O grande teste da largada de Hugo Motta

Publicado em coluna Brasília-DF
Crédito: Caio Gomez

Coluna Brasília/DF, publicada em 14 de março de 2025, por Denise Rothenbug, com Eduarda Esposito

Líderes partidários estão preocupados com o que consideram a “ganância” do PL em ter diversas presidências de comissões na Câmara dos Deputados. O partido de Jair Bolsonaro tem dito com todas as letras que é preciso respeitar a proporcionalidade. Ocorre que, desde os tempos de Arthur Lira, valem os acordos partidários dentro dos blocos. Por exemplo, o rodízio na presidência da Comissão de Constituição e Justiça é feito com base num acordo, e é único ponto que o PL, até aqui, aceita cumprir. Ocorre que, se não houver uma distribuição dentro de alguns acordos fechados na esteira da eleição de Motta, o presidente da Câmara corre o risco de perder o controle do bloco e, por tabela, a liderança política que rege os partidos.

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O atual presidente da Câmara, até aqui, tem sido cordato e paciente na negociação das comissões técnicas da Casa. Mas a demora de se chegar a um desfecho começa a colocar em dúvidas a capacidade de resolução pacífica dessa briga por espaços. A sorte está lançada e, se até terça-feira não houver um acordo, a disputa tende a ir para o voto e dificultar a convivência harmoniosa entre os partidos. É 2026 dando as caras mais cedo. E Hugo Motta, com a missão de pacificar e evitar que a eleição contamine tudo.

Reclamação contra Moraes

A defesa dos réus acusados de suposta tentativa de golpe de Estado ficou estarrecida com o fato de o ministro Alexandre de Moraes ter liberado para que Cristiano Zanin marcasse o julgamento antes de dar a última palavra aos defensores. Tecnicamente os réus deveriam se defender mais uma vez, depois da manifestação da Procuradoria-Geral da República sobre os argumentos da primeira defesa pós-denúncia. Advogados vão citar inclusive um acórdão de 2022 em que Moraes foi relator e dizia, com todas as letras, que o “delatado tem o direito de falar por último sobre todas as imputações que possam levar à sua condenação”.

Replay

A Federação Única dos Petroleiros (FUP) decidiu convocar uma greve de advertência em defesa da melhoria das condições de trabalho e pelo respeito às negociações coletivas. A paralisação, que ainda depende da aprovação da categoria, deve ocorrer por 24 horas no dia 26 de março. A FUP e a Petrobras chegaram a se reunir na terça-feira, mas não chegaram a um acordo.

Guerra de tarifas

Ao inaugurar a Frente Parlamentar dos países do Sudeste Asiático (Asean), o segundo-vice-presidente, deputado Fausto Pinato (PP-SP), elogiou a história do Vietnã e sugeriu que o Brasil seguisse o exemplo na batalha comercial que trava com os Estados Unidos: “É um país com uma história linda, e o Brasil deveria se inspirar ali, porque quem manda no Brasil somos nós, brasileiros”. O Vietnã entrou em guerra civil financiada pelos EUA e pela União Soviética, e, no fim, as tropas americanas se retiraram do território vietnamita. E, diz Pinato, os vietnamitas venceram.

Um sábado de reflexão…

O seminário Democracia 40 anos: Conquistas, dívidas e desafios”, neste sábado, marcará o dia em que o então vice-presidente José Sarney assumiu a Presidência da República, em 15 de março de 1985, mediante um país perplexo com a internação às pressas do presidente eleito, Tancredo Neves. Promovido pela Fundação Astrojildo Pereira, pelo Cidadania, e com uma exposição do Correio Braziliense, será o momento de refletir como chegamos até aqui e o que precisa ser feito para fortalecimento da democracia brasileira.

… E homenagens

Sarney será o grande homenageado, ao lado de constituintes, como Aécio Neves, Augusto Carvalho, Heráclito Fortes, Maria de Lourdes Abadia, Miro Teixeira, Moema São Thiago, Nelson Jobim, Roberto Freire e Valmir Campelo. O ex-presidente do Uruguai Júlio Sanguinetti será um dos palestrantes. O local escolhido não poderia ser mais emblemático, o Panteão da Pátria e da Liberdade, na Praça dos Três Poderes, a partir de 9h.

