Sentido da palavra

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

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Deportados dos Estados Unidos, em imagem divulgada pela Casa Branca                     Crédito: Divulgação/Casa Branca

 

Muitos fatos correlatos, pouco ou nada explorados e até propositalmente omitidos por muitos, deveriam ser objeto de honesta reflexão, por todos que se interessam pelos casos envolvendo as recorrentes deportações de brasileiros dos Estados Unidos (EUA) para o Brasil. A começar pelo simples detalhe de que todos os brasileiros que rumaram por livre vontade para os EUA o fizeram porque não encontraram, em sua própria terra natal, condições dignas de prosperar como indivíduo ou mesmo como trabalhadores.

A desesperança e a total falta de perspectivas são os motores que impulsionam os brasileiros a buscar um futuro melhor para si e para os seus lá fora. Gerações após gerações, os brasileiros puderam constatar, da pior maneira possível que, a cada ano que passa, a deterioração da economia em geral os empurra para fora do país. A escolha é entre ficar por aqui e viver desesperançado, trabalhando apenas para sobreviver no dia a dia ou ir em busca de um sonho de melhorar de vida num país onde as coisas acontecem de fato e as chances de um futuro garantido são infinitamente maiores do que as encontradas no Brasil.

É fato que esse tipo de escolha não é fácil e a decisão tem que ser o mais rápido possível, enquanto o indivíduo pode ainda contar com o ânimo e a força própria da juventude. É fato ainda que os brasileiros vêm empobrecendo a cada ano. Para muitos, a emigração é a única e talvez a última oportunidade de melhorar de vida e, portanto, vale a pena arriscar quaisquer meios para entrar nos Estados Unidos, inclusive com risco de perder a vida nessa aventura.

As imensas agruras daqueles que se aventuram a entrar nos EUA demostram bem até que ponto vale correr esses riscos para sair de um país eternamente envolto no submundo do desenvolvimento. Não adianta dourar a pílula com fantasias de que nossos emigrantes são apenas aventureiros sem causa. Cada um desses que saem do país sabe muito bem que o empobrecimento paulatino que vão experimentando é obra de um único personagem: o governo. São os governos que tornam os cidadãos pobres, e não quaisquer outros fatores naturais ou morais.

Com isso, cabem aos governos a criação de condições para que nossos jovens permaneçam em nosso país. Obviamente não com esmolas, mas com ferramentas para construir uma nova vida.

O fato de muitos virem de volta para o Brasil, algemados e acorrentados, demonstra ainda que eles retornam de maneira forçada e contra a vontade. Pudessem escolher em permanecer lá fora, a grande maioria nunca mais voltaria para o Brasil. Houvesse um sincero mea culpa, o governo, que tanto alarde fez com essas deportações, deveria se empenhar para melhorar as condições econômicas do país e com isso reter a fuga de nossos jovens para o exterior.

Ninguém nega o fato de que viver em outro país como forasteiro e imigrante exige grande capacidade e humildade para aceitar as manifestações de xenofobia, que existem e parecem aumentar com chegada de grandes levas de pessoas nos Estados Unidos. Viver como estrangeiro num país distante sempre gera muita dor. Mas, ainda assim, vale a pena, devido às péssimas condições e incertezas de nosso país. Não se enganem: fossem oferecidas condições oficiais de transporte e permanência de nossos jovens nos Estados Unidos, a maioria de nossos compatriotas, no melhor vigor de suas existências, deixariam o Brasil sem olhar para trás.

É isso que deveria ser motivo de preocupação desse e de outros governos. Em entrevistas, os retornados não escondem a decepção com a volta forçada. Muitos até confessam que, na primeira oportunidade, irão tentar novamente ingressar nos Estados Unidos. Não há nada de especial nessa onda de emigração. A maioria dos jovens sul-americanos faz o mesmo caminho em busca de melhores condições de vida na América do Norte, principalmente as populações submetidas a regimes totalitários.

O problema não são as algemas e correntes que os deportados são obrigados a carregar consigo no retorno. O problema real são as algemas e as correntes que aprisionam muitos latino-americanos a seus países, impedindo-os da liberdade e de ter algum futuro digno.

 

A frase que não foi pronunciada:
“Não vejam as algemas dos deportados como uma forma de degradação humana. Retirando as algemas, a degradação continua.”

Dona Dita vendo o noticiário

Foto: poder360.com

 

História de Brasília
O cine Brasília há vários domingos só apresenta filmes proibidos para menores de 18 anos. É o dia das crianças comparecerem ao cinema e estão sempre impedidas. O Serviço de Comunicações do Ministério da Fazenda está com mil processos aguardando tramitação. (Publicada em 26.04.1962)

Era uma vez, eram duas vezes…

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11/01/2017REUTERS/Paulo Whitaker

 

Antigo conto árabe, perdido no tempo, cujos título e autor, escritos na areia, foram apagados pelos ventos do deserto, narra a estória de um califa, cuja fama de injustiça e de buscar punições a qualquer preço rendeu-lhe o epíteto do mais cruel dos monarcas que já existiu naquele mundo encantado de outrora.

Certa vez, ao passar pela rua, um morador local foi atingido na cabeça por um pedaço de madeira que se desprendeu da moldura de uma janela. Ferido, foi então procurar reparação e justiça com califa local. Relatou-lhe o ocorrido. O califa, imediatamente, mandou chamar o marceneiro que havia construído aquela janela para puni-lo. Conhecedor das maldades do califa, o marceneiro, por sua vez, culpou a qualidade da madeira que havia adquirido de um vendedor próximo. O califa, sedento em julgá-lo, mandou trazê-lo rapidamente.

Como a fama de maldade do califa era conhecida mesmo em terras distantes, o vendedor da madeira em questão, logo acusou o lenhador, de quem havia comprado a mercadoria. Diante do califa, o lenhador, temendo por sua vida, pôs a culpa na qualidade do aço do machado, que lhe permitia cortar apenas madeira verde. O califa ordenou, então, que lhe trouxesse o fabricante do machado. Tremendo de medo e diante de um monarca que assustava até os animais irracionais, o fabricante do machado culpou o comerciante que lhe havia vendido ferro de má qualidade para a fundição da lâmina.

