Lula “tira” um dos discursos dos bolsonaristas

Publicado em Anistia 8 de janeiro, Câmara dos Deputados, coluna Brasília-DF, Congresso, Crise com os EUA, Crise diplomática, Economia, Eleições, Eleições 2026, EUA, GOVERNO LULA, Lula, Lula na ONU, Política, Politica Externa, Senado, STF, Tarifaço de Trump

Coluna Brasília-DF publicada na sexta-feira, 10 de outubro de 2025, por Denise Rothenburg com Eduarda Esposito

Crédito: Caio Gomez

O telefonema entre o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, e o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, não foi a primeira conversa que tiveram desde que as tarifas levaram a um estremecimento na relação entre os dois países. Em 30 de julho, num encontro reservado em Washington, eles concluíram que apenas uma conversa entre os dois presidentes faria fluir as negociações. Os dois movimentos posteriores — o primeiro o encontro de Luiz Inácio Lula e Donald Trump na ONU e a conversa telefônica entre eles, na segunda-feira — quebraram as barreiras. O diálogo entre o ministro de Relações Exteriores e o secretário de Estado deflagra a organização da agenda que fará parte do encontro dos presidentes. Vieira e Rubio terão uma nova conversa em Washington, ainda este mês, em frente às câmeras. A foto de Lula e Trump, que ocorrerá antes da eleição de 2026, deixa esse tema riscado da campanha eleitoral bolsonarista.

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Em tempo: conforme o leitor da coluna já sabe, desde o anúncio do tarifaço o governo brasileiro trabalha para separar os temas institucionais dos assuntos políticos, em especial, o julgamento que o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados enfrentam no Supremo Tribunal Federal (STF). Ao que tudo indica, esse objetivo foi atingido. A aposta de muitos aliados de Lula é de que, se ele conseguir colocar sobre a mesa toda a sua capacidade de articulação, conseguirá ampliar os pontos favoráveis ao governo.

Restam as emendas

Se Lula quiser incomodar a turma que deixou a medida provisória das taxações caducar, há quem diga que só tem um jeito: “esquecer” as emendas desse pessoal nos restos a pagar, em 2026. Afinal, o orçamento é impositivo, mas o cronograma quem decide é o governo.

Felicidade dura pouco

A oposição comemorou muito, na quarta-feira, quando fez a MP do IOF cadacucar, mas o momento durou pouco. Com o julgamento da desoneração da folha de pagamento marcado pelo ministro Cristiano Zanin, do STF, o valor que foi “perdido” na medida provisória tem tudo para ser recuperado no caso de uma decisão favorável ao governo. Como os opositores dizem nos bastidores, “eles (do governo federal) perdem aqui e ganham lá”.

Martelo batido

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), trocou o relator do projeto sobre as novas regras dos planos de saúde: sai Duarte Jr. (PSB-MA), entra Domingos Neto (PSD-CE). Antes do anúncio oficial, Motta avisou a Duarte da substituição. Aliados de ex-relator, que é vice-presidente da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS, disseram à coluna que o “problema” dele, ao analisar a proposta, foi defender o consumidor. Em nota, Duarte disse que “meu desejo sempre foi continuar à frente da relatoria, conduzindo um texto equilibrado, construído com diálogo, transparência e foco na proteção dos consumidores”.

O outro lado

Da parte da Presidência da Câmara, o motivo da substituição foi a polarização na Casa. Aliados de Motta afirmam que a troca foi para tentar colocar um relator mais neutro para negociar com as bancadas. Disseram à coluna, ainda, que a proximidade de Duarte com o ministro Flávio Dino, do STF, poderia ser prejudicial às negociações com o PL e com partidos do Centrão — leia-se PP e União Brasil.

CURTIDAS

Crédito: AFP

E as pesquisas, hein?/ Embora Lula ganhe em todos cenários, a turma da direita considera que nada está garantido. A avaliação é de que da mesma forma que o petista ganhou por pouco em 2022, ele pode perder por pouco, se os conservadores fizerem uma engenharia política com sabedoria.

Chamem os sêniores/ Em 1994, antes do Plano Real, ninguém apostava na vitória de Fernando Henrique Cardoso — Lula liderava as pesquisas. Foi uma construção política entre PSDB e o antigo PFL na Câmara que levou à vitória, embalada pelo Plano Real. Já tem gente falando em chamar a velha guarda para ajudar nisso, incluindo o ex-presidente do PFL Jorge Bornhausen e o ex-senador Heráclito Fortes.

O motivo foi outro/ Parte da oposição acredita que as ligações do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos, foto), pouco fizeram diferença na derrubada da MP do IOF. De acordo com deputados ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro, a medida provisória caducou porque o Centrão está insatisfeito com o governo.

Veja bem/ Essa turma explica que Tarcísio tentou ajudar na articulação em favor da anistia aos condenados pelos atos do 8 de Janeiro. A proposta até agora está zanzando pelo Parlamento. E sobrevive à base de promessas.

“Mau caminho”, define João Doria sobre possível reciprocidade do Brasil ao tarifaço

Publicado em Anistia 8 de janeiro, Congresso, Crise com os EUA, Crise diplomática, Crise entre os Poderes, Economia, Eleições, EUA, GOVERNO LULA, Política, Politica Externa, Senado, STF, STF versus bolsonaristas, Tarifaço de Trump

Por Denise Rothenburg* com Eduarda Esposito — O ex-governador de São Paulo e co-chairman do LIDE, João Doria, falou com jornalistas após o evento LIDE Brazil Development Fórum, que ocorreu hoje (8/9) na capital dos Estados Unidos, Washington DC. Confira agora as respostas do ex-governador sobre o tarifaço imposto por Donald Trump ao Brasil e sua opinião sobre a anistia.

O Brasil até chegou a sinalizar que vai adotar a reciprocidade em relação às tarifas. Como é que o senhor enxerga essa questão?

Mau caminho. A pior alternativa que o Brasil pode adotar é estabelecer reciprocidade. Porque isso não é reciprocidade, isso é agressividade. Você devolve, com a mesma agressividade que recebeu, ao país que erra e que comete o equívoco de ser agressivo, porque não há nenhum fundamento técnico para a medida que foi adotada pelo governo americano. Agora, o governo brasileiro adotar a mesma maneira de ser agressivo, isso não é contributivo. Isso só agravará ainda mais a situação do Brasil perante o seu segundo maior mercado de consumo e segundo maior parceiro comercial, que são os Estados Unidos da América.

Crédito: Will Volcov e Vanessa Carvalho/LIDE

Essa falta de relação entre os dois presidentes, ela não dificulta essa ação empresarial?

