A ausência de qualquer menção à crise da América do Sul na declaração conjunta dos BRICS é um sinal de que o grupo não está tão coeso quanto procurou parecer na tradicional foto dos presidentes dos países do bloco. Nem a Venezuela, que teve a embaixada invadida no primeiro dia das reuniões em Brasília, entrou em cena. Isso porque, dos cinco países que formam os Brics _ Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul __, Juan Guaidó só tem o apoio do governo brasileiro. Os demais não estenderam tapete vermelho ao oposicionista venezuelano.
O presidente Jair Bolsonaro, entretanto, conseguiu parte do que queria. Pelo menos, em relação à Amazônia. Sem citar a Amazônia, o documento fala em desenvolvimento sustentável, com respeito à soberania e à legislação nacional. É um recado claro ao presidente da França, Emmanuel Macron, que chegou propor a internacionalização da Amazônia. Nesse sentido, a carta de Brasília foi um nem vem que não tem, um vez que o documento é claro: “A cooperação internacional nesse campo deve respeitar a soberania nacional e os regulamentos e disposições legais e institucionais nacionais, bem com práticas e procedimentos”. Na gíria popular em voga entre os jovens seria algo do tipo, “vaza, Macron”.
O ponto alto desses dois dias foi mesmo a perspectiva comercial, a aproximação com a China, considerada parceria estratégica para um Brasil que não está conseguindo muita coisa com os Estados Unidos, ainda mais agora com Donald Trump dedicado a salvar a própria pele dentro do processo de impeachment. Quanto às cobranças de ampliação do poder dos países que buscam maior protagonismo na ONU, o documento praticamente repete o que Brasil, Índia e África do Sul pedem há tempos e os países com mais protagonismo na ONU nunca dão: Reforma das Nações Unidas pra reforçar o multilateralismo, inclusive no Conselho de Segurança. Algo que o Brics incluiu em seu documento de 2005. Lá se vão 14 anos e, a contar pela disposição real de quem manda na ONU, ano que vem tem dá para fazer festa de 15 anos para esse pedido.
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