Por Eduarda Esposito – Ocorreu hoje (4/12) a sessão de Outorga da Medalha do Mérito Legislativo na Câmara dos Deputados. Várias personalidades brasileiras foram homenageadas e uma delas foi Eunice Paiva, ativista dos direitos humanos e esposa do deputado Rubens Paiva, que teve seu mandato cassado durante a ditadura militar. Outro Paiva também homenageado foi o filho de Rubens e Eunice, o escritor e dramaturgo Marcelo Rubens Paiva.
Chico Paiva, neto de Eunice, foi quem recebeu a medalha pela avó. À coluna, Chico comentou sobre o filme “Eu ainda estou aqui”, que relata sobre o desaparecimento e assassinato de Rubens Paiva durante a ditadura militar, o tempo em que ele foi lançado, além da honra de receber a medalha em nome de Eunice Paiva.
“O timing foi realmente auspicioso. A gente não poderia imaginar que sairia no meio a tantas denúncias e fatos, que vêm à tona, sobre uma possível tentativa de golpe nas eleições de 2022. É importante que o filme conte a história de um lado humanizado e transforme em algo palpável os horrores da ditadura e o que ela causa. Então, como a minha avó sempre dizia: o crime do golpe militar não foi só contra a nossa família, foi contra o país, foi uma luta coletiva. Assim como existe a família Paiva tem milhares de outras famílias que também foram destruídas pelos crimes cometidos na ditadura. É para lembrar que a gente não quer nunca mais voltar para aquele período, onde você poderia invadir a casa de uma família e tirar alguém de lá sem dar nenhuma explicação”, ressaltou.
Ainda sobre o filme, Chico disse que a cena da foto foi emblemática. “Tem uma cena icônica em que a minha avó pediu pra família toda sorrir na foto porque ela entendia que quando você abaixa a cabeça, você mostra que os ditadores estão vencendo a batalha”, contou. Chico também comentou a semelhança da atriz Fernanda Torres ao interpretar sua avó. “Quem conheceu minha avó sabe que ela está idêntica!”, afirmou. Chico ainda confessou que um dos melhores presentes do filme foi poder fazer amizade com Fernanda.
Chico também lembrou que, infelizmente, algumas família ainda sofrem a violência política nos dias de hoje e citou o caso da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, que foi assassinada junto ao seu motorista, Anderson Gomes, em março de 2018. “Até hoje, em tempos democráticos, a gente vê muitas famílias que sofreram a violência de estado e violência política. Tem casos famosos como de Marielle, que foi assassinada pela sua atuação política por uma organização que estava dentro do estado do Rio de Janeiro. Você vê policiais militares, o conselheiro do Tribunal de Contas, o chefe da polícia civil, estavam todos envolvidos”, lamentou.
Paiva comentou também que sente uma honra enorme em receber essa homenagem por sua avó. “Para nós é uma honra muito grande. Para mim, pessoalmente, tem sido uma experiência muito única, porque quando eu nasci já era uma coisa muito cicatrizada na família, então nunca vi minha mãe sofrendo, minha avó chorando, já era uma coisa recuperada. A figura do meu avô é quase como uma figura histórica, eu ouvia as histórias, mas não tinha vivido pessoalmente aquilo. E agora, vir aqui receber em nome de minha avó, ver a repercussão que isso tem nas pessoas e que vêm falar comigo, tenho muito orgulho e honra. Também em ver a repercussão do filme e, por outro lado, ver o cinema nacional brilhando mais uma vez, sendo falado no mundo inteiro, sendo elogiado. A gente, que passou por um período agora na gestão anterior em que a cultura foi muito escanteada, agora ver um certo renascimento e o cinema brasileiro sendo reconhecido internacionalmente, dá um orgulho para nós”, comemorou.
Por fim, Chico ainda ressaltou que pessoas, de diferentes ideologias, veem o filme e sentem como a ditadura foi horrível, sem ligar esse tempo a uma briga política. “Eu tenho recebido muitos mensagens, muitos relatos de pessoas que até são de direita, pessoas que podem até ter votado no Bolsonaro, mas que quando veem o filme, se sentem sensibilizadas com os horrores. A gente fica discutindo o que foi o período da ditadura, como uma coisa Lula contra Bolsonaro, uma coisa meio eleitoral, e quando você humaniza e personifica aquilo na dor de uma família, na luta de uma mãe, você consegue atingir todos os aspectos políticos. Todo mundo sente a dor que aquela família viveu. Então que o filme possa servir pra isso, uma lembrança, um ensinamento até para as gerações mais novas que estão mais distantes da ditadura e tem que lutar pela nossa democracia. Outra coisa que minha avó sempre dizia é que: a democracia ela não é dada, ela é uma luta constante, então se você relaxar, você pode perder”, alertou.
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