Noventa por cento dos vinhos finos que o brasileiro consome são importados e apenas 10% são nacionais. Para mudar esse quadro é que o Grupo Valduga, uma das principais vinícolas do país, situada na Serra Gaúcha, estabeleceu parceria no exterior. “Fomos buscar parceiros com a mesma filosofia de qualidade da Famiglia Valduga”, diz Jones Valduga, diretor comercial da Domno, braço do grupo responsável pela importação da bebida.
Primeira grife brasileira a fazer vinhos em colaboração com produtores estrangeiros, a empresa gaúcha tem hoje em seu portfólio, além de rótulos brasileiros, vinhos de 10 países: Argentina, Chile, Portugal, França, Itália, Espanha, Estados Unidos, Uruguai, África do Sul e Nova Zelândia. Com exceção dos vinhos norte-americanos, todos os outros foram degustados no Brasília Palace Hotel, onde o Grupo Valduga realizou na última terça-feira, o Vin Première.
Abre caminhos
Para comandar o evento, veio o enólogo, diretor e um dos herdeiros da grife, João Valduga. Segundo ele, há ainda no país muita resistência ao produto brasileiro. Por isso, ele optou por levar a bebida importada aos mercados, o que “facilita a entrada do nosso vinho nos hotéis e restaurantes, além de dar-lhe glamour e prestígio”.
Em contrapartida, os rótulos da Valduga estão sendo vendidos nos países parceiros, comentou o empresário. “Quando se poderia imaginar que a gente tivesse uma cantina no Chile, por exemplo, o país que lidera a importação de vinhos no Brasil?”, questiona João Valduga.
Foco no verão
De olho nas festas de fim de ano, o Vin Première aproveitou a presença de cerca de 250 pessoas no para lançar um de seus mais recentes produtos: o Nero Live Celebration, espumante elaborado 100% com a uva Glera (mundialmente conhecida como Prosecco), ideal para ser degustado em qualquer momento, especialmente no calor. Segundo Daniel Dalla Valle, enólogo do Grupo Valduga, o espumante com apenas 18g de açúcar e 10% de teor alcoólico é um dos mais versáteis do portfólio da marca.
Outros destaques da feira foram os italianos Papale Primitivo di Manduria, DOP, feito na Puglia pela Varvaglione; o supertoscano Tua Rita e o argentino Vistalba Corte A. Mais informações sobre rótulos e preços podem ser obtidas com Gilvan (99525-4843) e Rafael Pires de Sá ( 99156-5383).
Cinco perguntas / João Valduga
A colheita no Rio Grande do Sul, de mais de 750 milhões de uvas, foi responsável pela safra recorde no ano passado. Qual sua expectativa para a safra de 2018?
Se todo ano fosse 2018, com certeza absoluta, iríamos atingir bem melhor nossa meta. A safra do ano passado foi um pouco maior em volume, mas este ano foi algo excepcional — o clima nos ajudou bastante. Colhemos uvas de excelente qualidade com relação a cor, sabor e açúcar.
A Argentina tem a Malbec, o Chile, a Carmenère e o Uruguai, a Tannat. Qual poderia vir a ser a casta brasileira por excelência?
Essa é a pergunta que todos fazem. Se eu me posicionar dentro de todas as castas no Vale dos Vinhedos, sou propenso a apontar a Merlot, que é um vinho redondo, suave, mais fácil de tomar. Além dela, estou bem posicionado com os espumantes em suas variedades como Chardonnay, Prosecco e Malvasia.
Qual é o maior desafio para elaborar, vinificar e comercializar um portfólio de mais de 90 rótulos diferentes?
Trinta anos atrás tínhamos duas ou três variedades só, mas era muito local e até regional. Estávamos muito satisfeitos. Abrimos um pouco mais, buscamos novas terras — metade no sul, dentro do Vale dos Vinhedos. Os resultados começaram a aparecer. Na Encruzilhada do Sul, montamos uns vinhedos e apenas meia dúzia se adaptou. Ter mais de 90 produtos nos motiva mais. É sair da zona de conforto, ficar próximo do cliente para ver o que ele quer. Os resultados e as premiações estão aí.
Dos vinhos que são elaborados pelo senhor, qual é o seu favorito?
Há alguns vinhos, como o Luiz Valduga, o História, o Villa Lobos e espumantes com mais tempo de espera, com 30 ou 60 meses, que dão mais trabalho para nós. Tenho a maior paixão por todos os vinhos que eu elaboro. Não tenho grande preferência por determinado vinho, mas por todos eles.
Na sua opinião, que qualidade faz de um enólogo um profissional diferenciado?
O enólogo brasileiro tem de respeitar o terroir onde ele está, o clima, o solo e o trabalho dele. Com o terroir bem-alinhado, o enólogo depois só conduz. Então é um resultado perfeito. Gostamos muito mais de trabalhar com nosso terroir. Tecnologias, claro, precisamos aperfeiçoar. Buscando sempre o que há de melhor para aplicar ao nosso vinho, ao nosso produto.