Então, o califa mandou vir o tal comerciante. Por sua vez, o comerciante do minério de ferro, sem pestanejar, acusou o minerador que morava nas cercanias da cidade. Trazido à presença do califa, o minerador pôs a culpa em sua própria mulher que havia brigado com ele e, como vingança, misturou o ferro com areia do deserto. Apanhada de surpresa e diante de uma situação inusitada como aquela e sem ter como explicar como havia feito tal vingança, a mulher ficou sem uma explicação razoável para o califa. O califa então ordenou: enforquem-na no parapeito da janela que causou o acidente.

Em um mundo, como o nosso, onde as aparências vão se confundindo cada vez mais com a realidade, estórias como essa, por mais absurdas que pareçam, podem servir de alerta para os desencontros entre os fatos e as narrações. De fato, nada é o que nos parece à primeira vista, ainda mais quando estamos predispostos a tomar posição guiados pelo ego ou pelo fígado. Estamos imersos num oceano sem fim de narrativas, naquilo que os estudiosos passaram a classificar como um tempo de prevalência da pós-verdade, ou seja, num momento em que a opinião pública, por interferências diversas, passa a reagir mais impulsionada pelos apelos emocionais do que pelos fatos objetivos em si.

Essa tendência atual de colocar em segundo plano os fatos, detendo-se nas crenças e nas emoções das massas, tornam a população e a opinião pública suscetíveis a todos os tipos de manipulações. Conhecendo bem esse momento sui generis de nossa sociedade é que os manipuladores têm tirado proveitos sem fim desse comportamento. Não é por outra razão que os políticos atuais buscam parcerias com os técnicos de propaganda e merchandising, para dar forma a seus discursos.

Por sua vez, esses técnicos em comunicação ensinam aos políticos como conduzir as massas para o lugar desejado, “ensinando-lhes como educar a população”, não, sem antes, culpar os adversários. Ao empurrar a própria culpa para debaixo do tapete, ou para algo, ou para alguém, nossos políticos, pelo menos os mais espertos, repetem o comportamento do conto acima, repassando suas culpas e erros, temendo o califa moderno que é a própria população e a sua sede de justiça a qualquer preço. No caso em questão, não seria por demais ilógico culpar o rapaz que utiliza a maquininha de remarcação de preços no supermercado pelo aumento atual dos alimentos. Se a culpa não é dele, deve ser do fornecedor da tal maquininha ou, quem sabe, daquele que inventou esse equipamento desumano.

 

A frase que foi pronunciada:
“Todo homem é culpado de todo o bem que não fez.”
Voltaire

Voltaire. Imagem: reprodução da internet

 

Molhar o Sol
Alguma razão deve haver para o caminhão pipa molhar as flores da cidade em pleno Sol das duas horas da tarde. Mas é bom repensar a rotina. Não faz o menor sentido.

Arquivo pessoal

 

Abusivo
Uma forma bastante arriscada é pagar pelo serviço antes de ser feito. No caso das agências de modelo que cobram com antecedência o trabalho, a promessa é clara. Você paga, mas há possibilidade de não ser chamado. A mesma coisa ocorre com os garotos do futebol. Os pais que precisam pagar pelos testes devem ficar atentos. Há treinadores e olheiros que não cobram para isso.

Foto: guiadobebe.com

 

História de Brasília
O que está feito aqui é de concreto armado e nem as britadeiras, nem as picaretas dos inimigos poderão destruir. A obra tem alcance superior. (Publicada em 26/4/1962)

 

A cama como companheira

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Ilustração: criatives.com.br

 

          Catalogado com o código pela Classificação Internacional de Doenças (CID F32) como depressão, esse distúrbio mental é diagnosticado pelo rebaixamento do humor, redução da energia e diminuição de atividades, podendo ser de forma leve, moderada ou grave. Trata-se de uma enfermidade, que por suas repercussões na deterioração da qualidade de vida do indivíduo, pode levá-lo à morte, nos casos mais graves. Segundo relatório elaborado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), reunindo 18 países, o Brasil é o país, de renda baixa, com maior prevalência de casos de depressão no continente americano, perdendo apenas para os Estados Unidos.

         Na América Latina nosso país aparece com um maior número de casos, atingindo cerca de 5,8% da população ou quase 12 milhões de brasileiros. O mais assustador é saber que essa é uma doença que vem acometendo cada vez mais pessoas, dentro e fora do país. Estimativas de pesquisas feitas pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) mostram que mais de 300 milhões de pessoas no mundo sofrem de depressão. No Brasil, estima-se que, nos próximos anos, até mais de 15% da população irá sofrer com essa doença. Pudessem escolher entre as doenças existentes, a maioria dos entrevistados nessas pesquisas preferiria qualquer outra enfermidade, mesmo o câncer, do que a depressão, pois, segundo relatos, a experiência com essa doença seria semelhante a uma espécie de morte em vida, com o indivíduo totalmente entregue e rendido às forças do destino.

          Para muitos, a depressão se traduz por um pedido de socorro a quem não pode ajudar ou retirar a imensa angústia interna. Infelizmente o mundo e, sobretudo, o Brasil, não enxergam o problema dessa maneira, preferindo acreditar que tudo não passa de encenação ou frescura, mesmo diante de inúmeros casos dramáticos de pessoas que resolveram tirar a própria vida, como o único e derradeiro remédio para a dor.

         Desenho feito por um paciente com essa enfermidade mostra o indivíduo atirado na cama, completamente entregue contra o colchão, que, mesmo sendo a única companhia nessas horas, transformou-se numa espécie de buraco escuro e sem fundo a tragar seu corpo para as profundezas de um abismo mental.

         Entre nós, a cidade de Porto Alegre aparece com o maior percentual de casos de depressão, com 17,49% de seus habitantes com essa enfermidade. No Nordeste, Natal é a cidade com o maior número de adultos diagnosticados com depressão, segundo pesquisa da Vigitel 2021, do Ministério da Saúde. Em Belo Horizonte, as mulheres lideram o ranking com 23,03% com essa doença. No Distrito Federal o número total  aproximado de pessoas de ambos os sexos e variadas idades, com essa doença,  totaliza algo como 11,18% de indivíduos com depressão, ou cerca de 335,4 mil habitantes. É também um número alto e que, à semelhança de outras cidades, tende a crescer de forma quase exponencial.

