Gastos federais para a proteção de ambientes virtuais despencam ano a ano, desde 2012. Levantamento da Associação Contas Abertas, feito com exclusividade para o Correio, revela que a ação 147F de implantação de sistema nacional de defesa cibernética autorizou, a partir daquele ano, até o último mês de julho, R$ 637,1 milhões (em valores constantes, IPCA). Mas apenas R$ 378,6 milhões foram pagos efetivamente.
Uma das descrições da ação 147F é a de “ampliar a capacidade do país de atuar com liberdade de ação; a fim de elevar o nível de segurança da informação e das comunicações; assim como a capacidade de defesa nas esferas civil, industrial e militar, para atuação em ataques de natureza cibernética”. Entre os oito anos verificados no Orçamento, o ápice dos gastos ocorreu em 2012 (R$ 167 milhões). Segundo o Contas Abertas, o maior desembolso em valores efetivamente pagos ocorreu em 2016 (R$ 67 milhões).
As despesas despencaram nos últimos anos. Em 2018, foram gastos em valores constantes, atualizados pelo IPCA, apenas
R$ 34,8 milhões — menor valor anual desde 2012. Em 2019, estão autorizados R$ 31,3 milhões. Até 27 de julho, foram consumidos R$ 15,7 milhões (50,1% do valor autorizado), incluindo os restos a pagar.
Os recursos entregues até agora, segundo o Ministério da Defesa, foram para obras na Escola Nacional de Defesa Cibernética; adequação do saneamento no Forte Marechal Rondon — local em que se encontram instalações relacionadas à Defesa Cibernética, no Distrito Federal; e celebração de convênios e parcerias com centros de pesquisa para o desenvolvimento e a implementação de soluções de segurança da informação e das comunicações.
Em tempo: a ação 147F não abrange proteção a aparelhos celulares de autoridades do Executivo, parte delas vítimas dos hackers de Araraquara. Tal missão é do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
Tranquilão/ Tido como o “cabeça” do grupo acusado de hackear celulares de nomes do alto escalão do governo — como Bolsonaro e o ministro da Justiça, Sérgio Moro —, Walter Delgatti Neto não demonstrou nervosismo ao ser submetido à audiência de custódia ontem pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira (foto), titular da 10ª Vara Federal de Brasília. No interrogatório, o suspeito falou por cerca 12 minutos e, ao contrário dos outros três investigados, não fugiu das acusações de que teria invadido ao menos mil aparelhos de autoridades. “Tudo que fiz até agora foi por livre e espontânea vontade.”
Advogado na mira/ Nem mesmo Ariovaldo Moreira, advogado de defesa de dois dos investigados — o casal Gustavo Henrique Elias Santos e Suelen Priscila de Oliveira —, ficou refém do hackeamento de Delgatti. Após a audiência de custódia, ele revelou que o hacker tentou invadir o aparelho celular. Segundo Ariovaldo, Delgatti sabia de cor o número do aparelho dele. “Ele (o hacker) falou: ‘Eu tentei, tanto que o seu telefone é…’, e disse o número, na frente de todo mundo”, comentou o advogado. “Mas Delgatti sempre foi assim”, acrescentou.
Estilo/ Enquanto os demais membros do grupo compareceram ao Edifício-sede 3 da Justiça Federal de Brasília com roupas simples, no caso de Danilo Cristiano Marques e Gustavo Henrique Elias Santos — ou com uniforme de presidiária, como ocorreu com Suelen Priscila de Oliveira —, Delgatti não economizou no estilo: apareceu de terno azul-escuro, camisa social-azul claro e mocassim marrom.
Medo do avião/ O voo que trouxe os suspeitos de São Paulo a Brasília, na terça-feira da semana passada, causou calafrios em dois dos investigados. Algemados, segundo disseram na audiência de custódia, Delgatti e Danilo Cristiano se assustaram com as condições do avião da Polícia Federal. “Fiquei com medo de ele cair”, disse Walter. “O avião era perigoso”, reforçou Danilo Cristiano.
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