Orgulho nacional

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

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Foto: Divulgação

 

         Com o tempo, a Embrapa ganhou respeito no país e no exterior, sendo seu modelo copiado em diversos outros lugares pelo mundo. Alguns exemplos de inovações desenvolvidas pela Embrapa podem ser conferidas, como a soja tropical resistente a pragas. Ao longo de todo esse tempo, foram sendo introduzidas também, entre os produtores, a noção e a importância da sustentabilidade ambiental e social como modelos para tornar a produção de alimentos compatível com o meio ambiente.

         A Embrapa desenvolveu variedades de soja adaptadas ao clima tropical brasileiro e resistentes a pragas como a lagarta-da-soja, o que aumentou, significativamente, a produtividade e a sustentabilidade das lavouras de soja no país. Milho resistente a insetos: A Embrapa desenvolveu variedades de milho transgênico resistentes a insetos, como a lagarta-do-cartucho, o que reduziu a necessidade de aplicação de pesticidas e melhorou a produtividade das lavouras de milho. Feijão de alta produtividade: A Embrapa desenvolveu variedades de feijão mais produtivas e resistentes a doenças, o que possibilitou o aumento da produção e a melhoria da segurança alimentar em regiões de cultivo desse importante alimento na dieta brasileira. Cultivares de frutas: A Embrapa desenvolveu diversas cultivares de frutas, como a uva BRS Vitória e a maçã BRS Gala, que apresentam características melhoradas de sabor, aparência e resistência a doenças, contribuindo para a expansão e diversificação da fruticultura brasileira. Manejo integrado de pragas e doenças: A Embrapa desenvolveu técnicas de manejo integrado de pragas e doenças, que visam reduzir o uso de agrotóxicos e promover o controle biológico de pragas, tornando a produção agrícola mais sustentável e ambientalmente amigável. Sistemas agroflorestais: A Embrapa tem trabalhado na promoção de sistemas agroflorestais, que integram a produção agrícola com o cultivo de árvores, proporcionando benefícios econômicos, sociais e ambientais, como a conservação do solo, a proteção de recursos hídricos e a diversificação da produção. Biotecnologia aplicada à pecuária: A Embrapa desenvolveu técnicas de melhoramento genético para a pecuária, como a seleção de animais resistentes a doenças, aprimorando a produtividade e a qualidade dos rebanhos brasileiros.

          A despeito de todo esse sucesso e da importância estratégica que tem para o nosso país, a Embrapa vem, nesses últimos, anos atravessando um período de crise sem precedente, que vai desde o clientelismo político aos obstáculos para desenvolver suas atividades, e tem levado essa empresa e seus técnicos e pesquisadores a um estado de total frustração e desânimo.

         De fato, após esses mais de 50 anos de êxitos, a empresa vem perdendo sua capacidade de resposta diante dos novos cenários da agricultura nacional e mundial. A pressão política obrigou a Embrapa a criar dezenas de centros de pesquisas que passaram a atuar de forma não integrada, gerando sobreposição de pesquisas, criando infraestruturas ociosas e, consequentemente, um elevadíssimo custo de manutenção. A cada governo que chega, criam-se mais e mais programas, centros de pesquisas e outros aparatos que vão se acumulando e gerando despesas.

         É necessário, na visão daqueles que entendem o trabalho desse centro de pesquisa, implementar uma forte descentralização na estrutura de governança, desburocratização nos processos decisórios e atenção aos recursos humanos da empresa. Existe ainda uma crise financeira, com as polêmicas contratações que colocam a Embrapa numa posição de risco como líder em pesquisa agrícola tropical.

         Em 2024, a empresa encerrou o ano com um déficit superior a R$ 200 milhões, o que colocou em risco a capacidade da Embrapa conduzir pesquisas futuras. Também a falta de fundos para despesas gerais tem colocado, em xeque, o futuro da pesquisa agropecuária em nosso país. É preciso entender que as mudanças climáticas irão exigir ainda mais das pesquisas na área de produção de alimentos. Não se pode aceitar que uma empresa dessa importância vital passe agora por constrangimentos de não possuir em caixa dinheiro sequer para pagar contas de luz, água, telefone, internet, segurança e restaurante. Tudo isso sem falar em pesquisas, que levam anos de estudo e custam muito dinheiro.

 

A frase que foi pronunciada:

“Decidi ser cientista, estudar microbiologia, algo incomum para uma criança do sexo feminino nascida no final da década de 1950, na pequena cidade onde eu morava”.