Dificulta. Há equívocos dos dois lados. Os dois lados tensionam as relações econômicas por conta de uma visão ideológica, uma visão política e não técnica. Portanto, ambos os lados estão falhando nisso. A começar do lado americano, que impôs ao Brasil uma sobretaxa de 50% de forma absolutamente injusta, imprópria, inadequada e sem nenhum fundamento. Não há nenhuma razão para que o Brasil, assim como outros países também, não é só o Brasil, sejam punidos com 50% por uma decisão unilateral, que não toma como base as relações econômicas e nem a balança comercial. E o Brasil não pode ter reação política em relação a isso. Deve ter a reação diplomática e, sobretudo, do privado com o privado. O que pode produzir resultados positivos de reversão dessa medida para o Brasil é a relação com o empresariado americano.

É possível fazer os seus negócios independentemente dos dois governos?

Claro que é possível. Vou dar um exemplo concreto que já aconteceu. A Embraer originalmente estava dentro do pacote e seria penalizada com 50% para venda das suas aeronaves para aviação comercial americana e aviação executiva aqui nos Estados Unidos. O maior mercado de aviões comerciais da Embraer são os Estados Unidos da América, para aviação executiva também. Isso foi revertido rapidamente, em 72 horas, por uma competência que eu destaco da Embraer junto às companhias aéreas americanas e junto a entidades privadas que são compradoras de aviões executivos da companhia, que contrataram a empresa de lobby aqui em Washington, e em 72 horas estava revertido isso.

O mesmo está sendo feito com a laranja, com café e com a proteína animal. Esse é o caminho, é o caminho do entendimento. É evidente que quando você sofre uma injustiça, é sempre muito difícil você não reagir impulsivamente, mas é a pior reação, é aquela que não se recomenda. É preciso ter uma reação cerebral planejada e articulada para mostrar aos americanos que o prejuízo de uma sobretaxa de tal ordem em diferentes produtos, sejam commodities ou não, prejudica fundamentalmente o americano, porque ele vai pagar mais por serviços ou vai pagar mais por produtos.

O senhor defende que o empresariado também faça esse papel de articulação para destravar a questão política?

Defendo porque já há uma animosidade política muito clara entre o governo brasileiro, o governo americano e vice-versa. Isso vem até do período da campanha eleitoral aqui para os Estados Unidos, onde o Brasil, naquele momento, fez uma manifestação contrária ao governo que foi efetivamente eleito aqui nos Estados Unidos, já criou ali um mal-estar preliminar. Isso subiu a temperatura de uma circunstância, repito, absolutamente injusta e até uma intromissão do governo americano em temas internos do Brasil.

Então, eu acho difícil que de governo para governo possamos ter bons resultados, mas defendo que a diplomacia seja mantida. Onde podemos ter resultados: do privado com o privado. Mas é um erro você insistir numa questão política onde você quer influir numa decisão do judiciário brasileiro, é uma questão política sem resolução. O judiciário brasileiro não vai se curvar a uma decisão à vontade do governo americano. Qual é a razão para isso? Aí independe de visão partidária, politizada, ideológica. Isso é uma intromissão. Imagina. É como se o Brasil determinasse, quisesse terminar o governo americano, que tivesse um outro tipo de comportamento sobre uma decisão do poder judiciário americano. Aqui também tem Suprema Corte e ela é um poder independente. Então, se política é isso, não vai funcionar.

O senhor acredita que uma possível condenação do ex-presidente possa agravar ainda mais esse quadro?

Eu espero que não. Não podemos antecipar qual será o julgamento final do Supremo Tribunal Federal brasileiro. Mas eu imagino que não, quer dizer, eu desejo que não. Talvez haja um aumento de tensão se a pena for dura em relação ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Mas mais uma vez eu continuo a defender que não se trata de uma questão do governo americano e do presidente Donald Trump desejar que haja um comportamento diferente da justiça brasileira. Não se esperaria que o inverso pudesse ser assimilado pelo governo americano.

Portanto, cada país tem a sua independência, acertando ou errando. Mas assim a democracia, democracia também erra, como também acerta. Então, é preciso preservar a independência e a autonomia dos países. E volto a repetir, o único caminho do ponto de vista das sanções econômicas, não estou falando do ponto de vista político, é o privado com privado, entidades e empresas privadas brasileiras reforçarem as suas relações, o seu diálogo com entidades e empresas privadas americanas. Esse é o único caminho que pode trazer resultados positivos de reversão naqueles produtos que ainda estão sob o tarifaço americano.

O senhor acredita que o presidente Lula deva ligar para o presidente Trump?

Na minha opinião, sim, eu não vejo razão para que o presidente Lula não dialogue com o presidente Trump, como também não vejo razão para que o presidente Trump não dialogue com o presidente Lula em alto nível. É o que se espera de dois presidentes da República que não se ofendam mutuamente e que se respeitem conjuntamente num diálogo produtivo. Eu entendo que o diálogo só constrói. Eu nunca vi o diálogo destruir. O que destrói é o conflito, o atrito, é a guerra. O diálogo constrói.

Então, como resolver de privado para privado, sendo que muitas empresas brasileiras são familiares no Brasil e talvez não tenham uma facilidade de negociação como grandes corporações?

De cada adversidade, você tem que buscar oportunidade. Diante de uma situação adversa, o setor cafeicultor está unido, não pode ter posições individualizadas, ele tem que estar unido mesmo. O pequeno produtor, ele tem que estar associado a uma cooperativa, uma federação, uma associação para poder validar a sua reivindicação, saindo da visão individual para uma composição coletiva, uma visão e uma defesa coletiva. O Brasil tem inúmeros produtos, pequenos produtores de café, como tem de vários outros produtos agrícolas, mas necessariamente em circunstâncias como essa, e mesmo fora delas, devem estar juntos.

Então vamos transformar essa situação adversa numa boa oportunidade para unir o setor cafeicultor brasileiro, como o setor também de produção de laranja e de concentrado de laranja e dos demais setores, mesmo a proteína animal, aí envolvendo também a carne de porco e a carne de frango, tem que estar unidos. A união ajuda, contribui e você individualmente fica fragilizado.

Crédito: Will Volcov e Vanessa Carvalho/LIDE

Tem avançado em Brasília a discussão sobre anistia. Qual é o seu posicionamento em relação a isso? O senhor é a favor da aprovação de uma anistia geral que inclua Jair Bolsonaro? O senhor é contrário? Qual o seu posicionamento?

