Agora sim, temos o ano pela frente. Ou mais ou menos: já, já tem Copa do Mundo o que nos deixa pelo menos umas três semanas numa espécie de bolha – aliás, depois de saber o horário dos jogos na Rússia já tem gente caçando desculpas para matar o serviço. De qualquer forma, é hora de pensar à frente, mesmo com o presente conturbado.
E o povo está ligado. A brasa o carnaval ainda não havia virado cinza quanto Melinha, responsável pela excelência da comida do Bar do Tião, perguntou: “Como tem que ser o novo presidente e o novo governador?”
Não pediu para virar o telefone e ficar na frente de um lugar bonito igual a TV, mas queria saber a nossa opinião, porque se encanta com alguns embates à mesa – mesmos os mais ríspidos – sabendo que, no final, todos deixam sua opinião com respeito à do outro. A saideira delimita a paz.
E Melinha disse mais: “Numa palavra”.
Acho que a recente exposição da figura do ex-primeiro-ministro britânico Winston Churchill tem obnubilado meu pensamento. O político inflexível que aparece nos livros históricos, tem dado lugar a uma personagem muito mais interessante que, na verdade, é uma criação do cinema e nasce de episódios que nunca aconteceram, como a cena do metrô, no filme O Destino de Uma Nação, em que ele conversa com o povo.
A partir da licença ficcional, a verdadeira personalidade de Churchill fica exposta em cenas marcantes, mostrando que sua força está exatamente na capacidade de liderar nas horas mais difíceis. Em outro filme lançado ano passado, Churchill, de Jonathan Teplitzky, ele anuncia a uma secretária – com quem vivia às turras – que o irmão está vivo. Na série The Crown, sua secretária morre atropelada por um ônibus durante o nevoeiro de 1952. Nada disso aconteceu, mas mostrar melhor o caráter do político.
Churchill é um parque de diversões para grandes atores: se Gary Oldman está com a mão no Oscar, ele tem concorrentes à altura em John Lithgow (na série The Crown) e Brian Cox (Churchill), só para ficar nos mais recentes. Mas já houve Bob Hoskins (When Lions Roared, 1994), Albert Finney (O Homem que Mudou o Mundo, 2002), Simon Ward (O Jovem Leão, 1972) ou Brendon Gleeson (Tempos de Tormenta, 2009) – todos brilhantes.
Claro que na hora em que Melina fez a pergunta não pensei em nada disso, muito menos no cinema. Mas eu procuro por candidatos com coragem. Foi a palavra que eu escolhi. Não a falsa coragem da bravata, ou a insensatez do impensado; muito menos o destemido ou o irresponsável.
Mas a coragem que nasce da postura pessoal, da determinação e do compromisso com o futuro. O oposto da política oportunista e populista desses dias, um criatório de homens públicos covardes que só não hesitam ao dizer “não é comigo”. Na cabeça, vinha uma frase de Churchill: “Coragem é o que é preciso para se levantar e falar, a coragem é também o que é preciso para sentar e ouvir”.
Publicado no Correio Braziliense de 16 de fevereiro de 2018