De seu gabinete no Planalto e com poucos ministros na sala, o presidente Michel Temer acompanhou a leitura do relatório do deputado Sérgio Zveiter na Comissão de Constituição e Justiça. Ele esperava esse desfecho, ou seja, o voto pela autorização ao STF para processar o presidente por corrupção passiva. Porém, dizem seus aliados na Câmara, não imaginava que o relator praticamente repetiria a denúncia de Rodrigo Janot em seu parecer. Até por ser do PMDB, Zveiter, na avaliação dos amigos do presidente, deveria ter, ao menos, buscado uma neutralidade, dando respaldo a algum argumento da defesa. O relator, porém não teve essa “sensibilidade” e, na visão de aliados de Temer, ainda ultrapassou os limites da Comissão, ao sugerir que o plenário da Câmara acolha o seu voto, antes mesmo de a CCJ decidir. Por essa, o presidente Michel Temer não esperava.
O presidente tem consciência de que a gora a sua batalha ficou mais difícil, uma vez que muitos podem aproveitar o voto de Zveiter para se afastar do Planalto e ainda tem a reunião do PSDB agora em São Paulo. O encontro promete ser mais um “jab” no queixo de Michel Temer, apesar da carta do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto. A carta aliás, foi o único alento que o presidente da República obteve nesta segunda-feira.
Arthur chama o partido a uma reflexão. Insiste que o tema agora não é a Lava Jato “que deve existir” e sim a “decisão tucana de manter _ ou não _ o compromisso de prosseguir dando suporte ao governo que interrompeu o mais longo processo recessivo da história econômica, domou a inflação, colocando-a abaixo do centro da meta; aprovou a tão necessária reforma do ensino médio e está a um passo de consolidar a inevitável reforma das leis trabalhistas (…)”. E prossegue: “A força do PSDB sempre residiu no compromisso com o país, a preço de quaisquer sacrifícios”. “O PSDB nunca foi o partido de mocinhos forjados artificialmente em horas de crise”, diz Virgílio, que termina afirmando que desembarcar do governo não soaria como um ato de coragem. Abaixo, a íntegra da carta:
“MENSAGEM AO PSDB
Fiquei sem entender os critérios de convocação para a reunião de hoje, segunda feira, em São Paulo. Tempo de militância e lealdade ao PSDB? Número de mandatos parlamentares e executivos? Passagem por estratégico ministério, por liderança de governo e por oito anos consecutivos de liderança de oposição encarniçada ao presidente mais popular de nossa história republicana? Direção do partido por três anos inteiros? Solidariedade a tantos companheiros, alguns certamente presentes à sessão desta noite, em momentos delicados de suas vidas políticas, cercados pelo barulho ensurdecedor da omissão, sempre cômoda, de tantos?
Mas que meus companheiros sejam sábios e corajosos em hora de desafio tão exigente. E é nesse sentido que lhes dirijo estas linhas.
O PSDB precisa entender que a política, tal qual se a praticou, da redemocratização até aqui, simplesmente morreu… sem deixar saudades. O Congresso se apequenou, instituições como, por exemplo, o Ministério Público, se agigantaram a partir da desmoralização da instituição parlamentar. O Judiciário, igualmente, assumiu certos protagonismos que, em condições normais de temperatura e pressão, não lhe caberia empalmar. Tudo porque a política morreu, levando com ela os partidos, as velhas práticas e muitas biografias.
Hoje, não existe mais a disputa PSDB X PT. Temo que nem um e nem outro tenham percebido isso. O PSDB foi a estrela da derrubada da presidente Dilma Rousseff e o PT, em lamentável amnésia cívica, supõe purificar-se investindo contra o governo Michel Temer, que tem a missão essencial de recompor a economia e entregar um país reorganizado a quem se eleger no pleito de 2018.
