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Coluna Brasília-DF publicada na sexta-feira, 28 de novembro de 2025, por Carlos Alexandre de Souza
Por razões que somente a política explica, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tornou-se voz relevante em uma área quase nunca explorada por chefes de equipes econômicas: a segurança pública. Após a operação conjunta que desmontou o esquema bilionário mantido pelo grupo Refit, o titular da Fazenda reforçou o argumento que tem sido o contraponto dos defensores do modelo “tiro, porrada e bomba” no combate às organizações criminosas. É preciso agir contra uma atividade essencial na cadeia de ilícitos: o crime econômico.

Desde a Operação Carbono Oculto, Haddad tem dito que se deve aprimorar os meios para promover uma asfixia financeira do crime organizado. O projeto de lei sobre o devedor contumaz, que possivelmente retornará à pauta da Câmara, se enquadra nesse raciocínio: “Se você não asfixiar financeiramente as organizações criminosas, você vai ter uma reposição de mão de obra barata na base. Você precisa atuar também pelo andar de cima. Porque é o andar de cima que irriga com bilhões as atividades criminosas. Não estamos falando de milhões, estamos falando de bilhões de reais” , reitera Haddad.
Vamos votar
O líder do PT na Câmara, deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), está com pressa para que o projeto de lei sobre devedor contumaz ganhe tração na Casa. “A gente quer que essa votação seja feita na terça-feira. Espero que essa nova operação (Poço de Lobato) leve à votação. Essa é a prioridade do governo” , disse.
Anistia, de novo
Quem também está apressado é o líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), mas por outras causas. Ele articula para levar a plenário, na próxima semana, o projeto de lei pela anistia aos condenados da trama golpista. Segundo ele, a proposta deve ser votada na terça-feira – apesar de o texto ainda não estar definido.
A definir
“Nós ainda não decidimos (o texto que será votado). Isso vai acontecer até segunda-feira. A gente espera que, até terça-feira, a pauta virá, e a gente vence essa matéria. Sóstenes acredita que as conversas e a boa vontade dos presidentes da Câmara e do Senado podem viabilizar a aprovação da anistia.
É outra coisa
O líder partidário comentou, ainda, o PL da Dosimetria, sob relatoria do deputado Paulinho da Força (Solidariedade – SP). Ele defende mais esclarecimento sobre a proposição. “Eu já falei para ele: Paulinho, a população brasileira merece informações corretas. Não existe PL da dosimetria. Não compete ao parlamento fazer dosimetria de nada, compete ao Judiciário” , afirmou.
Redução de pena
Segundo informou Sóstenes, Paulinho da Força teria outro objetivo. “Ele quer propor uma redução de penas que deixaria livre todos os envolvidos e só o núcleo principal com uma pena bem mais reduzida. Pela primeira vez ontem, eu tive acesso ao texto que ele propôs. Estou me debruçando sobre o texto” , explicou.
Como pode?
Depoente na CPMI do INSS, o contador Mauro Palombo Concílio ficou no aperto quando confrontado pelo relator Alfredo Gaspar (União-AL). O deputado questionou como Concílio, um profissional experiente, não percebeu sinais de lavagem de dinheiro em empresas abertas por ele próprio para dirigentes de associações investigadas. “Onde está a boa-fé? O senhor abriu empresa para todos eles, e o dinheiro das associações ia parar exatamente nessas contas” , disse o parlamentar.
Tudo normal
Em resposta, Concílio alegou não desconfiar de irregularidades, pois se tratava de créditos vindos do INSS, pagamentos de DARFs, bloqueios judiciais e liberações determinadas pela Justiça. Segundo ele, esses elementos conferiram “aparente normalidade” às operações.

STF e racismo
Oito ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) já votaram no julgamento que pode determinar que há omissão do Estado no enfrentamento a violações contra direitos dos negros. Três integrantes da Corte — Luiz Fux (foto), Flávio Dino e Cármen Lúcia — entendem que há um “estado de coisas inconstitucional” originado pelo racismo estrutural e institucional. Fux, ministro relator, defendeu que a União elabore, no prazo de um ano, um plano para combater as violações sistêmicas aos direitos dos negros.
