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No rumo de Itiquira, o sabor rural se encontra no Dom Fernando

Publicado em Perto de Brasilia

Localizado a 115km de Brasília, o Dom Fernando oferece comida de roça, como frango caipira, suã de porco e pernil à pururuca, além de deliciosos doces caseiros

Um dos passeios ecológicos mais bonitos ao redor de Brasília é Itiquira, que em tupi guarani, significa águas que caem. De fato, com 168 metros de queda livre é o maior salto da América Latina de fácil acesso. Fica a 115km da capital e 32km de Formosa, município goiano cujos atrativos englobam lagoas, saltos, cachoeiras, sítios arqueológicos, lendas, história, além de uma deliciosa culinária executada por um povo simpático e receptivo.

Você pode conferir a dica antes mesmo de chegar a Itiquira, mas melhor mesmo é na volta. Vá cedo curtir a cachoeira em meio a jardins arborizados que se misturam com a vegetação cerratense dentro de uma área protegida: o Parque Municipal de Itiquira. No poço, onde se dá a queda, não é permitido banho, dada a força da água, mas logo abaixo, no rio é possível nadar em pequenos trechos. O rio ainda oferece uma sequência de saltos, corredeiras, nascentes de água mineral e outras cachoeiras, entre elas, a do Indaiá que leva o nome da palmeira que cresce em toda a área.

Tomara que o passeio tenha estimulado o apetite, porque só com uma fome razoável você poderá experimentar as dezenas de pratos do bufê no Dom Fernando, restaurante rural que funciona exclusivamente sábado, domingo e feriados. Fica à beira da estrada entre Formosa e o Salto de Itiquira. Se você estiver voltando de lá, depois de percorrer 23 quilômetros, pare no KM 6 da Rodovia GO 116, vale a pena se deliciar com a infinidade de sabores típicos da gastronomia de Goiás e de Minas servidos em ambiente bucólico.

A história do Dom Fernando

Nascido em Niterói, Fernando Monteiro Andrade se considera mineiro porque a família se mudou para Belo Horizonte quando ele tinha dois anos. Estudante de engenharia veio trabalhar na construção de Brasília com o pai, dono de uma empresa de instalações elétricas.

Aos 86 anos, Fernando ainda lembra bem de cada edifício, palácio e prédio nos quais estendeu a fiação numa árdua tarefa que teve início em 1957, três anos antes da inauguração da cidade. Desse tempo, o que ele gosta de enaltecer é o entusiasmo demonstrado por Juscelino Kubitschek. “JK costumava percorrer as obras e, antes de terminar a visita, subia num tamborete e dirigia palavras de estímulo aos candangos que embora cansados se sentiam renovados pelo otimismo dele”, recorda.

Menos de 20 anos depois, o engenheiro comprou uma fazenda de 350 alqueires goianos (1.500 hectares) de José Batista Sobrinho, que vem a ser o fundador da JBS, a maior empresa processadora de proteínas do mundo. “Tempos depois, Zé Mineiro, como é chamado o açougueiro de Anápolis que ganhou o primeiro par de sapatos aos 12 anos, já estava bem de vida e até quis comprar de volta a propriedade, mas eu não concordei”, conta o fazendeiro.

Sem pressa

Fotos: Dom Fernando/ Divulgação

Fernando casou aos 24 anos com a namorada Maria Olivia, de 21. Eles tiveram três filhos: Marilivia, Fernando e Rogério. A primogênita já não se ocupa mais com a fazenda, administrada pelos dois irmãos. Fernando e a mulher Márcia Andrade tocam o restaurante, enquanto Rogério, a granja da qual faz parte a produção de ovos férteis em cinco enormes galpões que abrigam 10 mil galinhas poedeiras em cada um. São ovos para chocar, coletados três vezes ao dia.

Além desses, também há os ovos comuns de galinhas caipiras, que, ao lado do leite, verdura, vegetais, mandioca e hortaliças abastecem o restaurante, aberto em 2004. Dezessete anos depois, ainda conta com a mesma equipe na cozinha. São profissionais da região, que tem a culinária local nas veias.

Cerca de 50 pratos fazem parte do portifólio servido intercaladamente a cada fim de semana nos bufês montados em enormes mesas de madeira. Só de arroz, há 11 preparações, entre elas, a com brócolis, alho, suã de porco, pequi, lentilha, carneiro e até bacalhau. Alguns pratos se destacam do menu e são muito apreciados, como “o frango caipira, a rabada com agrião, fraldinha assada, moqueca de surubim e pernil à pururuca, que vem com molho picante de abacaxi à parte”, revela Márcia, que fica no caixa.

Rodeado de paineiras e ipês, cujas flores nessa época são roxas, o restaurante ocupa uma construção com 280 lugares sentados. Na entrada, música ao vivo sempre MPB executada por um conjunto, que a cada semana se reveza com a cantora Cristina, todos de Formosa. Outra atração é o redário, onde “os clientes gostam de descansar um pouco antes de voltar à mesa, pedir mais bebida e se servir no bufê de sobremesas (destaque é o doce de leite). O diferencial da casa é que aqui, se come sem pressa”, resume Márcia.

Outra atração é ouvir histórias do pioneiro da construção de Brasília. Fernando Monteiro Andrade, que tem um ano menos que o milionário da JBS, circula entre as mesas relatando causos que a memória e a lucidez não lhe deixam esquecer.

Funciona das 11h30 às 16h. Preço do almoço: R$ 52,90 (sábados) e R$ 56,90 (domingos e feriados). Reservas: (61) 99905-1887, (61) 99968-7823 ou (61) 99988-7823.