Mariângela Hungria

 

História de Brasília

Hoje, os senhores  passarão a ser procurados  por uma comissao de pais dos alunos da escola classe da superquadra 108. Receba bem a comissão. Ela está incumbida de angariar fundos para a merenda escolar. (Publicada em 27.04.1962)

A borduna e o tacape

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Foto: Brian Snyder

 

Tempos de crise sugerem, logo de saída, que as armas da diplomacia não estão resolvendo as questões. Há muito se sabe que política e diplomacia devem caminhar de mãos unidas. O que não se pode admitir é que a política, com suas várias faces ideológicas, acabe contaminando os objetivos da diplomacia, fazendo-a agir de modo titubeante e parcial. Pois, a diplomacia induzida por víeis político acaba transformando a virtude em vício e o entendimento em confronto. Hoje, é mais do que necessário que o mundo faça uso das armas inteligentes da diplomacia. Não aquela acordada em bebidas alcoólicas e rega-bofe, mas aquela estabelecida por horas e horas nas mesas de negociações, sem fanatismos e sem covardias.

Ceder para conquistar. Em vista dessas premissas, o que se pode observar acerca dos últimos acontecimentos ocorridos no Brasil e no mundo é que, sem a diplomacia, estamos todos nus e perdidos em selva inóspita. No caso recente do encontro entre o presidente americano, Donald Trump, e o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, o mínimo que se pôde observar da conversa, transmitida ao vivo pelas televisões diretamente do salão Oval da Casa Branca, é que faltou diplomacia ao chefe americano. Não se faz negociação de paz, ainda mais nesse caso de agressão da Rússia contra um país soberano, sob pressão ou intimidações. Aceitar as condições apresentadas por Trump, que aliás coincidem com as condições do ditador russo Putin, equivaleria no caso de Zelensky, a uma capitulação, desonrando seus compatriotas vivos e os que tombaram defendendo seu país.

O big stick policy, ou a diplomacia da força iniciada por Roosevelt no início do século XX, parece estar de volta aos Estados Unidos. Só que os tempos são outros. É certo que os contribuintes americanos não querem mais destinar seus impostos para a continuação de uma guerra que parece que não terá um fim próximo. Mas daí a querer encostar o líder ucraniano contra a parede, exigindo uma paz imediata, mostra que a diplomacia americana está vivendo as mesmas agruras e desprezo que a diplomacia de outras partes do mundo, sobretudo, em nosso caso, a diplomacia brasileira.

Também por aqui se assiste a colocação da diplomacia de nosso país a reboque dos interesses políticos e ideológicos do atual governo. Tanto é assim que o chanceler de fato desse governo é o Celso Amorim e não o oficialmente indicado Mauro Vieira. No caso do chanceler Mauro Vieira, é até um alívio que ele não tenha que suportar o vexame de estabelecer conversações com a maioria dos ditadores do mundo, nem tenha que aparecer em fotos ao lado dos maiores e mais procurados terroristas da atualidade.

Mas ainda assim, a pasta que ele chefia, segue sempre em segundo plano dentro do atual governo, sobrando apenas assuntos de menor interesse ou as batatas quentes difíceis de ser negociadas. É o caso aqui do pedido do Supremo Tribunal Federal para que o Itamaraty entre na questão envolvendo essa Corte e os Estados Unidos com relação à censura imposta às big techs. Outro caso emblemático da falta que a diplomacia faz para aplanar os caminhos da paz e da concórdia é a recente nomeação da deputada petista Gleisi Hoffmann para ministra da Secretaria de Relações Institucionais (SRI) da Presidência, no lugar de Alexandre Padilha. Para quem não sabe, essa pasta cuida, essencialmente, das relações entre o Executivo e o Legislativo, para o estabelecimento de pontes de entendimento político. Para quem sabe também, a nomeação de Gleisi tem sido, até agora, criticada por cada nove entre dez políticos, inclusive da própria legenda do atual presidente. O próprio José Dirceu, a eminência parda do PT, afirmou que a colocação de Hoffman na pasta da SRI vai ser um desastre. Disse ele: “ vai dar Dilma”.

Não é de hoje que as relações institucionais entre o Congresso e o Palácio do Planalto deixaram de lado a diplomacia política e passaram a ser feitas na base da liberação ou não das emendas secretas, hoje, manipuladas diretamente pelo Supremo. É o mundo do tacape, da borduna e das malas cheias.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Mesmo na guerra, há regras… Esses caras não têm regras”.

Volodymyr Zelensky, durante uma entrevista referindo-se à Rússia.

Volodymyr Zelensky. Foto: Getty Images

 

Livro

Um deleite correr os olhos pelas linhas do “Lumiar de Lamparina”, um livro de memórias de Luiz Bezerra de Oliveira. Ora sorrindo, ora enxugando as lágrimas, o livro é um exemplo da riqueza de vida de tantas pessoas que atravessaram as maiores privações para alcançar a vitória nos estudos e no trabalho. Sem pé de meia, com os pés no chão.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

 

História de Brasília

A minha terceira atividade é publicidade, mas quando recebo dinheiro dou recibo, o que nem todos fazem na nossa profissão, infelizmente. (Publicada em 27.04.1962)

INSS e o elo fraco

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Foto/Exame

 

          Associações sem fins lucrativos, na sua maioria, assim como boa parte das Organizações Não-Governamentais (ONGs), descobriram, ao longo dos anos em que atuam no Brasil, que a fiscalização na aplicação de suas fontes de recursos, a maioria vinda diretamente dos cofres da União, é feita de maneira displicente, isso é, quando efetivamente feita. Com isso, ao longo de muitos e muitos anos, convenceram-se que podem utilizar seus recursos milionários em atividades distantes muitas léguas daquelas atividades nas quais estão inscritas.

