A extensão dos telefones hackeados pelos presos na operação Spoofing mostra que o ministro da Justiça, Sérgio Moro, ganhou fôlego. Uma coisa era uma ação centralizada nos integrantes da força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba — entre descuidos e troca de informações sobre o processo, as imagens do ex-juiz e do procurador Deltan Dallagnol se desconstruíam dia a dia.
Com as revelações de ontem e com parte da República hackeada, Moro agora tem com ele personagens dos Três Poderes na defesa da própria narrativa: a de que a divulgação das conversas foi feita a partir de um crime. Ele conta com o trunfo da identificação dos hackers e o aprofundamento das investigações da Polícia Federal.
O ministro terminou o dia de ontem melhor do que começou, ganhando tanta confiança que fechou o expediente com uma espécie de pito do ministro do Supremo Marco Aurélio Mello. O magistrado disse à Folha e ao Correio que apenas o Judiciário poderá decidir se as mensagens apreendidas com os hackers serão destruídas, ao contrário do que havia dito o ex-juiz a autoridades.
Por sua vez, os procuradores da Lava-Jato em Curitiba ficaram surpresos ao saber do alcance da quadrilha de hackers que atacou. Agora, a expectativa deles é de que a investigação esclareça se houve patrocinador para que o serviço começasse e continuasse. Os procuradores esperam ainda que seja esclarecido por que a divulgação estava concentrada exclusivamente nos procuradores e no ex-juiz da Lava-Jato.
Perdão nordestino / As críticas e afagos de Jair Bolsonaro ao Nordeste estão, pouco a pouco, sendo digeridas no Congresso. Sobretudo por parlamentares da Paraíba e do Maranhão. O líder do PL, Wellington Roberto (PB), avalia que o presidente foi infeliz, mas sugere que, se há uma intenção de se redimir e mostrar que não tem preconceitos, pode fazer isso liberando emendas parlamentares para saúde e educação. O líder do PTB, Pedro Lucas Fernandes (MA), concorda. “É uma oportunidade de levar mais políticas públicas à região.”
Problema à vista / A liberação de emendas, no entanto, esbarra na conclusão do Projeto de Lei do Congresso Nacional (PLN) que pedirá mais um crédito suplementar para quitar os compromissos. A questão é que o governo ainda não concluiu o texto. Líderes partidários que, inclusive, se encontram em Brasília em pleno recesso parlamentar, sustentam que não foram chamados para tomar conhecimento da proposta — uma exigência para a votação do segundo turno da reforma
da Previdência.
Na crista da onda / A demora para apresentar o PLN gerou bônus ao líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO). Afinal, o compromisso em apresentar o crédito suplementar foi feito pela líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP), e pelo ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Pelo simples fato de não ter prometido a liberação de emendas, Vitor Hugo está com moral elevada junto aos demais líderes.
Lamento de Temer / O ex-presidente Michel Temer ficou abalado com a hemorragia cerebral sofrida por Eliseu Padilha, ex-ministro-chefe da Casa Civil. Os dois são amigos há mais de 30 anos. No partido, Padilha toca a Fundação Ulysses Guimarães como vice-presidente, fazendo cursos e preparando a próxima safra de políticos da legenda. A ausência do político no período que estiver hospitalizado abre espaço para a disputa de poder entre caciques.
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