CURTIDAS

Olha o nível…/ Na tentativa de criticar o comentário do presidente da República sobre ter indicado uma mulher bonita para negociar com o Congresso, o deputado Gustavo Gayer (PL-GO) ultrapassou o limite do decoro parlamentar. Na rede social X, em resposta a um seguidor, o deputado escreveu “imaginar um trisal” entre a ministra Gleisi Hoffmann, o líder do PT na Casa, Lindbergh Farias (RJ) e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre”.

… do debate…/ Alcolumbre avalia uma representação contra o deputado goiano no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar. Gayer, ao tentar criticar uma fala machista de Lula, conseguiu ser ainda pior. “O deputado, pelo visto, está novamente bêbado e já matou duas pessoas nessa deplorável condição”, rebateu o deputado Rogério Correa (PT-MG). Gayer apagou o post sobre o “trisal”, mas os deputados fizeram cópias.

… das excelências/ Gayer, por sua vez, disse que não quis ofender nem depreciar o presidente do Senado, apenas criticar Lula pela fala machista em relação à ministra Gleisi. É preciso impor limites e respeito na relação política. A avaliação de muitos é a de que o caso deverá ser punido até para estabelecer uma relação mais respeitosa entre os campos opostos da política no Parlamento. Está na hora de retomar a hashtag #vaitrabalhardeputado.

O desafio de Gleisi é pagar as emendas

Publicado em coluna Brasília-DF
Crédito: Caio Gomez

Coluna Brasília/DF, publicada em 6 de março de 2025, por Denise Rothenbug, com Eduarda Esposito

A ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, aproveita esses dias pré-carnavalescos para tirar o pulso dos líderes aliados e do governo. Até aqui, o que se ouve nos bastidores, é que o principal desafio de Gleisi será garantir o pagamento das emendas de 2024 e, também, as de 2025 — obviamente, depois de aprovado o Orçamento. Sem o pagamento desses recursos, será difícil o governo conseguir emplacar suas prioridades na pauta. A avaliação é de que não tem cargo de ministro que compense o não cumprimento das propostas orçamentárias dos parlamentares.

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Em tempo: Gleisi está sendo muito bem-recebida pelos líderes dos partidos de centro. O que se ouve deles nas rodas de conversa é: “Gleisi, tudo o que trata, cumpre”.

Fica, Guimarães

Começou um movimento entre os líderes partidários para que o deputado José Guimarães (PT-CE) permaneça no cargo, em vez de cumprir um mandato-tampão de presidente do partido. O líder do PP, Doutor Luizinho (RJ), é direto: “Sou 1000% a favor de que ele permaneça”.

Depende dela

Guimarães conversa hoje com Gleisi para definir seu destino. Se depender dele, a tendência é permanecer no posto atual. Tem muita gente no PT considerando um problema sair da liderança para um mandato tampão de quatro meses. Até tomar pé da situação, terá chegada a hora de sair.

China x EUA I

A revanche da China, de aumentar em 10% a taxa de importação de soja dos Estados Unidos para fazer frente tarifaço de Donald Trump, tem tudo para beneficiar o Brasil. De acordo com o vice-presidente da Atto EXP Empresarial, João Fossaluzza, “o Brasil, sendo um dos maiores produtores mundiais de soja, está bem posicionado para suprir essa demanda adicional. Além disso, temos um histórico de substituição favorável. Durante disputas comerciais anteriores entre China e EUA, como a de 2018, o Brasil se beneficiou ao aumentar as exportações de soja para o mercado chinês, substituindo a participação norte-americana. Acredito que acontecerá novamente isso”, diz.

China x EUA II

Outros especialistas, entretanto, pedem cautela: “Mesmo com um eventual aumento na demanda, os produtores brasileiros devem avaliar bem o risco de aumentar a dependência comercial da China, o que pode tirar nosso poder de negociação e nos deixar mais suscetíveis às exigências de preços mais baixos, mudanças contratuais desfavoráveis e, até mesmo, pressões ambientais sobre a expansão agrícola”, alerta Marco Antônio Ruzene, doutor em direito tributário e mestre em direito das relações econômicas internacionais.

CURTIDAS

Trio elétrico/ Entre uma volta e outra de jet-ski, Jair Bolsonaro aproveitou o carnaval em Angra dos Reis (RJ) para colocar a conversa em dia com seu ex-ministro da Casa Civil e presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), e com o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite — que por lá passou para dar um abraço no ex-presidente.

Vem por aí/ Vai começar no PP um movimento da ala bolsonarista para se afastar do governo. Ciro defende, dia e noite, que o partido fique com Bolsonaro, em 2026. Em qualquer circunstância.