          Somente no ano passado, segundo apenas estimativas oficiais, 75,3 mil trabalhadores pediram afastamento em razão da depressão, com direito a recebimento de auxílio-doença. Em 2022, 209,124 pessoas foram afastadas do trabalho por transtornos mentais diversos. Nos últimos cinco anos, o número de trabalhadores de ambos os sexos aumentou mais de 50%, pulando de 170.830, em 2015, para 289.677, em 2020, isso segundo a Central Única dos Trabalhadores (CUT). Observem que, nesses casos de afastamento, estão listados além das doenças mentais clássicas, casos de assédio moral, que podem, com facilidade, resultar em doença como a depressão.

         Aliás, essa é uma das causas mais recorrentes que levam milhares de trabalhadores à depressão todos os anos, com seríssimos prejuízos para o trabalhador e para a economia do país. Não por outra razão, o mês de setembro, foi escolhido como data para a campanha nacional de prevenção ao suicídio (setembro amarelo). Notem que os transtornos mentais tem sido, até agora, ao menos, a terceira causa que mais afasta o empregado do trabalho, isso segundo a própria Previdência Social, que vem assistindo a um acúmulo de pedidos de afastamento numa proporção crescente de mais de 33 afastamentos a cada hora. São números tão assustadores como a própria doença em si e que irá requerer, cada vez mais, a atenção das autoridades de saúde.

 

A frase que foi pronunciada:

“A razão pela qual as vítimas às vezes permanecem envolvidas em jogos pervertidos por muito tempo é que elas estão cheias de vida e querem dar vida até mesmo à pessoa pervertida, apesar da impossibilidade.”

Marie France Hirigoyen

 

Revoada

Gustavo Henrique Roberto Pacheco e Mayumi Enokibara são dois adolescentes que conseguiram uma chance de brilhar no Miami City Ballet. É enternecedor ver tantos talentos artísticos e mentes brilhantes abandonarem a esperança no Brasil.

 

História de Brasília

Porta-vozes bem remunerados continuam, na imprensa carioca, procurando desprestigiar Brasília, e tentam atingir, agora, a equipe que a construiu. A defesa pela calúnia surge no cenário, mas o povo saberá discernir.(Publicada em 26.04.1962)

União contra a injustiça

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Charge do Duke

 

Longe da presunção e da imodéstia de pretender indicar quais os corretos caminhos da Justiça aos doutos juízes, mesmo num momento em que se assiste a um protagonismo cada vez maior dessas instituições na vida pública do nosso país, nunca é demais expressar o desejo de buscar respostas claras para uma dúvida que vem incomodando boa parte de nossos cidadãos: afinal, o que é justiça? Seria aquilo que exala da cabeça ou do fígado dos magistrados ou aquilo que expressa a letra fria das leis?

Independentemente dos resultados que possam advir dos vereditos, essa é uma discussão válida. Nos casos tipificados em nosso Código Penal, nos quais estão elencados os mais diversos tipos de crime e suas respectivas punições, o veredito, quando foge do poder de decisão do juiz, é levado a júri popular, em que a voz de Deus parece ser ouvida e tudo é resolvido sem maiores dificuldades. Nessa seara, as decisões são mais tranquilas, apoiadas na ciência humana do direito.

Mas a questão toda não é essa. O problema em dar uma resposta aceitável pelo cidadão escala uma montanha íngreme e perigosa, quando se busca saber o que é justiça no mundo político. Decerto que essa é uma discussão que, por suas características próprias, vai se transformando, cada vez mais, num tema tabu e, como tal, deveria ser deixada de lado, pois esses são tempos de grande confusão.

Sabe-se que a justiça é tudo o que está em conformidade com o direito, pois não parece razoável questionar a justiça de sua causa, principalmente, quando o que está em jogo é a ordem social e uma pretensa igualdade entre todos. Também, aqui, não se pode dissociar justiça de igualdade. O que é certo, nesses caminhos sinuosos percorridos pela justiça, é que justiça não é vingança ou feita como retribuição.

Um item da maior importância, a dar o norte à justiça, é o da liberdade. Nesse quesito: a maior de todas as leis, ou seja, aquela que deveria prevalecer sobre as demais. No nosso caso, a Constituição de 1988, que traz logo em seu preâmbulo, a questão da liberdade e como a justiça poderá ser feita por esses caminhos.

Para um país que conheceu de perto as desumanidades praticadas no período da escravidão, nada mais natural. Assim, estão arroladas, na Constituição em vigor, a liberdade de ir e vir; a liberdade de expressão; a liberdade de pensamento; e a liberdade de manifestação. Mais do que esses conceitos básicos, é preciso refletir e entender para que servem as leis. A resposta mais aceitável, nesse caso, seria para fazer justiça. Alguns diriam que são para manter a ordem social. Outros dirão que serve para proteger os direitos das pessoas. Outros ainda dirão que serve para que possamos confiar no governo. Os mais antenados dirão, de forma certeira, que é para fazer justiça. Ocorre que a justiça é feita basicamente com a união de pessoas no combate diário às injustiças. Sejam elas quais forem. Nesse sentido, a justiça diz respeito a todos, e não somente aos juízes.

Se todos não se unirem para combater as injustiças, absolutamente ninguém escapará um dia de ser também injustiçado. É como repetia o filósofo de Mondubim: “Vivemos um ao lado dos outros, mas não em união com os outros”. Temos que nos defender uns aos outros contra as injustiças. Por isso é que, numa sociedade em que prevalecem o egoísmo e a indiferença, as injustiças ocorrem com mais facilidade. Não por outra razão, a tão almejada paz exige da justiça, além da verdade e liberdade, um atributo pouco explorado, mas essencial, que é o amor. Nesse caso o amor e respeito pelo próximo, afinal nós mesmos somos esse próximo.

Podemos inferir que os caminhos da justiça são mais planos e retos quando todos passam a somar forças contra as injustiças.

 

A frase que foi pronunciada
“A justiça é a rainha das virtudes republicanas e, com ela, se sustenta a igualdade e a liberdade.”
Voltaire

Foto: reprodução da internet

 

2D
Com uma exposição criativa, Murilo Frade retrata Expressões em 2D: do daltonismo à dislexia. No Espaço Cultural Athos Bulcão, no Flyer do Plenário da CLDF. A abertura será no próximo dia 12, e seguirá até 7 de março. Veja o portfólio no link Visto, lido e ouvido – 2D.