         Nesse tipo de negócio em que se transformaram essas entidades, os meios e os fins já não importam. Trata-se de um verdadeiro ninho de vespas, protegido dentro e fora do país. Investigações, como as realizadas por CPIs, de nada adiantam. Para tornar esse enredo ainda mais nebuloso, muitas dessas entidades contam com forte apoio político, o que impede que a luz do sol venha clarear esse submundo que se desenvolveu à sombra do poder.

         Obviamente que existe nesse meio entidades que operam de acordo com o que mandam as leis. Mas esse é apenas um detalhe mínimo. Talvez, por essa razão, os escândalos de má gestão e de desvios nessas áreas não param de acontecer. A diferença é que, agora, a totalidade dessas entidades não são, sequer, incomodadas. E esse é um problema que gera hoje prejuízos na casa de bilhões de reais. Não é por outro motivo que essas entidades miram em setores do país onde os recursos são abundantes e mal fiscalizados.

         O resultado se traduz invariavelmente em escândalos de corrupção, como o que agora acontece no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Com já é de praxe, o INSS, cuja importância para os brasileiros não é equivalente à atenção que deveria merecer dos órgãos de controle, volta ao noticiário, em situação que envolve bilhões de reais escoando pelos largos bueiros da malversação de recursos públicos. A questão agora é que o INSS está sendo acusado de promover descontos indevidos em aposentadorias, feitas compulsoriamente por associações sem fins lucrativos. Pelo o que se sabe até agora, é que entre 2023 e 2024, muitos aposentados e pensionistas tiveram descontos entre R$ 50,00 e R$ 70,00 todos os meses. Assim, cerca de R$ 300 milhões passaram a ser desviados das contas dos segurados a cada mês por essas entidades, por meio de Acordos de Cooperação Técnica (ACT).

         Ao longo desse tempo em que tem vigorado esse “acordo”, mais de R$ 9 bilhões foram parar nos cofres dessas entidades nos últimos anos ou, simplesmente, desmancharam-se no ar. Observem ainda que esses foram descontos em folha não autorizados pelos próprios aposentados. Diante desse escândalo de grande proporção, a direção do INSS cuidou de, mais do que depressa, cancelar essas cobranças, visando “proteger os direitos dos segurados”.

         O business aqui é saber quem autorizou tais descontos, que, na verdade, só foram interrompidos depois que o escândalo chegou a público. O que parece é que esse descontos iriam durar até que a bolha estourasse. Nesse ponto, “medidas” iriam ser tomadas de pronto, ficando o feito pelo não feito. Ocorre que, nessa pendenga, a Associação Brasileira de Defesa dos Clientes e Consumidores de Operações Financeiras e Bancárias (Abradeb) entrou com uma ação na Justiça Federal contra o INSS, questionando esses descontos, pedindo, nada menos do que R$ 112,3 bilhões em danos materiais individuais, dano moral coletivo e dano social. Trata-se de uma das maiores ações já feitas no país. O pior, se ainda pode haver pioras, é que quem irá pagar essa ação serão os próprios cidadãos e, logicamente, os segurados do INSS, já que, pelo o que se sabe, não existe dinheiro do governo e sim dos pagadores de impostos.

         O que temos pela frente é uma batalha nos tribunais, que pode, inclusive, tramitar em segredo de justiça, dados aos valores desviados e os possíveis personagens desse mais novo escândalo na praça. O que a inteligência e a lógica nos fazem supor é que, nesse mega escândalo, não está envolvido apenas um único personagem, mas um  grupo grande e com enorme influência sobre esse tipo de operação.

          Resta esperar a ação da justiça, mesmo tardia e com prejuízos certos para a ponta mais fraca desse elo.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“INSS: Novos Desafios, Novas Conquistas”

Mote do INSS

Charge do Cazo

História de Brasília

Jamais falamos aqui, de sua amizade com o ministro San Thiago Dantas. Êste foi um assunto do qual nunca nos ocupamos porque cremos que o sr. San Thiago jamais poderia ser amigo do sr. Hélio Fernandes. (Publicada em 27.04.1962)

Funções das estatais: prestar serviços públicos ou explorar atividades econômicas

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Foto: J. Bosco / O Liberal

 

           Uma pergunta que parece ecoar desde sempre, ou, pelo menos, desde que inventaram as empresas estatais, busca saber, sem evasivas, a quem essas instituições do Estado realmente servem. A questão aqui ganha uma embalagem mais personalista, quando se nota que essas empresas, ao contrário de outras desligadas do Estado e que, por isso mesmo, têm que se virar para sobreviver num ambiente totalmente hostil, possuem uma espécie de salvo-conduto que as tornam imunes a tudo, inclusive à má administração e aos rigores da falência.