Bem, eu não sou juiz, nem desejo ser, mas sou cidadão, sou brasileiro, amo o meu país, gosto do Brasil, atuei na área pública como prefeito, como governador e entendo que houve um certo exagero, do ponto de vista punitivo, àqueles que participaram de um movimento condenável, como foi o de 8 de janeiro. Foi um movimento que merece repulsa, porque aquilo não era um movimento celebrativo, era um movimento agressivo. Você invadia o Poder Judiciário, Executivo e Legislativo, não há justificativa alguma para isso. Mesmo que você tenha contrariedade, nada justifica a desobediência à lei. Mas eu entendo que houve medidas ali que acabaram sendo exageradamente fortes e isso criou e fortaleceu uma reação de parte da população brasileira contra as medidas do Supremo Tribunal Federal. Então, diria que reavaliar o tema da anistia, mas de maneira cuidadosa e não geral.

A questão geral significaria compreender que amanhã possamos ter uma situação igual e deveremos ter a mesma postura de entender que aquilo faz parte da normalidade. Seria como você imaginar que um grupo de pessoas invadisse a sua casa, ameaçasse de agressão a você, aos seus familiares, aos seus funcionários, quebrasse os objetos e levasse os pertences, e entendesse que isso merecesse uma anistia plena, geral e irrestrita, nenhuma penalidade. Não é correto. Não é justo. Você se sentiria dentro de um país, cidade, estado ou região sem lei e sem ordem. O Brasil não pode ser um país sem lei e sem ordem, mas é preciso dosar também a força da lei. Ela, quando é exagerada, provoca repulsas e uma reação da própria sociedade civil.

O senhor acredita que a anistia é um caminho para negociar o tarifaço?

Neste caso, sim, mas não por obediência a uma imposição americana, e sim por obediência ao bom senso e avaliação ao respeito a termos uma democracia sólida, como é a democracia brasileira, mas que também é preciso que o poder judiciário tenha sensibilidade na aplicação da lei. Mas eu não defendo uma anistia irrestrita.

Então, o senhor discorda da posição do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas? Como viu a colocação de uma bandeira norte-americana durante a manifestação do 7 de Setembro na Avenida Paulista?

Eu não quero discordar dele, entendo a sua posição. Prefiro dizer que compreendo a circunstância em que ele faz manifestações do que condená-lo pelas manifestações que fez. E sobre a manifestação, senti que faltou uma bandeira brasileira do mesmo tamanho ao lado.

Agora o senhor acha justo misturar a anistia com a questão das tarifas, ou seja, uma questão política misturando com uma questão técnica?

A razão não seria a motivação da pressão americana no equívoco de sobretaxar commodities e produtos brasileiros em 50% por um fundamento político, mas entendo que seria uma forma pacificadora de uma dosimetria correta para, com isso, tentar pacificar o país. Eu acho que essa circunstância deve ser tratada sem vilipendiar, sem fazer rupturas com a lei, mas compreendendo que o Brasil vive um momento tenso e nós não podemos seguir nesse movimento de tensão e ampliá-lo ainda mais com a proximidade das eleições do ano que vem.

Nós precisamos ter compreensão, baixar um pouco esse nível de pressão, senão o país entra em ebulição. E nós estamos há 1 ano e 4 meses das eleições de outubro do ano que vem. Não é compreensível que uma situação como essa possa levar o país a uma ebulição pública, a circunstâncias até de confrontos em rua. Isso seria um desastre para o Brasil. Brasil não precisa disso. Eu volto a repetir, aliás, o que eu digo há 3 anos praticamente desde a posse do governo Lula: paz, entendimento, compreensão, diálogo e não o confronto e reações mais exasperadas, elas não são contributivas para a estabilidade do país e nem mesmo para a democracia brasileira.

O senhor não está defendendo uma relação direta, nem uma anistia que não seja geral do ponto de vista democrático no Brasil, mas não está ligando uma questão à outra?

Não, e definitivamente não. O Brasil tem autonomia. O Brasil não pode receber nem recado, nem instruções, nem ordem de um governo externo, seja americano, seja ele qual for. Eu entendo que uma medida de dosimetria é uma compreensão de que a lei pode ser aplicada, mas de uma forma mais ajustada àqueles que participaram do movimento de 8 de janeiro, mas pelo bem do país, não pelo bem dos Estados Unidos.

*Enviada especial

Meirelles defende a independência do Banco Central

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Por Denise Rothenburg* com Eduarda Esposito — O co-chairman do LIDE, ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, voltou a defender a independência do BC durante o evento LIDE Brazil Development Fórum, que ocorreu hoje (8/9) na capital dos Estados Unidos, Washington DC. Meirelles afirma que somente sendo independente a instituição poderá sobreviver a divergências políticas.

“Eu me concentro nos fatos, e o fato concreto é que existe um projeto que diminui a autonomia do Banco Central na medida em que permite que o Congresso demita diretores do Banco Central. E o projeto não dá, não fornece razões concretas específicas, como é a situação atual. Por exemplo, atualmente, segundo a Lei de Independência do Banco Central apresentada e aprovada em 2021, existe a causa específica. Agora, quando se coloca ‘porque não se atende aos interesses nacionais’, o que é isso? Qual é o interesse? Muitas vezes, duas pessoas podem ter visões opostas sobre o que é de interesse do país. Então, deixa totalmente em aberto o que transforma isso numa questão política”, defendeu o ex-ministro.

Esta não é a primeira vez que o ex-presidente do BC se manifesta a favor da independência da instituição, Meirelles já fez isso, inclusive na Tribuna do Senado. “Já me manifestei publicamente várias vezes no sentido de que acho importante preservar a independência do Banco Central, reforçá-la, inclusive. Fiz um depoimento no Senado no ano passado quando houve toda aquela sessão do projeto que dá autonomia financeira ao Banco Central, que acho importante. Então, É importante não só não diminuir a independência, como reforçar, dando a independência financeira do Banco Central, que é algo que o governo resiste”, ressaltou.

Crédito: Will Volcov e Vanessa Carvalho/LIDE

O ex-ministro destacou ainda que, passado o momento político que o Congresso tem vivido, é necessário trabalhar o tema nas duas Casas. E deixou claro que a maior oposição no momento tem sido do Poder Executivo. “Quando fui, a situação estava bem dividida. Agora, no calor desse momento, com uma bancada que está interessada numa questão específica, não é o momento, de fato, para colocar isso em votação. Mas, passado esse problema conjuntural, existem sim possibilidades de ir à frente, pelo que senti quando fiz o depoimento da autonomia financeira do BC. Quem resiste é exatamente o Executivo que hoje define o seu patamar de gastos federais, onde inclui o BC. Evidentemente, acaba se tornando uma fonte de pressão na instituição, como agora, por exemplo, temos um desafio que seria a expansão do Pix e uma série de outros produtos em desenvolvimento que estão tendo dificuldades por falta de pessoal. O BC precisa atualizar os trabalhos, salários e não o contrário, de estar sujeito a maiores restrições orçamentárias”, argumentou Meirelles.

