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As apostas de Lula

Coluna publicada em 6 de agosto de 2024, por Denise Rothenburg

O entorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalia que diante da não apresentação das atas que confirmem a vitória de Nicolás Maduro na Venezuela, as cobranças sobre um posicionamento mais enfático em defesa da democracia e da transparência vão crescer de forma exponencial. Porém, lá na frente, os aliados do brasileiro consideram que a posição atual de Lula, de muita cautela, se transformará num ativo, no sentido de mostrar que o governo soube preservar o diálogo com um vizinho complicado.

Pesos eleitorais

Os lulistas avaliam que a situação da Venezuela vai passar e o que vai pesar mesmo na temporada da próxima eleição presidencial, ou na popularidade de Lula, é a comida na mesa dos brasileiros, tema que o presidente tem abordado em todos os discursos. No Chile, por exemplo, mencionou o fato de ter reduzido, em um ano e meio, o número de brasileiros no mapa da fome. Esse será o fator principal, segundo os mais próximos de Lula.

O foco é nacional

O presidente tentará passar olímpico pela maioria das capitais nessas eleições. Ainda que o PT pressione por apoio aos candidatos que estiverem no palanque, tem muita gente no entorno presidencial com receio de perder apoios fundamentais no Congresso.

O passado recomenda…

Há 20 anos, o governo perdeu a mão no processo eleitoral e também na eleição para presidente da Câmara. Vieram Severino Cavalcanti e, em seguida, as denúncias de Roberto Jefferson sobre o mensalão. O governo foi salvo por uma engenharia comandada por Aldo Rebelo (PCdoB), Eduardo Campos (PSB) e Eunício Oliveira (MDB).

… muita cautela

Atualmente, essas três legendas não têm mais a força do passado. Os partidos de direita têm mais voz no Parlamento e o Orçamento, antes sob o comando do Poder Executivo, está sob a batuta do Congresso. Portanto, todo cuidado é pouco, seja na eleição municipal, seja na corrida pela Presidência da Câmara.

Campanha necessária

Com Pablo Marçal (PRTB) e José Luiz Datena (PSDB) na disputa pela prefeitura de São Paulo, a avaliação de muitos bolsonaristas é de que o ex-presidente precisará entrar na campanha, a fim de deixar bem claro aos seus eleitores quem ele apoia nesse pleito — ou seja, Ricardo Nunes (MDB). Afinal, à esquerda, Lula já entrou no barco de Guilherme Boulos (PSol).

Enquanto isso, em Belo Horizonte…

O fato de Romeu Zema (Novo) não apoiar Bruno Engler (PL) na capital mineira é visto como uma forma de o governador de Minas Gerais marcar distância do bolsonarismo e fazer acenos ao centro conservador. É um gesto local que dá uma sinalização
rumo a 2026.

Momentos decisivos/ Com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL, foto), disposto a anunciar na próxima semana quem terá apoio à sua sucessão na Casa, os parlamentares estão a caminho de Brasília. Aliás, é esse tema que embalará a largada das eleições municipais.

Por falar em eleições…/ A disputa paulistana e a de Belo Horizonte são vistas como aquelas em que o governo precisa ter muita cautela para não deixar que respinguem nas articulações em Brasília. Com aliados divididos, não se pode deixar que mágoas atrapalhem a relação política. Tudo terá que ser conversado e avisado.

Tema do momento/ O show As V Estações, com Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, exibiu um vídeo com indígenas fortes e saudáveis, em suas aldeias, no início do século passado. Um contraste com a situação desses dias, em que as comunidades nativas sofrem com a violência e a desnutrição. Na voz de Dado, a música Índios soou como mais um alerta nesse período de discussão do marco temporal das terras dos povos originários.

Jaqueline Fonseca

Subeditora do Correio Braziliense. Especialista em jornalismo investigativo com dez anos de experiência em cobertura de política, economia, judiciário e Cidades.

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