Os políticos passam o Domingo numa troca imensa de telefonemas e análises sobre o quadro das manifestações e a substituição do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. E, num ponto, as avaliações coincidem: Troca-se o ministro da Saúde, mas pouco coisa deve mudar, se o substituto não tiver autonomia para adotar uma postura diferente da defendida pelo presidente Jair Bolsonaro, que não admite o distanciamento social nem mesmo no cenário de um índice de transmissão superior a 1,0 em várias capitais brasileiras e colapso nos sistemas de saúde. No Distrito Federal, por exemplo, esse índice está em 1,35. As vacinas, outro ponto nevrálgico, vêm a conta-gotas, também pela demora do Brasil a ingressar na corrida pela imunização, algo que depende ainda de atitudes firmes por parte da diplomacia brasileira, que tem falhado nesse papel, conforme avaliação do presidente da Frente Parlamentar Brasil-China, deputado Fausto Pinato. “Vamos para o quarto ministro, trocar não resolve, o problema é diplomático e de comportamento”, diz Pinato.
Enquanto presidente da Frente Parlamentar, Pinato conta que percebeu que, em outros países, são os presidentes, primeiros-ministros e os ministros de relações exteriores que estão na linha de frente das negociações para as vacinas. “No mundo está assim, mas a nossa diplomacia vai atrás de spray em Israel”, diz ele, ressaltando a necessidade de o presidente Jair Bolsonaro entrar nessa corrida ou orientar ou trocar o chanceler Ernesto Araújo. “Bolsonaro não levou a pandemia a sério e, sendo assim, trocar o ministro da Saúde nã resolve”, afirma.
Eduardo Pazuello tem vídeoconferência marcada nesta segunda-feira, 11h, com o embaixador da China, Yang Wanming, representantes da Sinopharm e da Blau Farmacêutica par tratar da importação e produção de Ifa __ insumo para fabricação de outra vacina chinesa no Brasil. O encontro está mantido. Em meio às noticias de que iria deixar o cargo, Pazuello disse, em nota à CNN, que continua no cargo até que Bolsonaro o substitua e desmentiu as especulações de esteja doente. A substituição, entretanto, está definida pelo governo, numa tentativa de resolver o problema que o presidente enfrenta, de pressão por novas ações, capazes de reduzir o número de mortes e evitar o colapso no sistema de saúde.
Pazuello até aqui seguiu tudo o que foi recomendado pelo presidente Jair Bolsonaro e chegou a ser desautorizado pelo presidente em outubro do ano passado, quando anunciou a compra de 46 milhões de doses da CoronaVac. Bolsonaro disse com todas as letras que não compraria o imunizante. Aos poucos, diante da pressão pelas vacinas, Bolsonaro foi mudando sua posição. Na semana passada, depois que Lula voltou ao palco principal da política, o presidente da República passou a usar máscara e seus filhos criaram o slogan “nossa arma é a vacina”. O deputado Eduardo Bolsonaro resgatou a imagem do personagem Zé Gotinha segurando uma seringa como se fosse uma arma, e a inscrição “nossa arma agora é a vacina”. A imagem não fez sucesso entre os médicos e criadores do personagem. A intenção do presidente e de seus filhos é tentar deixar essa fase negacionista para trás e tentar colocar o descontrole no colo do atual ministro.
Na bolsa de apostas para o lugar de Pazuello a cotação mais alta é a da cardiologista Ludhmilla Hajjar, ao ponto de o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), tuitar que ela terá seu “total apoio”. O partido de Arthur, porém, apostava mais nos deputados Dr. Luizinho (PP-RJ) ou Ricardo Barros (PP-PR), atual líder do governo. O PSL, por sua parte, começou a fazer força pelo deputado Luiz Ovando (PSL-MS). Assim, Pazuello chega à fase mais aguda da pandemia no Brasil enfraquecido e, se sair mesmo, levará junto a pecha de que incompetente que não conseguiu tirar o país dessa situação de descontrole da pandemia. Os políticos, entretanto, não têm dúvidas: Cai mais um general para ajudar a preservar o capitão.
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