As imagens e entrevistas de três ministros de estado para receber dois milhões de doses da vacina AstraZeneca/Oxford em São Paulo foi a forma que o governo encontrou para tentar empatar o jogo com o governador de São Paulo, João Doria. As pesquisas internas do governo e a cobrança dos brasileiros por vacinas foram cruciais para que o Planalto fechasse esse formato para receber o imunizante procedente da Índia. No Rio de Janeiro, houve até Zé gotinha, avisado uma hora antes da chegada do vôo da Azul no Galeão.
A intenção era ainda mandar vários recados:
1) O governo está trabalhando pelas vacinas.
2) João Dória não é melhor que os outros governadores. O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, citou que nenhum estado brasileiro era melhor que o outro, em entrevista há pouco no aeroporto de São Paulo, na hora do embarque das vacinas para o Rio de Janeiro.
3) O país não enfrenta problemas na área internacional, tanto é que a Índia enviou as vacinas.
4) Nem tampouco o ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, é atuante, tanto é que conseguiu o envio das vacinas, junto com o presidente Jair Bolsonaro.
Tudo foi pensado para ver se o governo consegue empatar o jogo com Dória e, ao mesmo tempo, conter os danos provocados na popularidade presidencial, pelo fato do Brasil ficar atrás de outros grandes países na imunização, tendo um cenário tão triste, com a volta do registro de mil mortes diárias.
O volume de vacinas, portanto, ainda é pequeno para todo o aparato montado. Foram dois milhões de doses, que, somadas às vacinas da Sinovac, CoronaVac __ tanto as que já estão em fase de aplicação e aquelas aprovadas hoje pela Anvisa __ têm-se um total de 12,8 milhões para aplicação. só os grupos prioritários representam 30 milhões de pessoas, sem contar os caminhoneiros, incluídos pelo governo para tentar amortecer o movimento pela greve no setor. E as 10,8 milhões de doses da CoronaVac permitem vacinar apenas 5,4 milhões de pessoas (considerando que cada uma tomará duas doses). Ou seja, alta muito ainda para que a cobertura do grupo prioritário esteja concluída.
Todas essas atitudes, porém, correm o risco de não surtir o efeito desejado pelo governo, caso o presidente continue desacreditando as vacinas. Até aqui, as vacinas, segundo as autoridades de saúde, são eficazes. Mesmo no caso da CoronaVac, cuja eficácia ficou em 50,8%, as pessoas imunizadas até aqui não desenvolveram a forma grave da doença. Para quem não tinha segurança alguma, já é alguma coisa.
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