Tarifaço

O ex-ministro da Fazenda também comentou sobre o tarifaço, e na sua visão, é preciso haver diálogo entre quem produz. “O diálogo entre as empresas passa a ser mais importante do que nunca. Em primeiro lugar, para que as empresas brasileiras que exportam para os Estados Unidos se organizem ao redor de uma estratégia comum. Porque no momento em que eles estejam sintonizados, exatamente, esses importadores, como empresas americanas, terão também um poder de influência junto ao governo americano”, ressaltou Meirelles.

O co-chairman do LIDE também relembrou um ponto importante sobre o tarifaço: empresas norte-americanas que produzem e exportam para os Estados Unidos do Brasil. “Existem subsidiárias de empresas americanas instaladas no Brasil e que exportam para os EUA. E uma mudança de fechar uma fábrica, no Brasil ou em qualquer outro país, e abrir uma fábrica nos Estados Unidos é um projeto economicamente caríssimo e ineficiente, do ponto de vista econômico. Então, estas empresas também, que são empresas americanas, têm interesse direto também numa revisão disso”, defendeu.

Meirelles ainda pontuou que as tarifas aplicadas ao Brasil são de origem política e não comercial. “Não há dúvida de que o caminho para a revisão dessa atitude de ação política contra o Brasil é o diálogo, porque isso foi declarado claramente pelo próprio presidente na carta. Ficou claro que era uma motivação não comercial, mas política, porque, inclusive, o Brasil tem déficit comercial com os Estados Unidos, portanto não se qualifica como um desses países que, segundo Donald Trump, estariam tirando vantagem com saldos comerciais nos EUA”, destacou.

Trump x FED

Henrique Meirelles comentou ainda sobre a rivalidade que tem ocorrido entre o presidente norte-americano, Donald Trump, e o presidente do Sistema de Reserva Federal dos Estados Unidos (FED), Jerome Powell. “Tem uma questão clara de independência do Banco Central Americano, FED. O problema surgiu quando Trump começou a demandar o corte de juros, o que é uma interferência direta na independência do FED. Posteriormente, fez esse movimento de tentativa de demitir uma diretora, evidentemente por uma questão de decisão judicial, para saber se ele tem poderes para isso. Historicamente, a ideia sempre foi de que não tem, mas agora isso está sendo questionado. Nesse caso, é muito importante porque, como ele já tem, entre aspas, o apoio, mas na realidade há alguns diretores que favorecem esse corte de juros que ele quer, se conseguisse demitir essa diretora e colocar alguém sintonizado com ele, evidentemente passaria a ter maioria na votação do FED”, explicou o ex-ministro.

*Enviada especial

Deixe a anistia para depois

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Coluna Brasília-DF publicada na terça-feira, 2 de setembro de 2025, por Denise Rothenburg com Eduarda Esposito

Ainda que o Congresso possa discutir a anistia aos que forem condenados na tentativa de golpe de Estado, inclusive, Jair Bolsonaro, a ideia de muitos é que isso seja apreciado quando não houver mais condições do ex-presidente se apresentar como candidato à Presidência da República. O que se diz entre quatro paredes é que nenhum partido de centro deseja que ele retorne ao Palácio do Planalto. Não tanto por ele, mas pelo entorno, que tem personagens investigados por tramar o assassinato de autoridades.

Crédito: Caio Gomez

Cartas marcadas/ Na visão da oposição, o julgamento de Bolsonaro está “precificado” , ou seja, ele será condenado. Quem está com ele até aqui — tal como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas —, não irá abandoná-lo, mas não quer enfrentar o Judiciário a ponto de abraçar uma candidatura do ex-presidente. Eles vão continuar defendendo que não houve um golpe, e sim uma manifestação onde ocorreram depredações — e que aqueles que depredaram deveriam receber pena respectiva a esse crime. É por aí que a banda dos partidos de centro que apoiam Bolsonaro irá tocar daqui para frente.

Tirou da gaveta

A repercussão da Operação Carbono Oculto, da Polícia Federal (PF), fez com que o Senado desengavetasse o projeto de lei complementar (PLP) do devedor contumaz. O projeto entrou na pauta de hoje, depois de uma conversa entre o relator do texto, Efraim Filho (União-PB), e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). Efraim acredita que, com o apoio do governo, a matéria deve ser aprovada em tempo recorde.

Tal e qual

Da mesma forma que as denúncias de exploração infantil nas redes sociais levaram à aprovação do projeto contra a adultização, a Carbono Oculto — que fisgou os operadores financeiros do PCC — ajudará contra o devedor contumaz. Ninguém quis ser taxado de defensor de exploradores de crianças e adolescentes e, tampouco, do crime organizado.

Roleta-russa

A oposição e a ala bolsonarista do União Brasil querem obrigar o governo a tirar do Orçamento atual os recursos para fazer frente à isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil. Ou seja, intenção deles é suprimir do texto qualquer forma de aumento de imposto capaz de cobrir essa isenção, o que geraria um prejuízo à atual gestão. Entretanto, a ala mais moderada do Centrão é contra. Afinal, governo é momento e, amanhã, pode ser um aliado arcando com esse prejuízo.

O clima na casa mais vigiada

Quem esteve com Bolsonaro, às vésperas do julgamento, disse que encontrou um político devastado. Afinal, tem a certeza de que não conseguirá ser candidato ao Planalto, como planejava lá atrás. Restará, agora, organizar o jogo de forma a derrotar seus adversários.

CURTIDAS

Crédito: Ed Alves/CB/D.A Press

Duas frentes de diálogo/ No esforço de baixar o tarifaço de Donald Trump para outros setores da economia brasileira, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) realizará uma missão a Washington, em 3 e 4 de setembro. Na próxima segunda-feira, o grupo Líderes Empresariais realiza, na capital americana, o Lide Development Forum, em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Apostas baianas I/ Os políticos por lá apostam que o ministro da Casa Civil, Rui Costa (foto), será, no máximo, candidato a deputado federal. Isso se não ficar no cargo. É que as vagas ao Senado estão ocupadas. O líder do governo, Jaques Wagner, é citado nos bastidores como candidato à reeleição. A outra vaga é de Ângelo Coronel.

