Como quase todas iguarias muito apreciadas, o queijo também foi descoberto por acaso. Conta a lenda que um pastor, ao preparar-se para uma viagem, colocou certa quantidade de leite de cabra em seu cantil feito de estômago seco de carneiro. Depois de árdua caminhada, em uma de suas pausas para se alimentar, surpreendeu-se ao perceber que o leite havia virado coalhada por um processo químico. Era o primeiro queijo da história…
Centenas de anos mais tarde, a “descoberta” já de domínio público é responsável por uma infinidade de receitas e pode-se dizer que todas as etnias fazem queijo, inclusive a brasileira. Aqui, o produto, além do forte apelo gastronômico, tem sido caso até de polícia! Quem não lembra da escandalosa apreensão de queijos artesanais pernambucanos no estande da chef Roberta Sudbrack, durante o Rock in Rio, no ano passado?
Selo Arte
Esse absurdo certamente não vai mais se repetir. Finalmente, a Lei nº 13.680, que está em vigor sancionada pelo presidente Michel Temer transfere a fiscalização da produção e comercialização de embutidos, queijos de leite cru e méis para os órgãos estaduais. Desde 1950, a medida que vigorava exigia o selo federal S.I.F. para esses produtos, o que impedia a comercialização interestadual.
O mesmo dispositivo também determinou que os produtos artesanais com o novo Selo Arte deverão ter natureza prioritariamente orientadora, por parte dos órgãos de saúde pública dos estados e do Distrito Federal.
“Cabe agora aos estados estabelecer as regras para a concessão do selo”, explica Rosanna Tarsitano, especialista em queijos artesanais brasileiros. O primeiro produtor a protocolar pedido na secretaria de Agricultura de seu estado foi Joaquim Dantas, que toca a Fazenda Carnaúba em Taperoá, na Paraíba, fabricante de famoso queijo de leite de cabra, cuja logomarca são as cabrinhas desenhadas por Ariano Suassuna. “Ariano completaria essa semana 91 anos”, postou no Facebook o sobrinho dele, Joaquim.
De volta ao campo
Antes tarde do que nunca, a decisão do governo trouxe alívio para a comunidade queijeira, comenta Tarsitano, que é uma das 22 pessoas integrantes da Comer Queijo, associação de comerciantes de queijo artesanal brasileiro. Ela, que todos os sábados está na feirinha gastrô em frente à Grand Cru (QI 9/11, Lago Sul), com a banca de queijos Tarsitano Sabor de origem, aponta ainda outra vantagem da lei.
“A valorização do queijo artesanal de pequenos produtores devolve a autoestima de centenas de famílias que tiram dos laticínios rurais o sustento de toda uma vida”, ressalta a comerciante, que tem certeza de que, passado o período obscurantista da fiscalização, “os filhos dos agricultores voltarão”.
Quem também comemora é Marina Cavechia, sócia do Teta Cheese Bar, aberto há três meses na 103 Sul. “Vou ter mais tipos de queijo, porque os produtores agora vão correr atrás do selo”, prevê a empresária, que se especializou no produto. Ela até reconhece ter corrido riscos quando abriu a loja, “mas agora, tudo legalizado, nós, produtores e comerciantes, estamos tranquilos”. Telefones 99983-4660 (Tarsitano Sabor de origem) e 3554-6970 (Teta Cheese Bar).