          Por suas características exclusivas, as estatais não se enquadram dentro dos princípios de competição, excelência, transparência e eficiência, que marcam as empresas dentro de um regime de livre competição ou a quaisquer outros requisitos próprios do capitalismo. Em regra, as estatais seguem um enevoado e distorcido princípio do capitalismo de Estado, sem o qual elas não sobreviveriam num mundo comandado pelas forças do mercado e pela preferência dos consumidores.

         Não por outra razão, os Correios, por exemplo, em 2024, fecharam as contas com um rombo de R$ 3,2 bilhões, segundo o Ministério da Gestão e Inovação (MGI). O cálculo para as estatais em geral foi de R$ 7,2 bilhões de prejuízo. Essas empresas seguem em frente confiantes de que isso é apenas mais um pequeno detalhe. Notem que esse passivo não será debitado no caixa dessas empresas, mas na conta dos pagadores de impostos. Déficit nas contas do governo é um outro nome para dizer que os cidadãos estão devendo ao Estado, o que pode ser atenuado com o aumento de impostos e outras taxas.

         Diante de uma realidade cruenta como esta, a outra pergunta que fica busca entender porque seguimos preservando as empresas estatais, se elas, mesmo com todo o aporte público, não geram lucros ou benefícios diretos para os cidadãos. Que se saiba, nunca houve aumento salarial decorrente de bônus gerados pelas estatais. De fato, as riquezas que essas empresas prospectam fluem diretamente dos cofres públicos. Em outras palavras, estão nos cofres públicos ou no Tesouro Nacional, o pré-sal e outras riquezas que essas empresas dizem produzir. Sendo assim, abre-se aqui a primeira porta a revelar quem as estatais servem de fato.

         Quando o país não está em primeiro lugar, essas empresas servem, primeiramente, às políticas do governo no comando do Estado, mesmo que essas ações contrariem a lógica e o bom senso. Pela abertura de uma segunda porta, é revelado que as estatais servem diretamente ao governo, mesmo que dissociado das necessidades da população. Seguindo em frente por esse labirinto burocrático, verificamos que as estatais, ao fim e ao cabo, servem aos políticos, sobretudo aqueles alinhados à base governista. Outras brechas indicam ainda que as estatais servem também às dezenas de partidos que orbitam em torno do governo. Abrindo-se outras portas, as quais os públicos não possuem acesso, é visto que as estatais, que a tantos senhores obedecem, servem também aos chamados campeões nacionais ou empresários que encontraram nessas empresas o filão de ouro que desejam.

         Não surpreende, pois, que, em nove de cada dez escândalos de corrupção, esses personagens são sempre vistos na cena do crime. O que temos aqui é um imenso balaio estatal onde estão reunidos membros do governo, políticos e empresários, todos juntos e misturados. Mas engana-se quem pensa que esses são os únicos embarcados nesse transatlântico estatal. A eles se juntam hoje boa parte dos artistas, que comungam do mesmo credo ideológico em voga. A última porta a descortinar o mundo fantasioso das estatais mostra que, internamente, vista do ponto de vista dos trabalhadores dessas empresas, nem mesmo os fundos de pensão, que eles mantinham como esperança de aposentadorias dignas, foram deixados de fora dessa razia, e hoje amargam prejuízos bilionários. Dizer o quê?

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Os Correios são do Brasil. Os Correios são um gigante que acordou.”

Gal Floriano Peixoto, gestão com 3,7 bilhões lucro em 2021.

Gal Floriano Peixoto. Foto: AFP/GettyImages

 

Ação

Muitos caminhões e obras pela cidade, o que é uma coisa boa. Infelizmente, as faixas de pedestres que precisam de tinta não receberam a manutenção ainda, o que piora a segurança nos dias de chuva.

 

História de Brasília

Volta-se, agora, contra  êste colunista, a verrina do sr. Hélio Fernandes, que procura confundir as coisas e as pessoas, para sair melhor com as “coisas” e de bem com as pessoas. (Publicada em 27.04.1962)

O incêndio das bandeiras

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A partir de 2026 em diante, quando a Reforma Tributária começar a entrar em vigor, terá início também o que pode vir a ser o fim definitivo do que conhecemos por República Federativa do Brasil, estruturada pela Constituição de 1988. Os entes federativos, como Estados, Municípios e o Distrito Federal terão suas autonomias e competências específicas diminuídas em alto grau, acabando, de vez, com a descentralização, o que vale dizer, com a própria identidade de cada um desses membros.

