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UM PT COM JEITÃO DE MINORIA

Nem governo, nem oposição. O maior vencedor das votações que definiram os comandantes do Congresso foi a parcela que negocia tudo individualmente. Significa que, daqui para a frente, Dilma viverá no parlamento, a cada dia, uma aflição, sem um grande grupo fechado com o governo na alegria e na tristeza ou destinada a fazer oposição sistemática. Pior para o governo. No Senado, Dilma está à mercê do grupo de Renan Calheiros. Na Câmara, apesar do discurso conciliador de estreia do presidente Eduardo Cunha, o PT e o governo Dilma colheram a maior derrota da história desde que o partido assumiu o comando do país. E não terão vida fácil, uma vez que dentro do PMDB começam a surgir frases que sugerem a renúncia de Dilma: “Ela deve deixar e entregar logo para o Michel, que vai trocar tudo na Petrobras, na Eletrobras e no BNDES”, afirmava solto o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS).

O passado ensina

Foi a terceira vez em que, apesar da base desunida, o governo escolheu um candidato, influiu diretamente no processo eleitoral do parlamento e perdeu. Na primeira, em 2001, Aécio Neves (PSDB) foi candidato ao comando da Casa sem o apoio do presidente Fernando Henrique Cardoso e derrotou Inocêncio Oliveira, do então PFL, o candidato oficial. Depois, em 2007, o PT jogou as fichas divididas entre Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) e Virgílio Guimarães (MG). O governo fechou com Greenhalgh e levou Severino Cavalcanti (PP-PE) como o troco do plenário num processo eleitoral que varou a madrugada. 

Ontem, não foi diferente. A eleição de Eduardo Cunha veio como resposta ao governo, que cometeu uma sucessão de erros fruto dessa mesma gênese. O Planalto, desatento para a necessidade de segurar a base em torno de um único candidato ainda em 2013, deixou que o PMDB corresse solto.

Festival de tropeços

Quando o PT entrou com Arlindo Chinaglia candidato era tarde demais para reivindicar a posição. Feito isso, o governo jogou o peso em favor do petista, num cenário desfavorável por conta da má condução política na escolha dos ministros. O PP, por exemplo, não se conformou por ter perdido o Ministério das Cidades para o PSD de Gilberto Kassab. Fechou com Cunha. E o PSD, por sua vez, mandou votar em Chinaglia sem sequer reunir a bancada para discutir a escolha. Resultado: muitos insatisfeitos, ao ponto de terminar indicando para a mesa diretora Felipe Bournier, um aliado de Eduardo Cunha.

Como se não bastassem os erros de condução, na última hora, o partido ainda deixou solta a formalização do bloco de apoio, o que terminou por deixar o PT no pior dos mundos dentro do Congresso. Num ano de CPIs pululando, Operação Lava-Jato desaguando na política e dificuldades de toda ordem para o governo, os petistas terão cara de minoria na Casa. Além de ficar fora da mesa diretora, ainda terá reduzido o espaço de comando nas comissões técnicas da Casa. Perdeu a primeira vice-presidência e perderá a Comissão de Constituição e Justiça, por onde tramitam todos os projetos e recursos quando há problemas nas votações em plenário. Ali, mandará um aliado de Cunha.

Moral da história

O governo começou a ter consciência do estrago que seria feito pelo PMDB ainda na noite de sábado. Foi quando Michel Temer procurou Eduardo Cunha em busca de um acordo: Arlindo se retiraria para formar uma candidatura única e o compromisso de que os petistas ficariam com o comando da Câmara no segundo biênio. Cunha recusou. Confiante nos votos e no trabalho de formiguinha que fez desde o ano passado, preparava-se para colher os louros. O PT, portanto, ficará quatro anos fora dos principais espaços da Câmara. Para completar, ao que tudo indica, não poderá sequer recorrer à voz rouca das ruas para compensar os erros e as falhas na política. Diante do cenário econômico difícil e das mazelas na Petrobras, nada leva a crer que o povo clamará por Dilma agora como clamou por Lula nos tempos do mensalão. Por tudo isso, restará ao governo aprender a exercer a política de forma a conviver com um parlamento onde seu partido estreia com ares de minoria.

Denise Rothenburg

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