Categorias: Política

MP versus MP

“A vontade de prender Marcelo Miller era tão legítima quanto uma nota de R$ 3”. A frase foi dita hoje na CPI da JBS pelo procurador Ãngelo Goulart Villela, que ficou 77 dias preso preventivamente sob a acusação de levar R$ 50 mil para ajudar a JBS junto ao Ministério Público. “Se tinha alguém infiltrado para ajudar a JBS, esse alguém não era eu”, disse ele, sem citar o nome de Marcelo Miller, o procurador que deixou o Ministério Público para trabalhar num escritório que atendia a JBS. Villela acusou Janot de agir com o “fígado” em relação a ele, por causa da aproximação com a procuradora Raquel Dodge.”Janot agiu com fígado em relação a mim, porque se sentiu traído. Porque eu estaria me bandeando para o lado da arquirrival dele”, disse Villela, referindo-se à então candidata ao comando do MPF.

Os parlamentares ligados ao presidente Michel Temer saíram convencidos de que houve uma “conspiração politica” para “pegar” o presidente Michel Temer, embora Villela tenha deixado claro que não acredita em provas forjadas para incriminar o presidente da República. O procurador chegou a chorar mais para o final de seu depoimento, quando mencionou a “dor” de passar 77 dias preso e ver vizinhos e amigos que frequentavam a sua casa, simplesmente, não lhe darem sequer o benefício da dúvida. Ele colocou ainda em dúvida a forma como os procuradores tratam da delação premiada “Eu não tinha nada para delatar e não ia inventar nada para sair da prisão”, disse ele.

Villela reclamou ainda do chamado “recall”, ou seja, quando um delator fala de A, B e C e, mais à frente, as investigações encontram algo referente a um personagem D e ha uma nova chamada para que o delator fale sobre essa outra pessoa. “Nesse caso, o certo seria simplesmente anular a delação”, disse Villela.

O depoimento reforçou a visão de alguns parlamentares da CPI, de que é preciso pôs um freio nas delações que ocorrem depois que o sujeito é submetido à prisão preventiva. A ideia dos políticos é dizer que preso não pode delatar. A proposta, entretanto, é vista como algo do tipo “segura Geddel”, o ex-ministro que está preso e que teve R$ 51 milhões encontrados no apartamento em Salvador. Se um projeto desse tipo virar lei, o ex-ministro estará fadado a ficar na cadeia e a turma do Planalto, hoje preocupada com uma possível delação de Geddel, terá sonos mais tranquilos.

Denise Rothenburg

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