Como parte das comemorações aos 110 anos da imigração japonesa ao Brasil, o governo de Tóquio certificou 4 estabelecimentos brasilienses que usam autênticos produtos nipônicos e divulgam a gastronomia do país do Sol Nascente. Entre eles, o restaurante New Koto, que tem como chef Cristiano Komiya, 39 anos. “O coração bateu muito forte”, confessou o sushiman emocionado na cerimônia realizada na última segunda-feira na Embaixada do Japão, cujas caçarolas já foram um dia comandadas pelo pai de Cristiano, Komiya San. Quando Cristiano nasceu, o pai dele não havia fundado o Koto e era o chef de cozinha da missão diplomática.
Na mesma solenidade, foram laureados ainda mais um restaurante — o Yuzu-an, de Alice Yamanishi; uma delicatessen, a Umami Deli, de Takashi Suguiura; e a mercearia Mikami, que nasceu há 50 anos em Taguatinga com o nome de Mercearia Tokyo, e ocupa loja na 414 Sul tocada pelo fundador Jorge Mikami.
Os representantes das quatro casas receberam o diploma do programa de certificação de estabelecimentos que promovem produtos fabricados no Japão das mãos do conselheiro Mitsuhiro Miyakoshi, assessor especial do primeiro-ministro japonês Shinzo Abe, na presença do novo embaixador nipônico no Brasil, Akira Yamada. Existem 118 mil estabelecimentos com pegada japonesa no mundo, dos quais 3.200 foram certificados, entre eles 32 em São Paulo. Lá, se encontra a maior colônia japonesa do mundo. Brasília é o segundo local onde ocorre a certificação no Brasil.
Wagyu liberado
Coube ao atual chef da residência oficial do embaixador, Kazumine Nohara, pilotar jantar no qual o ponto alto foi wagyu grelhado com shoyu servido com wasabi e sal grosso. Responsável por intermediar o trabalho de exportação de produtos japoneses, o assessor do primeiro ministro Abe confirmou que há entendimentos com o ministério da Agricultura do Brasil para trazer a carne que é a mais saborosa e a mais cara do mundo.
Miyakoshi reconhece que “há variantes brasileiras, mas a verdadeira carne premium Wagyu é produzida apenas no Japão”. O processo é tão minucioso que leva 18 meses, e na alimentação do boi, entra até cerveja, e o animal chega a ser massageado. Extremamente suculenta, a carne japonesa derrete na boca, graças ao alto grau de marmoreio (músculo entremeado com camadas de gordura cujo efeito é conhecido como shimofuri, em japonês).
Tanto depois da vaca louca, em 2001, como depois do surto de febre aftosa, em 2010, o Japão abateu todo o gado contaminado para que as doenças não se propagassem, e há alguns anos, o governo japonês tem certeza de que não há qualquer animal afetado, insistiu o visitante.
Aroma de pequi
Preocupado com o baixo consumo de saquê no Brasil — apenas 0,6% de toda a bebida exportada —, as autoridades japonesas estão promovendo a divulgação de seus bons rótulos. O que mais surpreendeu no jantar foi o sho chiku bai “mio”, saquê espumante pouco amargo com doçura suave que deixa uma sensação refrescante na boca. É o preferido pela juventude de Tóquio, informou o embaixador.
Fermentado à base de arroz, o saquê apresenta teor alcoólico semelhante ao vinho e ao aroma de fruta. O rótulo Aizu Homare Bansyu, que vem de Fukushima, exala o cheiro típico do pequi do cerrado e foi o campeão de 876 marcas na divisão de Saquê da IWC (International Wine Challenge), em 2015. Existem hoje mais de 10 mil grifes no Japão.
Além do saquê, os japoneses produzem outra bebida de arroz, awamori, feita a partir de uma variedade específica, a indica, que é típica da província de Okinawa, no extremo sul do país.
Origem portuguesa
Além de sushi e sashimi, outro prato típico da culinária japonesa, chamada washoku, é o tempurá (empanado frito de camarão) que, segundo informou Akira Yamada, tem origem portuguesa. A palavra teria vindo da semana de oração e jejum “têmporas da quaresma”. Durante esse período, os católicos abdicavam da carne e comiam legumes e peixes fritos envoltos numa massa fina. Teria sido essa culinária exportada para o Japão.