, pelo menos, ao longo deste segundo semestre.

Biocombustível X eletricidade

A semana de retomada dos trabalhos do Congresso vai reunir a Frente Parlamentar dos Biocombustíveis e a FPA, a poderosa Frente Parlamentar do Agro, na Biodiesel Week, evento que discutirá o aumento da produção de biocombustíveis, com a União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio). Estão todos de olho num mercado em que o Brasil tem tudo para dominar. Os carros somente elétricos não fazem parte da vocação brasileira.

Juntos são mais fortes

Esses dois setores têm muito a ganhar. Em relação à soja, por exemplo, a produção de biocombustível resulta em óleo e farelo para ração animal. Ou seja, quanto mais óleo, mais farelo, mais ração, o que resulta em capacidade de aumento da proteína animal no país.

Narrativa em curso

O fato de o Brasil ter assumido as embaixadas da Argentina e do Peru na Venezuela será usado para tentar amenizar as críticas da posição light do governo brasileiro em relação ao processo eleitoral venezuelano. Até o presidente da Argentina, Javier Milei, agradeceu o gesto brasileiro.

“Definir juros não se trata de uma decisão de bom coração ou não. É algo que se baseia em fundamentos da economia, tais como contas que não fecham”

Do ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco, em entrevista ao BM&CNews

CURTIDAS

Por falar em juros…/ A presidente do PT, Gleisi Hoffmann (foto), voltou a colocar a manutenção da taxa de 10,5% no colo do presidente do BC, Roberto Campos Neto, embora a votação no Comitê de Política Monetária (Copom) tenha sido unânime.

Educação fiscal/ Encerrado o prazo de inscrição, a edição 2024 do Prêmio Nacional de Educação Fiscal recebeu 248 trabalhos nas quatro categorias, escolas, instituições, imprensa e tecnologia. Os cinco estados com maior número de projetos escolares e institucionais foram Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Amazonas e Pará.

Uma preocupação/ Conforme antecipou a coluna, a nota conjunta dos presidentes Lula, Lopes Obrador (México) e Gustavo Petro (Colômbia) sobre a Venezuela cobra as atas da eleição de Nicolás Maduro, mas ajusta o foco no receio de escalada da violência. Só tem um probleminha: a violência já escalou.

 

Dissenso latino ofusca liderança do Brasil

Publicado em Lula, Politica Externa

Coluna publicada em 26 de julho de 2024, por Carlos Alexandre de Souza

O turbulento cenário político na América do Sul, marcado pela hiperpolarização e por regimes democráticos de solidez variável, inviabiliza qualquer pretensão do Brasil de se apresentar como liderança regional. A ofensiva antidemocrática de Nicolás Maduro, que previu um “banho de sangue” se perder a disputa presidencial deste domingo, é o mais recente exemplo de um subcontinente em ebulição, com longo histórico de instabilidades políticas, golpes e crise sociais e econômicas.

A radicalização estimulada por Maduro obrigou os países vizinhos a se posicionarem. Ontem, o presidente do Chile, Gabriel Boric, defendeu eleições “transparentes, competitivas e sujeitas à observação internacional” na Venezuela e fez coro ao tom de Lula. “Concordo e apoio as declarações de Lula de que aqui não podemos ameaçar nenhum ponto de vista com banhos de sangue, o que os líderes e candidatos recebem são banhos de votos”, disse.

A posição do líder progressista chileno se junta à crítica conjunta de outros países que repudiam os métodos antidemocráticos de Maduro. Na semana passada, os governos de Argentina, Paraguai, Uruguai, Costa Rica e Guatemala emitiram comunicado contundente: “Exigimos o fim imediato do assédio e da perseguição e repressão contra ativistas políticos e sociais da oposição, bem como a libertação de todos os presos políticos.”

Fica díficil

O clima beligerante e a postura condescendente do governo Lula com as arbitrariedades de Maduro reduzem a praticamente zero as chances de o Brasil construir um consenso na região. Esse vácuo de liderança compromete iniciativas como o Mercosul, além de perpetuar problemas crônicos na região, como violência política e desigualdade social.

