Meirelles defende a independência do Banco Central

Publicado em Banco Central, Crise com os EUA, Crise diplomática, Economia, EUA, Politica Externa, Senado, Tarifaço de Trump

Por Denise Rothenburg* com Eduarda Esposito — O co-chairman do LIDE, ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, voltou a defender a independência do BC durante o evento LIDE Brazil Development Fórum, que ocorreu hoje (8/9) na capital dos Estados Unidos, Washington DC. Meirelles afirma que somente sendo independente a instituição poderá sobreviver a divergências políticas.

“Eu me concentro nos fatos, e o fato concreto é que existe um projeto que diminui a autonomia do Banco Central na medida em que permite que o Congresso demita diretores do Banco Central. E o projeto não dá, não fornece razões concretas específicas, como é a situação atual. Por exemplo, atualmente, segundo a Lei de Independência do Banco Central apresentada e aprovada em 2021, existe a causa específica. Agora, quando se coloca ‘porque não se atende aos interesses nacionais’, o que é isso? Qual é o interesse? Muitas vezes, duas pessoas podem ter visões opostas sobre o que é de interesse do país. Então, deixa totalmente em aberto o que transforma isso numa questão política”, defendeu o ex-ministro.

Esta não é a primeira vez que o ex-presidente do BC se manifesta a favor da independência da instituição, Meirelles já fez isso, inclusive na Tribuna do Senado. “Já me manifestei publicamente várias vezes no sentido de que acho importante preservar a independência do Banco Central, reforçá-la, inclusive. Fiz um depoimento no Senado no ano passado quando houve toda aquela sessão do projeto que dá autonomia financeira ao Banco Central, que acho importante. Então, É importante não só não diminuir a independência, como reforçar, dando a independência financeira do Banco Central, que é algo que o governo resiste”, ressaltou.

Crédito: Will Volcov e Vanessa Carvalho/LIDE

O ex-ministro destacou ainda que, passado o momento político que o Congresso tem vivido, é necessário trabalhar o tema nas duas Casas. E deixou claro que a maior oposição no momento tem sido do Poder Executivo. “Quando fui, a situação estava bem dividida. Agora, no calor desse momento, com uma bancada que está interessada numa questão específica, não é o momento, de fato, para colocar isso em votação. Mas, passado esse problema conjuntural, existem sim possibilidades de ir à frente, pelo que senti quando fiz o depoimento da autonomia financeira do BC. Quem resiste é exatamente o Executivo que hoje define o seu patamar de gastos federais, onde inclui o BC. Evidentemente, acaba se tornando uma fonte de pressão na instituição, como agora, por exemplo, temos um desafio que seria a expansão do Pix e uma série de outros produtos em desenvolvimento que estão tendo dificuldades por falta de pessoal. O BC precisa atualizar os trabalhos, salários e não o contrário, de estar sujeito a maiores restrições orçamentárias”, argumentou Meirelles.

Tarifaço

O ex-ministro da Fazenda também comentou sobre o tarifaço, e na sua visão, é preciso haver diálogo entre quem produz. “O diálogo entre as empresas passa a ser mais importante do que nunca. Em primeiro lugar, para que as empresas brasileiras que exportam para os Estados Unidos se organizem ao redor de uma estratégia comum. Porque no momento em que eles estejam sintonizados, exatamente, esses importadores, como empresas americanas, terão também um poder de influência junto ao governo americano”, ressaltou Meirelles.

O co-chairman do LIDE também relembrou um ponto importante sobre o tarifaço: empresas norte-americanas que produzem e exportam para os Estados Unidos do Brasil. “Existem subsidiárias de empresas americanas instaladas no Brasil e que exportam para os EUA. E uma mudança de fechar uma fábrica, no Brasil ou em qualquer outro país, e abrir uma fábrica nos Estados Unidos é um projeto economicamente caríssimo e ineficiente, do ponto de vista econômico. Então, estas empresas também, que são empresas americanas, têm interesse direto também numa revisão disso”, defendeu.

Meirelles ainda pontuou que as tarifas aplicadas ao Brasil são de origem política e não comercial. “Não há dúvida de que o caminho para a revisão dessa atitude de ação política contra o Brasil é o diálogo, porque isso foi declarado claramente pelo próprio presidente na carta. Ficou claro que era uma motivação não comercial, mas política, porque, inclusive, o Brasil tem déficit comercial com os Estados Unidos, portanto não se qualifica como um desses países que, segundo Donald Trump, estariam tirando vantagem com saldos comerciais nos EUA”, destacou.

Trump x FED

Henrique Meirelles comentou ainda sobre a rivalidade que tem ocorrido entre o presidente norte-americano, Donald Trump, e o presidente do Sistema de Reserva Federal dos Estados Unidos (FED), Jerome Powell. “Tem uma questão clara de independência do Banco Central Americano, FED. O problema surgiu quando Trump começou a demandar o corte de juros, o que é uma interferência direta na independência do FED. Posteriormente, fez esse movimento de tentativa de demitir uma diretora, evidentemente por uma questão de decisão judicial, para saber se ele tem poderes para isso. Historicamente, a ideia sempre foi de que não tem, mas agora isso está sendo questionado. Nesse caso, é muito importante porque, como ele já tem, entre aspas, o apoio, mas na realidade há alguns diretores que favorecem esse corte de juros que ele quer, se conseguisse demitir essa diretora e colocar alguém sintonizado com ele, evidentemente passaria a ter maioria na votação do FED”, explicou o ex-ministro.