Apostas baianas II/ Geraldo Junior, vice do governador Jerônimo Reis, é hoje candidato à reeleição, com a expectativa de um vice do MDB. Ou seja, Rui pode escolher entre ficar na Casa Civil ou ser puxador de votos, para que o PT construa uma grande bancada federal na Bahia.

Toque da Alvorada/ Profissionais que vão acompanhar o julgamento de Bolsonaro in loco foram orientados a chegar ao Supremo Tribunal Federal às 6h para pegar a fila. A entrega das credenciais começa às 7h, duas horas antes do início da sessão da Primeira Turma.

“Daqui a pouco volta ao Supremo buscando proteção”, diz Gilmar Mendes sobre fim do foro

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Por Eduarda Esposito — O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes comentou sobre a PEC que prevê o fim do foro privilegiado, que foi colocada na pauta para votação na Câmara dos Deputados durante o “Seminário Econômico LIDE” em Brasília nesta quarta-feira (27/8). “Isso seria a inversão completa da nossa tradição jurídica e da nossa cultura jurídica. O que está a ocorrer, talvez, seja um tipo de casuísmo. ‘Mudando o foro, eu tiro a matéria da competência do Supremo. Daqui a pouco a gente volta ao Supremo buscando proteção’. Então, é bom que a gente tenha juízo nessas mudanças”, declarou Gilmar.

Crédito: Gustavo Moreno/STF

Para o decano, a questão do foro privilegiado é uma prerrogativa do STF e que medidas advindas de tribunais regionais poderiam causar mal-estar. “Foro por prerrogativa de função, acho que faz todo sentido deixá-lo no STF. Nós assistimos, não faz muito tempo, a episódios lamentáveis com a possibilidade de uso e abuso desse foro em todas as instâncias. Fico a imaginar uma busca e apreensão determinada pelo juiz de Cabrobro na Câmara dos Deputados, ou uma ordem de prisão determinada por um juiz de Diamantina a um senador ou presidente do Senado”, destacou. Quanto à possibilidade de a Suprema Corte considerar a PEC inconstitucional, o magistrado defendeu que é preciso esperar as deliberações nas duas casas antes que o STF faça uma análise sobre a matéria.

Moraes x Bolsonaro

O ministro do STF também evitou falar sobre as recentes medidas cautelares do ministro Alexandre de Moraes ao ex-presidente Jair Bolsonaro, reforçando a segurança de Bolsonaro durante a sua prisão domiciliar, mas voltou a afirmar seu apoio incondicional ao ex-presidente da Primeira Turma do STF. “Não conheço no detalhe, obviamente, como os senhores sabem, eu não sou dessa turma, mas apoio o ministro Alexandre de maneira inquestionável. Acho que o Brasil deve muito ao ministro Alexandre de Moraes. Eu sou plenamente solidário a ele e, se nós estamos aqui hoje, num ambiente democrático, deve-se muito ao ministro Alexandre de Moraes e sei que a história vai lhe fazer justiça”, ressaltou.

EUA e o tarifaço

Ainda a jornalistas após a fala durante o evento, o ministro Gilmar Mendes voltou a condenar as ações dos Estados Unidos ao sancionarem o Brasil como uma forma de intromissão no julgamento de Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado. “Claro que isso é de todo impróprio. É evidente que negociações comerciais podem se fazer, e se fazem a toda hora. Agora, tentar envolver nesta cesta o papel institucional do país, a independência do Judiciário, ou seja lá o que for, não faz sentido algum. Nós não temos nada a ver com a jurisprudência sobre o aborto nos Estados Unidos. Da mesma forma, não faz sentido tentar alterar a jurisprudência da Corte Constitucional Brasileira”, concluiu Mendes.

Já sobre o tarifaço, o vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Sérgio Longen, afirmou que o Brasil está atrasado nas negociações e defendeu que é necessária a abertura de novos mercados. “Olha, precisamos buscar oportunidades. Entendemos que a tarifa está aí e vamos buscar outras opções de colocar os produtos brasileiros. Não temos outra saída ou venderemos para os americanos com novos preços. O governo está atrasado nas discussões, precisaríamos ser mais objetivos e mais rápidos, mas o caminho é a discussão sobre o assunto e a busca de novos mercados, que os empresários já estão fazendo”, destacou.

Gilmar Mendes critica falas sobre autocontenção do Judiciário

Publicado em Crise com os EUA, Crise diplomática, Crise entre os Poderes, Governo Bolsonaro, Política, STF, STF versus bolsonaristas, STF versus Fake News, Tarifaço de Trump

Por Denise Rothenburg* com Eduarda Esposito — O ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes criticou falas sobre contenção do Poder Judiciário. “Se nós tivéssemos sido contidos durante a pandemia, muito provavelmente, nós não teríamos tido só ‘700 mil mortos’, teríamos muito mais mortos. Acabei de dar o exemplo da decisão do ministro Lewandowski que mandou que comprassem vacinas. Alguém poder dizer: ‘mas isso fere a divisão de Poderes’ mas nós não permitimos que isso aconteça. Certamente tem muita gente que se antipatiza conosco, mas que teve a família salva, parentes salvos, graças a essa ação que alguém vai dizer ‘ativista do tribunal’. Ativismo não, isso tem total respaldo na Constituição, que consagra o direito à saúde”, declarou Mendes. A fala foi dada após participação no seminário “Brasil Hoje”, do think tank Esfera, em São Paulo, nesta segunda-feira (25/8).

Crédito: Nelson Jr./SCO/STF

O decano do STF também ressaltou que a democracia também impõe limites constitucionais e que a Corte trabalha para que sejam respeitados. “A democracia não é um espaço livre em que todos possam fazer o que quer. A democracia constitucional significa ter limites. É preciso ter essa noção e foi isso que, de alguma forma, o tribunal fez, impondo limites. Ou na esfera das chamadas fake news, ou na esfera digital, tentando dizer ‘quem presta serviço no Brasil tem que se ater às leis brasileiras’. Isto é algo comum. Ainda ontem ouvia uma manifestação de um autor estrangeiro reconhecendo que a democracia brasileira é uma democracia vital, que nós estamos hoje em uma situação muito mais forte e representativa do que muitas democracias, até então, tradicionais”, complementou.

