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A onda do STF

As gravações de conversas de Delcídio do Amaral (PT-MS), incluindo uma menção ao vice-presidente da República, Michel Temer, e trechos como aqueles sobre pressões a ministros do Supremo Tribunal Federal para pedir alguma ação em prol dos enroscados na Lava-Jato vão servir de divisor de águas. Até aqui, ainda havia alguma esperança de alívio, apesar do rigor jurídico do ministro Teori Zavascki. Agora, há uma sensação geral entre senadores e deputados de que acabou qualquer clemência com os envolvidos. Afinal, o STF não quer passar a ideia de que aceita pressão. Fim do recreio e, pelo que se comenta nos bastidores, até das conversas. Aos envolvidos, o rigor da lei e um pouco mais.

A onda do Senado
O discurso de Renan Calheiros antes de abrir o processo de votação, com o alerta para o fato de que os senadores não estavam julgando os diálogos de Delcídio, deu a todos a sensação de que o presidente do Senado torcia para o plenário decretar a liberdade do senador. Afinal, ali tem um grupo com temor de seguir o mesmo destino do petista.

Pais & filhos
Da mesma forma que o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa optou pela delação premiada para que não houvesse qualquer ação sobre suas filhas, o empresário José Carlos Bumlai terminará recorrendo a esse recurso para salvar os seus. Há quem diga, por exemplo, que a condução coercitiva dos rebentos na última terça-feira foi um aviso: ou o paizão fala, ou os pimpolhos vão lhe fazer companhia em breve.

Sem saída
No meio da tarde, os senadores já haviam decretado o fim político do senador Delcídio do Amaral. Ainda que ele conseguisse escapar da prisão, a aposta era a de que, em breve, Delcídio responderá por quebra de decoro no Conselho de Ética do Senado, que, aliás, sequer foi instalado. Ou renuncia, ou terá um longo calvário. E, se renunciar, estará nas mãos de Sérgio Moro.

Desesperado
Quem acompanhou o dia-a-dia do senador nas últimas semanas percebeu que ele andava à flor da pele. Chegou inclusive a procurar advogados com trânsito no Supremo em busca de ajuda, mas não obteve.

Acordes finais
Enquanto os senadores discutiam o caso Delcídio, o líder do governo na Câmara, José Nobre Guimarães (PT-CE), aproveitava para tentar combinar a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias e o ajuste da meta fiscal (PLN 05) para a próxima terça-feira. Depois dessa confusão de Delcídio, todos querem sair logo de recesso.

A volta das vuvuzelas/ Um pequeno grupo de manifestantes voltou a fazer barulho no Senado. Desta vez, não era por causa do aumento dos salários do Judiciário, uma vez que o veto presidencial foi mantido. A barulheira era para manter Delcídio na cadeia.

Chocado/ No início da noite, um grupo de deputados foi acompanhar in loco a sessão do Senado que decidia sobre a prisão do senador. Na sala de café dos senadores, com a transcrição dos diálogos de Delcídio em mãos, o deputado petista pelo Rio Grande do Sul Paulo Pimenta (foto) virava as páginas e fazia aquela expressão de tsc-tsc a cada parágrafo.

Ávido por notícias/ De seu gabinete, o ministro dos Portos, Helder Barbalho, telefonou para o pai, senador Jader Barbalho, para saber como estavam as coisas no Senado. Lá pelas tantas, pergunta: “Alguma outra novidade?” Eis que o senador responde: “E você ainda quer mais?!!!”

Para relaxar…/ Em meio à perplexidade com os diálogos do líder do governo, assessores do Planalto não perderam o bom humor, nem o sentimento de disputa com o PSDB: “Finalmente, prenderam um tucano!”, afirmavam. Referiam-se à proximidade do senador com o PSDB, que, aliás, no passado fez vários convites para Delcídio trocar de legenda.

E o Cunha, hein?/ Há alguns meses, Eduardo Cunha reclamava que o Ministério Público era menos rigoroso com o senador Delcídio do Amaral. Ontem, ele certamente mudou de ideia.

Denise Rothenburg

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