São Paulo — A 19 quilômetros ao sul da Praça da Sé, em meio ao contemplativo Parque Burle Marx — que preserva bom trecho da Mata Atlântica —, se ergue um palacete cheio de história, transformado há pouco mais de um ano num templo de alta gastronomia.
Chama-se Palácio Tangará, o projeto de Oscar Niemeyer, catapultado ao exclusivo mundo do design e da culinária pelo grupo alemão Oetker, mais conhecido entre nós por fabricar prosaica gelatina, mas um gigante em matéria de investimento e poder. Oetker Collection, o braço hoteleiro do grupo, que pertence a uma das famílias mais ricas do mundo (patrimônio avaliado em US$ 2,2 bilhões), transformou o palacete em hotel seis estrelas inaugurado em 2017.
Dentro, funciona o restaurante gourmet Tangará Jean-Georges, capitaneado pelo aclamado chef francês da Alsácia Jean-Georges Vongerichten, que construiu brilhante carreira com muitas estrelas Michelin. Ele opera mais de 30 restaurantes em cidades, como Nova York, Paris, Xangai e Tóquio, daí sua presença ser rara em São Paulo. A parceria com Oetker Collection no Tangará é o primeiro empreendimento do chef na América do Sul.
Ninho de amor
O Parque Burle Marx foi construído no terreno da antiga propriedade rural denominada Chácara Tangará, que pertenceu ao milionário playboy brasileiro Francisco Matarazzo Pignatari, também conhecido por Baby Pignatari. Na década de 1960, casado com Ira von Fürstenberg (filha de um príncipe alemão com Carla Agnelli, irmã do fundador da Fiat), Pignatari começou a construir o palacete que ficou conhecido como “mansão das tochas”, enquanto a princesa decorava o lar com peças garimpadas nos antiquários da cidade.
A ideia de Baby era erguer a maior casa de todo o Morumbi, entretanto, o casamento com a princesa acabou antes da própria obra, apenas o jardim ficou pronto e iluminado. Depois disso, Ira aos 25 anos virou atriz — fez até novela na TV Tupi — e designer de joias.
LG: Vieiras, na entrada, preparam paladar para o robalo em crosta de especiarias
Primeira estrela
É natural que um lugar luxuoso com um passado tão rico em história e emoção proporcione prazer a quem o visite, ainda mais quando se vai conhecer o soberbo menu assinado por Vongerichten. Sabem quem o executa? Um jovem chef gaúcho, nascido em Santo Ângelo das Missões, Felipe Rodrigues (foto), que morou na Europa.
“No ano 2000, muitos dos meus amigos de faculdade estavam indo para Londres para aperfeiçoar o inglês. Tranquei o curso e fui, inicialmente, para ficar um ano, mas acabei ficando quatro”, diz Felipe, que ganhou ano passado a primeira estrela Michelin, sem nunca ter feito gastronomia. Na verdade, o chef gaúcho cursava economia e engenharia, antes de ser treinado em Nova York.
Especialidades
Uma característica da cozinha são os molhos leves, como reduções de vegetais, caldos à base de legumes, frutas e ervas. Por exemplo: água de coco faz o fundo do vinagrete da salada de pupunha e tomates em uma das entradas. Tartar de atum é outro must.
Eu degustei sensacionais vieiras grelhadas com creme de pastinaca (raiz branca parecida com cenoura rica em potássio), manteiga negra e maracujá. O prato sai por R$ 86. Como principal, robalo em crosta de especiarias com molho agridoce e legumes da estação por R$ 120. A carta de vinhos é outra atração e foca em espumantes, brancos e tintos leves, que harmonizam com os pratos. Só fecha no jantar de domingo. Telefone (11) 4904-4040.