 

 

Desleixo
Assunto que tem despertado o interesse de legisladores é o consumo de flúor pelos brasileiros e as consequências para a saúde. Da água à pasta de dente. Assim como a margarina, que passou se esgueirando da lei turbinada pelo lobby, pode ser que nada aconteça em favor dos consumidores.

 

História de Brasília

Do meio da coluna em diante, o sr. Hélio Fernandes deixou de atacar o sr. Laranja Filho, e passou a enumerar suas ‘providências” para “moralizar a companhia. (Publicada em 25/4/1962)

O lobo interno

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Foto: Agência Brasília

 

Existe um fenômeno arraigado em nossa cultura que deveria nos tornar obrigatoriamente objeto de estudo para, quem sabe, buscar uma terapia coletiva ou mesmo um tratamento mais objetivo e firme, antes que essa mania venha a destruir-nos como nação ou país. A questão aqui é ir ao encontro de respostas que possam esclarecer essa propensão nacional em depredar todo e qualquer bem público, seja ele de valor artístico, histórico ou outro qualquer ao alcance das nossas mãos. Nossas cidades são o reflexo dessa mania niilista coletiva.

Essa situação se agrava ainda mais quanto mais nos afastamos dos centros urbanos, onde o policiamento é mais escasso, se não, inexistente. Com isso, nada escapa da ação quase coordenada da multidão de vândalos. Basta um descuido das autoridades e lá se vão estátuas, bancos de praça, ornamentos, postes de iluminação, jazigos, universidades, tampas de bueiros, chafarizes e todo e qualquer equipamento mobiliário público.

Nessa insanidade coletiva, entram ainda ônibus e trens urbanos, metrôs, ponto de paradas, rodoviárias, banheiros públicos, placas de orientação. A sequência de bens da coletividade que são pichados, quebrados, incendiados, roubados ou que desaparecem no ar, é infinita. Há como que uma espécie de compulsão por arruinar o que é de todos, transformando nossas cidades em cenários de guerra.

Talvez, essa psicose em massa reflita um pouco as consequências de um país, onde, aproximadamente, 60 mil pessoas são vítimas de violência, a cada ano. Sabe-se, hoje, que morrem mais pessoas assassinadas, em nosso país, do que na maioria das guerras e conflitos que ocorrem pelo mundo, na atualidade. Desse modo, para um país reconhecidamente violento, nada mais natural do que um cenário de fundo, onde tudo parece ruínas.

Num primeiro momento, o que parece claro é que duas medidas de profilaxia se mostram necessárias e urgentes. A primeira, é a educação de base, com as escolas incumbidas de ensinar as boas práticas urbanas, ensinando nossas crianças a respeitar e preservar todo e qualquer bem público, afinal, eles são para o usufruto comum e estão onde estão graças aos recursos oriundos de cada um de nós. É preciso que as escolas se ocupem da tarefa de civilizar ou recivilizar as novas gerações. Talvez, essa seja uma missão mais importante ou prioritária do que ensinar outras disciplinas. Antes até do que aprender a ler e escrever e fazer outras operações de aritmética, é necessário aprender a ser um cidadão. Esse papel humanizador das escolas parece ter se perdido com o tempo em meio a outras exigências enganosamente mais urgentes.

Outra media profilática necessária é a punição exemplar para os protagonistas dessa psicose em massa. Nesse sentido, somente a rápida intervenção punitiva, obrigando vândalo a pagar pelos estragos, pintar muros e paredes ou cumprir pena de restrição de liberdade pode resolver parte desse problema que afeta a todos.

É do conhecimento das áreas de psicologia que ambientes degradados fisicamente, sujos, mal iluminados ou sem segurança, aumentam também os casos de distúrbios mentais, pois o indivíduo, mesmo inconscientemente, vê-se imerso num cenário de pesadelo, onde todo o entorno parece se constituir numa ameaça. Não é por outra razão que a maioria de nossas cidades são vistas pelos estrangeiros como feias, deterioradas ou ameaçadoras. Essa percepção negativa tem consequências também negativas para nossa economia, pois afugentam os turistas.

É preciso destacar que essas atitudes irracionais em massa, de destruir nossos bens públicos, decorrem ainda e com grande frequência dos exemplos de comportamento que vêm de cima, com o comportamento recorrente de nossas autoridades do não respeito e comedimento pelos recursos públicos. Lembrem-se que o vandalismo é sempre uma corrupção do indivíduo ou das massas, que enxergam, nessas atitudes, um meio de vingança contra os poderosos e seus modos de agir no comando do Estado.

Nesse caso, como ensinava o psicólogo Gustave Le Bom (1841-1931): “As massas nunca têm sede de verdade; elas se afastam de evidências que não agradam seus gostos, preferindo deificar o erro, caso este as seduza.” Mais do que deificar os erros, os brasileiros buscam, nessas manifestações de depredação dos bens públicos, imitar tudo aquilo que enxergam nos andares de cima. Esse modelo de comportamento nacional demonstra também a urgência, cada vez mais premente, de retirar esse lobo que parece devorar cada indivíduo de dentro para fora, transformando-o numa espécie sui generis, digna de todo o cuidado de uma junta médica e mental.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Um homem que rouba por mim, fatalmente, roubará de mim.”

Theodore Roosevelt

Theodore Roosevelt. Foto: wikipedia.org

 

História de Brasília

Os três diretores acusados pelo sr. Hélio Fernandes como “traquejados no manejo da maior máquina de corrupção” são os senhores Frank Ballalai May, Vasco Viana de Andrade e Jaime Almeida. O dr. Frank, antes da Novacap, era diretor do Banco do Nordeste. Valeu sempre como um homem de bem. O dr.Vasco substituiu o dr. Moacir Gomes e Sousa e o dr. Bernardo Sayão. Fêz um milhão e meio de metros quadrados de asfalto dentro do Distrito Federal, afora as outras obras, e o dr. Jaime Almeida, lidando sempre com a parte financeira, tem mantido a impecabilidade que todos conhecem. (Publicada em 25.04.1962)

Feliz 2025, de coração

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Foto: reprodução da internet

 

         Vistos por alienígenas do espaço sideral ao nosso redor, nossas repetidas comemorações pela chegada do ano novo, não fazem sentido algum, afinal, o planeta completou apenas mais uma volta em torno de sua estrela, o sol, como, aliás, tem feito nestes últimos bilhões de anos. É toda uma mecânica celeste que parece funcionar como um complexo e delicado relógio suíço. O significado desse movimento de translação pode ser entendido tanto pelo cérebro como pelo coração. O tempo nos é caríssimo. Em ambos os sentidos. Em nossa mecânica orgânica, o coração é peça fundamental. Ele marca, de fato, o tempo.