Por falar em Bolsonaro…/ Até aqui, o ex-presidente perdeu tudo que sua defesa pediu ao Supremo Tribunal Federal — de prazos a impedimento de ministros, passando pela transferência do julgamento da 1ª Turma para o plenário. A ordem é manter o eleitorado aceso com as manifestações de rua, em 16 de março.

Antônio Andrade/ A coluna se solidariza com a família do ex-ministro da Agricultura e ex-vice-governador de Minas Gerais, falecido aos 71 anos. A bancada do agro, que ele integrou nos tempos de deputado federal, deve prestar homenagem na próxima semana.

Inflação de alimentos é a prioridade do governo

Publicado em coluna Brasília-DF
Crédito: Maurenilson Freire

Coluna Brasília/DF, publicada em 5 de março de 2025, por Denise Rothenbug, com Eduarda Esposito

Findo o carnaval, pelo menos para alguns, o governo volta à ativa e vai reunir equipes de vários ministérios amanhã com representantes do agro para tratar do preço dos alimentos. A ideia é buscar algum acordo que permita arrefecer a inflação desse setor. Entre os mais fiéis escudeiros de Lula não há dúvidas de que esse é o ponto que fez baixar a popularidade presidencial e o que mais irrita o cidadão. O governo detectou uma certa redução no preço da carne, mas é preciso que os valores fiquem mais em conta para o bolso do consumidor.

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A reunião por si só já será uma demonstração de que o governo não está inerte vendo o preço dos alimentos nas alturas. O governo sabe que é neste quesito que a oposição vai ajustar o foco para desgastar ainda mais o Poder Executivo. Por isso, a ideia é chegar à primeira semana pós-carnaval com boas notícias e não apenas as posses dos ministros de relações Institucionais, Gleisi Hoffmann; e da Saúde, Alexandre Padilha.

Defesa é tudo

Depois que militares se viram enroscados no inquérito da tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023, o governo orientou o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, a manter as Forças Armadas em paz. Aliás, a ordem no Planalto é deixar bem claro que, se não fossem os militares zelosos com o cumprimento de seus deveres constitucionais, a história teria sido bem diferente.

No embalo do Oscar

A turma mais radical já percebeu que não dá para criticar a primeira estatueta recebida pelo cinema brasileiro. O povo gostou e comemorou. Por isso, bolsonaristas mudaram a estratégia. Agora, circula a charge de uma senhora presa, vestida de verde-amarelo, e a inscrição “Ainda estou aqui”. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro replicou o desenho em suas redes sociais com comentários de seguidores na linha de “Anistia já”.

Enquanto isso, no Parlamento…

Os presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre, planejam destravar votações e medidas provisórias nos próximos dias. Conforme prometido, a ideia é colocar as MPs sob análise das comissões especiais, compostas por deputados e senadores.

De bom tamanho

A avaliação geral dos líderes é a de que, se a nova ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, conseguir destravar o Orçamento e as MPs, já será um feito e tanto.

CURTIDAS

Ministros no samba…/ A equipe de Lula não ficou encolhida no carnaval. A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, desfilou em duas escolas no Rio, Estação Primeira de Mangueira e Unidos de Padre Miguel.

e no frevo/ Ao lado da esposa, Cris Lemos, o ministro de Portos e Aeroportos, Sílvio Costa Filho, deu o ar da graça em Pernambuco nos bailes e camarotes do carnaval da cidade, ao lado do prefeito de Recife, João Campos, e da deputada Tabata Amaral.

Algo em comum/ Os ministros que desfilaram neste carnaval têm algo em comum: até aqui, nenhum deles está com a cabeça a prêmio na reforma ministerial. Ao contrário, têm a atuação elogiada no Planalto.

Nem todos voltam/ Com as posses dos ministros marcadas para a semana que vem, muitos líderes partidários continuarão em suas bases eleitorais até domingo. Muitos vão aproveitar para dar mais atenção aos eleitores. Outros vão esticar mesmo.