A questão é simples: ao centralizar, nos cofres da União, boa parte dos recursos captados em cada uma dessas entidades, direcionando-os prioritariamente para o Tesouro Nacional, Estados, Municípios e o Distrito Federal ficarão à mercê do bom humor do chefe do Executivo e do tipo de relação político e ideológica mantida com o poder central. Sem recursos para manter suas necessidades locais, essas entidades passarão a engrossar a fila de pedintes na porta do Palácio do Planalto e dos Ministérios. Com isso, aumenta também o grau de subordinação ao governo central, em desrespeito tanto às leis orgânicas locais, como à própria Constituição, já que o federalismo é uma normativa constitucional, gravada logo no seu artigo 1º.

A subordinação financeira acarretará ainda a subordinação política ao comando central, favorecendo cada vez mais a centralização do poder nas mãos do Executivo. Tirar o ICMS dos estados, que, numa análise rápida, representa 88% das receitas estaduais, e o ISS dos municípios, que representa, em média, 45% do que eles possuem para gastar com seus encargos, é a pá de cal na sepultura da federação. Sem dinheiro não pode haver um mínimo de atividade nos estados e nos municípios.

Para os partidos que possuem em suas diretrizes ideológicas a centralização do poder numa legenda única, essa reforma vem como uma luva em seus intentos, pois decreta o fim da pluralidade, obrigando os entes federados a viver de mesadas, distribuídas de forma assimétrica e sem critérios objetivos.

Para um país continental como o nosso, com imensa diversidade cultural e geográfica, com seus problemas próprios, a Reforma Tributária irá trazer uma espécie de pasteurização política, eliminando a pluralidade na tentativa de recriar um país cuja identidade é aquela desenhada pelo poder central. A própria história do país terá que ser recriada de acordo com as novas diretrizes da União. Pluralidade e divisão do poder é o principal pilar da democracia. Sem essas bases primárias o que se tem é tudo, menos democracia.

O espantoso é verificar que nenhum país democrático do Ocidente possui um modelo de centralização tributário como esse que entrará em vigor em 2026. Também pudera, nenhuma democracia digna do nome resistiria à tamanha centralização de poder nas mãos de uma só pessoa ou grupo hegemônico. Nesse ponto, o que estamos assistindo é a repetição da vexaminosa queima das bandeiras estaduais, realizada na Praça Roosevelt, no Rio de Janeiro, em 27 de novembro de 1937, por ordem do então presidente Getúlio Vargas.

Naquela ocasião, as bandeiras dos estados foram solenemente cremadas, pois haviam sido abolidas pela constituição autoritária daquele ano, que concentrava, nas mãos de Vargas, todo o poder de restringir a autonomia dos estados, nomeando, para cada um deles, um interventor antenado com o poder central. Nessa ocasião ,os partidos foram abolidos e estabelecida também a censura prévia aos meios de comunicação, com prisões em massa de opositores e outras medidas autoritárias.

Na verdade, o que está em jogo agora com essa reforma é o futuro dos brasileiros, a autonomia e pluralidade de cada recanto deste país, em nome de um genuíno confisco de receitas. Quem enxerga todos esses problemas na mencionada reforma não é esta coluna, mas todos os grandes nomes ligados à questão tributária, que vêm alertando políticos e todos que podem de alguma maneira intervir nessa questão.

Não há dúvida de que essa reforma irá provocar um desvio federativo irreversível, entregando mais de 5 mil municípios às vontades e veleidades de um comitê gestor, que nada mais é do que o próprio governo central. Quando o peso da maioria cede lugar a uma minoria interessada apenas em seus benefícios imediatos, a situação tende, como já vista, a regredir ao ano fatídico de 1937.

 

A frase que foi pronunciada:
“Quem não aguenta o trote não monta o burro.”
Getúlio Vargas

Getúlio Vargas. Foto: memorialdademocracia.com

História de Brasília
O deputado Esmerino Arruda arrombou o depósito, de lá retirando grande quantidade de leite, distribuido demagogicamente entre a população pobre. (Publicada em 26.04.1962)

Para baixo do tapete

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Charge do Jota A

 

           Dos males que assolam nosso país, nenhum outro é mais devastador do que a corrupção. Isso porque ela engendra, na população, o veneno da descrença, que, por sua vez, induz a descredibilidade das instituições do país. E esse é um fenômeno que, praticamente, nasceu com o Brasil. Desde sua formação, ouve-se falar, no Brasil, de corrupção e má gestão dos recursos públicos. Hoje, como ontem, quaisquer pesquisas mostram que a população acredita que a maioria dos políticos nacionais são corruptos. O pior é que esse é um problema que vem aumentando com o passar do tempo, num ciclo que se repete ininterruptamente. Assim, temos que o incremento dos casos de corrupção vai aumentando na mesma proporção que o descrédito dos políticos e das instituições, além de contribuir para uma sequência sem fim de crises políticas.