Defesa a Moraes

Mendes também defendeu o ministro do STF Alexandre de Moraes. Segundo o magistrado, não há justificativa para as sanções impostas ao ministro. “Não tem nenhuma justificativa para aplicação dessa legislação contra Alexandre de Moraes ou contra qualquer outro colega que está cumprindo as suas funções. E, certamente, se houver necessidade, a jurisdição brasileira vai se manifestar. Não preciso lhes dizer que nós, a maioria do tribunal, inequivocamente suportamos e apoiamos integralmente o ministro Alexandre de Moraes. Tenho a impressão de que a ampla maioria do tribunal tem reconhecimento e percepção de que talvez nós não estivéssemos aqui hoje se não fosse a ação do ministro Moraes, de sua liderança à frente desses diversos inquéritos”, ressaltou a jornalistas.

Questionado sobre quais ações a justiça brasileira poderia tomar caso os decanos fossem retaliados pelo julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, Mende disse que os ministros ainda não conversaram sobre isso. “Não cogitamos retaliações dos Estados Unidos, a nossa vida segue normal e nós vamos cumprir o nosso papel que a Constituição quer que nós exerçamos. Essas questões vamos considerar no âmbito da nossa jurisdição no Brasil, se houver algum tipo de provocação. É claro que há uma politicidade, uma politização dessa temática toda, agora é absolutamente anômalo tentar mudar uma decisão judicial ou colocar em negociações econômico-financeiras ou comerciais a capacidade de liberação de uma Corte sobre assuntos internos de nosso próprio interesse”, reafirmou o ministro.

Moraes x Mendonça

Gilmar Mendes também comentou sobre as recentes “trocas de farpas” entre os ministros Alexandre de Moraes e André Mendonça. Mendes citou uma recomendação do ministro Luís Roberto Barroso. “É um esforço que todos temos feito a partir do próprio presidente Barroso. Nós não podemos perder a noção de unidade e institucionalidade. A corte é forte como instituição. Acho que construímos, isso é reconhecido hoje por pesquisadores internacionais, uma das cortes mais reconhecidas e poderosas do mundo. Cumpre um papel importantíssimo na preservação da democracia e isto precisa ser preservado”, disse.

*Enviada especial

Tarcísio irá para o PL se for candidato à presidência, afirma Valdemar

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Por Denise Rothenburg* com Eduarda Esposito — Após participação no seminário “Brasil Hoje”, do think-tank Esfera em São Paulo, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, afirmou que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), se for concorrer ao Planalto, se filiará ao PL. “O Bolsonaro, se não puder ser candidato, vai escolher um candidato a presidente e a vice e será pelo PL, isso está liquidado. O Tarciso já declarou, tive um jantar com ele há um ano e meio atrás, e ele falou: ‘Se eu for candidato, eu vou para o PL’. No jantar com os governadores, na frente de cinco governadores, ele disse: ‘eu sou candidato a governador, mas se eu for candidato a presidente, eu vou para o PL'”, afirmou.

Crédito: Beto Barata/ PL

Entretanto, antes de definir o governador de São Paulo, os aliados de Bolsonaro tentarão torná-lo elegível de novo. A estratégia será esperar a posse do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Kássio Nunes Marques no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “O presidente que caçou a possibilidade do Bolsonaro ser candidato era o Alexandre de Moraes. O presidente no ano que vem será o Kássio Nunes. Nós vamos entrar com requerimento. Vamos pedir para que seja revista essa decisão. Mas ele precisa estar liberado pelo STF, senão cai na ficha suja”, explicou.

“O Bolsonaro tem grande chance de ser candidato porque não tem como condená-lo. Eles vão ter que discutir o que eles chamam de golpe, golpe 20 pé de chinelo quebrando as coisas. No Brasil, você pode tramar um golpe, pode tramar um assassinato, desde que você não faça nada. Não é crime. Por exemplo, que nem queriam matar o Alexandre [de Moraes], mas não fizeram nada. Não é crime. Agora, como eles falam que 8 de janeiro era o golpe, então nós tentamos dar um golpe no país com 20 pés de chinelo quebrando as coisas. Isso é baderna, já teve várias vezes no Brasil”, declarou o presidente.

Trump e o Brasil

O presidente do PL também falou sobre a questão de Donald Trump com o Brasil. Na visão de Valdemar, Trump não quer que o Brasil se torne um país de esquerda, e nem uma ditadura como a Venezuela. “Ele quer o Brasil num caminho bom, tem preocupação de virar um país de esquerda. Você vê a pressão que ele está fazendo contra a Venezuela. Ele não vai abandonar isso aqui. Ele não tomou uma providência e vai parar. E não acredito que ele não acerte o tarifaço no Brasil. Tenho certeza de que vai acertar”, comentou otimista.

Para Valdemar, Trump não vai se intrometer nas eleições brasileiras, mas sim, continuar aplicando sanções ao Judiciário caso Bolsonaro seja condenado. “Na eleição, não, mas na injustiça que estão fazendo com Bolsonaro. Vai fazer leis contra esse pessoal, ele não vai parar com essas ações. Trump não vai fazer o pior com o país, ele quer estar bem com o povo brasileiro. Não tem risco de guerra aqui, mas ele quer o Maduro fora. Aqui ele não faria isso, aqui é democracia, lá não é”, destacou Valdemar.

Saúde de Bolsonaro

Segundo o presidente do partido, Bolsonaro não tem estado bem. A prisão domiciliar tem afetado o emocional do ex-presidente. “Está mal, a operação que ele fez foi muito séria e ele não parou de sair, de andar. Está muito abatido. [Mas para enfrentar uma campanha presidencial], se estivesse livre, sarava na hora. O estado moral dele é por estar preso em casa, o aborrecimento que está tendo, não merece estar onde está. Como é que você se sentiria no lugar dele? Com o prestígio que ele tem, não vai poder ser candidato?”, declarou.

“Golpe não se dá com pedaço de pau e com baderneiros quebrando alguma coisa”, diz Valdemar Costa Neto

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Por Denise Rothenburg* com Eduarda Esposito — O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, afirmou durante o seminário “Brasil Hoje”, do think-tank Esfera em São Paulo, que “golpe não se dá com pedaço de pau e com baderneiros quebrando alguma coisa. Golpe é com metralhadora, tanque, aviões. Isso é golpe. Então eles querem classificar aquilo como golpe para poder ter um motivo para condenar o Bolsonaro”. Para o presidente, o que está acontecendo com o ex-presidente Jair Bolsonaro é algo nunca visto antes.

Crédito: Caio Gomez

“Tenho bastante tempo de política e bastante idade, nunca passei pelo que eu estou passando, nunca assisti nada, nesse período de 40 anos que estou na política. O que está acontecendo no Brasil agora é uma perseguição constante ao Bolsonaro. Não para. E o pior de tudo, não posso conversar com ele. Pedimos uma relação de líderes do partido que queriam falar com o Bolsonaro e só me programaram para falar na quinta-feira que vem, sou o último”, declarou.