O presidente Fernando Collor caiu em 1992, sendo depois absolvido, por unanimidade, pelo STF. A presidente Rousseff foi apeada do poder, em 2016, menos pelas “pedaladas “, tão fortemente usadas como argumento definitivo e saneador, e mais, muito mais, porque perdeu as condições, parlamentares inclusive, de prosseguir governando o país. Pretendem agora interromper o mandato de Temer, sem provas concretas de crime, numa campanha obsessiva de certos setores da imprensa livre e, muitas vezes, positivamente instigante que, modestamente ajudei a erigir, nas pelejas de 21 anos contra o regime de exceção constituído, pela força, em 1964.
Resumindo: exatamente 25 anos entre Collor e a investida sobre Temer. Se exitosa essa intenção, teremos a média de pouco mais de 8 anos entre o impeachment de um mandatário e outro. Recibo de imaturidade política. Imagem de república de bananas. Teatro bufo, que abre espaço para os heróis de uma “resistência” inglória, mesmo se os antecedentes desses heróis de ocasião não forem claros e límpidos como a água de puras nascentes.
O PT se porta como se 2016 não tivesse existido. E, neste estranho Brasil, não se critica quem se traveste de “honrado” da hora. A ordem é delenda Temer… a qualquer custo. Delatores “premiados” são efetiva e muito discutivelmente premiados. A instituição saudável da prisão preventiva é usada abusivamente, em moldes psicologicamente semelhantes às torturas físicas empregadas pela ditadura de 1964. O senador Aecio Neves é retirado do exercício do seu mandato pela decisão de um ministro da Suprema Corte…para ser devolvido às suas funções não pela soberania da Casa a que pertence, mas pela decisão, pura e simples, de outro membro dessa mesma elevada corte de justiça.
A operação Lava Jato, com sua destinação saneadora e alguns exageros, será bem reconhecida pela história. Se existe e subsiste é porque há razões sobejas para tal. Logo, deve prosseguir sim, limitada pela Constituição e pelo conjunto de leis que sustentam a democracia neste país.
Condenações derivam e derivarão do papel que a Lava Jato necessariamente cumpre. E as instâncias da Justiça estão aí mesmo para sanear eventuais e inevitáveis equívocos.
Mas o tema agora é a decisão tucana de manter – ou não – o compromisso de prosseguir dando suporte ao governo que interrompeu o mais longo processo recessivo da história econômica; domou a inflação, colocando-a abaixo do centro da meta; aprovou a tão necessária reforma do ensino médio e está a um passo de consolidar a inevitável reforma das leis trabalhistas; insiste em votar a reforma previdenciária, em meio, em meio a uma tempestade de acusações e demagogia; aponta para crescimento positivo ainda neste ano e crescimento bem mais vigoroso em 2018, abrindo um ciclo de expansão, que poderá ser virtuoso, nos anos imediatamente seguintes.
Comecei dirigindo-me aos companheiros, opinando que a luta não é mais PSDB X PT e sim a luta para evitar a morte inglória da própria política e, por consequência, da democracia. A força do PSDB sempre residiu no compromisso com o país, a preço de quaisquer sacrifícios. O PSDB nunca foi o partido de “mocinhos” forjados artificialmente em horas de crise. E nem sobreviveria ou cresceria encarnando esse papel.
Mais ainda: não existe essa dicotomia entre “cabeças brancas” e “cabeças pretas”. E nem é possível que o PSDB se “purifique”, migrando do governo Temer, ao qual servem quatro ministros tucanos competentes e valorosos, para alguma “solução” simplória em torno de alguma outra “bola da vez”, contra a qual nossos “brios” terminariam por se voltar em algum outro momento dessa tragicômica história que estamos presenciando ser descrita.
Minha definição pessoal é clara: “desembarcar” do governo, a pretexto de continuar apoiando as reformas – na verdade abrindo espaço real para o impedimento do presidente – não soaria como ato de coragem. Sinceramente, não! Definitivamente não!
A história não nos privilegiaria por isso. Nem o Brasil tampouco, no máximo a médio prazo.
ARTHUR VIRGÍLIO NETO”
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