Linha direta com o Congresso: por que Lula escolheu Gleisi

Publicado em coluna Brasília-DF

Coluna Brasília/DF, publicada em 1º de março de 2025, por Denise Rothenbug, com Eduarda Esposito

A escolha da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, como ministra da Secretaria de Relações Institucionais (SRI) se dá para um motivo muito simples: dos nomes próximos a Lula que topariam a empreitada, ela é a mais forte. Quanto aos aliados, Gleisi tem, na avaliação do chefe do Executivo, o que ele considera fundamental: a capacidade de pegar o telefone, ligar para os presidentes do Poder Legislativo e ser atendida. Ao longo do processo de fortalecimento da candidatura de Hugo Motta para o comando da Câmara, a parlamentar trabalhou para que o PT aceitasse o nome dele, sem estresse nem incentivo a outros interessados. Era ainda a presidente do partido quando da construção da frente ampla que elegeu Lula. Agora, terá de mostrar mais essa sua face, a da negociação política, ser menos incisiva nas redes sociais e agir sem fazer barulho. Experiente, poderá surpreender a muitos.

“Desastre”

Da parte de alguns aliados, porém, impera a frustração pelo fato de Lula ter escolhido alguém do PT, quando poderia ter optado por um nome mais próximo do Centrão, que desejava uma vaga de ministro palaciano. E a palavra usada nos bastidores é de que a escolha foi desastrosa. No entanto, entre entregar a articulação política a um partido aliado e manter o seu, o presidente preferiu ficar com o PT. Agora, passará parte do carnaval conversando com os aliados para convencê-los de que optou por Gleisi porque considera que um nome de qualquer outra legenda iria desequilibrar a correlação de forças dentro do governo. A partir de hoje, Gleisi terá de caminhar para o centro, a fim de entregar ao presidente Lula a base política que ele precisa (leia mais no blog da Denise, no site do Correio; veja análise nas redes do jornal).

Reunião no ar

A primeira conversa mais alentada do presidente Lula com Gleisi Hoffmann e outros ministros ocorreu ontem mesmo, no avião presidencial, no trajeto de três horas de Brasília até Montevidéu, no Uruguai, onde o chefe do Executivo participa da posse do presidente Yamandú Orsi, da coalizão de centro-esquerda Frente Ampla, algo semelhante ao que foi feito no Brasil para eleger o petista. A tarefa número um de Gleisi, que integra a comitiva, é aprovar o Orçamento.

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Nos bastidores, havia um movimento dos aliados de Lula em prol do líder do MDB, Isnaldo Bulhões, como o nome capaz de fortalecer os alicerces entre o presidente da República e o Centrão. Antes que esses ventos ficassem mais fortes, o petista, aconselhado por seus escudeiros e escudeiras palacianos, antecipou o anúncio do nome de Gleisi Hoffmann.

Onde mora o perigo

Com o Palácio exclusivo do PT, muita gente se mostra disposta a, quando surgir um problema, dizer a Lula que procure seu próprio partido. Afinal, a vida é feita de escolhas, e o presidente fez a sua.

Efeito Joice

Há uma ala dos bolsonaristas descontente com o fato de o ex-presidente exigir que eles fiquem o tempo todo em sua defesa e ao seu serviço. Muitos já não concordam com o que chamam de manifestações “quinta série” do partido no Congresso. Entretanto, não têm para onde fugir, porque, se trocam de partido ou se omitem, são chamados de traidores, até pelo próprio Bolsonaro. E, para completar, perdem densidade eleitoral. Quem largou o bolsonarismo em busca de carreira solo, perdeu, haja vista o que ocorreu com a ex-deputada Joice Hasselmann.

CURTIDAS

Investimento/ O Ministério do Turismo, em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), vai criar o mapa do afroturismo no Brasil. Terá rotas, destinos, produtos, experiências e eventos de afroempreendedores brasileiros. Para constar no mapeamento, basta responder um formulário on-line até 6 de março. As informações serão essenciais para a construção de um diagnóstico para futuras políticas públicas e ações estratégicas voltadas ao fortalecimento do afroturismo no país, no âmbito do “Programa Rotas Negras” do governo federal.

Vai pedir VAR/ As bancadas no Novo na Câmara e no Senado pediram esclarecimentos ao ministro da Casa Civil, Rui Costa, sobre o acordo com a Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI) para organizar a COP 30 em Belém. “O governo federal precisa explicar por que optou por um acordo sem licitação (…), e a sociedade tem o direito de saber como esse recurso será empregado”, afirmou a líder do partido na Câmara, Adriana Ventura (SP).

Ladeira abaixo/ “Gleisi não tem perfil para articulação. Foi assim no governo Dilma, e o resultado foi o pior possível. Se a relação do Planalto com o Congresso já estava ruim, tende a piorar”, disse o deputado Rodolfo Nogueira (PL-MS), do qual, por ser de oposição, ninguém esperava elogios.

