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Datafolha: A (correta) estratégia do PT, o “tchau Temer” e um centro inseguro

Quem achar que o ciclo do PT na política se encerrou ou desprezar Jair Bolsonaro, vai errar feio nessa eleição de 2018. A contar pela pesquisa do Datafolha divulgada hoje, o PT ainda tem poder de fogo e Bolsonaro começa a galvanizar parte de suas intenções de voto, haja vista a pesquisa espontânea, aquela em que o eleitor diz em quem votará sem que lhe seja apresentada uma lista de pré-candidatos. Bolsonaro nesse levantamento aparece com 12%. Lula, com 10%. Ou seja, está caindo o número de pessoas que diziam abertamente votar no petista, sinal de que a população começa a considerar que o ex-presidente não conseguirá ser candidato.

O problema é que essas que deixam Lula, de acordo com a pesquisa, não sabem em quem votar. Aqueles que dizem votar em branco, nulo ou em nenhum chegam a 23% na pesquisa espontânea, o mais alto da série de pesquisas do Datafolha, desde julho do ano passado. Aqueles que não sabem em quem votar somam 46%. Ou seja, na cabeça do eleitor, a raiva e o medo continuam imperando e a eleição ainda não começou. E o eleitor está certo: Não começou mesmo. Campanha nas ruas e na tevê só em agosto. Por enquanto, só em ambientes fechados, como a sabatina do Correio Braziliense a 11 pré-candidatos. Portanto, pesquisa agora só para efeito de consumo e movimento dos partidos. Portanto, vamos a ele, a começar pelo PT.

Não são poucos os políticos até do próprio PT que dizem estar errada a estratégia do partido de manter Lula como candidato. Porém, a contar pelos números do Datafolha divulgados hoje, o movimento do PT faz todo o sentido. Os números:

Lula continua liderando no cenário em que é colocado como candidato. Lula tem 30%, Bolsonaro, 17%, Marina Silva (Rede), 10%; Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin,6%; Álvaro Dias (Podemos), 4%. Manuela D’Ávila e Rodrigo Maia oscilam entre 1% e 2%; e os demais entre 0 e 1%. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. No cenário sem Lula, Bolsonaro lidera, mas teria dificuldades num segundo turno contra qualquer candidato. Só venceria Fernando Haddad (PT) e aparece empatado com Geraldo Alckmin.

Mas, continuemos falando das estratégias, como a do PT. O partido não têm um sucessor natural de Lula e o petista é o maior eleitor e garoto-propaganda do PT, não por acaso o PT explora os ganhos do brasileiro no governo Lula. Por outro lado, as opções que têm alguma chance no campo mais á esquerda, Marina Silva e Ciro Gomes, querem os votos de Lula, mas não o símbolo do PT estampado na própria campanha. Marina, por exemplo, na sabatina do Correio, acusou Dilma e o marqueteiro João Santana de terem inventado as “fake news”. Portanto, o PT tem hoje uma situação que ainda lhe é favorável: Lìdera as pesquisa, não tem um nome exposto, para desgaste e, enquanto isso, vê quem pode ser o sucessor de Lula.

OK, o PT pode até ficar com Lula. Mas os partidos de esquerda começam a cuidar da vida, o que faz crescer o risco de isolamento do PT no quesito alianças políticas. Até aqui, os aliados tradicionais que têm pré-candidato a presidente, caso do PCdoB e do PSol, vão aos encontros do PT, deixam aquele abraço, dão uma força, mas, na hora de apresentar candidato cuidam é dos seus. Quem não tem, começa a ficar impaciente. O Datafolha pode servir, por exemplo, para estimular um movimento do PSB em direção a Ciro Gomes, que se mostra viável do ponto de vista eleitoral e, em comparação com os demais, tem uma rejeição relativamente baixa. Ciro Gomes é o rejeitado por 23% dos entrevistados, enquanto Fernando Collor aparece com 39%, Lula com 36%, Bolsonaro com 32%. No segundo pelotão, está Alckmin, com 27%; Marina, 24%; e Ciro, com 23%. Na última sexta-feira, os socialistas conversaram e concluíram que não dá para ficar esperando o PT se decidir em Pernambuco, onde tudo foi adiado para final de julho. O PT quer trocar o apoio ao governador Paulo Câmara por apoio a Lula e o PSB resiste em fechar um acordo regional usando como moeda a sustentação nacional aos petistas.

E o centro?
O centro da politica sai da pesquisa com duas certezas: Primeiro, é “tchau, Michel Temer”. A impopularidade do governo está em 82% (ruim e péssimo), 14% consideram a gestão regular e 3% ótima ou boa. O pré-candidato do MDB, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, oscila entre 0% e 1% das intenções de voto. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), está na mesma batida. Há quem diga que o deputado precisa aproveitar a semana do santo casamenteiro pra ver se arruma outro jogo eleitoral. Ou seja, aumentará a pressão para que saia de cena. Só tem um probleminha: Para onde ir? O nome que aparece melhor no Datafolha é o do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, porém, não chega aos dois dígitos e até o PSDB está indócil. Portanto, Geraldo Alckmin precisa aproveitar esse período para se mostrar mais competitivo e passar firmeza aos potenciais aliados. E só o fará se jogar bem na política o que até aqui não aconteceu. Ele não tem sequer um coordenador politico de fora de São Paulo, que possa dar um caráter mais nacional e menos provinciano à pré-campanha. Quanto a Álvaro Dias, o senador é pouco conhecido e se firma como um nome também mais regional, do Sul, sem capilaridade no Nordeste e em outras regiões. E dada a pequena estrutura de seu partido, será difícil conseguir essa visibilidade na campanha eleitoral.

Com o centro indefinido e inseguro sobre que caminho seguir, restam Ciro Gomes e Marina Silva, que tentam se apresentar como o anti-Bolsonaro. Ambos abateriam o ex-capitão num segundo turno e Alckmin empataria com ele. Ou seja: Bolsonaro pode ser grande hoje, mas a contar pela pouca estrutura de seu partido, não terá fôlego para chegar ao segundo turno muito competitivo e talvez nem esteja lá. Afinal, como disse no começo dessa análise, o eleitor, por enquanto, o eleitor não atentou para a eleição de outubro. que venha a Copa do Mundo e as festas juninas e os movimentos partidários. O cidadão comum só vai cuidar da eleição no momento certo. E tem razão. O cenário recomenda muita calma nessa hora.

Denise Rothenburg

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