Baixaria

A discórdia sul-americana chegou ao nível das ofensas. Na semana passada, após Nicolás Maduro chamar o presidente da Argentina, Javier Milei, de “maldito”, a Casa Rosada respondeu no mesmo tom. “O que possa dizer Maduro, um ditador, um imbecil como Maduro, não deixam de ser palavras de um ditador. Preocupa-nos o povo venezuelano, que não haja democracia na Venezuela, em virtude do que possa ocorrer nas próximas eleições”, rebateu o porta-voz de Milei, Manuel Adorni.

Deixa pra lá

O senador Chico Rodrigues (PSB-RR) fez um apelo para que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) releve a acusação sem prova, feita por Nicolás Maduro, de que as eleições no Brasil não são auditáveis. Em resposta às declarações do presidente venezuelano, o TSE suspendeu o envio de técnicos para acompanhar o pleito.

Uma pena

“O Brasil tem o sistema eleitoral mais confiável da América do Sul. O TSE deveria relevar os comentários de Maduro neste momento tenso de eleições na Venezuela e observar o pleito. É uma pena que o TSE não atenda ao convite feito pela Comissão Nacional Eleitoral da Venezuela”, escreveu o parlamentar.

Negado

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), negou o pedido da defesa do ex-deputado Daniel Silveira para concessão de progressão de pena. O ex-parlamentar foi condenado pela Corte a oito anos e nove meses de prisão por estimular atos antidemocráticos, ameaçar as instituições e fazer apologia à ditadura militar.

Pague primeiro

Silveira está preso desde fevereiro de 2023. Os advogados alegam que o preso já ultrapassou o tempo mínimo de 25% de cumprimento de pena para ter direito ao regime semiaberto. Ocorre que, para ter direito ao benefício, o ex-deputado também precisaria pagar multa no valor de R$ 247,1 mil.

Transparência

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) ingressou com ação no Supremo Tribunal Federal (STF) contra as emendas parlamentares individuais, conhecidas como “emendas Pi

Resta a segurança pública

Publicado em Bolsonaro na mira

Blog da Denise, publicado em 10 de julho de 2024 por Denise Rothenburg

As provas de que o ex-presidente Jair Bolsonaro não só mandou vender os presentes de luxo que recebeu de autoridades estrangeiras — como também pode ter recebido repasses em dinheiro sobre essas vendas — deixou seus aliados cabisbaixos nas principais capitais do país. Mais: acreditam que essa história está só começando.

Se ficar comprovado o recebimento de dinheiro, ainda mais em espécie, sem declaração no imposto de renda, será muito pior. Nesse sentido, resta aos pré-candidatos mais afinados ao bolsonarismo jogar tudo no tema da segurança pública, onde consideram que é possível nadar de braçada.

Em conversas reservadas, muitos bolsonaristas avaliam que a tentativa de venda de relógios e peças ornamentais tirou desse segmento o discurso de combate à corrupção em plena campanha eleitoral. O receio agora é ouvir algo como um “tudo joia?” por onde passarem.

Até aqui, uma turma batia no peito para dizer que Bolsonaro podia ser grosseiro em algumas situações, mas jamais tentaria ganhar dinheiro além do seu salário de presidente. Esse mesmo grupo emendava com a história do triplex do Guarujá e do sítio em Atibaia, atribuídos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Esse discurso perdeu força e, enquanto não for refeito sobre outras bases, o maior apelo será mesmo a segurança pública.

Paz a fórceps

O escândalo da venda de presentes de luxo envolvendo Bolsonaro acirra o clima na Câmara dos Deputados justamente num momento em que o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), buscava um ambiente menos conturbado para votar a reforma tributária. Justamente para evitar problemas, ele cancelou as comissões técnicas. Esses colegiados viraram ringues entre petistas e bolsonaristas.

Não vai demorar

Os processos relacionados ao caso das joias já chegaram à Procuradoria-Geral da República (PGR). A decisão sairá em pleno recesso parlamentar. Assim, a repercussão entre os políticos será menor. Quando o Congresso voltar, a decisão já terá sido assimilada pelos políticos.

O jogo da tributária

Tem muito lobista criando dificuldade para ver se consegue baixar sua alíquota do imposto. A reforma está na fase do “quem não chora, não mama”, e tem um problema: se baixar demais de um setor, outro terá de pagar a conta.

Dúvida atroz/ Bombou nas redes sociais do PSD, e na festa de ontem, o vídeo em que Bolsonaro entrega ao líder Antonio Brito (BA) a medalha dos três Is (“imorrível” e por aí vai). Resta saber se o ex-presidente levará o PL a votar no líder pedessista para
presidir a Câmara.

