A esperança dos fichas sujas
Na conversa dos deputados com o juiz Sérgio Moro, em Curitiba, veio à tona a disposição de parte dos congressistas em acabar com o foro privilegiado. O juiz e as excelências visitantes são contra. A conclusão da conversa foi a de que mandar os processos de parlamentares para a primeira instância seria um prato cheio de ações sem-fim, ampliando infinitamente a possibilidade de recursos. Especialmente, se fosse para a comarca na qual o político processado fosse votado.
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Houve inclusive quem dissesse que, se a Ação Penal 470, vulgo mensalão, demorou oito anos no Supremo Tribunal Federal, qualquer outro processo levaria pelo menos 20 se tudo estivesse na primeira instância. Ou seja, se há algum tempo o foro privilegiado protegia, hoje ele é o mecanismo mais ágil para garantir o julgamento num tempo mais curto e, ao mesmo tempo, incluir logo o sujeito na chamada “ficha suja”.
E os soltos?
Diante da dificuldade de ouvir já na semana que vem os executivos presos pela Operação Lava-Jato, o juiz Sérgio Moro deu a senha: Júlio Camargo, empresário da japonesa Toyo, e dois executivos da Camargo Corrêa estão soltos e ainda não prestaram depoimento à CPI. Eles têm muito a dizer. Devem ser os próximos convocados.
Memória & desgaste
Júlio Carmago, para quem não lembra, é aquele que mencionou a interferência de José Dirceu para que a Toyo assinasse contratos com a Petrobras. A oposição gostou e se empolgou com a perspectiva de chamá-lo. É mais PT na roda da CPI.
Questão de brio
A decisão da bancada do PSDB na Câmara em favor do pedido de impeachment está diretamente relacionada à vontade de mostrar ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que ele teria “extrapolado” ao dizer que não é o momento de mexer com esse tema. Uma boa parte dos deputados, inclusive o líder, Carlos Sampaio, quis mostrar ontem quem detém o controle do processo.
Dos males, o menor
O resultado positivo da criação de empregos em março fez reavivar no governo a vontade de comemorar o 1º de maio mantendo a tradição do pronunciamento da presidente Dilma Rousseff na tevê. Há uma sensação de que, se houver algum panelaço, será reduzido. Além disso, há quem diga não ser possível uma presidente que já enfrentou a ditadura ficar com medo do barulho da democracia.
CURTIDAS Virou piada, mas…/ Entre quinta e ontem, Brasília ferveu com as “informações seguras” segundo as quais os investigadores da Lava-Jato colocariam o ex-ministro José Dirceu no xilindró. Indignados, os policiais desmentiram e reclamaram da divulgação das falsas notícias toda sexta-feira. Um deles disse ao repórter Eduardo Militão, do Correio: “Vamos lançar a campanha #quemdevenãodormeemcasanaquinta”, ironizou.
…Onde há fumaça …Há fogo/ Realmente, a PF fez duas operações policiais na sexta-feira. Na primeira, a “Caronte”, prendeu três pessoas acusadas de fraudes em licitações do PAC em Mato Grosso. Na segunda, a “Escudo” combateu contrabando, descaminho e outros crimes de fronteira. Nada de
Lava-Jato e Dirceu, suspeito de usar suas consultorias para encobrir pagamentos de propinas de empreiteiras fornecedoras da Petrobras.
Enquanto isso, em Curitiba…/ Os deputados ficaram satisfeitíssimos com a conversa do juiz Sérgio Moro. No fim, todos quiseram tirar fotos com ele. Em termos de sucesso com a população, Moro está para a Lava-Jato como Joaquim Barbosa esteve para o mensalão. No quesito recuperação de dinheiro, entretanto, o juiz paranaense está bem à frente.
O contribuinte agradece.
E o Pizzolato, hein?/ Como se o desgaste do petrolão não bastasse, a extradição de Henrique Pizzolato trará de volta ao noticiário todas as agruras dos petistas com o processo do mensalão. Em tempos de partidos falando em impeachment, é mais uma colher de farinha para engrossar o pirão.
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