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Governo escala Paulo Guedes para apagar incêndio entre Executivo e Legislativo

Coluna Brasília-DF/Por Rodolfo Costa (interino)

O governo já tem um novo articulador político. O ministro da Economia, Paulo Guedes, será o bombeiro convocado para apagar o incêndio entre o Executivo e o Legislativo. Não que o presidente Jair Bolsonaro tenha excluído o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, da função. Mas o ataque feito pelo vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do pesselista, ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), não pegou nada bem. O caldo entornou de vez com as últimas declarações de Bolsonaro em recados ao Congresso. Na mais recente, dita ontem, no Chile, disse que atritos com o Parlamento existem porque “tem político que não quer largar a velha política”. Foi o estopim para levar lideranças a alçar, informalmente, Guedes à posição de interlocutor.

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A ideia é de que Guedes seja a voz que vai dialogar com o Parlamento pelo governo na nova etapa da articulação imposta pelo Congresso. A avaliação é de que, diferentemente de Bolsonaro e Lorenzoni, ele ainda não quebrou a ponte com o Legislativo. O próprio ministro vinha se articulando, a ponto de ter dito no início de março que faltariam apenas 48 votos para aprovar a reforma da Previdência. O recado ao presidente da República sobre colocá-lo como interlocutor será dado nos detalhes. O ministro da Economia tem uma reunião marcada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara na terça-feira e terá mais reuniões com bancadas ao longo da semana. Onyx e Bolsonaro, que não gozam mais do prestígio e da confiança, serão escanteados.

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O argumento de congressistas é simples. Se Bolsonaro não quer baixar a bola e vai se manter como condutor da crise, ele que corra atrás dos parlamentares. Afinal, Guedes não poderá, literalmente, conciliar a articulação política e a economia por muito tempo. A questão é que o custo político para solucionar o problema não será barato. Não é algo que se contorna com um simples pedido de desculpas em um jantar com lideranças no Palácio da Alvorada. O presidente vai ter que se ajoelhar, beijar a mão e pedir o Congresso em casamento, com atendimento de demandas. Entre elas, uma das maiores defesas é pela saída de Lorenzoni da articulação política. É alguém que, para congressistas, só atua em interesse próprio. Ou é isso, ou não tem reforma.

Quarteto fantástico

O isolamento de Lorenzoni e o fortalecimento de Guedes abrem espaço para a composição do “dream team” da articulação política almejada na Câmara. A ideia é de que o ministro da Economia seja apenas um dos atores do processo. Dentro do governo, quem também tem apreço é o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Santos Cruz, um “homem do bem”, como definem alguns. É respeitado, atencioso e liga para os líderes partidários. A briga, agora, é para que Bolsonaro dê carta branca não somente aos dois ministros, mas, também, a Maia e à líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP).

Batata quente

A primeira missão de Guedes na articulação política é fechar com o Centrão o relator da reforma da Previdência na CCJ. Por ora, ninguém do bloco composto por partidos como PP, DEM, PSDB e MDB quer pegar a relatoria. A lógica é de que, se Bolsonaro continua criando desafetos, o governo e a bancada do PSL que arque com a negociação de tudo. O deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), líder da maioria na Câmara e um dos mais cotados a assumir a relatoria, confidenciou a pessoas próximas que não quer assumir a responsabilidade de uma matéria encaminhada por um governo que distingue parlamentares entre a “velha” e “nova” política. “Se o negócio der certo, o bônus fica para o presidente. Se der errado, o ônus fica todo pra mim. Vou pegar pra quê?”, teria dito o parlamentar.

CURTIDAS

Sem familiocracia/ O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, pode ser o primeiro bode expiatório da crise entre governo e o Congresso. Após o bombardeamento feito por Bolsonaro e Carlos ao Congresso, e a briga entre o ministro e Maia, o demista está convicto em aplicar uma derrota ao Executivo federal. A ponto de cogitar entregar a relatoria do pacote anticrime de Moro ao deputado Paulo Teixeira (PT-SP). O parlamentar foi o principal agitador da oposição após o presidente da República publicar um vídeo obsceno no Twitter. O petista chegou a afirmar que o acionaria judicialmente no Ministério Público Federal (MPF). Outro cotado para ser relator é o deputado Marcelo Freixo (PSol-RJ). Sendo um ou outro, seria um recado ao que os parlamentares chamam de familiocracia bolsonariana.

Blindagem desgastada/ O clima na Câmara é uma mescla entre desânimo e incômodo. Maia é um dos mais constrangidos com a postura do governo, dos filhos e da bancada “incontrolável” do PSL. Os mais revoltados dizem que a blindagem do governo de um possível pedido de impeachment está mais frágil. As lideranças evitam falar abertamente sobre o assunto por entender que um outro processo seria muito desgastante ao país. Mas alertam que o capital político de Bolsonaro está decaindo muito rápido e se perguntam se há vontade do presidente em mudar o diálogo com o Parlamento. A advertência feita por alguns é de que os dois presidentes que não respeitaram e tentaram tratorar o Congresso caíram: Fernando Collor e Dilma Rousseff (foto). Para bom entendedor, meia palavra basta.

Sai futebol, entra política/ As prisões do ex-presidente Michel Temer e do ex-ministro e governador do Rio de Janeiro Moreira Franco tomaram o centro dos debates na capital fluminense. Rivalizam até com as discussões acaloradas sobre futebol. Às vésperas do clássico entre Flamengo e Fluminense, a ser realizado hoje, em partida válida pelo Campeonato Carioca, as detenções de figurões da política nacional e local estão tendo mais espaço nas mesas de bar do que a rivalidade futebolística. A decepção é disseminada. Para alguns moradores, o estado é a personificação e o exemplo do caos generalizado que se encontra o Brasil.

Denise Rothenburg

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