Duhalde e Lula/ Presidente da Argentina de janeiro de 2002 a maio de 2003, Eduardo Duhalde fez questão de comparecer à cúpula do Mercosul, em Assunção, para conversar com Lula. O simbolismo serviu para mostrar que, na Argentina, tem gente que respeita e gosta do presidente brasileiro.

Por falar em Lula…/ Os pais do real que votaram em Lula em 2022 não entendem por que o governo não comemorou, com pompa e circunstância, os 30 anos da moeda. Os petistas, porém, explicam: o partido votou contra o Plano Real quando do seu lançamento.

O desafio é econômico

Publicado em Economia, Eleições, Governo Bolsonaro, GOVERNO LULA

Blog da Denise publicado em 3 de julho de 2024, por Denise Rothenburg

Com os programas sociais retomados e funcionando, falta ao governo acertar o passo no controle de gastos, a fim de evitar uma explosão da dívida. Nesse sentido, vem por aí a reafirmação do discurso de cobrança de impostos dos mais ricos. É nessa linha que seguirá a segunda etapa da reforma tributária — a que tratará de patrimônio e renda. O ensaio desse discurso será ainda este mês, durante a reunião dos ministros da área econômica dos países do G-20, no final do mês, no Rio de Janeiro.

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Em tempo: essa bandeira, aliás, será hasteada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Não se sabe, porém, se isso fará com que fiquem em segundo plano as críticas ao presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, que está praticamente no fim da gestão. Lula ainda não está convencido de que precisa dar um basta nesse enfrentamento a Campos Neto. Pensa, inclusive, em tentar uma antecipação da saída dele do comando do BC, algo que o governo não tem poderes para impor.

Vacina na segurança

A ideia de apresentar uma proposta para a área de segurança, em plena campanha eleitoral de prefeitos e vereadores, vem acompanhada de uma estratégia para dar visibilidade ao PT nesta seara. E, de quebra, dar aos candidatos do partido e a Lula uma resposta àqueles que quiserem acusar o governo federal de não ajudar estados e municípios nesse tema.

Esqueçam isso

O governo não vai promover nem uma nova reforma da previdência, seja para quem for. Os estrategistas políticos consideram que esse tema cria mais confusão e não resolve o problema tributário do país. O foco será a tributária sobre patrimônio e renda.

Em política…

No final da entrevista à Rádio Sociedade, da Bahia, Lula contou a história da recusa ao convite para passar alguns meses nos Estados Unidos, depois da eleição de 1998. Foi incisivo ao dizer que recusou porque não iria sair do país e deixar seus eleitores aqui chorando. A declaração vem sob medida para um contraponto no futuro.

… o acaso passa longe

Essa história será repetida em outras oportunidades, ao longo da campanha municipal, para dizer que o PT não abandona seu eleitorado quando perde uma eleição, como fez Jair Bolsonaro, no fim de 2022. Resta saber se esse discurso terá efeito sobre aqueles que votaram no ex-presidente, uma vez que ele não pode ser candidato.

Todos em movimento/ Na inauguração do Novotel de Recife, pelo menos um dos políticos que subiu ao palco para discursar era citado nos bastidores como um forte nome para o Senado. O ministro de Portos e Aeroportos Sílvio Costa Filho (foto) é a aposta do Republicanos em Pernambuco. Ele tem trânsito tanto no PT quanto na ala mais ligada ao presidente do partido, deputado Marcos Pereira (SP).

Por falar em presidente de partido…/ Com o financiamento das campanhas a cargo da burocracia partidária, o bom relacionamento com eles é um ativo importante para esta e para a próxima eleição.

Data voo/ Mesmo inelegível, Bolsonaro continua chamando a atenção de maneira positiva perante os eleitores. No voo da Gol de Carajás (PA) para Belo Horizonte, passageiros fizeram fila para tirar fotos e cumprimentá-lo.

Enquanto isso, no PT…/ Na mesma entrevista em que mandou seus recados mais nacionais, Lula disse que fica torcendo para Geraldo Júnior ser prefeito de Salvador, de forma a haver um alinhamento entre prefeito, governador e presidente da República. A ideia é repetir esse discurso em todas as capitais.

