Embaixador de Israel no Brasil há dois anos, o advogado e engenheiro civil Yossi Shelley (foto) adora cozinhar. A ponto de trocar o conforto da bela legação israelense, cercada de jardins com vista para o lago, e ir cozinhar na casa de amigos ou até mesmo fora da cidade. Se é para comandar caçarolas, o empresário de 61 anos, que atuava na iniciativa privada, não se faz de rogado. Aceitou convite do prefeito de Aparecida de Goiás e foi lá no mês de maio preparar uma shakshuka — tradicional prato judeu feito à base de molho de tomate e ovos —, no aniversário da cidade com nada menos que 400 ovos. “No ano que vem, já confirmei: vou preparar outra com 800 ovos”, planeja entusiasmado.
Yossi, cujo posto é o primeiro que desempenha na carreira diplomática, é cheio de amigos. Até Jair Bolsonaro está em sua lista de Whats App e não raro o convida para ir ao Alvorada: “Yossi, vem almoçar aqui”, costuma chamar o presidente.
O encarregado de negócios da Embaixada Tcheca, Tomas Lonicek, é outro amigo querido de Yossi, que fala sete idiomas: hebraico, português, inglês, espanhol, francês, russo e árabe. Foi dele a ideia de chamar o vizinho na Avenida das Nações para promover o primeiro Festival Gastronômico Israel-República Tcheca, que será realizado quinta-feira, no restaurante Miró, no 1º andar do Hotel Brasil 21 Convention, a partir das 19h.
Dois chefs
O cardápio será dividido entre os pratos típicos dos dois países. Para confeccioná-lo virão chefs de fora. O israelense Nir Baruch nasceu em Tel Aviv e, aos 17 anos, foi a São Paulo com os pais, que montaram o Delishop, em 1991, especializado em culinária judaica. Sucesso no bairro Bom Retiro, o restaurante já teve até fila na porta. Nir, que tem cidadania brasileira, vai preparar homus (pasta de grão-de-bico) na entrada fria e falafel (bolinhos de grão-de-bico fritos no óleo) com molho tahine (feito a partir de sementes de gergelim) e salada de tomate, pepino, cebola e alfaces, na quente. O prato principal será um cordeiro cozido com frutas secas e cuscuz, enquanto a sobremesa será uma malabi (manjar de amido de milho, leite, açúcar e água de rosas) com pistache.
O chef tcheco Radomir Smrcka também atua em São Paulo há mais de cinco anos. Aprendeu a cozinhar aos 15 anos com a avó, quando descobriu a gastronomia e passou a estudar o tema viajando pelo mundo. Quando parou aqui, se tornou diretor de alimentação e bebidas de grandes hotéis, como Grand Hyatt e Tivoli e, agora do resort Four Seasons, que fica na Chácara Santo Antonio.
No festival, Radomir inaugura o menu com rolinho de carne com raiz forte e sopa de legumes, batata e cogumelos. O principal será gulas (panqueca) de carne e batata. Na sobremesa, strudel de maçã, que também é típico da culinária alemã.
Leis israelitas
A culinária hebraica é pautada por preceitos religiosos, lembra o embaixador Yossi. Levítico, terceiro livro do Velho Testamento, capítulo 11, descreve os animais puros e impuros da dieta, conforme as leis dadas por Deus a Moisés e a Arão. “Judeus poderão comer a carne de qualquer animal que tem casco dividido e que rumina, mas não poderão comer camelos, coelhos selvagens ou lebres, pois esses animais ruminam, mas não tem casco dividido.” Já no verso 7, “é proibido comer carne de porco”, e explica que o porco é impuro, pois tem o casco dividido, mas não rumina.
Quanto aos peixes, as Escrituras dizem que judeus poderão comer qualquer peixe que tem barbatanas e escamas, mas não poderão comer os animais que vivem na água e que não têm barbatanas nem escamas, que é o caso dos frutos do mar. Foi guardando esses preceitos (descritos ao longo de todo o capítulo 11 até o verso 47), que o povo israelita preservou a saúde ao contrário de muitos outros povos da antiguidade que desapareceram.
Israel produz bons vinhos, como o Golan Yarden Cabernet, que foi servido no jantar comemorativo aos 10 anos da importadora Inovini, que tem sede em São Paulo. O jantar foi realizado no restaurante Mr. Lam, semana passada, dentro da programação do Rio Wine & Food Festival. De origem hebraica, o presidente da Inovini, Alberto Jacobsberg, faz questão de manter no portfólio da importadora vinhos israelense. Outro tinto, igualmente kosher, Hermont — Mount Hermon Rede 2017, produzido na Galiléia pela vinícola Golan Heights com uvas francesas Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Malbec, Merlot e Petit Verdot será sugerido para acompanhar o menu degustação do festival, que sai por R$ 135+10%, sem vinho, ou R$ 160+10% harmonizado. Reservas: 3039-8155 e 99810-0100.