         A idade de cada um de nós é mais precisamente aferida, quando verificamos um simples dado: a quantas horas nossa bomba hidráulica segue em funcionamento. Isso desde sua formação dentro do útero. Se o coração de uma pessoa normal tem um batimento cardíaco de, em média, 75 vezes por minuto, podemos dizer que um indivíduo de vinte anos possui, dentro do peito, um órgão que já vem trabalhando a 175.316.4 horas. Ou uma peça que já produziu aproximadamente 788.923.800 trabalhos mecânicos de sístole e diástole, mantendo o corpo repleto de vida.

         Neste ano, com nada de novo à frente, cuide de seu coração. Isso vale, inclusive, para aqueles que afirmam não possuir um. Além de ser essa espécie de relógio a medir o nosso tempo, o coração é também um órgão que parece ter vida própria, com um cérebro próprio, com neurônios que pensam. Os pesquisadores o chamam de mini cérebro. Deram até nome técnico para ele: Sistema Nervoso Intrínseco Cardíaco (SNIC).

          A medicina bioeletrônica já sabe que o coração possui, ao seu redor, grupos organizados de neurônios, cada grupo com funções específicas e comuns, que é a saúde do sistema cardíaco, o nosso coração. Deixando de lado os marcapassos, cada vez mais precisos e duradouros, o coração possui funções além da mecânica material, servindo de ponte entre o corpo e o espírito nele contido. A questão é simples e se resume em observar que sensações, sentimentos e pressentimentos de angústia e alegria e tantas outras experiências etéreas, captadas ao nosso redor,  são impressas no coração, provocando sentimentos de aperto ou felicidade. O coração também é luz e habita nas esferas do mundo esotérico, sendo considerado um centro de energia vital e emocional do ser humano na espiritualidade. Nesse campo, os místicos dizem que é, por meio do coração, que entramos em contato com o divino, possibilitando experiências como paz interior, amor incondicional.

          Dizem eles que o Chakra do Coração, ou seja, a energia que emana do seu coração, é responsável pelo poder emocional, esperança, confiança, entrega, aceitação, inspiração, com paixão e entrega à vida. Teríamos, assim, um cérebro da razão e um cérebro da emoção, no centro do peito. Talvez, por isso, todas as malquerenças acabam sempre em expressões como: “fulano não tem coração” ou “tem um coração de pedra ou de gelo”. O endurecimento do coração é um dano ao sistema cardíaco. Dizem, com razão, que quem é alegre adoece menos e vive muitos anos. Por que seria? É fácil de entender quando se observa que a alegria não parte da cabeça, mas do peito. Por isso é que se acredita que as impressões do mundo ao nosso redor são feitas em parceria direta com o coração. Feliz 2025, de coração!

 

 

 

A frase que foi pronunciada:

Devido à natureza política do cinema, a produção cinematográfica partidária, especialmente quando o assunto é próximo ao coração do cineasta, tende a ser a norma, e não a exceção.

Ben Edwards

 

 

Prata da casa

Recebe o Título de Professor Emérito pela Universidade de Brasília, Hary Schweizer, com solenidade marcada para amigos e admiradores dia 8 de janeiro, às 17h, no auditório da reitoria. A outorga foi idealizada pela reitora professora Rozana Reigota Neves.

 

Sem julgamentos

Nas primeiras horas da manhã era possível ver um carro estacionado junto às barracas improvisadas de pedintes no final da L2. Foto a seguir.

Foto: Arquivo Pessoal

 

História de Brasília

Lavrou a sentença de morte, porque a ante sala do presidente da Novacap jamais foi lugar para negociata. Jamais alguém recebeu dinheiro da Novacap dando, por fora, cheque ao portador. E isto estava acontecendo. A reação era de se esperar, ante o escandalo que dominava. (Publicada em 25.04.1962)

Comissões e omissões

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Charge do Cazo

 

É sabido que, em nosso país, a cada enxadada, mais e mais minhocas vão brotando do chão. Essa sentença seria positiva se fosse apenas uma referência à fertilidade do solo brasileiro. Ocorre que esse antigo ditado popular se refere justamente a uma nefasta herança cultural e política que faz com que, quanto mais se investiga um caso suspeito neste país, mais e mais vão surgindo fatos a demonstrar ramificações e ligações profundas do escândalo com pessoas poderosas dentro e fora do governo.

O melhor, então, é não investigar ou investigar sem chegar a conclusões definitivas, ou mesmo deixar que o assunto caia no esquecimento e vá parar no fundo de uma gaveta empoeirada e escura nos labirintos burocráticos dos arquivos mortos. Exemplos desse aparecimento de minhocas em nossa história logo no início de investigações são inúmeros e provam que a maioria dessas investigações, por suas possíveis e perigosas repercussões nos altos escalões, é logo deixada de lado. Afinal, a vida segue, a memória é curta e o melhor é não cutucar vespeiros.

Para quem se interessa pelo assunto, basta estudar as centenas de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) ou as operações deflagradas pela Polícia Federal ao longo das últimas décadas. A situação é tão surreal que muitas dessas investigações, iniciadas há anos, sequer tiveram ainda um ponto-final, ficando as evidências suspensas no ar.

As CPIs continuam, no entanto, a representar um dos dispositivos mais importantes do Poder Legislativo para investigar ações duvidosas dos governos. O problema aqui é que, quando uma dessas investigações ganha corpo, pelo número de assinaturas de apoio, logo os envolvidos cuidam de indicar nomes de sua bancada para fazer desandar os trabalhos dentro dessas comissões.