*Enviada especial

Bets seguem faturando e o governo também

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Coluna Brasília-DF publicada na sexa-feira, 25 de julho de 2025, por Carlos Alexandre de Souza com Eduarda Esposito

Segundo cálculos da Receita Federal, o governo arrecadou R$ 3,8 bilhões, em apenas seis meses, com a tributação sobre as casas de apostas. O mês de maio registou o pico de arrecadação, com R$ 814 milhões. “Para a manutenção da evolução de recolhimento de tributos, também é fundamental o acompanhamento e banimento das operações ilegais, de maneira mais firme e efetiva, para impedir que esses recursos se percam no mercado clandestino”, pontua Igor Sá, executivo da HiperBet.

Estima-se que o Brasil perca R$ 10,8 bilhões por ano ao não combater o mercado ilegal de bets, de acordo com estudo da LCA Consultores e apoiado pelo Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR), realizado entre abril e maio deste ano. A pesquisa ainda aponta que 61% dos entrevistados admitiram ter feito apostas em plataformas irregulares neste ano, 78% consideram difícil distinguir sites legais dos ilegais, e 72% afirmam que nem sempre conseguem verificar a regularidade das plataformas. Além disso, 73% dos apostadores afirmam ter utilizado pelo menos uma das plataformas ilegais mapeadas em 2025.

As bets legalizadas defendem que as clandestinas deixem de operar no país. Especialistas afirmam que uma medida seria fazer com que os meios de pagamento impeçam operações para sites clandestinos, o que obrigaria esses apostadores a abrirem contas fora do Brasil.

União contra a tarifa

O deputado Fausto Pinato (PP-SP) publicou um manifesto em defesa da união dos brasileiros a fim de evitar o tarifaço de Donald Trump aos produtos brasileiros. “Se não nos unirmos agora, todos perderão. Perderemos a democracia, a liberdade e a dignidade nacional. E a responsabilidade será de todos nós. Não podemos permitir que falsos profetas e falsos patriotas, que querem o poder a qualquer custo, destruam as bases do Estado Democrático de Direito”, afirmou o parlamentar.

Pelo veto integral

Nota técnica do Observatório do Clima (OC) defende o veto integral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Licenciamento Ambiental. De acordo com a análise, a sanção das novas regras criará um “caos regulatório” que ameaça a proteção ambiental, a saúde pública, os povos e comunidades tradicionais, o patrimônio histórico-cultural e os sítios arqueológicos.

Contaminado

Dos 66 artigos, o Observatório do Clima identificou retrocessos graves em pelo menos 42 deles. Os restantes, segundo a nota, têm caráter acessório ou limitam-se a repetir resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).

Medo do Pix

Na visão de Hugo Garbe, professor de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), os ataques estrangeiros contra o Pix ocorrem por causa do potencial da ferramenta tecnológica. “Por trás da crítica está o impacto direto que ele gera sobre as receitas de gigantes americanos, principalmente as bandeiras de cartão de crédito e as big techs que lucram com intermediação financeira”, avalia.

Concorrência

“O sucesso brasileiro inspirou outros países a criarem soluções similares, aumentando o temor americano de uma descentralização das infraestruturas financeiras globais muito vinculadas ao dólar e ao sistema de pagamentos norte- americano”, acrescenta o especialista.

Contratos na mira

O deputado federal Luiz Lima (Novo-RJ) apresentou uma representação no Tribunal de Contas da União (TCU) na qual reivindica a apuração de possíveis irregularidades na renovação de contratos entre a Administração Pública Federal e a empresa AC Segurança Ltda. O pedido ocorreu após o impedimento de contratação de serviços da empresa devido a Operação Dissímulo, da Polícia Federal, sob suspeita de integrar organização criminosa especializada em fraudes licitatórias e simulação de concorrência em contratos públicos que somam valores bilionários.

Punição ignorada

O parlamentar alega que, mesmo após a punição, quatro ministérios — Agricultura, Pesca, Desenvolvimento Social e Ciência e Tecnologia — renovaram contratos com a empresa. “É inadmissível que uma empresa proibida de manter contratos com o governo continue sendo contratada por órgãos federais, com recursos públicos, mesmo após sanção formal”, afirmou o parlamentar.

Devoto

Com restrições para levar adiante a agenda política, o ex-presidente Jair Bolsonaro mantém a devoção religiosa. Ontem, foi a um culto na Catedral da Bênção, em Taguatinga. Na segunda- feira, antes de mostrar a tornozeleira eletrônica, participou de oração junto com parlamentares apoiadores nas dependências do Congresso. No dia 17, discursou no plenário do Senado durante sessão em homenagem póstuma ao pastor Gedelti Victalino Gueiros, cofundador da igreja evangélica Maranata.

Aviso

“Peço orações a vocês. Por muitas vezes o óbvio está na sua frente. As pessoas poderosas dessa nação, algumas dessa Casa, quando se conscientizar do óbvio, que um dia ele vai embora, ele muda”, disse Bolsonaro. No dia seguinte, o ex-presidente passou a usar tornozeleira eletrônica.

Comunicação

A especialista em comunicação organizacional Julia Scheibel lança, no próximo dia 29, o livro As novas competências para a Gestão da Comunicação no Ambiente Organizacional Contemporâneo: um Estudo com os gestores de comunicação do setor industrial. A obra aborda as competências necessárias para atuar no complexo e dinâmico ambiente das organizações, públicas ou privadas. O lançamento será na Livraria da Vila do shopping Iguatemi, às 19h.

Brasil profundo

A diáspora dos povos originários no Brasil e os ciclos da natureza são temas da exposição Andanças, de Adriane Kariú e Rômulo Barros, em cartaz até dia 27. Adriana é descendente do povo Kariú Kariri, originário do Vale do Cariri (CE) e considerado extinto pela Funai. A mostra está aberta ao público, gratuitamente, no Memorial dos Povos Indígenas.