Deu gosto ver o entusiasmo da velha guarda na ressurreição do Piantella, tradicional restaurante da 202 Sul, abatido junto com Dilma, no dia do impeachment. Na ocasião, o antigo dono Kakay (advogado Antonio Carlos de Almeida Castro) fez questão de comunicar na mídia que “parte da história da cidade estava fechando um ciclo”. Uma tristeza tomou conta do circuito gastronômico, que se perguntava, como lembra Kakay, “onde ir comer feijoada sábado à tarde? E o cozido de domingo? O profiterole, a língua, o camarão com fettuccine, o pastel, o piano, o bom vinho…”
A comoção viajou e chegou aos ouvidos do empresário mineiro Omar Resende Peres, radicado no Rio de Janeiro, onde vem comprando símbolos da cidade, como a Fiorentina, a Boulangerie Guerin, o Bar Lagoa e, mais recentemente, o Hippopotamus, que reabrirá em janeiro com Ricardo Amaral.
Graças a esse salvador de ícones, o Piantella reabriu esta semana em grande estilo, totalmente repaginado com as paredes cobertas de fotografias históricas e operado pelo mesmo staff, testemunha da trajetória de 40 anos.
Imagens históricas
“Eu não compro restaurantes, eu compro símbolos que representam a história da cidade”, proclama Omar Peres, entre os amigos chamado de Catito. Aos 59 anos, ele fez questão de reeinaugurar a casa com quase todos os clientes divididos em duas turmas. Na segunda-feira, um coquetel regado ao espumante Chandon, produzido na Serra Gaúcha, reuniu os habitués, jornalistas, publicitários, profissionais liberais. Na terça, empresários, políticos — entre eles alguns que têm suas fotos na parede.
Majestoso lustre de cristal pende do centro do alto pé direito do salão principal, como o única grande novidade ao lado das fotografias — mais de 200 em preto e branco, quase todas de autoria do fotógrafo Orlando Brito. Entre os retratos póstumos há os de Juscelino Kubitschek, Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Darcy Ribeiro, ACM, Itamar Franco, Paulo Brossard, Ibrahim Sued, Franco Montoro, Orestes Quércia e outros.
Destaque para o presente que Catito recebeu semana passada, quando convidou Maria Tereza Goulart para almoçar na Fiorentina. Ela levou a foto da posse ao lado do presidente João Goulart. Durante três dias, Catito pregou pessoalmente as fotos na parede.
Comandam o salão os antigos maîtres Francisco das Chagas Alves, o Chicão, e Ozanan, enquanto a cozinha continua nas mãos de Agenor com a ajuda de dois cozinheiros. “Foi a melhor notícia do ano”, disse Mario Pinheiro, quando recebeu o chamado para voltar a tocar o piano do bar do Piantella. Dois dos cinco irmãos de Catito — Roberto e Jaqueline —, que já estão gostando de Brasília, dirigem a casa.