Tal qual 1991, quando surgiram as primeiras reportagens de malversação de verbas do Orçamento envolvendo o então deputado João Alves, o Congresso não abrirá uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar as emendas de relator liberadas a aliados do governo. Naquela época, o líder do PFL, Ricardo Fiúza, tirou João Alves da relatoria e abafou o pedido de CPI feito pelo então senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Os parlamentares só abriram uma investigação dois anos depois, quando o assessor José Carlos Alves dos Santos foi preso com dólares falsos e, depois, seria ainda acusado de tramar o assassinato da própria mulher. Abandonado, ele contou que havia um esquema dentro da Comissão de Orçamento.
O máximo que irá ocorrer agora, conforme avaliam alguns deputados, é um grupo tentar evitar que a relatoria vá mais uma vez para as mãos do deputado Domingos Neto (PSD-CE), classificado nos bastidores por alguns como o “João Alves do século XXI”. Depois dos R$ 146 milhões para a pequena Tauá, a cidade em que a mãe dele é prefeita, a intenção de um segmento do Centrão é dar a chance a outro ocupar esse espaço e evitar muita exposição.
A irritação do governo com a falta de investigação dos recursos públicos enviados aos estados e municípios durante a pandemia está no limite. A ordem aos governistas é, passada esta semana, de depoimento do ex-chanceler Ernesto Araújo e do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, será a vez de começar a chamar governadores.
A cúpula do MDB fez as contas e descobriu que os caciques têm o controle da Executiva do partido, com poder para levar a legenda ao projeto que lhes for conveniente em 2022. O líder da bancada no Senado, Eduardo Braga, tem quatro votos na Executiva. Renan Calheiros, idem, incluindo o do filho, Renanzinho, governador de Alagoas.
Além deles, têm poder na Executiva do MDB o senador Jader Barbalho (PA), com três votos, assim como o ex-senador Eunício Oliveira (CE). Os ex-senadores Roberto Requião (PR) tem dois e Garibaldi Alves, um. O que une esse grupo, hoje, é a oposição ao presidente Jair Bolsonaro e a proximidade com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em tempo: nenhum deles trabalhou dia e noite pelo impeachment de Dilma Rousseff. Nas internas, dizem que essa guerra foi de Michel Temer e Eduardo Cunha.
O maior desafio hoje para o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, conseguir se consolidar como opção para 2022 é fechar um amplo leque de apoios em Minas Gerais, leia-se PSDB, PSD e todos os que não estão hoje com Bolsonaro ou Lula.
O afastamento do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin do PSDB provocará um racha no ninho e tirará força de João Doria para um projeto presidencial. O governador, que jogou certinho no quesito vacinas, ganhou o vice-governador, Rodrigo Garcia, mas perdeu o DEM, que começa a estudar um caminho diferente, passando por Minas Gerais.
PSL da Bahia turbinado/ Está praticamente fechada a migração do deputado Elmar Nascimento do DEM para o PSL. Tudo para ficar ainda mais próximo do governo. Para lá também deve seguir o ex-deputado Benito Gama, que saiu do PTB depois de um embate com o presidente do partido, Roberto Jefferson.
Muita calma nessa hora/ O grupo de Benito está fechado com ACM Neto para o governo do estado contra o PT de Jaques Wagner e de Rui Costa. Mas isso não quer dizer que vá apoiar a reeleição de Jair Bolsonaro. A posição nacional é um livro aberto.
“Ex-Ernesto” que se prepare/ O ex-chanceler Ernesto Araújo (foto) abre esta semana de oitivas da CPI e, diante da falta de vacinas, será muito pressionado como um dos responsáveis pela situação a que chegou a pandemia no país. Na bancada feminina, o destaque promete ficar para a presidente da Comissão de Relações Exteriores, Kátia Abreu (PDT-TO), cujo discurso na exposição de Araújo ao Senado foi apontado como um empurrãozinho para a queda do ministro no final de março.
Em tempos de pandemia/ A quadra comercial da 110 Sul ostentava até recentemente uma grande loja de produtos natalinos. Agora, a área dará lugar a uma funerária.
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