Entrevistas viram ensaios para Lula

Publicado em Política
Crédito: Caio Gomez

 

Na série de entrevistas que tem feito Brasil afora, como a que concedeu hoje à rádio Sociedade, na Bahia, o presidente Lula começa a ensaiar desde já o discurso para tentar tirar os militantes do bolsonarismo das ruas nas eleições futuras. Paralelamente às declarações sobre a moeda sofrendo um “ataque especulativo” e defesa da eleição de Geraldo Júnior, em Salvador, o presidente contou o convite que recebeu do sociólogo e professor Mangabeira Unger, logo depois da eleição de 1998, para passar uma temporada nos Estados Unidos e ele recusou. “Eu disse, Mangabeira, não posso sair do Brasil. Acabei de perder as eleições, tem milhões de pessoas que votaram em mim que estão chorando. Vou viajar e largar eles aqui? (…) Vou conversar com o povo para ele saber que o general dele está ativo. Imagine se vou para Harvard passar seis meses e os coitadinhos aqui, lamentando a derrota?”

Lula falava do otimismo, da necessidade de manter o ânimo e a vontade de trabalhar. E, em meio a essa fala, relembrou a conversa com Mangabeira, que vem como um contraponto ao comportamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, numa situação de derrota eleitoral. Bolsonaro ficou três meses nos Estados Unidos, fora a temporada em que esteve recluso no Alvorada. Em 1998, Lula havia perdido a eleição e Fernando Henrique Cardoso, reeleito em primeiro turno.

O presidente não citou esse episódio por mero acaso. A ideia do PT é tentar massificar a diferença de comportamento entre os dois grandes líderes da polarização política no Brasil quando os ventos sopram em favor do adversário. Um foi embora e o outro ficou aqui. Entre alguns estrategistas, porém, há dúvidas sobre o efeito no eleitorado, porque o candidato em 2026 não será o ex-presidente.Conforme lembrou a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) em entrevista ao Correio, os conservadores têm um portfólio de opções para a próxima corrida presidencial, inclusive quatro governadores, Ratinho Júnior (Paraná), Romeu Zema (Minas Gerais), Ronaldo Caiado (Goiás) e Tarcísio de Freitas (São Paulo). Os ideia oposicionistas estão dedicados a estudar pesquisas para ver quem terá mais jogo de cintura para se desviar dos campos minados que podem atrapalhar __ a temporada de Bolsonaro nos Estados Unidos, que se misturam com o caso das joias, o negacionismo em relação às vacinas e por aí vai. Embora a eleição presidencial ainda esteja longe, já estão todos na campanha de 2024 de olho no horizonte de 2026.

Entrevistas para mudar a pauta

Ilustração Lula
Publicado em Política

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva será aconselhado a incluir em suas entrevistas e outras falas, Brasil afora, o discurso de que o país, apesar dos pesares, passa longe das previsões do ex-ministro da Economia Paulo Guedes. Em um ano e meio de governo, o país não virou nem uma Venezuela, tampouco uma Argentina. O Brasil tem reservas internacionais invejáveis. De quebra, retomou todos os programas sociais que haviam sido reduzidos e o emprego de carteira assinada subiu.

Porém, desde a aprovação da emenda constitucional da reforma tributária, o debate desses temas saiu do palco principal e a população terminou direcionada para discussões que não são prioritários para o país — tal como aborto legal, drogas e jogos de azar. É hora de mudar essa toada. Só tem um probleminha: ficar falando mal do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, não ajudará Lula a promover as boas notícias de seu governo.

A avaliação geral dos aliados do presidente, colocada de forma reservada por senadores e nas rodas de conversas em eventos sociais de Brasília, é de que os oposicionistas não têm como se contrapor aos programas sociais apresentados pelo governo. Por isso, viraram o leme para as pautas de costumes, com o aval dos partidos do centro. Cabe a Lula e a seus ministros baterem bumbo para repor a agenda ambiental e social de forma mais forte, tirando de cena as cascas de banana que a oposição joga a fim de tentar dominar o debate pré-eleitoral.

Giro de 180 graus

O gesto de apoio de Lula ao ministro das Comunicações, Juscelino Filho, é o padrão que ele vai adotar sempre que houver algum ministro enroscado num processo ou denúncia que precise de investigação. É o inverso do que era feito em governos anteriores, quando ministros eram afastados em caso de
qualquer suspeita.