Existem ações
Os ministros Cristiano Zanin, André Mendonça, Nunes Marques, Alexandre de Moraes e Dias Toffoli reconheceram o racismo estrutural no Brasil e as graves violações contra negros. Mas divergiram em relação ao estado inconstitucional, pois identificam ações e políticas públicas para mitigar o problema social. Com os votos proferidos, o STF formou maioria para que o governo adote mais medidas contra o racismo.
Colaboraram Alícia Bernardes e Letícia Corrêa
Coluna Brasília-DF publicada na quinta-feira, 17 de julho de 2025, por Carlos Alexandre de Souza, com Eduarda Esposito
Vitorioso na queda de braço com o Congresso Nacional a respeito do Imposto de Operações Financeiras (IOF) após a decisão favorável do ministro Alexandre de Moraes, do STF, o Executivo está otimista com o saldo positivo na relação com o Legislativo. Nas contas da bancada governista, a aprovação de 117 matérias de interesse do Planalto na Câmara dos Deputados, no primeiro semestre, justifica um otimismo na recuperação da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Muitos aliados ressaltam que o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), contribuiu muito para o resultado. Isso porque alguns dos textos aprovados ajudaram o governo a resolver o ano fiscal de 2026. Foram sete medidas provisórias de crédito extraordinário aprovadas em plenário.
Na ótica dos governistas, o apoio incondicional do Legislativo ao governo Lula nas negociações com os Estados Unidos, anunciado em conjunto pelo deputado Hugo Motta e o senador Davi Alcolumbre, também contribui para o bom momento. A mobilização contra a taxação de produtos brasileiros deve agregar mais apoio. “Se usarem o ataque do Trump ao Pix, Lula bate 60% de aprovação” , aposta um parlamentar governista.
Autoelogio
O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), afirma que não foi sorte a aprovação de mais de 100 textos de interesse do Planalto. “Foi muita articulação, isso sim” , defendeu. Para o líder, uma “pequena derrota” ganha muito destaque, mas diversas vitórias não seriam levadas em conta.
Houve acordo
Segundo o próprio líder, a decisão de Moraes sobre o IOF vai de encontro ao acordo feito na última segunda-feira entre líderes do governo, os presidentes das Casas e ministros do Executivo. Ficou decidido que o ministro do STF diria o que valeria no IOF e o governo terminaria de pacificar o caminho após a decisão.
Tabelinha
O ministério da Fazenda deveria enviar um projeto à Câmara dos Deputados para corte de benefícios tributários e fiscais. Entretanto, um acordo feito entre o ministro Fernando Haddad e o relator do projeto de benefícios, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), acabou com essa ideia. O relator vai incorporar a proposta de corte do governo no relatório da matéria do senador Esperidião Amin (PP-SC) para evitar “começar do zero”.
Voz do povo
Outros temas econômicos agitaram a Câmara dos Deputados ontem. Enquanto a Comissão Especial aprovava mudanças no Imposto de Renda, o auditório Nereu Ramos foi palco do lançamento de um plebiscito sobre o fim da jornada de trabalho 6×1, além de taxação de super-ricos e isenção do IR para quem ganha R$ 5 mil. A iniciativa é de movimentos sociais e centrais sindicais. A consulta on-line é até setembro.
Basta de racismo
A deputada Enfermeira Rejane (PCdoB-RJ) denuncia, mais uma vez, racismo por parte dos funcionários da Câmara. À coluna, a deputada disse que passará a fotografar os autores e redigir um relatório a ser entregue para o presidente da Casa. “Antes de procurarem o broche (de parlamentar), olham a cor da pele. O racismo está dentro deles” , protesta.
“Sai lágrima”
Não é a primeira vez que a deputada se manifesta sobre o problema — inclusive em plenário. Rejane pretende sugerir ao presidente da Casa, Hugo Motta, que encomende para o corpo de funcionários um curso sobre racismo estrutural com a União de Negros e Negras pela Igualdade (Unegros) de Brasília. A finalidade é conscientizar sobre essa questão social e treinar servidores e terceirizados. “Fico muito abalada quando acontece, não consigo falar, sai lágrima” , desabafou à coluna.