Tarifaço

Valdemar voltou a falar sobre o tarifaço imposto aos produtos brasileiros por Donald Trump e reafirmou que é uma guerra e que o presidente norte-americano não vai perder. “Isso é uma guerra e eu não acho que o Trump vai perder. É minha opinião. Nós não temos outra [solução]. Falo isso bem antes da eleição do Trump: ‘se o Trump não ganhar a eleição nos Estados Unidos, nós estamos mortos’. E parecia que ele não ia ganhar, mas ganhou. O Trump é a única saída que nós temos, não temos outra. Porque, quando o poder judiciário se comporta dessa maneira, é a pior coisa que existe para todo o país. Porque você não tem para quem recorrer. Esse é o nosso problema. Todos estão apoiando o [ministro do Supremo Tribunal Federal] Alexandre de Moraes. A maioria. Então nós só temos uma chance, o Trump. Não temos outra”, ressaltou.

Para o presidente do PL, Bolsonaro conquistou Donald Trump ao demorar para reconhecer a vitória do ex-presidente Joe Biden. “O Trump gosta do Bolsonaro porque, quando ele perdeu a eleição para presidente, o Bolsonaro foi o último presidente, passou mais de um mês sem reconhecer a vitória do Biden. Além de ter conquistado pessoalmente, como conquista todo mundo, e ter um carisma pessoal que ninguém tem, ele tinha conquistado o Trump, mas não dessa maneira”, explicou.

Eduardo Bolsonaro

O presidente do partido do ex-presidente Bolsonaro também falou sobre a atuação do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos EUA e sua relação com o tarifaço de Trump. “[Eduardo] está fazendo a parte dele, faz todas as coisas por conta própria, ele não consulta o partido. Não estou me lamentando por isso, não tem problema nenhum. Ele está ajudando, faz a parte dele e faz o que ele deveria fazer, que é defender o pai dele. E quando acontece alguma coisa, como aconteceu com o Carlos, que fez uma crítica para os governadores, para os pré-candidatos à presidência, é a situação em que o camarada perde o controle de ver a situação em que o pai está. O Bolsonaro tem passado por uma situação muito ruim, porque ele fez uma operação séria e tem estado nervoso o tempo todo. Isso tem feito mal para a saúde dele. Fico mais preocupado hoje é com a saúde do Bolsonaro. Ele tem passado mal e é natural. Ser preso sem cometer nenhum crime, sem dar nenhum golpe, que eles falam que aquele dia 8 de janeiro foi golpe”, defendeu.

“Respeito se dá pela independência do Judiciario”, diz Moraes após discurso de Mendonça no LIDE

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Por Denise Rothenburg* com Eduarda Esposito — O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes também compareceu ao 24º Fórum Empresarial LIDE no Rio de Janeiro nesta sexta-feira (18). Moraes encerrou o evento e afirmou que o respeito ao Poder Judiciário se dá pela sua independência e afirmou que resistirá aos ataques que vierem de dentro ou de fora do Brasil.

Crédito: Evandro Macedo LIDE

“Só um poder judiciário independente é respeitado. O respeito se dá pela independência. Um judiciário vassalo, covarde, que quer fazer acordos para que o país momentaneamente deixe de estar conturbado, não é um judiciário independente. E o judiciário no Brasil é um judiciário independente. O judiciário que não é independente não tem o direito de ser chamado judiciário. Eu posso garantir aos senhores e às senhoras que no Brasil o judiciário é independente e é corajoso. Os ataques podem continuar a ser realizados de dentro ou de fora. Pouco importa o juiz que não resiste à pressão, que mude de profissão e vá fazer outra coisa na vida. O judiciário cresce com a pressão, porque a função do juiz é julgar e decidir, manter a democracia e o estado de direito”, declarou Moraes.

O ministro também deixou de falar sobre os ataques nas redes sociais e citou as Big Techs. “Não se pode atentar contra a democracia. A liberdade é com responsabilidade. Quem não quer ter responsabilidade é porque não tem coragem de assumir os seus atos. E no Brasil, nós mantivemos, e nós que eu digo é a sociedade brasileira, nós mantivemos firmes os três pilares das democracias ocidentais. A imprensa vem sofrendo ataques incessantes, a imprensa livre, tradicional, séria, vem sofrendo, há anos, de direcionamentos pagos pelas Big Techs, mas a imprensa livre, que é pilar da democracia, permanece firme”, ressaltou.

Dever do Judiciário

Alexandre de Mores aproveitou também para abordar a questão da insegurança jurídica que o Brasil tem sofrido ao julgar liminares no campo empresarial. “Aqui o judiciário deve fazer uma mea-culpa. Há necessidade de reformas, mas não só legislativas, reformas no funcionamento do Poder Judiciário. Não é possível, e eu digo isso com absoluta tranquilidade, que a cada empreendimento haja um inquérito civil e, eventualmente, uma liminar e que ela demore anos para ser julgada e os investimentos fiquem parados. Não importa se está certo ou errado o investimento. Importa que nós temos que alterar o funcionamento do Judiciário para que se resolva. Logo, você quer construir uma empresa, vai gerar milhares de empregos, milhões em impostos, desenvolvimento, e aí vem uma liminar e para julgar leva dois, três, quatro anos. Quem vai investir no Brasil assim? Então, a segurança jurídica é um grande desafio, mas que nós vamos avançar”, garantiu o ministro.

8 de Janeiro

Alexandre de Moraes também abordou em seu discurso a tentativa de golpe de Estado cometida em 8 de janeiro de 2023. Para o ministro, a polarização política que o Brasil vive impediu que o povo comemorasse a resistência da democracia. “Neste momento em que nós estamos, um momento que, se não fosse essa odiosa polarização ideológica, infelizmente muito capitaneada pelas redes sociais e pelo ódio que se destila nas redes sociais, todos os brasileiros, independentemente da posição política, de direita, de esquerda, de centro, liberal, progressista, conservador — todas as posições são razoáveis e respeitáveis —, se não fosse essa odiosa polarização, repito, insuflada pelo ódio das redes sociais, todos os brasileiros deveriam estar comemorando que o Brasil resistiu a ataques. O Brasil passou nesses 35 anos por diversas provações e chegamos hoje, em 2025, como estado democrático de direito, com a imprensa livre e com eleições. Daqui a um pouco mais de um ano teremos novas eleições e com Judiciário independente”, destacou o ministro.

