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Na ONU, Bolsonaro vende um Brasil cor-de-rosa

Em sua fala mais moderada na ONU em três anos de governo, o presidente Jair Bolsonaro quis desfazer a imagem de autoritário, de comandar um país em dificuldades financeiras, com retrocesso na preservação ambiental e, e quebra, atravessando uma greve crise sócio-econômica. Porém, para quem queria vacinar o mundo contra a visão negativa que prevalece lá fora em relação ao Brasil, o presidente brasileiro exagerou na dose ao colocar o pais como um porto totalmente seguro para investimentos. A credibilidade brasileira, ao contrário do que disse o presidente, não está recuperada no mundo. As incertezas na economia e as dúvidas sobre o equilíbrio fiscal crescem a cada dia, especialmente, depois que o mercado financeiro foi pego de surpresa com aumento de impostos para financiar o Auxílio Brasil. Em suma, Bolsonaro seguiu a máxima que ficou famosa no governo do presidente Itamar Franco, quando  o então ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, em entrevista, teve uma fala captada antes do início da gravação, com a frase “o que é bom, a gente divulga. O que é ruim, a gente esconde”.

Detentor do título de único líder do G-20 que não tomou vacina contra a Covid-19, a parte do discurso que tratou da pandemia da mesma forma que tratou em várias lives para seus apoiadores: Defendendo um tratamento precoce considerado ultrapassado pela maioria dos países e pela própria ONU. De quebra, criticou o lockdown, adotado por muitos países com o intuito de evitar colapso do sistema de saúde quando ainda não havia vacina.

O discurso, porém, foi bem mais comedido do que no ano passado, quando o presidente atribuiu os incêndios e o desmatamento na Amazônia aos índios e caboclos que queimam seus roçados em busca da sobrevivência. Desta vez, o discurso ambiental, que menciona em uma duvidosa redução do desmatamento, veio acoplado a um aviso: O Brasil vai tratar do mercado de crédito de carbono na COP26, em Glasgow, na Escócia, para cobrar dos países desenvolvidos, que continuam campões em emissões de gases, financiem a preservação. Por isso, a citação aos dois terços de vegetação nativa e a lembrança de que, somente no bioma amazônico, 84% da floresta está intacta, abrigando a maior biodiversidade do planeta e a antecipação do prazo para que o país atinja a neutralidade climática, de 2060 para 2050.

A plateia da ONU, formada por chefes de estado, ministros e diplomatas, tem conhecimento do cenário de seus respectivos países e, em sua maioria, sabe das dificuldades econômicas e sociais do Brasil.  Por isso, soa falso ver o presidente do país dizer que a credibilidade está recuperada, como o melhor lugar do mundo para que os investidores depositem seus recursos. E pior: conforme alguns analistas: Coloca no mesmo balaio dados duvidosos __ como essa recuperação de imagem e econômica__ e alguns verdadeiros, como a privatização do saneamento no Rio de Janeiro e privatização de aeroportos.

A mudança de chanceler __ Ernesto Araújo saiu em março deste ano __ é vista no Itamaraty como responsável pelo tom mais moderado apontado no discurso e inclusive o agradecimento pela eleição do Brasil para uma vaga rotativa do Conselho de Segurança da ONU, onde o país contou com o voto de 181 nações. O discurso, porém, não menciona que o Brasil era candidato único. Para aquela plateia da ONU, essa informação não fez falta, porque aquele público já sabia. Para o cidadão brasileiro comum, entretanto, o que foi bom para o governo estava dito. O que era ruim, vencer sem adversários, ficou escondido. A fala de Ricúpero, de 1994, que lhe custou o cargo de ministro. No caso de Bolsonaro, é mais um ponto de desgaste político internacional.

Denise Rothenburg

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