O estresse de Gilvan

Pelo menos sete deputados, entre eles Gilvan Máximo (Republicanos-DF), estão sob tensão desde a noite de ontem, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria para redistribuição das sobras eleitorais. E devem continuar assim por um bom tempo, porque o caso agora sai do plenário virtual e vai para o plenário, onde cada ministro terá que votar novamente. Além de Gilvan, estão nesse imbróglio Doutor Pupio (MDB-AP), Lázaro Botelho (PP-TO), Lebrão (União-TO), Professora Goreth (PDT-AP), Sílvia Waiãpi (PL-AP) e Sonise
Barbosa (PL-AP).

E a alegria de Rodrigo?

No Distrito Federal, quem também está na expectativa é o ex-governador e ex-deputado Rodrigo Rollemberg, do PSB. Ele ganhará um mandato se Gilvan tiver a eleição anulada.

Network

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), fez questão de comparecer às festas de São João na Paraíba e vai também a Pernambuco. Lira tem feito questão de manter seu grupo unido e num bom astral. Afinal, se todos estiverem prestigiados, aumentam as chances de Lira continuar no comando da própria sucessão.

Amor, Justiça e… / Com tantas autoridades presentes, os bastidores do casamento do advogado criminalista Michel Saliba com a chefe de Gabinete da Secretaria Executiva do Ministério da Justiça, Angelita Rosa, transformou-se num debate, na última quinta-feira (foto). Lá estavam o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, com a mulher Yara; o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira; e o ex-ministro José Dirceu.

… política/ Ganhou destaque o fato de tanto o Parlamento quanto o Judiciário estarem se dedicando a assuntos já legislados, vide a discussão sobre o aborto e saidinhas de presos. O momento tem que ser aproveitado no sentido de sedimentar o ambiente democrático e acertar o passo na economia.

O Ethan Hunt da Esplanada/ O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é visto entre os colegas como aquele que tem hoje uma missão impossível, bem ao estilo do personagem vivido por Tom Cruise nas telas de cinema: escolher uma saída que agrade a todos e ainda represente a própria sobrevivência. Haddad precisa agradar a Lula, ao mercado e ao Parlamento.

Colaborou Rosana Hessel*

 

Área econômica diverge de Lula

Publicado em Economia, GOVERNO LULA

Por Denise Rothenburg – Em conversas reservadas, técnicos do Ministério da Fazenda têm dito que a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), de manter os juros no mesmo patamar, foi a saída mais acertada, diante do contexto que o assunto ganhou. Se baixasse, a leitura seria de rendição às pressões políticas. Se aumentasse, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, seria ainda mais acusado de jogar politicamente. A equipe considera que “pulou” essa fogueira, para separar as estações política e econômica.

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Passada a novela dos juros, o movimento em curso está no sentido de reforçar a posição do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no Congresso. Afinal, depois do fracasso da medida provisória que mudava as regras dos créditos do PIS-Cofins, o momento é de respirar e refazer o traçado. Nesse sentido, até o próximo Copom, há uma janela para que governo reforce sua posição.

Porto Alegre funcionou

A pesquisa em que a deputada Maria do Rosário (PT-RS) desponta como líder para a prefeitura da capital gaúcha foi lida dentro do partido como um sinal de que o trabalho do governo federal, nesse período trágico das enchentes, foi bem recebido pela população. Agora, os petistas consideram que o momento é de tentar agregar aliados.

A política em Lisboa

Governo e oposição têm encontro marcado a partir do dia 26, no XII Fórum Jurídico de Lisboa — este ano com o tema “Avanços e recuos da globalização e as novas fronteiras: Transformações jurídicas, políticas, econômicas, socioambientais e digitais”. Sob a batuta do ministro Gilmar Mendes, o evento colocará, num mesmo painel sobre judicialização da política, a vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão, e o líder do governo no Senado, Randolfe Rodrigues (sem partido-AP).

E com diálogo

Em outro momento, num painel sobre o governo de coalizão e o papel de politicas públicas, estarão à mesa o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), e o prefeito de Recife, João Campos. A abertura, na próxima quarta-feira, terá a presença do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Serão três dias de muitos debates e bastidores.

Petrobras escapa

O dólar alto resiste, diante as incertezas fiscais no Brasil e do cenário externo, mas as ações da Petrobras subiram. No campo político, a avaliação é de que o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de investimentos na empresa, pegou bem junto ao mercado financeiro.