Guerra nas redes/ Os deputados Guilherme Boulos (PSol-SP) e Rogério Correia (PT-MG) conseguiram um feito nas redes sociais ao pedir à Procuradoria-Geral da República (PGR) para reter o passaporte de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e investigar o deputado por crime de lesa-pátria. Mais de 16 mil publicações no “X”, antigo Twitter, levantaram a hastag “Eduardo Bolsonaro cassado”. Geralmente, quem tem mais velocidade em subir hashtags é a ala conservadora.

Colaborou Victor Correia

Por que Lula escolheu Gleisi para a SRI

Publicado em GOVERNO LULA

A opção do presidente Lula pelo presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, para ministra da Secretaria de Relações Institucionais está diretamente relacionada à necessidade de manter o ritmo da liberação das emendas parlamentares sob o comando do PT.  Esse é um setor que, conforme avaliação de alguns integrantes da cozinha de Lula, não dava para entregar nas mãos de aliados.

A lista de prioridades de liberação é um dos poucos instrumentos de poder de persuasão que o governo tem hoje. Esse “ativo”, entregue a outro partido, periga deslocar o eixo de poder, tal e qual deslocou quando do processo que antecedeu o impeachment da presidente Dilma Rousseff. As emendas, naquela época, estavam sob controle do MDB.

Além da questão relativa às emendas, houve ainda a vontade de nomear uma mulher. Lula já dispensou três mulheres do seu primeiro escalão, Ana Moser (Esportes), Daniela do Vaguinho (Turismo) e Nísia Trindade (Saúde), esta última com direito a uma fritura que constrangeu muita gente no governo. O presidente estava devendo um afago à bancada feminina. O presidente considerava ainda que estava em dívida com Gleisi por não ter colocado a deputada no primeiro escalão no início do governo. Em dezembro do ano passado, Gleisi esteve cotada justamente para a pasta que ocupará agora. Mas o PT de São Paulo queria o cargo. Resta saber agora como vão reagir os aliados de Lula, que esperavam ver um integrante de outro partido nesta função.

 

Prioridade de Lula será acalmar os ânimos na Câmara

Publicado em coluna Brasília-DF

Além do jogo do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva dedica esses dias a tentar acalmar os ânimos na Câmara. É que, desde que o Supremo Tribunal Federal (STF) adiou o julgamento das emendas de relator — vulgo Orçamento Secreto —, os aliados de Arthur Lira (PP-AL) passaram a desconfiar de que o presidente eleito atua para tirar fôlego da reeleição do deputado, embora publicamente e reservadamente diga que o PT apoiará a recondução. Neste sentido, ainda que haja um sentimento de que é preciso dar lastro a Lula, nada caminhará a contento se a turma de Lira não sentir lealdade no trato político.

Se o petista quiser apoio, é bom juntar as declarações à prática. Lira, da sua parte, está disposto a ajudar a aprovar a proposta de emenda constitucional, mas desde que se sinta apoiado pelo futuro governo. Até aqui, o governo não tem os 308 votos para aprovar a PEC e dificilmente obterá esses votos na Câmara se não obtiver o apoio do presidente da Casa.

Escalação para reduzir pressão

Os ministros a serem anunciados hoje são aqueles considerados imprescindíveis para deflagrar a transição em suas respectivas pastas o mais rápido possível. Defesa, para acalmar militares; Justiça e Segurança Pública, onde está a Polícia Federal e a Rodoviária Federal; Casa Civil, de onde saem leis e decretos; e Fazenda, onde é preciso montar a equipe que demonstre lastro ao fiscal com um olhar social.

Foi demais…
Muitos deputados deram um pulo quando perceberam que a PEC da Transição permitirá a abertura para operações financeiras, junto a organismos internacionais, fora do teto. Como se trata de uma emenda constitucional, alguns técnicos entendem, e já avisaram aos parlamentares, que o futuro governo poderá captar esses empréstimos sem aval do Parlamento.

…para precisar menos
Esse “pequeno detalhe” da PEC levou muitos na Câmara à desconfiança de que a ideia do texto é fazer com que o futuro governo possa prescindir do Parlamento para tocar suas obras e programas sociais. Assim, pode até aprovar, mas vai ser difícil manter o texto intacto.

