Era uma vez, eram duas vezes…

Publicado em ÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

jornalistacircecunha@gmail.com

facebook.com/vistolidoeouvido

instagram.com/vistolidoeouvido

 

11/01/2017REUTERS/Paulo Whitaker

 

Antigo conto árabe, perdido no tempo, cujos título e autor, escritos na areia, foram apagados pelos ventos do deserto, narra a estória de um califa, cuja fama de injustiça e de buscar punições a qualquer preço rendeu-lhe o epíteto do mais cruel dos monarcas que já existiu naquele mundo encantado de outrora.

Certa vez, ao passar pela rua, um morador local foi atingido na cabeça por um pedaço de madeira que se desprendeu da moldura de uma janela. Ferido, foi então procurar reparação e justiça com califa local. Relatou-lhe o ocorrido. O califa, imediatamente, mandou chamar o marceneiro que havia construído aquela janela para puni-lo. Conhecedor das maldades do califa, o marceneiro, por sua vez, culpou a qualidade da madeira que havia adquirido de um vendedor próximo. O califa, sedento em julgá-lo, mandou trazê-lo rapidamente.

Como a fama de maldade do califa era conhecida mesmo em terras distantes, o vendedor da madeira em questão, logo acusou o lenhador, de quem havia comprado a mercadoria. Diante do califa, o lenhador, temendo por sua vida, pôs a culpa na qualidade do aço do machado, que lhe permitia cortar apenas madeira verde. O califa ordenou, então, que lhe trouxesse o fabricante do machado. Tremendo de medo e diante de um monarca que assustava até os animais irracionais, o fabricante do machado culpou o comerciante que lhe havia vendido ferro de má qualidade para a fundição da lâmina.

Então, o califa mandou vir o tal comerciante. Por sua vez, o comerciante do minério de ferro, sem pestanejar, acusou o minerador que morava nas cercanias da cidade. Trazido à presença do califa, o minerador pôs a culpa em sua própria mulher que havia brigado com ele e, como vingança, misturou o ferro com areia do deserto. Apanhada de surpresa e diante de uma situação inusitada como aquela e sem ter como explicar como havia feito tal vingança, a mulher ficou sem uma explicação razoável para o califa. O califa então ordenou: enforquem-na no parapeito da janela que causou o acidente.

Em um mundo, como o nosso, onde as aparências vão se confundindo cada vez mais com a realidade, estórias como essa, por mais absurdas que pareçam, podem servir de alerta para os desencontros entre os fatos e as narrações. De fato, nada é o que nos parece à primeira vista, ainda mais quando estamos predispostos a tomar posição guiados pelo ego ou pelo fígado. Estamos imersos num oceano sem fim de narrativas, naquilo que os estudiosos passaram a classificar como um tempo de prevalência da pós-verdade, ou seja, num momento em que a opinião pública, por interferências diversas, passa a reagir mais impulsionada pelos apelos emocionais do que pelos fatos objetivos em si.

Essa tendência atual de colocar em segundo plano os fatos, detendo-se nas crenças e nas emoções das massas, tornam a população e a opinião pública suscetíveis a todos os tipos de manipulações. Conhecendo bem esse momento sui generis de nossa sociedade é que os manipuladores têm tirado proveitos sem fim desse comportamento. Não é por outra razão que os políticos atuais buscam parcerias com os técnicos de propaganda e merchandising, para dar forma a seus discursos.

Por sua vez, esses técnicos em comunicação ensinam aos políticos como conduzir as massas para o lugar desejado, “ensinando-lhes como educar a população”, não, sem antes, culpar os adversários. Ao empurrar a própria culpa para debaixo do tapete, ou para algo, ou para alguém, nossos políticos, pelo menos os mais espertos, repetem o comportamento do conto acima, repassando suas culpas e erros, temendo o califa moderno que é a própria população e a sua sede de justiça a qualquer preço. No caso em questão, não seria por demais ilógico culpar o rapaz que utiliza a maquininha de remarcação de preços no supermercado pelo aumento atual dos alimentos. Se a culpa não é dele, deve ser do fornecedor da tal maquininha ou, quem sabe, daquele que inventou esse equipamento desumano.

 

A frase que foi pronunciada:
“Todo homem é culpado de todo o bem que não fez.”
Voltaire

Voltaire. Imagem: reprodução da internet

 

Molhar o Sol
Alguma razão deve haver para o caminhão pipa molhar as flores da cidade em pleno Sol das duas horas da tarde. Mas é bom repensar a rotina. Não faz o menor sentido.

Arquivo pessoal

 

Abusivo
Uma forma bastante arriscada é pagar pelo serviço antes de ser feito. No caso das agências de modelo que cobram com antecedência o trabalho, a promessa é clara. Você paga, mas há possibilidade de não ser chamado. A mesma coisa ocorre com os garotos do futebol. Os pais que precisam pagar pelos testes devem ficar atentos. Há treinadores e olheiros que não cobram para isso.

Foto: guiadobebe.com

 

História de Brasília
O que está feito aqui é de concreto armado e nem as britadeiras, nem as picaretas dos inimigos poderão destruir. A obra tem alcance superior. (Publicada em 26/4/1962)

 

It's only fair to share...Share on Facebook
Facebook
Share on Google+
Google+
Tweet about this on Twitter
Twitter
Share on LinkedIn
Linkedin