Glauber fica…
… por enquanto. Com a última semana de trabalhos da Câmara dos Deputados cheia de pautas importantes a serem votadas e polêmicas econômicas externas, a cassação do deputado Glauber Braga (PSol-RJ) ficou para depois. Como o presidente Hugo Motta não colocou o tema em pauta, o deputado pelo Rio de Janeiro voltará no segundo semestre.
Dissuasão
Aliados apostam em uma virada no movimento pela cassação. Eles entendem que os diversos casos de suspensão nos últimos meses — como o que ocorreu com André Janones (Avante-MG) e Gilvan da Federal (PL-ES) — podem dissuadir a Casa de impor a perda de mandato a Braga. Por sinal, na votação que determinou a punição a André Janones, Glauber Braga se solidarizou com o colega, afirmando que o julgamento do colegiado é injusto.
Regimentalidade
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), não gostou nada do kit obstrução dos parlamentares durante a última sessão antes do recesso. E por isso, decidiu que a presidência também seria extremamente fiel ao regimento e não ampliaria mais o tempo de fala de nenhum Deputado no Plenário.
Colaborou Israel Medeiros
Polêmica: Imagem racista de IA é usada em capa de vídeo da Câmara dos Deputados
Por Eduarda Esposito — Uma imagem gerada por Inteligência Artificial (IA) — em que um jovem negro segura uma metralhadora e é observado por um policial branco — foi usada como capa do vídeo da sessão “Uso de menores por facções e falhas nas políticas socioeducativas” da Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados realizada na última quarta-feira (11). O Ministério da Igualdade Racial repudiou, por meio de nota, a escolha da imagem por perpetuar um estigma da população negra periférica.

“Não é apenas uma demonstração de racismo algorítmico, mas um desserviço à sociedade brasileira, especialmente no contexto de morte de tantos jovens negros todos os dias. Consideramos grave que uma comissão da Casa que representa o povo brasileiro utilize uma imagem racista, reforçando ainda mais os danosos estereótipos sobre a população negra”, criticou o órgão em nota ao blog.
O que diz a Câmara
Procurada pelo blog, a Câmara dos Deputados não explicou a escolha da imagem e nem esclareceu se ela foi gerada por inteligência artificial. A casa apenas informou que mudaram a foto para um registro da reunião.
“A imagem apresentada no player da transmissão da audiência pública da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, realizada nesta quarta-feira (11), já foi modificada para um quadro da reunião.”
Racismo na IA
A especialista em comunicação com foco em Diversidade e Inclusão, Mayara Rodrigues, explicou que a IA é alimentada com informações o tempo inteiro e “replica a sociedade e seu pensamento estrutural”. “Como a gente vive numa sociedade racista, esse vai ser o padrão que ela vai seguir. E assim como em vários segmentos da nossa vida, a menos que ela receba um comando pra não ser racista, ela vai ser racista”, pontua.
Rodrigues complementa ainda que para mudar o racismo estrutural dentro das produções da inteligência artificial, é preciso que o comando seja detalhado. “Assim como em uma novela ou em um filme, se não houver indicando que o personagem precisa ser interpretado por uma pessoa preta em um lugar de poder, um CEO, ele não vai ser escalado. Então, a inteligência artificial replica esse comportamento estrutural da nossa sociedade”, explica.
Entretanto, a especialista frisa que a IA pode ser muito útil e depende da educação dos programadores e usuários para melhorar suas representações. “A IA pode ser muito útil e ajudar bastante, mas é preciso ter cuidado, porque nessa a gente expõe vidas. É muito arriscado, assim como o reconhecimento facial, é tudo muito pensado no olhar do branco e a gente precisa trazer essa educação, assim como na sociedade. E o tempo todo estar alerta porque a IA replica de acordo com a base de quem a programa, e, de modo geral, é uma programação feita por pessoas brancas”, ressalta.
Coluna Brasília-DF, por Carlos Alexandre de Souza
O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, repudiou publicamente atos de racismo e xenofobia no país europeu. Foi uma resposta à injúria racial cometida por uma cidadã portuguesa contra os filhos dos atores brasileiros Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank, em uma praia nos arredores de Lisboa. “Infelizmente, há setores racistas entre nós”, escreveu Rebelo. Mas “não se pode, nem deve, generalizar”, ponderou.
