Categorias: Análise da semana

Lava-Jato, a dona do recesso

Nove em cada 10 políticos atentos ao cenário de janeiro consideram que a Operação deu e dará o tom da largada da política em 2016. Nem a entrevista da presidente Dilma Rousseff a um grupo de jornalistas num café da manhã, com a premissa de lutar com “unhas e dentes” pela retomada do crescimento, elencado as prioridades do governo para 2016 tiraram o protagonismo da investigação. Prevaleceu o trabalho de apurar e tentar fechar os ralos do dinheiro público e das empresas de economia mista, como a Petrobras.
Logo na primeira semana, os ministros da Casa Civil, Jaques Wagner, o da Secretaria de Imprensa da Presidência da República, Edinho Silva, o do Turismo, Henrique Eduardo Alves, e até o vice-presidente da República, Michel Temer, tiveram que dar explicações a respeito de citações envolvendo seus nomes. Isso sem contar o a cada dia mais enroscado presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). “A Lava-Jato vai mandar e desmandar por esses dias. Depois, quando o Congresso voltar, após a data sugestiva chamada quarta-feira de cinzas, veremos quem sobrou”, comenta um integrante do PMDB que prefere ficar no anonimato.
Essas labaredas da Lava Jato prometem chamuscar mais, servindo de pano de fundo para todas as ações políticas em curso. A primeira delas será a escolha do futuro líder da bancada na Câmara. Amanhã, o atual líder Leonardo Picciani chega a Brasília para traçar a sua estratégia de campanha à reeleição.

PMDB, o fiel da balança

Dilma se convenceu que não pode prescindir do PMDB assim como o vice-presidente Michel Temer percebeu que seu grupo dentro do partido hoje não tem o protagonismo necessário para empreender o impeachment. Além disso, precisa de apoio para presidir o PMDB. Dentro dessa perspeciva, deflagrou o movimento de reaproximação com o governo da presidente Dilma.
Enquanto isso, o Planalto ao mesmo tempo em que se reaproxima do vice, age para reforçar o estofo da ala governista do PMDB. A vaga aberta por Eliseu Padilha na Aviação Civil foi oferecida ao PMDB de Minas. O cotado agora, uma vez que Leonardo Quintão recusou o cargo, é o deputado Mauro Lopes, de forma a enfraquecer o jogo de Quintão na briga pela liderança do partido e fortalecer Picciani, hoje amais aliado de Dilma e do presidente do Senado, Renan Calheiros, ao ponto de verbalizar uma preferência pelo presidente do Senado se houver disputa para presidente do PMDB.
Picciani, numa conversa com o Correio, disse que estaria disposto a apoiar Temer e que trabalhar´pela unidade do partido, porém… . “Vou trabalhar pela união, mas se houver disputa e Renan Calheiros tiver um candidato, fico com Renan”, disse Picciani, deixando claro a preferência pelo grupo dos senadores comandado por Renan e pelo líder do partido naquela Casa, Eunício Oliveira, e ainda o ex-presidente José Sarney, todos contrários ao impeachment e favoráveis à manutenção do acordo com o governo.

Oposição, não!
Enquanto Picciani trabalha o lado governista do partido, Leonardo Quintão, seu adversário, volta hoje do Sul da Bahia para retomar a campanha. Quintão começou a perder terreno, porque é visto hoje como um candidato do presidente da Casa, Eduardo Cunha, colocado ali justamente porque Picciani se afastou de Cunha e se aproximou de Dilma. Embora Eduardo Cunha ainda tenha muito poder de fogo dentro da Câmara e, em especial, dentro do PMDB, começa a causar um certo desconforto aos seus pares. Com a Lava Jato dando as cartas no recesso e Cunha a cada dia mais enrolado,quem quer eleger Quintão acha mais fácil atingir o objetivo de se conseguir mantê-lo a uma certa distância de Eduardo Cunha. É a operação de Sérgio Moro entrando até mesmo nas discussões de poder dos partidos.

No mais, sanções, manifestações e Lava Jato
Tem essa semana a sanção do projeto de repatriação e a perspectiva de acareação entre o lobista Fernando Baiano e o empresário José Carlos Bumlai. Prosseguem os protestos contra o aumento de passagens de ônibus.. Amanhã, tem um programado para a Avenida Paulista, em São Paulo. É o segundo este ano. O da última sexta-feira terminou com várias pessoas presas e quebra-quebra no centro da capital paulista.

Denise Rothenburg

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