E o Geraldo, hein?
Na entrevista à Globonews, o vice-presidente Geraldo Alckmin deu um recado direto à presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Perguntado sobre a vontade dos partidos de ocupar espaços no primeiro escalão, especialmente o PT, ele lembrou os tempos da pressão do PTB de Getúlio Vargas pelos ministérios e saiu-se com esta: “Getúlio dizia: vocês já têm a Presidência da República”.

Uma homenagem a Eduardo Campos/ Com o PT pressionando pelo Ministério das Cidades, que cuidará do Minha Casa Minha Vida, o presidente eleito acenou com a acomodação do ex-governador Márcio França (PSB) no Ministério da Ciência e Tecnologia. Foi a pasta que o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos ocupou no antigo governo Lula.

Não conte com eles/ O deputado Sanderson (PL-RS) avisou ao partido que votará contra a PEC da Transição, ainda que o valor seja reduzido. Aliás, outros bolsonaristas pretendem seguir pelo mesmo caminho.

“Sessão do avião”/ É assim que muitos apelidaram as sessões da Câmara das quintas-feiras, quando a maioria dos deputados passa por ali “à paisana”, sem terno, registra a presença e sai correndo para não perder o voo. Ontem, véspera do jogo do Brasil contra a Croácia, não foi diferente.

Enquanto isso, no intervalo…/ Estava tão tranquilo que o deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG) pediu à mulher, Janaína, que levasse os filhos, Paulo e Sofia, para o Plenário. As crianças até discursaram na tribuna, antes da reabertura da sessão no início da tarde.

A PEC não é um cheque em branco. É um cheque especial sem limite. O Senado optou pelo liberou geral”
Danilo Forte, deputado (União Brasil-CE)

 

Políticos presentes no velório de Arthur estão preocupados com saúde de Lula

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Publicado em coluna Brasília-DF
Coluna Brasília-DF / Por Denise Rothenburg

Políticos que estiveram no velório de Arthur, o neto de Lula que morreu aos 7 anos de meningite meningocócica, saíram muito preocupados com o estado de saúde do ex-presidente. Ainda que o petista recuse apelos à prisão domiciliar, a defesa deverá se empenhar nessa linha a fim de tirá-lo de Curitiba para que ele fique mais próximo da família neste momento.

Esses mesmos políticos consideram que o PT deve se engajar na liberdade de Lula, mas não mais para que ele seja candidato. Uma turma acha que o petista já fez o que podia pelo partido e que cabe às novas gerações reinventar a legenda.

Porém, um pequeno detalhe no gestual de Lula, ao deixar o cemitério ontem, deu a muitos a certeza de que ele não quer deixar de liderar o PT. Ele ficou em pé à porta do carro e acenou aos militantes (foto acima). Ainda que não seja candidato, Lula quer continuar a comandar os petistas, seja na cadeia, seja fora dela.

Melhor de três

Com a escolha da nova direção nacional prevista para outubro deste ano, o PT terá três vertentes no jogo do poder interno: a da atual presidente, deputada Gleisi Hoffmann; a do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad; e a do que vem sendo chamado de “grupo do Nordeste”, em especial o governador Wellington Dias, do Piauí, e o senador Jaques Wagner (BA).

A união fará a força

Se São Paulo de Haddad e o Paraná de Gleisi continuarem divididos, o Nordeste terá espaço e força para, pela primeira vez, tirar o comando do partido do centro-sul. Além de Wellington Dias e Wagner, o partido tem os governadores da Bahia, Rui Costa; do Ceará, Camilo Santana; e do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra.

Influência geral

Não são apenas os governadores que sustentam a força petista no Nordeste. Dos seis senadores do partido, quatro são nordestinos: Humberto Costa (PE), Rogério Carvalho (SE), Jean Paul (RN) e Wagner. É por essa região que muitos acreditam que o PT deve caminhar.

Onde morava o perigo / Os petistas trocaram vários telefonemas na madrugada de ontem para desmobilizar grandes atos e manifestações em defesa de Lula. Ninguém queria dar pretexto para que o ex-presidente fosse proibido de comparecer ao velório do pequeno Arthur.

Redes de ódio / Mal Lula retornou a Curitiba, começou a circular pelo WhatsApp um vídeo do ex-presidente sorrindo num local fechado lotado de militantes, que gritavam “Lula, ladrão, roubou meu coração”. Uma legenda dizia que ele fez um comício no velório. Não eram imagens do cemitério e, sim, de outro momento, pouco antes de o presidente ser preso.