Também aqui os exemplos são diversos. Os dois presidentes que mais foram alvo de CPIs são Collor e Lula, por razões diversas, sendo que a CPI do Collor, também chamada de CPI do PC Farias, acabaria no impeachment daquele presidente em 1992. Anos depois, o Supremo Tribunal Federal o absolveu por falta de provas nas acusações de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Esse caso é curioso, pois, em maio de 2023, o próprio Supremo, por maioria dos ministros, condenou o ex-presidente a pena de oito anos e 10 meses em regime fechado. O caso ainda não teve um desfecho.

Com a saída de Collor, um ano depois tem início a CPI dos Anões do Orçamento, em 1993, quando uma comissão passou a investigar desvio de dinheiro do Orçamento da União por deputados e senadores que manipulavam as emendas parlamentares com o objetivo de desviar esses recursos para o próprio bolso. Seguiu-se a CPI do Judiciário em 1999, que apurou denúncias de corrupção nos tribunais, com desvios de verbas públicas destinadas às obras do TRT paulista.

Já em 2003, foi instalada a CPI do Banestado, cujo relatório final, pedindo o indiciamento de 91 pessoas, não foi sequer votado. Em 2005, tem início a CPI dos Correios. Nessas investigações, a cada enxadada, iam se descobrindo novas ninhadas de minhocas, com esse escândalo redundando no chamado Mensalão, em que a prática de compra de parlamentares pelo então governo foi revelada.

Vem depois a CPI dos Bingos, que investigou o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. Por suas trapalhadas, essa CPI passou a ser conhecida como CPI do Fim do Mundo, já que arrolava praticamente todas as autoridades do Executivo ou ligadas a ele. Um ano depois, é criada a CPI dos Sanguessugas, que passou a investigar 69 deputados e três senadores acusados de desviar recursos da área de saúde. Nenhum deles foi punido.

A CPI que não houve, ou seja, a CPI da Lava-Jato, não teve futuro, já que os próprios envolvidos no maior escândalo de corrupção da história deste país queriam investigar não os meliantes e os poderosos envolvidos, mas a força-tarefa do Ministério Público encarregada das investigações. Coube à então Polícia Federal, num tempo infensa a ideologias exóticas, cuidar desse escândalo, que resultou, pela primeira vez em nosso país, na prisão de poderosos e intocáveis, posteriormente inocentados, um a um, pelo Supremo.

 

A frase que foi pronunciada:
“O melhor programa econômico de governo é não atrapalhar aqueles que produzem, investem, poupam, empregam, trabalham e consomem”
Irineu Evangelista de Sousa, o Visconde de Mauá

Irineu Evangelista de Sousa, Visconde de Mauá. Foto: wikipedia.org

 

História de Brasília
Diz o sr. Hélio Fernandes que o sr. Francisco Laranja Filho passou a presidir de fato a companhia, e termina: “Lavrou sua própria sentença de morte.” (Publicada em 25/4/1962)

A vez dos bichos

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Foto: blog.petiko.com

            Ao contrário do que ocorre, de maneira positiva, com os seres humanos, a humanização dos animais, ou seja, a atribuição de características exclusivamente humanas, sobretudo, emocionais ou comportamentais aos animais de estimação, como cães e gatos e outros, parece ser uma tendência atual, que tem levado muita gente a estabelecer relações complexas e mesmo confusas com os bichos.

            Vivemos tempos em que vamos assistindo a uma espécie de interlocução e entendimento íntimo, antes exclusivo aos seres humanos, elevando os bichos de estimação ao mesmo patamar da nossa espécie. É preciso recordar que o fenômeno de humanização se deu num contexto necessário e essencial para que as pessoas pudessem encontrar um modelo de equilíbrio e harmonia que permitisse a convivência pacífica e produtiva em sociedade.

            Um bom exemplo pode ser conferido, já no final da Idade Antiga, com a decadência do Império Romano, fustigado pelas diversas invasões bárbaras vindas do Norte da Europa. Naquele momento, a disseminação do movimento cristão, com sua força espiritual e apelo pelo amor e concórdia entre os homens, contribuiu, de forma profunda, para a humanização dos povos, impedindo que as sociedades daquele período regredissem ao estágio evolutivo de selvageria, onde a força e a irracionalidade seriam as normas.

            O profundo sentimento de humanização e paz, trazido pelo cristianismo, como filosofia de fé, permitiria que os povos do Ocidente voltassem a se reunir em sociedades organizadas durante os mais de mil anos que durou a chamada Idade Média. Desse modo, a humanização do indivíduo é sempre necessária, pois resgata-o da barbárie e de um estado animalesco, onde os instintos prevalecem sobre a razão. Portanto, a racionalidade é também um atributo da humanização. Temos assim que sem esse e outros movimentos de humanização do homem, como os propagados durante o Renascimento, não haveria possibilidade do estabelecimento da cultura Ocidental. Lembrando que o Humanismo foi também um movimento filosófico, literário e artístico, que surgiu em parte da Europa no século XIV, e que buscava justamente a valorização da razão humana e o entendimento do mundo ao redor de forma crítica, tudo dentro dos parâmetros que pregavam a supremacia e a inviolabilidade da dignidade humana.

             Retornando ao aqui e agora confuso e que marca, ao mesmo tempo, a transição de século e de milênio, assistimos estupefatos ao fenômeno da antropomorfização dos animais, com muitos indivíduos buscando conferir, aos animais de estimação, os mesmos valores morais, sociais e sentimentais característicos dos homens. Hoje, um gato, cachorro ou outro animal passou a integrar a família dos humanos, como se humano fora, com todos os seus direitos e prerrogativas. Alguns levam essa humanização dos animais ao extremo, com seus bichos de estimação comendo no mesmo prato e dormindo na mesma cama de seus donos. É comum ver pessoas beijando seus pets na boca, levando-os aos salões de beleza, pagando plano de saúde, organizando festas de aniversário e dando todo o conforto do mundo aos seus bichos. Também é comum observar pessoas preferindo conviver com esses bichos do que com outros humanos. As razões são muitas, mas todas elas carecendo de explicações lógicas. A situação chegou à tal paroxismo que, hoje, as clínicas médicas para animais rivalizam com as clínicas para humanos.

             São dentistas, fonoaudiólogos, psicólogos, escolas, creches, transporte exclusivo, hotéis e mesmo reservas de passagens áreas para esses pequenos seres. Há ainda seguros, contas bancárias e outros mimos para os animais. Mesas cirúrgicas e toda a complexidade da medicina moderna também estão a postos para atender esses seres. Muitos indivíduos chegam a declarar publicamente que se tivessem que escolher entre seu pet e um outro ser humano ficariam com a primeira opção, pois esses são mais fiéis.