Crédito: Evandro Macedo LIDE

Sistema eleitoral brasileiro

O magistrado do STF também elogiou e exaltou o sistema de urnas eletrônicas do Brasil e pelo sistema eleitoral, que promove a cada dois anos eleições livres. “O Brasil dá um exemplo ao mundo. A cada dois anos, nós temos eleições. De dois em dois anos, ou nós elegemos os nossos representantes gerais ou os locais, tanto do Legislativo quanto do Executivo. E é o único país do mundo que, com 158 milhões de eleitores, em pouquíssimas horas, dá o resultado das eleições. Nós não deixamos, enquanto sociedade, e aqueles que viveram sob a ditadura sabem isso, não podemos deixar que retirem das brasileiras, dos brasileiros, esse orgulho. Quem ganhar assume, quem perder tenta daqui dois ou quatro anos. Isso é democracia, isso é liberdade com responsabilidade”, defendeu Moraes.

*Enviada especial

Valdemar minimiza ataques de Eduardo e Carlos e acredita em Bolsonaro candidato

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Por Denise Rothenburg* com Eduarda Esposito — O presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, minimizou os ataques realizados pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e pelo vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PL) aos pré-candidatos de direita na semana passada. De acordo com Valdemar, Eduardo e Carlos criticaram os governadores Romeu Zema (MG), Ronaldo Caiado, Tarcísio de Freitas e Ratinho Jr. por desespero em ver o pai preso.

Crédito: Evandro Macedo LIDE

“Às vezes, nós nos deparamos com problemas da família, algum desentendimento, porque é muito duro você ver o teu pai sofrer dessa maneira, como, por exemplo, aconteceu essa semana passada, que fizeram uma crítica grande aos candidatos que estão se colocando à presidência da República. Todos são parceiros nossos, são os melhores aprovados no Brasil, temos gente preparadíssima, tanta gente boa e eu tenho certeza de que nós vamos estar juntos no segundo turno, ou até no primeiro, quem sabe. Agora, acontece que às vezes um filho, como aconteceu na semana passada, vê o pai naquele estado e se desespera, fica nervoso e é natural porque o que temos que preservar e defender são as nossas famílias, nossos pais, nossas mães”, afirmou durante o 24º Fórum Empresarial LIDE no Rio de Janeiro.

Valdemar ainda afirmou que acredita que o ex-presidente Jair Bolsonaro possa ser o nome da direita em 2026 e lembrou das eleições de 2022. “Estamos atravessando esses problemas [críticas a aliados e prisão e julgamento de Bolsonaro], mas vamos solucionar, no fim vai dar tudo certo. Vamos estar na eleição e tenho esperança ainda de que o Bolsonaro será candidato à presidência da República. Quem diria que o Lula, que ficou 580 dias preso no Paraná, ia ser candidato e ainda ganhou, quer dizer que tudo pode acontecer”, disse otimista.

Indicação para 2026

O presidente do PL disse ainda que sabe que a direita espera o anúncio de quem será o apoiado por Bolsonaro na próxima corrida ao Planalto, mas ressaltou que a escolha será do ex-presidente. “Quem ele indicar, eu vou aceitar. Sempre digo: ‘você decide. Nós temos várias pessoas qualificadas disputando esse lugar e sendo escolhidas. Bolsonaro faz comentário comigo e eu não levo em consideração porque quero que ele decida e sei que, quando ele for decidir, vai ser pela cabeça dele. Porque quando ele escolheu o Tarcísio de Freitas para ser governador de São Paulo, falei ‘Bolsonaro, Tarcísio não vota em São Paulo, ele quer ser senador aqui no Mato Grosso ou em Goiás, ele não fez uma obra para São Paulo que destacasse o ministério dele. Mas ele fez essa luta e agora Tarcísio tem uma aprovação muito grande no país”, pontuou Costa Neto.

Humilhação

Valdemar ainda defendeu Bolsonaro, afirmando que o ex-presidente está sendo injustiçado pelo Judiciário. “O que estão fazendo com o presidente Bolsonaro, a humilhação que eles estão impondo ao nosso partido e ao presidente, tem destruído Bolsonaro pessoalmente. Ele fez uma operação muito séria recentemente e, dia após dia, é um acontecimento. Resolveram pôr as tornozeleiras, sem motivo nenhum, Bolsonaro, se tivesse que ter saído do Brasil, já teria saído. Não entendi aquele documento pedindo asilo, você atravessa um rio aqui e está na Argentina. E o Bolsonaro ia ser muito bem recebido lá, porque eu fui na posse do Javier Milei com ele e fiquei impressionado com o povo na rua e no nosso hotel querendo conhecer e aplaudir Bolsonaro”, ressaltou o presidente partidário.

O presidente do PL também não deixou de lado a questão do Tarifaço aos produtos brasileiros vendidos aos Estados Unidos. Para Valdemar, os EUA não vão perder este embate. “Essa guerra que está acontecendo em Brasília hoje vai ter que ter um fim e acho difícil o presidente Donald Trump perder”, apostou.

Crédito: Evandro Macedo LIDE

Agenda de Bolsonaro

Assim que terminou sua fala, Valdemar precisou deixar o evento para embarcar para o Acre, já que hoje o senador Márcio Bittar irá se filiar ao PL, deixando o União Brasil. Costa Neto disse ainda que, devido à prisão domiciliar de Bolsonaro, é ele quem está fazendo toda a agenda do ex-presidente. O presidente também falou sobre a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que, até o momento, será candidata ao Senado no Distrito Federal, mesmo com bons resultados nas pesquisas eleitorais para o Planalto. “Ela está bombando no país inteiro”, afirmou.

O presidente também destacou a força que o partido vem conquistando graças à influência de Bolsonaro. “Para terem ideia, o PL atualmente tem 509 prefeitos, 5 mil vereadores, 128 deputados estaduais, elegemos 99 deputados federais — sendo hoje 88 —, dois governadores — Rio de Janeiro e Santa Catarina —, apoiou o de São Paulo, 14 senadores em exercício e estou indo para o Acre assinar a ficha do senador Márcio Bittar (União-AC) que vai entrar hoje no nosso partido, então teremos 15”, comemorou. De acordo com Valdemar, a legenda tem mais de 900 mil filiados e os números continuam a crescer. “Tudo isso nós conseguimos graças ao presidente Jair Bolsonaro Ele tem um carisma, não é normal, é um fenômeno. Se o partido chegou onde está, foi graças a ele”, ressaltou Costa Neto.

*Enviada especial