Ometto mais light/ No seminário Lide Futuro, com jovens empreendedores na casa Lide, em São Paulo, o CEO da Cosan, Rubens Ometto, apresentou um discurso bem mais ameno do que aquele feito no início do mês, no Fórum Esfera, no Guarujá (SP). Mas foi claro a dizer que é preciso enfrentar as dificuldades: “Você não pode se conformar”, frisou.

A luta não acabou I/ Ainda que Arthur Lira (foto) tenha jogado o projeto que endurece a lei do aborto para escanteio, a sociedade civil continuará mobilizada contra a proposta. Um manifesto assinado por 45 organizações, em especial associações de advogadas e juristas, reforça o coro e alerta que o texto, se aprovado, ampliará as desigualdades sociais.

A luta não acabou II/ No manifesto, as associações e ONGs pedem que os congressistas atentem para a necessidade de legislações que ampliem o apoio às vítimas de estupro, e não à criminalização de meninas e mulheres que sofrem esse tipo de violência.

Jogos de azar, maconha, aborto…/ Com a reforma tributária em fase de gestação no grupo de trabalho da Câmara, e a resistência dos políticos em debater amplamente as contas públicas, a pauta de costumes impera no Legislativo e no Judiciário.

 

Copom, Lula e os partidos

Publicado em Eleições, GOVERNO LULA

Por Denise Rothenburg – Ao contrário do que esperavam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT, os partidos aliados mais ao centro não gastaram energia jogando a culpa de algum desajuste econômico nas costas do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, e nem se dedicaram a criticar a estancada no corte de juros. Em conversas reservadas, muitos dizem que, diante do cenário da economia americana e das incertezas sobre o ajuste fiscal no Brasil, não dava para o BC fazer outra coisa. O fato de a decisão ter sido unânime deixa o espaço das críticas ainda menor.

Nesse sentido, a tendência na política é a ala mais à esquerda ficar reclamando sozinha, seguindo a toada que Lula lançou em sua entrevista à rádio CBN. Os demais vão cuidar da vida, esperando que o governo e a cúpula do Congresso se entendam sobre os cortes orçamentários. Até agora, houve muito discurso e poucas atitudes nesta seara — e isso não ajudará a baixar os juros.

Vale lembrar: há um desconforto nos partidos mais ao centro e não se restringe ao discurso de Lula sobre os juros. Essas legendas sustentam o governo, mas dizem que o presidente parece ter se esquecido que venceu a eleição com uma grande aliança, e não apenas com o PT. Ou Lula passa a governar com um discurso que atenda, pelo menos em parte, a parcela que pensa diferente, ou vai ficar difícil manter todo mundo junto em 2026.

O negócio deles é clique

Deputados conservadores insistem em manter o tema aborto na seara política. Mesmo depois de o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), anunciar que vai criar uma comissão para avaliar a proposta para endurecer essa legislação, vários discursaram sobre o assunto. É para arrumar engajamento nas redes sociais.

Aqui não, campeão

Ainda que a comissão a ser criada por Lira chegue a algum consenso, os líderes no Senado não querem saber de mudar a lei sobre aborto. Não há maioria para aprovar um projeto que criminalize a vítima.

Sem Lula, nada feito

Até aqui, embora Lula tenha dito que não está decidido a disputar um novo mandato, os aliados consideram que o único nome capaz de reproduzir a aliança de 2022 é o do atual presidente da República. Ou seja: reclamam dos gestos do presidente, mas não o dispensam.

Enquanto isso, em São Paulo…

O governador Tarcísio de Freitas já se refere à candidatura do prefeito Ricardo Nunes à reeleição em São Paulo como “nossa” — e também usa o plural quando responde sobre a escolha do vice. Colocou os dois pés na pré-campanha, da mesma forma que Lula fez na de Guilherme Boulos.

… a culpa é dos outros

Esses dois padrinhos, Lula e Tarcísio, jogam o prestígio, mas, em caso de derrota, a culpa será do candidato ou do partido. Afinal, nem o PT de Lula e nem o Republicanos de Tarcísio encabeçam as chapas.

 

Eles enxergam longe/

Os políticos ainda nem passaram pelas eleições deste ano e já fazem cálculos para o futuro, de olho na vice de Lula. Há quem diga que, se ele quiser repetir a aliança, terá que ter um nome do MDB — como o do governador do Pará, Helder Barbalho (foto).