            Ocorre que toda essa projeção de sentimentos feitas do humano para os animais demonstra, no fundo, uma carência e uma fantasia, que busca transformar o que é naquilo que nunca será de fato. Ou seja, os tempos nebulosos e indecisos que atravessamos, com as pessoas cada vez mais afastadas uma das outras, a solidão abriu as portas para esse novo e intrigante modelo de vida social. Vemos casais preferindo criar animais domésticos do que filhos; solteiros e solteiras preferindo seu cão e gato, ao invés de buscar companhia humana.

            De olho nessas preferências, o comércio abriu um amplo flanco de atendimento aos pets e faturam como nunca. Os números nesse nicho específico já beiram os R$ 100 bilhões em nosso país. Para os psicanalistas, essa tendência atual muitas vezes resulta no desenvolvimento, cada vez mais forte, de uma espécie de amor narcisista, onde nada, nem ninguém é suficientemente bom para nos fazer companhia. Exceto os pets. Trata-se de uma patologia que transfere as relações e os desejos das pessoas para os animais. Muitas dessas pessoas, segundo entendimento da Psicologia, desejam e esperam, de seus pets, uma espécie de amor dadivoso, sem riscos, muito aquém das possibilidades do amor entre os humanos, onde há de tudo, amor e ódio, luz e sombras.

 

A frase que foi pronunciada:

“Felizes os cães, que pelo faro dão com os amigos!”

Machado de Assis

Foto: escritas.org

 

História de Brasília

Os três diretores acusados pelo sr. Hélio Fernandes como “traquejados no manejo da maior máquina de corrupção” são os senhores Frank Ballalai May, Vasco Viana de Andrade e Jaime Almeida. O dr. Frank, antes da Novacap, era diretor do Banco do Nordeste. Valeu sempre como um homem de bem. O dr.Vasco substituiu o dr. Moacir Gomes e Sousa e o dr. Bernardo Sayão. Fêz um milhão e meio de metros quadrados de asfalto dentro do Distrito Federal, afora as outras obras, e o dr. Jaime Almeida, lidando sempre com a parte financeira, tem mantido a impecabilidade que todos conhecem. (Publicada em 25.04.1962)

A exceção e a regra

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Charge do Amarildo

 

Em tempos de crise e incertezas, é sempre prudente ouvir e aprender com aqueles que fazem de sua vida profissional um contínuo processo de pensar e repensar o país. É o caso aqui de prestar a atenção na longa exposição feita há poucos dias pelo eminente professor universitário, cientista político e filósofo, Fernando Schuler. Depois de mais de 35 anos de vigência da Constituição de 1988, talvez tenha chegado o momento de refletir sobre o legado dessa Carta-cidadã, suas consequências e o que esse documento tem a ver com o momento atual que o país atravessa.

Num país tão dividido, como temos hoje, com uma história política tão turbulenta, com duas ditaduras no século 20, havia o pensamento que, finalmente, foi construída uma democracia liberal, avalia o professor. Ou seja, tínhamos uma democracia fundada em regras e direitos constitucionais, que seriam respeitados e, em torno dos quais, haveria um forte consenso, em vários níveis, inclusive, e principalmente, na estabilidade jurídica. Não foi o que obtivemos, afirmou.

Para reforçar essa sua avaliação, o professor diz que a atual crise o levou a reler o clássico de Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil, em busca de pistas sobre o atual momento. Nele, Fernando Schuler encontrou uma dessas pistas contidas na obra de 1936, que indicava que, historicamente, o Brasil nunca assimilou de fato a impessoalidade clássica do liberalismo. Pelo contrário, nossa formação histórica, nossa cultura, sempre favoreceu a afetividade sobre a frieza das regras. A observância das regras é fundamental numa democracia liberal. Esse ponto está contido no capítulo 5, intitulado “O homem cordial”.

Ao contrário da cultura anglo-saxônica, onde há uma prevalência do cérebro nas decisões, no Brasil essa atitude é mais centrada no coração e na afetividade, ou seja, nas paixões. Por isso, o personalismo e o patrimonialismo imperam nas decisões do governo. E essa particularidade tem sido mais que nefasta para o país e tem nos afastado de um desenvolvimento efetivo e duradouro, já que tudo no governo tem dependido das relações de amizade, convicções e de proximidades perigosas para um Estado que busca a democracia e a igualdade.

O que temos por essas bandas é a igualdade dos iguais. Para o restante, os rigores da lei fria. Em países como os Estados Unidos, o que vale é o que está nas leis e não o que um indivíduo ou outro acha ou decodifica, por mais que a situação seja complexa. “Ou estamos, todos nós, subordinados às mesmas regras do jogo, ou estamos subordinados à interpretação de alguém sobre as regras do jogo”, diz o professor.

Para Schuler, quando os direitos individuais e coletivos passam a ser subordinados à visão de alguém que passa a “achar” quais são esses direitos, o perigo aparece. As garantias, os direitos e as prerrogativas não podem, segundo esse pensador, variar de acordo com a interpretação de quem detém o poder num determinado instante. “O direito é feito de palavras”, diz. O que equivale a dizer: se mudamos o sentido das palavras, mudamos também o sentido do direito.

O espaço deve ser sempre a exceção, e não a regra. Em nosso país, ensina o filósofo, se isso virar regra, teremos um sério problema. O fato é que as interpretações, em cada um dos campos dessa nossa polarização política, não refletem a realidade e se baseiam muito mais nas ideias que cada um quer ver efetivadas. A verdade é que o caminho para a consolidação de uma realidade do tipo liberal passa longe dessas ideias polarizadas. Afinal, quem pode afirmar que a democracia não poderia ser defendida dentro das regras existentes de democracia? Questiona Schuler. “O fato de que a gente tenha se desviado das garantias institucionais, dos direitos individuais, da liberdade de expressão, tal como reza a Constituição brasileira, na minha opinião, apontou uma falha de nossa democracia, e não uma fortaleza da nossa democracia, como muitos querem fazer crer”, alertou.

