Não será porque 2020 foi um ano atípico, desastroso e cruel, em função do novo coronavírus, que você deixará de brindar a chegada de 2021. Pelo contrário, os melhores votos serão formulados na virada para que o novo ano traga esperança, alegria e o desejo de que as condições sanitárias venham a melhorar com a vacina. Nessa pandemia, o consumidor bebeu mais vinho do que nunca. Devido à alta do dólar, ele passou a optar pelos rótulos nacionais e assim os vinhos finos brasileiros tiveram este ano, nos meses de janeiro a novembro, um aumento de 58,11% em relação aos mesmos 11 meses de 2019, passando de 14,3 milhões de litros para 22,7 milhões de litros.
A avaliação foi feita pelo presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), Deunir Argenta, que celebrou o feito, pois “mostra um novo período para o setor”. Entretanto, o mesmo desempenho não tiveram os espumantes. “Tínhamos uma expectativa maior em relação aos espumantes, mas ainda temos dezembro para contabilizar. Mesmo assim, acreditamos que a pandemia mudou o comportamento do consumidor e o vinho passou a ser o grande companheiro, enquanto o espumante, líder das festas de fim de ano, perdeu um pouco do seu brilho em razão do momento pandêmico vivido”, observa o dirigente da vitivinicultura. Ele ainda acredita que nesses últimos dias, a preferência recaia no espumante, bebida ideal para as comemorações.
Outros fatores que afetaram as vendas foi o cancelamento de grandes eventos e a falta de garrafas, problema também verificado em relação à cerveja. As fábricas não tiveram vasilhame suficiente para envasar as cervas.
No tocante à bebida de Baco, porém, 2020 chegou a ser batizado o ano do vinho brasileiro por ter apresentado uma qualidade excepcional nos tintos e brancos, o que levou a ganhar o slogan “a safra das safras”. Para a entidade que reúne os produtores, o consumidor está aberto a viver novas experiências, a fazer descobertas, a degustar o diferente, resume o empresário Deunir Argenta, proprietário da vinícola Luiz Argenta, que leva o nome de seu pai, e é localizada em Flores da Cunha (RS). Desde o ano passado, a Uvibra, que tem sede em Bento Gonçalves (RS), ficou mais forte depois da extinção do Ibravin (Instituto Brasileiro do Vinho).
País vinífero
Herança dos imigrantes, principalmente italianos, a produção de vinho brasileiro começou no Rio Grande do Sul e, por muitos anos, se limitou à Serra Gaúcha. Hoje, 26 regiões produtoras de 10 estados do Brasil elaboram vinhos, espumantes e sucos de uva de diferentes estilos e categorias, para distintos apreciadores e momentos. Nenhum, porém, é mais emblemático que a virada do ano, que tem a cara das borbulhas. Com a ampliação do mapa da produção vitivinícola, rótulos de alta qualidade saem de São Paulo, como Guaspari e Casa Verrone, que tem o Sur Lie, espumante em sua forma mais bruta e natural; do sul de Minas Gerais, como vinícola Luiz Porto e Epamig; do oeste do Paraná, como os versáteis RH Demi Sec Rosé, Extra Brut e Brut Medalha e até de Pernambuco. No Vale do Rio São Francisco, destacam-se o Rio Sol Brut Rosé e o Miolo Terra Nova, que apresenta as versões Brut, Rosé e Moscatel.
Mas é no Sul do país, a meca do espumante, um estilo de vinho que abriu as portas do Brasil para o mundo. Todos os anos surgem novas vinícolas que procuram igualar os produtos às grifes tradicionais, como Adolfo Lona, Aurora, Cave Geisse, Dal Pizzol, Famiglia Valduga, Garibaldi, Hermann, Perini, Peterlongo, Salton e outras. A sommelière Gabriela Bigarelli explica que é certeira a harmonização de espumantes com pratos típicos das festas de fim de ano: “Os espumantes são muito versáteis e combinam desde as entradas das ceias até o pratos principais, como peru, tender. Para as sobremesas, a indicação é escolher um espumante de sabor mais adocicado, com os moscatéis”. E o Brasil tem uma enorme variedade de moscatéis, alguns premiados com medalha de ouro no exterior.
Para ajudar o enólogo na criação de sua melhor criatura, a Associação Brasileira de Enologia (ABE) lançou em novembro o Banco de Dados do Espumante Brasileiro. Trata-se de uma ferramenta, para uso exclusivo dos profissionais do setor, que reúne informações, como acidez total, pH, pressão, açúcares redutores, tempo em tanque, tempo em garrafa, entre outros itens.
O estudo levou em conta 250 amostras em diversas categorias: Brut, Extra Brut, Nature, Rosé Brut e Moscatel. Colhidos nas inscrições dos produtos em concursos, os dados não revelam a marca comercial nem a empresa que elaborou os espumantes, duas informações absolutamente sigilosas. “Apostamos nessa iniciativa porque temos certeza de que o vinho brasileiro vive um momento histórico, que é o reflexo de todos os investimentos feitos até hoje pela indústria nacional, desde o vinhedo até o mercado”, afirmou o presidente da ABE, enólogo Daniel Salvador.