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Bolsonaro quer se eximir de culpa da crise econômica e jogar tudo no colo dos adversários

O pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro foi considerado um ponto político fora da curva para quem se disse avesso à mistura de política com ações de combate ao coronavírus. Isso porque passa a muitos a ideia de que o presidente está de olho, lá na frente, em 2022. Seu cálculo, compartilhado por alguns dos mais próximos, é marcar diferenças agora para seus potenciais adversários, em especial, o governador de São Paulo, João Dória.

A preços de hoje, Dória é visto como o maior adversário de Bolsonaro. Nessa terça-feira, São Paulo viveu o primeiro dia do fechamento de comércios e serviços não-essenciais. Wilson Witzel, do Rio de Janeiro, outro potencial concorrente, está há mais de uma semana tentando tirar os cariocas das ruas e das praias. Fechou bares, restaurantes, lojas.

Se a economia não estiver bem lá na frente, — e, por causa do coronavírus já há quase um consenso de que não estará — Bolsonaro sempre poderá dizer que, “eu tentei salvar a economia, reduzir o estrago, e me taxaram de louco”.

Nenhuma ação dos governadores foi feita longe do que está em curso em quase todos os países do mundo e até os Estados Unidos, que Bolsonaro vê como um modelo a ser seguido, a quarentena impera. A Disney fechou, a NBA, o basquete mais famoso do mundo, suspendeu a temporada. E, para completar, algumas horas antes do pronunciamento do presidente, Tóquio anunciou o adiamento das Olimpíadas deste ano.

A contar pelo discurso de Bolsonaro, todos estão errados e ele, certo. Ele sabe que não é culpado dessa derrocada mundial causada pelo vírus, mas arma sua jogada para ficar ainda mais longe desse estrago.

Bolsonaro aposta no mercado futuro. Considera que o coronavírus viverá seu ciclo e, depois, alguém terá que recuperar a economia. Da mesma forma que, em 2018, se apresentou como aquele que “tiraria o país da corrupção”, ele quer ser, em 2022, o dono da mensagem de que o vírus passa, mas a economia permanece. Falta combinar com aqueles que, em meio à pandemia, sofrem em busca de uma vaga nos hospitais ou perdem seus entes queridos por causa da Covid-19. Quando a vida está em jogo, nenhuma conta fecha. E as altas apostas podem comprometer o jogo inteiro.

Denise Rothenburg

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