          Praticamente, não há um dia sequer em que não se tem notícia de algum escândalo político, o que, de certa forma, faz com que esses acontecimentos passem a compor uma espécie de normalidade cotidiana. Não se pode negar que o ciclo de impunidade que acompanha esses casos serve como alimento também para sua perenidade ao longo do tempo. Como ainda não criaram uma Vara Criminal exclusivamente para tratar de modo imediato e definitivo cada caso de corrupção, o jeito é ir empurrando esse problema morro acima, como fazia o personagem da mitologia grega, Sísifo, que, depois de todo o esforço, tinha que suportar a desilusão de ver a enorme pedra rolar novamente para o sopé da montanha.

         A corrupção é essa enorme pedra no sapato dos brasileiros a decompor o Estado e a apodrecer suas instituições. Ficasse a corrupção restrita apenas ao universo político, haveria ainda uma esperança de combatê-la. Mas seus efeitos se estendem e minam por toda a parte, contaminando tudo ao redor, de alto a baixo. No entanto, é preciso notar que nenhum combate à corrupção pode ser eficaz se não for realizado de cima para baixo. E é aí que as coisas ficam complicadas se não impossibilitadas de prosseguir a bom termo. O que é preciso ter em mente é que nenhum país que tenha logrado se desenvolver plenamente, o fez sem antes debelar a corrupção dentro da máquina do Estado.

          Num país onde se assiste, desde muito tempo, atuações diversas dentro do próprio Judiciário, visando barrar ou anular as investigações contra corruptos e corruptores, não surpreende que o combate a esse flagelo seja por demais sobre-humano. Também merece ser mencionado o fato de que a classe política tem cuidado, desde sempre, de blindar-se a si e ao seus do alcance da lei, tornando essa tarefa de saneamento público um obstáculo de proporções ciclópicas. Não por outro motivo, o Brasil não sai da rabeira, quando o assunto é o ranking de corrupção entre os países do Ocidente.

         Observem ainda que, embora não muito mencionada, a corrupção é, dentro de diversos fatores causais, aquela que mais contribui para manter o Brasil no cercadinho dos países subdesenvolvidos e com baixos indicadores de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). De acordo com os últimos dados fornecidos pela Transparência Internacional, o Brasil voltou a chamar atenção nos índices de corrupção, com o maior destaque desde 2012, quando teve início essa série histórica. Dos 180 países que compõem o ranking, o Brasil passou da 96ª colocação em 2022 para a 104º em 2023, caindo agora 3 posições, indo para a 107ª posição da lista. Quase a lanterninha, entre os menos corretos. Nos últimos dez anos, o Brasil recuou 38 posições, figurando hoje ao lado de países como a Argélia, Turquia e outros.

         O Índice de Percepção da Corrupção (IPC) é considerado hoje como um dos principais indicadores do planeta nesse quesito e serve como uma espécie de cartão de visita do país. Ao verificar a posição do nosso país nesse ranking, cidadãos do mundo todo pensam duas vezes em fazer negócio com conosco, estabelecer parcerias ou, simplesmente, visitar-nos. Atrelado a essa péssima posição, vemos ainda que o fenômeno da violência, que torna nosso país o mais perigoso do planeta, é consequência direta também da corrupção endêmica. Tomando como parâmetros notas de 0 a 10, o Brasil aparece, nessa última avaliação, com a nota 34. Ou seja, nesse quesito, o nosso país recebeu agora uma nota vermelha, sendo mais uma vez reprovado nesse tema.

         Diante de uma situação inegável como essa, políticos da situação correram logo para criticar a avaliação da TI, acusando-a falsamente de crimes e tentando desqualificá-la, na tentativa de esconder o cadáver putrefato debaixo do tapete.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“A indiferença das pessoas é o ambiente propício para o crescimento da corrupção”  

Delia Ferreira, presidente da Transparência Internacional.

Delia Ferreira, presidenta de Transparencia Internacional. Foto: Andrea Comas

 

História de Brasília

O deputado Esmerino Arruda arrombou o depósito, de lá retirando grande quantidade de leite, distribuido demagogicamente entre a população pobre. (Publicada em 26.04.1962)

Fundos sem fundos

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Charfge do Genildo

Volta a pairar no ar o temor de que os bilionários fundos de pensão, das principais estatais do país, mais uma vez, estejam experimentando toda uma sequência de escândalos de corrupção e má gestão desses recursos. Com isso, uma triste página de nossa história volta a se repetir, com os mesmos sinais de impunidade. E tudo isso, bem debaixo do nariz das autoridades, trazendo, mais uma vez à tona, todo um conjunto de crimes graves praticado contra uma classe trabalhadora, que, bem ou mal, tem apoiado o modo de gestão dessas empresas.

