PT tropeça nas próprias pernas

Lula discursa no Congresso Nacional do PT
Publicado em Eleições, Lula, Política
A liderança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas não é sinal de que está tudo às mil maravilhas no PT. Dos seis maiores colégios eleitorais do país, em quatro o partido enfrenta dificuldades em organizar a vida. Corre o risco de perder, ou já perdeu, aliados no plano estadual — em alguns locais, perde até mesmo no plano nacional. São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia estão nessa conta. Quem acompanha de perto, Pernambuco está na mesma situação.
Na Bahia, por exemplo, onde o PT comanda há 16 anos, o lançamento de uma candidatura própria tirou o PP da aliança e — como o leitor da coluna já sabe — fez jus à fama de que os petistas não são generosos na relação. Em São Paulo, o PSB não vai apoiar Fernando Haddad. No Rio de Janeiro, há dificuldades em fechar a chapa entre PT e PSB. Para completar, em Pernambuco, embora Humberto Costa tenha desistido da candidatura ao governo, ainda não está tudo resolvido.
O vice-governador da Bahia, João Leão, fechou o apoio a ACM Neto (União Brasil) ao governo estadual, e promete continuar apoiando Lula ao Planalto. Na prática, porém, muita gente duvida que esse apoio se mantenha ao longo da campanha, caso Lula sofra alguma queda nas pesquisas. Afinal, faltam sete meses para a eleição e muita gente lembra que, na campanha de 1994, por essa época do ano, Lula era favorito e os ventos mudaram. Mas nada garante que não possam mudar novamente este ano.
Não por acaso, Jair Bolsonaro estava ontem na Bahia. Sabe como é: onde o PT apresentar problemas, os adversários de Lula vão investir ainda mais pesado.
Nem vem
No Palácio do Planalto, a avaliação é de que a defasagem do preço do combustível está zerada, uma vez que houve redução do preço do barril e o valor dos combustíveis foi reajustado. Logo, para o curto prazo, o governo não quer saber de novos aumentos.
Missão difícil
As conversas do PSDB — leia-se a ala de Aécio Neves — com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, para que ele permaneça no partido, são vistas pelos gaúchos como o oferecimento de “terreno no céu”. Isso porque o governador de São Paulo, João Doria, com a responsabilidade de gerir um estado grande, ainda não conseguiu colocar os dois pés na pré-candidatura presidencial que conquistou nas prévias do partido.
Se for viável, ganhará o apoio
O presidente do PSD, Gilberto Kassab, que já abriu a porta para o ingresso de Eduardo Leite no papel de candidato a presidente da República — e ontem reforçou o convite —, tem apostado entre amigos que se o governador gaúcho emplacar, a turma do PSDB o apoiará. Assim como o MDB.
Sempre dividido I/ O MDB, todas as vezes que lançou candidato a presidente e não subiu nas pesquisas, largou-o no meio do caminho. De Ulysses Guimarães, em 1989, a Henrique Meirelles, na última eleição, o MDB jamais foi totalmente fiel a seus presidenciáveis.
Sempre dividido II/ O deputado Aécio Neves (MG) lembrou, esses dias, a vários políticos, que abriu mão da candidatura presidencial em 2010 para unir o partido em torno de José Serra. Ele não conta, porém, que o PSDB não se uniu. Em alguns estados, a campanha presidencial tucana só aparecia nas ruas quando o candidato tucano
visitava o estado.
O teste de Mourão/ Pré-candidato ao Senado pelo Republicanos, o vice-presidente Hamilton Mourão (foto) se filiou ao Republicanos sem a presença do ministro da Cidadania, João Roma, que estava na Bahia com Bolsonaro. O ministro Onyx Lorenzoni, pré-candidato ao governo do Rio Grande do Sul, compareceu.
Ônibus lotado/ Presidente do PL do Distrito Federal, a ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda, está com dificuldades de atender aos pedidos de filiação de deputados distritais. A nominata já está praticamente fechada.

Gilmar não deve desistir de julgamento de HC de Lula contra Moro

Publicado em Lava Jato, Lula

A depender das conversas de bastidores dentro do Supremo Tribunal Federal, a Segunda Turma irá analisar o Habeas Corpus que a defesa do ex-presidente Lula apresentou ao STF pedindo a suspeição do ex-juiz Sérgio Moro. O caso está parado por um pedido de vistas do ministro Gilmar Mendes, que ainda não levou o seu voto ao colegiado.

