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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)
Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
jornalistacircecunha@gmail.com
instagram.com/vistolidoeouvido
Num mundo ideal, lugar distante muitas léguas de qualquer país de regime fechado, a gerência da economia, no que tange os produtos alimentícios, seria realizada diretamente por donas e donos de casa. Ainda não foram inventados melhores analistas de variação de preços desses produtos do que aquele representado pelos chefes de família, sobretudo os que se submetem voluntariamente a uma jornada diária e infinda em busca de melhores preços. Afinal, essa é uma tarefa vital para todos que buscam sobreviver dentro dessa selva hostil em que se transformou o mercado.
Obviamente, não por culpa dele próprio, como querem fazer parecer os técnicos do governo. Na verdade, o mercado, como região onde se cruzam oferta e procura, tem vida própria, só respondendo aos estímulos externos. No nosso caso, esses estímulos partem diretamente dos gabinetes instalados na Esplanada dos Ministérios que, por sua vez, são orientados por uma espécie de premonição paranormal, vinda do terceiro andar do Palácio do Planalto. Por mais complexas que sejam as fórmulas embutidas na economia para decifrar a variação ascensional nos preços dos alimentos, suas causas e efeitos, as donas de casa, que desconhecem ou desprezam essas fórmulas e outras teorias científicas, conhecem essa aritmética pela prática, apenas pela observação empírica exposta nas gôndolas dos supermercados e das feiras.
Há, ainda, outros reflexos nessa guinada dos preços rumo ao Olimpo, que são o aumento pela procura das xepas e por produtos com prazo de validade vencido ou prestes a vencer, também com alteração dos dados de validade, a diminuição das embalagens, o retalhamento de produtos, como carne, queijos e outros em embalagens menores, entre outras artimanhas. No Brasil, o real vale cada vez menos. Desde sua criação, em 1º de julho de 1994, nossa moeda perdeu quase 90% de seu poder de compra. A inflação no preço dos alimentos, mais do que perturbar o sono tranquilo das donas de casa, aflige o governo. Não pelo fato correto de que esse fenômeno afeta diretamente a vida dos brasileiros, mas pela simples razão de que o custo dos alimentos tem reflexo direto no humor dos eleitores e esse fenômeno pode abreviar a vida política de muitos.
Não fosse pela aproximação das eleições em 2026, a toada seguiria sem intervenções, indiferente aos reclamos das ruas. Desde sempre, os historiadores constataram que o motor que move as massas não utiliza como combustível as ideologias, mas, sim, o espectro da fome. O poder deletério da fome tem movido o mundo e destruído impérios.
De acordo com a Associação Brasileira dos Supermercados (Abras), que reúne algo como 1.247 empresas supermercadistas em todo o país e, como tal, conhece de perto esse fenômeno cíclico do aumento nos produtos da cesta básica, o preço dos alimentos se apresenta muito acima do que foi divulgado oficialmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse é outro problema sério. As donas de casa sabem desse fato por instinto e pelo bolso. Segundo a Abras, o café torrado aumentou cerca de 40%. O óleo de soja teve um reajuste de 30%. A carne aumentou quase 30% e o leite, tipo longa vida, teve um reajuste de aproximadamente 20%. Observem que esses são produtos que compõem a cesta básica. Com isso, a cesta básica deu um salto de quase 15% em 2024.
Em 16 das 17 capitais analisadas, a cesta básica ficou mais cara. Dizer que o vilão da cesta é o café, também não corresponde à verdade, uma vez que entre os ingredientes que contribuem acentuadamente para o aumento dos alimentos em geral estão fatores de ordem política. É a política econômica com elevação de impostos, subsídios, bem como o explosivo modelo de gastos públicos, que favoreceu o aumento da cesta básica. Com isso, segundo o Dieese, o salário mínimo necessário para a manutenção de uma família de quatro pessoas deveria ser hoje de R$ 6.657,55 ou 4,71 vezes o mínimo atual que é de R$ 1.412. O brasileiro tem que trabalhar em média mais de 100 horas por mês para adquirir uma cesta básica, comprometendo também mais de 50% do seu rendimento apenas para se alimentar.
Num apanhado geral, nem mesmo a abóbora, que veio em substituição à picanha prometida, escapou dos efeitos desses aumentos com um reajuste de 75% na primeira semana de 2025, com a abóbora seca custando, agora, R$ 3,15 o quilo. Até mesmo o halloween desse ano terá que ser cancelado.
A frase que foi pronunciada:
“Eu não sei como os cientistas calculam os preços. O que eu comprava para o mês, agora, compro para duas semanas.”
Ilza Dourado, dona de casa
Caso sério
Várias partes da intersecção das faixas recapeadas na W3 Sul emendadas com as novas faixas exclusivas para os ônibus já apresentam esfacelamento, buracos e craqueamentos, tanto em direção ao norte quanto ao sul.