Só tem um probleminha/

Nesse cenário, o PT terá que apoiar Geraldo Alckmin ao governo de São Paulo, algo que o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio ainda não disse se quer.

Novo normal/

A contar pela quantidade de excelências que embarcou na tarde de quarta-feira para o Rio de Janeiro, a presença na Câmara hoje será esvaziada. Aliás, a turma está deixando Brasília mais cedo do que fazia antes da pandemia. A cada dia, aumenta o número de excelências votando pelo Infoleg, o sistema remoto.

 

Recuar para liderar

Publicado em Câmara dos Deputados, Economia

Por Denise Rothenburg – Pela primeira vez, desde que assumiu o poder à frente da Câmara, o presidente Arthur Lira (PP-AL) e os líderes partidários, que juntos fazem a pauta, se viram numa situação de insatisfação geral dos deputados. Nos bastidores, muitos parlamentares reclamam que, no caso da urgência para o projeto que endurece a lei do aborto, confiaram nos comandantes das bancadas e terminaram expostos a uma situação desnecessária, pois o colegiado decidira atender a Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) e ao grupo evangélico. Ou seja, em vez de propostas que saíram das respectivas bancadas, prestigiaram uma frente parlamentar.

Agora, com essa proposta do aborto colocada para escanteio numa comissão e com a análise a perder de vista, Lira e os líderes conseguiram retomar a institucionalidade na Casa. Os deputados do baixo clero esperam que, daqui para frente, esse merengue docinho não desande ao longo do processo eleitoral na Casa. Enquanto o presidente e os líderes partidários caminharem juntos, conforme demonstraram até fisicamente na entrevista ontem à noite, permanecerão fortes.

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Em tempo: no baixo clero, a avaliação geral é de que o colégio de líderes de Lira saiu um pouco do script de previsibilidade de pauta, que seria anunciada com antecedência, e do fortalecimento das comissões. A pauta muitas vezes é conhecida em cima da hora, sem que os projetos sejam sabidos antecipadamente — como o caso da urgência para o PL do aborto. Já as comissões foram substituídas por grupos de trabalho. É por aí que muitos opositores do presidente da Câmara e dos atuais líderes afinam o discurso para o futuro.

O senhor dos votos

Ao se colocar como possível candidato em 2026, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz refluir todos aqueles pré-candidatos da esquerda que sonham em sucedê-lo. Ninguém vai se mexer até que o petista dê sinal verde.

Instinto presidencial

Lula está convencido de que o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, é um dos nomes da direita para a Presidência da República, em 2026. Aliás, juros à parte, o presidente só não citou isso na entrevista à CBN porque não quis, de viva-voz, lançar o nome do potencial adversário.

Cálculos errados

Tal e qual os congressistas conservadores não esperaram um movimento tão forte quanto o que se deu contra o projeto do aborto, a turma do Ministério da Fazenda jamais imaginou uma reação tão forte contra a medida provisória do PIS/Cofins. Em conversas reservadas, técnicos chegaram a mencionar que a MP atingiria, no máximo, cinco empresas.

Três semanas

É o tempo que se prevê para fechamento das chapas de candidatos nas capitais. No Rio de Janeiro, por exemplo, o prefeito Eduardo Paes, que concorrerá à reeleição, está pronto para anunciar o nome do deputado Pedro Paulo
(PSD-RJ) como seu vice.

Conhecimento nunca é demais/ Em 3 de julho, a presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, Daiane Santos (PCdoB-RS, foto), lançará uma cartilha com 200 termos para entender de direitos humanos. Vem por exemplo, “o direito à alimentação”, que muitos brasileiros desconhecem.

Até outubro!/ Depois de um dia inteiro esperando nas proximidades do plenário sem ter conhecimento do que seria votado, um deputado comentava ao telefone: “Vou me picar daqui. Isso aqui só vai funcionar mesmo depois da eleição”.

Nem tanto/Semana que vem, além das festas de São João, deputados e ministros têm encontro marcado em Portugal, para o XII Forum Jurídico de Lisboa. Este ano, o tema é “Avanços e recuos da globalização e as novas fronteiras: Transformações jurídicas, políticas, econômicas, socioambientais e digitais”. O evento é uma iniciativa do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), fundado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, e da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.