A avaliação de alguns ministros é a de que se Moro for considerado suspeito, todo o caso do ex-presidente Lula volta à estaca zero. Se ficar apenas “prejudicado”o HC, como prega Fachin, com remessa para o TRF-1, tudo pode ser validado pela Justiça Federal. Nesse sentido, antes de se discutir os desdobramentos da política, é preciso saber o que ocorrerá com todo o processo. O próximo capítulo dessa novela será a análise do recursos da procuradoria Geral da República sobre a decisão de Fachin.

Diante de tantas incertezas, há apenas algo líquido e certo: A campanha de 2022 começou e, como em 2018, o Judiciário é polo ativo nessa disputa.

A decisão de Fachin mexe com a política e protege Moro da Vaza Jato

Publicado em Lava Jato, Lula

A anulação das condenações do ex-presidente Lula pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin é lida nos bastidores do meio jurídico em Brasília como a fórmula para tirar o ex-juiz Sérgio Moro da linha de tiro da Vaza Jato, operação que colocou a força-tarefa de Curitiba em xeque. Agora, está aberto o caminho para que sejam consideradas prejudicadas todas as ações contra Moro. Na politica, as apostas são de retomada da polarização Bolsonaro versus Lula, algo que já mexeu com o mercado financeiro, com alta do dólar e queda nas bolsas.

Fachin não entrou no mérito das denúncias contra Lula. Apenas considerou que Curitiba não tinha competência para tratar do ex-presidente. Lá atras, em despacho de 2016, o então ministro Teori Zavascki, que morreu num acidente de avião em janeiro de 2017, já havia delimitado a atuação de Curitiba à lesão ao patrimônio da Petrobras. E, agora, Fachin, segundo alguns ministros, meio que retoma essa parte, transferindo os processos relativos ao ex-presidente Lula para a Justiça de Brasília.

O ex-presidente está livre agora para fazer campanha. Nesse quesito, entra em cena rumo a 2022, e fatalmente retomará a polarização com o presidente Jair Bolsonaro. Lula agora tem tudo para antecipar a campanha presidencial e, de quebra, enfraquecer a busca de um candidato de centro. A maioria dos partidos, porém, prefere esperar. Afinal, as placas tectônicas da política ainda estão em movimento.

Petistas estão divididos sobre o que fazer após Lula ser solto

Vigília Lula livre em Curitiba
Publicado em Lula

O PT vive uma briga interna sobre como agir diante do iminente alvará de soltura do ex-presidente Lula. Uma parcela expressiva do partido recomenda cautela, uma vez que o processo continua e o fato de Lula sair da carceragem da PF em Curitiba não significa que foi inocentado e está completamente livre. Significa apenas que, diante da nova decisão STF, ele pode responder o processo em liberdade. Diante dessa constatação, a cautela será necessária. Lula será inclusive aconselhado pelos advogados a fazer o ato de agradecimento àqueles petistas que ficaram acampados em Curitiba e, depois, se recolher. Afinal, hoje ele completa 589 dias na carceragem da PF, longa da família, de sua casa, de seus amigos. É preciso descansar e calcular muito bem os próximos passos.

Os petistas, entretanto, estão divididos. Alguns defendem que o colocam como segundo passo, depois da liberação, um ato no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, onde Lula foi preso em 7 de abril do ano passado. Em seguida, já tem gente defendendo que ele comece a percorrer o pais na semana que vem. Há quem esteja com receio de que esse périplo acirre a divisão no país e sirva de justificativa para que os aliados do presidente Jair Bolsonaro tentem classificar qualquer ato como “baderna” ou coisa que o valha, a fim de vir com medidas de restrição de liberdade.

Por isso, dentro do PT, deve prevalecer a ideia de que Lula faça apenas um rápido agradecimento aos apoiadores em Curitiba e vá descansar até 22 de Novembro, data do Congresso do Partido dos Trabalhadores em São Paulo. Afinal, avaliam alguns, diante de um pais tão dividido e com o futuro do ex-presidente ainda incerto do ponto de vista processual, é preciso ter cautela.

Em tempo: Entre os petistas há o receio de que a juíza Carolina Lebbos decida esperar a publicação do acórdão do STF. Se isso ocorrer, os advogados vão ingressar com pedido de habeas corpus. Hoje, o ex-presidente completa 579 dias na carceragem da PF em Curitiba. Apesar das divergências de estratégia, a cúpula do PT está unida num ponto: ser ver Lula fora da cadeia ainda hoje. Aguardemos.