O que desta vez deixa escancarado para todos é que a falta de punição exemplar de casos pretéritos semelhantes pode estar estimulando a volta dessas práticas de dilapidação dos recursos destinados à aposentadoria dos trabalhadores das empresas estatais. É o déjà vu de um escândalo, cujas consequências voltam a recair não apenas nas costas dos trabalhadores, mas de toda a população.

Para se ter uma ideia, em 2024, os Correios registraram um déficit de R$ 2,1 bilhões. O que se fala dentro dessa empresa é que a situação financeira como um todo é de insolvência. Como sempre, a culpa pelos maus resultados é empurrada de um lado para o outro. Agora chegou a vez de pôr a culpa na taxa das blusinhas, para cobrir o déficit e aumentar a arrecadação. Obviamente que esses resultados, mais uma vez, irão refletir no fundo previdenciário desta estatal, o Postalis, que, ainda em 2015, obrigou os funcionários a cobrir um rombo de mais de R$ 5,6 bilhões.

Naquela ocasião, os trabalhadores foram obrigados a ceder 26% de seus salários para cobrir o rombo. Diante de uma situação que parece mais grave do que o divulgado oficialmente, deputados estão se articulando para montar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), para investigar a recorrente má gestão nessa empresa. Passados 10 anos, a história se repete como farsa e uma afronta à nação. A questão toda não para por aqui. Não bastasse o fato de que os fundos de pensão estão sendo corroídos, esses fundos também estão sendo penalizados por más aplicações, apostando em títulos pouco ou nada rentáveis. Na mesma rota de ruína, esses fundos estão sendo obrigados a rever suas metas de rentabilidade, pressionado também pela inflação.

Não bastasse esse cenário de calamidade, muitos gestores desses fundos, a maioria, com estreitas relações com a esquerda sindical, voltou a estar no foco da Polícia Federal. Cientes dessa quebradeira anunciada, pensionistas, de algumas dessas empresas, sobretudo, aqueles que defendem o fundo de pensão do Banco do Brasil, a Previ, organizaram um manifesto em defesa desse fundo junto ao Tribunal de Contas da União. A ideia é não ser apanhado de surpresa com, mais um escândalo nesse fundo. Não apenas a Previ, mas outros grupos como a Associação Virtual dos Participantes de Fundos de Pensão Unidos (AVFPU), Associação Virtual dos Participantes dos Fundos de Pensão Petros (AVPP), Associação Virtual dos Participantes e Assistidos da Previ e Cassi (AAPPREVI). Para esses participantes é necessário fortalecer a segurança, a previsibilidade credibilidade do Regime de Previdência Complementar Fechada, visando futuro e perenidade.

Para esses defensores dos fundos, notícias dando conta de um novo aparelhamento dos Fundos de Pensão aumentam as chances de novos déficits e por isso solicitam urgência nessas auditorias. Os episódios danosos do passado e que ainda seguem sem punição tornam necessário acender uma luz vermelha sobre as gestões atuais dos fundos de pensão. De acordo com esses organizadores, existem, ao menos, 353 casos suspeitos que necessitam ser investigados, pois os prejuízos já andam na casa dos R$ 6,62 bilhões. O que é fato é que o TCU já aprovou auditoria sobre a gestão da Previ, depois que esse fundo contabilizou perda da ordem de R$ 14 bilhões, entre janeiro e novembro de 2024.

Mais uma vez, o aparelhamento dos fundos de pensão, por pessoas ligadas a partidos, reascendem as suspeitas de que, no caso dos fundos de pensão, estamos assistindo a uma volta a um passado que acreditávamos ter sido enterrado pela Operação Lava Jato, Greenfield e outras que mostraram a atuação de ratazanas na dilapidação do patrimônio dos trabalhadores das estatais.

 

A frase que não foi pronunciada:
“Caneta vermelha, vermelha caneta.”
Deputado estadual Manoel Gomes, pensando em outra versão de sua “música” de sucesso

 

Ontem e hoje
Valores, verdades, visão de futuro, posições jornalísticas. Vale a pena rever as entrevistas de Maluf, no programa Roda Viva, sobre a obrigatoriedade do uso do cinto de segurança e do fim do tabagismo.

 

História de Brasília
Ninguém sabe quem tem razão, mas é uma vergonha o que está acontecendo no Ceará. Os americanos enviaram toneladas de leite em pó para distribuir entre as crianças mas estão mais preocupados com a luta política. (Publicada em 26.04.1962)

Pergunte às donas de casa

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Foto: Divulgação

 

Num mundo ideal, lugar distante muitas léguas de qualquer país de regime fechado, a gerência da economia, no que tange os produtos alimentícios, seria realizada diretamente por donas e donos de casa. Ainda não foram inventados melhores analistas de variação de preços desses produtos do que aquele representado pelos chefes de família, sobretudo os que se submetem voluntariamente a uma jornada diária e infinda em busca de melhores preços. Afinal, essa é uma tarefa vital para todos que buscam sobreviver dentro dessa selva hostil em que se transformou o mercado.