Rebelo de Sousa tem se esforçado em estreitar laços históricos entre Brasil e Portugal, especialmente no bicentenário da Independência da ex-colônia. Mas nem sempre obtém sucesso. Em visita recente ao Brasil, Rebelo encontrou-se com três ex-ocupantes do Planalto e testemunhou, in loco, a homenagem a Portugal na Bienal do Livro em São Paulo. O português sofreu, entretanto, uma desfeita com o atual mandatário brasileiro. Ao saber que o visitante se encontraria com Lula, o presidente Jair Bolsonaro desmarcou um almoço agendado com antecedência.
Apesar dos desencontros, Rebelo de Sousa deve voltar ao Brasil para as festividades do Sete de Setembro — evento que será utilizado por Bolsonaro para tumultuar as eleições. No plano ideal, Brasil e Portugal poderiam aproveitar a ocasião para unir esforços contra mazelas comuns aos dois países, como o racismo. Casos de injúria racial são recorrentes aqui e lá. O episódio ocorrido com duas celebridades brasileiras apenas deu mais visibilidade a essa prática intolerável. Como alertou o ator branco Bruno Gagliasso, com expressivos olhos azuis: “Essa luta é de todo mundo”.
Assédio institucional
A pedido da Frente Parlamentar do Serviço Público (Servir), a Comissão de Assuntos Sociais promove, hoje, às 14h, audiência pública para debater o assédio institucional. Integrantes da Servir denunciam, por exemplo, o caso de servidor do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) processado pelo MEC após publicar artigo e até o assassinato do indigenista Bruno Pereira — morto após se licenciar da Funai.
Data venia
Ao reiterar o arquivamento do inquérito sobre o suposto vazamento cometido pelo presidente Bolsonaro de uma investigação sigilosa da PF a respeito das urnas eletrônicas, a vice-procuradora Lindora Araújo, criticou o ministro do Supremo Alexandre Moraes. “O eminente Ministro Relator, data venia, acabou por violar o sistema processual acusatório”, escreveu, no parecer encaminhado ao Supremo. A ver a resposta do magistrado.
No Supremo
Na semana passada, a vice-procuradora recomendou o arquivamento de vários pedidos de investigação apresentados pela CPI da Covid contra o presidente Jair Bolsonaro, o ex-ministro Eduardo Pazuello e outros citados no relatório final. Em resposta às conclusões de Araújo, sete integrantes da extinta comissão pediram, no Supremo, a abertura de inquérito para averiguar suposta prevaricação cometida por Araújo.
Campo minado
A exemplo do chefe, Augusto Aras, a vice-procuradora não se furta de andar em campo minado.
Combatentes
Conhecida no Brasil como “capitã cloroquina”, a médica e pré-candidata a deputada federal Mayra Pinheiro (PL-CE) receberá do presidente Jair Bolsonaro a Ordem do Mérito Médico, concedida a profissionais que se destacaram pelos serviços à saúde. “Honrei o meu país”, escreveu Mayra Pinheiro nas redes sociais. Em julho, o deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), aquele que obteve indulto presidencial, foi agraciado com a Ordem do Mérito do Livro.
Diferenças e riquezas
Os candidatos do Partido Republicano da Ordem Social (Pros), Pablo Marçal, e do Partido Comunista Brasileiro (PCB), Sofia Manzano, foram os primeiros a registrar as candidaturas à presidência da República junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ambas as chapas são ‘puro sangue’, sem coligações com outros partidos. As diferenças entre Marçal e Manzano não se limitam ao campo ideológico. Aos 35 anos, o empresário e influenciador digital, estreante na corrida eleitoral, declarou um patrimônio de R$ 16,9 milhões ao TSE. Professora, Manzano informou um total de R$ 498 mil.
Indigestão
A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) está apreensiva com a votação, hoje, da MP que faculta às empresas pagar vales-refeição e vales-alimentação em dinheiro. A proposta tem como relator o deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP). Segundo ele, boa parte dos trabalhadores já adota essa prática: troca os tíquetes por dinheiro, com deságio. A Abrasel, por sua vez, diz que a mudança trará enormes prejuízos a restaurantes.