História de Brasília
Enquanto isto, o diretor geral, Afonso Almiro, negase a transferir funcionários não se sabendo como será distribuída a cota de apartamentos daquele Ministério. (Publicada em 26/4/1962)
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Antigo conto árabe, perdido no tempo, cujos título e autor, escritos na areia, foram apagados pelos ventos do deserto, narra a estória de um califa, cuja fama de injustiça e de buscar punições a qualquer preço rendeu-lhe o epíteto do mais cruel dos monarcas que já existiu naquele mundo encantado de outrora.
Certa vez, ao passar pela rua, um morador local foi atingido na cabeça por um pedaço de madeira que se desprendeu da moldura de uma janela. Ferido, foi então procurar reparação e justiça com califa local. Relatou-lhe o ocorrido. O califa, imediatamente, mandou chamar o marceneiro que havia construído aquela janela para puni-lo. Conhecedor das maldades do califa, o marceneiro, por sua vez, culpou a qualidade da madeira que havia adquirido de um vendedor próximo. O califa, sedento em julgá-lo, mandou trazê-lo rapidamente.
Como a fama de maldade do califa era conhecida mesmo em terras distantes, o vendedor da madeira em questão, logo acusou o lenhador, de quem havia comprado a mercadoria. Diante do califa, o lenhador, temendo por sua vida, pôs a culpa na qualidade do aço do machado, que lhe permitia cortar apenas madeira verde. O califa ordenou, então, que lhe trouxesse o fabricante do machado. Tremendo de medo e diante de um monarca que assustava até os animais irracionais, o fabricante do machado culpou o comerciante que lhe havia vendido ferro de má qualidade para a fundição da lâmina.
Então, o califa mandou vir o tal comerciante. Por sua vez, o comerciante do minério de ferro, sem pestanejar, acusou o minerador que morava nas cercanias da cidade. Trazido à presença do califa, o minerador pôs a culpa em sua própria mulher que havia brigado com ele e, como vingança, misturou o ferro com areia do deserto. Apanhada de surpresa e diante de uma situação inusitada como aquela e sem ter como explicar como havia feito tal vingança, a mulher ficou sem uma explicação razoável para o califa. O califa então ordenou: enforquem-na no parapeito da janela que causou o acidente.
Em um mundo, como o nosso, onde as aparências vão se confundindo cada vez mais com a realidade, estórias como essa, por mais absurdas que pareçam, podem servir de alerta para os desencontros entre os fatos e as narrações. De fato, nada é o que nos parece à primeira vista, ainda mais quando estamos predispostos a tomar posição guiados pelo ego ou pelo fígado. Estamos imersos num oceano sem fim de narrativas, naquilo que os estudiosos passaram a classificar como um tempo de prevalência da pós-verdade, ou seja, num momento em que a opinião pública, por interferências diversas, passa a reagir mais impulsionada pelos apelos emocionais do que pelos fatos objetivos em si.
Essa tendência atual de colocar em segundo plano os fatos, detendo-se nas crenças e nas emoções das massas, tornam a população e a opinião pública suscetíveis a todos os tipos de manipulações. Conhecendo bem esse momento sui generis de nossa sociedade é que os manipuladores têm tirado proveitos sem fim desse comportamento. Não é por outra razão que os políticos atuais buscam parcerias com os técnicos de propaganda e merchandising, para dar forma a seus discursos.
Por sua vez, esses técnicos em comunicação ensinam aos políticos como conduzir as massas para o lugar desejado, “ensinando-lhes como educar a população”, não, sem antes, culpar os adversários. Ao empurrar a própria culpa para debaixo do tapete, ou para algo, ou para alguém, nossos políticos, pelo menos os mais espertos, repetem o comportamento do conto acima, repassando suas culpas e erros, temendo o califa moderno que é a própria população e a sua sede de justiça a qualquer preço. No caso em questão, não seria por demais ilógico culpar o rapaz que utiliza a maquininha de remarcação de preços no supermercado pelo aumento atual dos alimentos. Se a culpa não é dele, deve ser do fornecedor da tal maquininha ou, quem sabe, daquele que inventou esse equipamento desumano.
A frase que foi pronunciada:
“Todo homem é culpado de todo o bem que não fez.”
Voltaire
Molhar o Sol
Alguma razão deve haver para o caminhão pipa molhar as flores da cidade em pleno Sol das duas horas da tarde. Mas é bom repensar a rotina. Não faz o menor sentido.
Abusivo
Uma forma bastante arriscada é pagar pelo serviço antes de ser feito. No caso das agências de modelo que cobram com antecedência o trabalho, a promessa é clara. Você paga, mas há possibilidade de não ser chamado. A mesma coisa ocorre com os garotos do futebol. Os pais que precisam pagar pelos testes devem ficar atentos. Há treinadores e olheiros que não cobram para isso.
História de Brasília
O que está feito aqui é de concreto armado e nem as britadeiras, nem as picaretas dos inimigos poderão destruir. A obra tem alcance superior. (Publicada em 26/4/1962)