É preciso, na visão desse professor, que todos entendam que hoje nos punimos pelo o que não está escrito em nosso ordenamento jurídico, mas pelo o que se interpreta desse ordenamento. Assim, hoje são punidas pessoas por delito de opinião, o que representa uma censura. Censura essa que é expressamente proibida em nossa Constituição democrática. Assim, temos vários brasileiros que respondem por delito de opinião e banidos das redes e apagados do meio público. O que temos hoje, longe do nosso ordenamento jurídico, é simplesmente o abuso de poder e não outra coisa qualquer.

 

 

A frase que foi pronunciada:
“O Espírito que prevalece entre os Homens de todos os graus, todas as idades e sexos é o Espírito da Liberdade.”
Abigail Adams, 1775

Abigail Adams. Foto: Getty Images. (1744-1818)

 

História de Brasília
Os três diretores acusados pelo sr. Hélio Fernandes como “traquejados no manejo da maior máquina de corrupção” são os senhores Frank Ballalai May, Vasco Viana de Andrade e Jaime Almeida. O dr. Frank, antes da Novacap, era diretor do Banco do Nordeste. Valeu sempre como um homem de bem. O dr. Vasco substituiu o dr. Moacir Gomes e Sousa e o dr. Bernardo Sayão. Fez um milhão e meio de metros quadrados de asfalto dentro do Distrito Federal, fora as outras obras, e o dr. Jaime Almeida, lidando sempre com a parte financeira, tem mantido a impecabilidade que todos conhecem. (Publicada em 25/4/962)

Em busca do Santo Graal

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Foto: Divulgação

É uma pena que nenhuma das mais importantes obras da literatura mundial entre para a grade curricular das escolas públicas. Nossos jovens acabam perdendo a oportunidade de entender o mundo ao redor. Sem esse entendimento, tornam-se também presa fácil dos labirintos opressores do mundo, diluídos num amálgama disforme e sem propósitos.

Na luz do conhecimento, estão os mapas e os passaportes para o caminhar com o salvo-conduto necessário para a construção de uma vida digna, longe das teorias que buscam transformar os homens numa espécie de formigueiro coletivo, cujo único propósito é o da sobrevivência. A perda do individualismo e a deformação da persona de cada um, tão caras aos renascentistas e que tantos progressos trouxeram para o entendimento e desenvolvimento da humanidade, é, talvez, a mais severa punição infligida aos homens.

Infelizmente, nossas escolas, por suas precariedades humanas e materiais prejudicam mais do que ajudam na formação humanística dos alunos. Prejudicam porque ensinam e incentivam a competição entre os indivíduos, tornando o processo doloroso para os alunos e fonte de rivalidades. Prejudicam também porque não estimulam a correta cooperação, preferindo o caminho mais fácil da pasteurização do ensino, levando os alunos a trabalhar em grupos, em que apenas uma minoria participa e é ativa e o restante, mesmo sem esforço algum e se mantendo passivo, fica com os mesmos louros.

Talvez o que fique de positivo nessas experiências coletivistas, é que esse método mostra, na prática, como funcionam certas teorias políticas comuns e socializantes, na qual as massas produzem as riquezas que são incorporadas apenas pelas elites do aparelho partidário. O Santo Graal buscado pela humanidade é, para além das recompensas espirituais, a felicidade na Terra, boa parte do propósito humano.

É certo que para atingir tal estado de satisfação e recompensa, as necessidades individuais precisam ser atendidas, tais como direito à liberdade de opinião, igualdade perante as leis, direito à propriedade entre outros ganhos. Quando quaisquer desses direitos não são atendidos, o que se tem é o esmagamento do indivíduo e sua transformação numa espécie de zumbi sem vontade própria. Talvez seja esse um dos principais objetivos da escola: mostrar a cada um as possibilidades infinitas do indivíduo, além de fazê-lo entender os perigos de que certas doutrinas políticas coletivistas apontam para um futuro oposto do que prometem e são, sobretudo, um caminho seguro para a servidão e a postergação da felicidade.

E é aí que entra a obra como o Caminho da Servidão do ganhador do Prêmio Nobel de economia, Friedrich von Hayek (1899-1992). Óbvio que uma obra desse quilate ou similares, como 1984, de George Orwell (1903-1950) passam longe da grade curricular de nossas escolas, por motivos que nem mesmo os professores mais preparados sabem explicar. No caso da obra de Hayek, esse autor, demonstra, quase cientificamente, como políticas coletivistas geram uma sociedade dependente de governos, com os indivíduos deixando de perseguir progresso e mobilidade social e econômica, preferindo se esforçar para integrar as doutrinas políticas do governo de plantão, em que a influência pessoal e os contatos privilegiados com a cúpula do governo passam a ser entendidos como o único caminho para a prosperidade.

Para von Hayek, o controle exercido por governos coletivistas, acabam por produzir também um controle de ordem psicológica, modificando o caráter do povo, induzindo as pessoas a se voltarem umas contra as outras e em favor unicamente do governo. Fica patente em sua obra que somente a liberdade econômica pode conduzir à plena liberdade política. Ao inverter essa equação, o que se tem é a perda de liberdade, com o povo desprovido tanto de liberdade econômica quanto política.

Nesse ponto, Hayek mostra que é a propriedade privada um dos principais alicerces da liberdade individual. Como ensinava Hannah Arendt (1906 – 1975), “a educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo o bastante para assumirmos a responsabilidade por ele”, pois “os direitos humanos é o direito a ter direitos”. Também para ela, “o mais radical revolucionário tornar-se-á um conservador no dia seguinte à revolução.”

Voltando a Hayek, a propriedade privada é também garantia de vida privada e um caminho livre para perseguir o que o indivíduo deseja para sua vida, sem intromissões do governo. “O individualismo (…) tem como características essenciais o respeito pelo indivíduo como ser humano, isto é, o reconhecimento da supremacia de suas preferências e opiniões na esfera individual, por mais limitada que esta possa ser, e a convicção de que é desejável que os indivíduos desenvolvam dotes e inclinações pessoais” diz o autor dessa obra básica.

 

A frase que foi pronunciada:
“Do meu ponto de vista, a globalização econômica é a nova forma adotada pelo totalitarismo. O chamdo neoliberalismo é um capitalismo totalitário.”
José Saramago

José Saramago. Foto: Oscar Cabral/VEJA/Dedoc