Categorias: Eleições 2018

Moro: “Rever segunda instância passará mensagem de um passo atrás”


“Se STF rever essa decisão, cabe cobrar uma emenda constitucional dos candidatos a presidente da República”

Numa entrevista histórica, de quase duas horas, o juiz Sérgio Moro defendeu a prisão em segunda instância e alertou que não se trata apenas do caso do ex-presidente Lula e sim de “traficantes, pedófilos, gente que roubou dinheiro da saúde” que estariam livres à espera do julgamento final. Desde que o STF entendeu ser possível a prisão em segunda instância, foram 114 execuções de sentença, sendo só 12 relativas à Lava Jato. “Teria um efeito muito ruim e passaria a mensagem errada, de que não cabe mais avançar. Vamos dar um passo atrás”, disse ele durante a entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, o último sob o comando do jornalista Augusto Nunes.

Moro não se referia especificamente à otação do caso Lula, na próxima semana. quando perguntado diretamnte, disse apenas que “o STF tomará a melhor decisão”. Sobre a tese, entretanto, ele não economiza palavras para defendê-la. Sugere inclusive que, se o STF entender que a prisão em segunda instância não é possível, os brasileiros devem cobrar dos candidatos a presidente, a deputado e a senador o compromisso de uma emenda constitucional sobre o tema. “Se o Supremo rever, que venha uma emenda constitucional”, afirma ele, jogando o assunto no colo dos presidenciáveis, dos congressistas e da população.

O juiz que hoje personifica o combate à corrupção no Brasil não fugiu de nenhuma pergunta. Sobre o auxílio-moradia que recebe, ele, com o jeito tranquilo que o caracteriza, disse apenas que esse tema deveria ser visto de uma forma abrangente e que os juízes estão há três anos sem reajuste. Sobre o início da operação que o transformou no juiz mais famoso do Brasil, disse que o trabalho em Curitiba “começou pequeno” e que não imaginou onde chegaria.

O momento mais “frustrante” de toda a Lava Jato até aqui foi quando o juiz Teori Zavaski mandou soltar todos os doleiros e outros integrantes do esquema. “Saí cabisbaixo. Voltei até mais cedo (pra casa) de bicicleta. Estava desolado”, disse. A tristeza do juiz, entretanto, durou pouco. “Enviei uma série de informações ao ministro Teori e ele reviu a decisão”.

Sobre as eleições, ele evitou defender esse ou aquele candidato. Disse apenas: “Temos bons candidatos, existem bons políticos. Vejo bons, outros nem tanto, e há outros que merecem um juízo maior de censura”. Nome aos bois? Nem pensar. Como acaba com a corrupção? Ele acha que náo acaba, mas se reduzi a impunidade, certamente, o país conseguirá reduzir a corrupção.

Ao longo do programa roda viva, a hashtag do programa chegou aos trend topics mundiais. Sinal de que a Lava Jato pode até estar mais perto do fim, mas o prestígio do juiz continua intacto.

Denise Rothenburg

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