Obviamente, não por culpa dele próprio, como querem fazer parecer os técnicos do governo. Na verdade, o mercado, como região onde se cruzam oferta e procura, tem vida própria, só respondendo aos estímulos externos. No nosso caso, esses estímulos partem diretamente dos gabinetes instalados na Esplanada dos Ministérios que, por sua vez, são orientados por uma espécie de premonição paranormal, vinda do terceiro andar do Palácio do Planalto. Por mais complexas que sejam as fórmulas embutidas na economia para decifrar a variação ascensional nos preços dos alimentos, suas causas e efeitos, as donas de casa, que desconhecem ou desprezam essas fórmulas e outras teorias científicas, conhecem essa aritmética pela prática, apenas pela observação empírica exposta nas gôndolas dos supermercados e das feiras.

Há, ainda, outros reflexos nessa guinada dos preços rumo ao Olimpo, que são o aumento pela procura das xepas e por produtos com prazo de validade vencido ou prestes a vencer, também com alteração dos dados de validade, a diminuição das embalagens, o retalhamento de produtos, como carne, queijos e outros em embalagens menores, entre outras artimanhas. No Brasil, o real vale cada vez menos. Desde sua criação, em 1º de julho de 1994, nossa moeda perdeu quase 90% de seu poder de compra. A inflação no preço dos alimentos, mais do que perturbar o sono tranquilo das donas de casa, aflige o governo. Não pelo fato correto de que esse fenômeno afeta diretamente a vida dos brasileiros, mas pela simples razão de que o custo dos alimentos tem reflexo direto no humor dos eleitores e esse fenômeno pode abreviar a vida política de muitos.

Não fosse pela aproximação das eleições em 2026, a toada seguiria sem intervenções, indiferente aos reclamos das ruas. Desde sempre, os historiadores constataram que o motor que move as massas não utiliza como combustível as ideologias, mas, sim, o espectro da fome. O poder deletério da fome tem movido o mundo e destruído impérios.

De acordo com a Associação Brasileira dos Supermercados (Abras), que reúne algo como 1.247 empresas supermercadistas em todo o país e, como tal, conhece de perto esse fenômeno cíclico do aumento nos produtos da cesta básica, o preço dos alimentos se apresenta muito acima do que foi divulgado oficialmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse é outro problema sério. As donas de casa sabem desse fato por instinto e pelo bolso. Segundo a Abras, o café torrado aumentou cerca de 40%. O óleo de soja teve um reajuste de 30%. A carne aumentou quase 30% e o leite, tipo longa vida, teve um reajuste de aproximadamente 20%. Observem que esses são produtos que compõem a cesta básica. Com isso, a cesta básica deu um salto de quase 15% em 2024.

Em 16 das 17 capitais analisadas, a cesta básica ficou mais cara. Dizer que o vilão da cesta é o café, também não corresponde à verdade, uma vez que entre os ingredientes que contribuem acentuadamente para o aumento dos alimentos em geral estão fatores de ordem política. É a política econômica com elevação de impostos, subsídios, bem como o explosivo modelo de gastos públicos, que favoreceu o aumento da cesta básica. Com isso, segundo o Dieese, o salário mínimo necessário para a manutenção de uma família de quatro pessoas deveria ser hoje de R$ 6.657,55 ou 4,71 vezes o mínimo atual que é de R$ 1.412. O brasileiro tem que trabalhar em média mais de 100 horas por mês para adquirir uma cesta básica, comprometendo também mais de 50% do seu rendimento apenas para se alimentar.

Num apanhado geral, nem mesmo a abóbora, que veio em substituição à picanha prometida, escapou dos efeitos desses aumentos com um reajuste de 75% na primeira semana de 2025, com a abóbora seca custando, agora, R$ 3,15 o quilo. Até mesmo o halloween desse ano terá que ser cancelado.

 

 

A frase que foi pronunciada:
“Eu não sei como os cientistas calculam os preços. O que eu comprava para o mês, agora, compro para duas semanas.”
Ilza Dourado, dona de casa

Charge de Jean Galvão

 

Caso sério
Várias partes da intersecção das faixas recapeadas na W3 Sul emendadas com as novas faixas exclusivas para os ônibus já apresentam esfacelamento, buracos e craqueamentos, tanto em direção ao norte quanto ao sul.

Fotos: Divulgação/SODF

 

História de Brasília
Enquanto isto, o diretor geral, Afonso Almiro, negase a transferir funcionários não se sabendo como será distribuída a cota de apartamentos daquele Ministério. (Publicada em 26/4/1962)

Era uma vez, eram duas vezes…

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11/01/2017REUTERS/Paulo Whitaker

 

Antigo conto árabe, perdido no tempo, cujos título e autor, escritos na areia, foram apagados pelos ventos do deserto, narra a estória de um califa, cuja fama de injustiça e de buscar punições a qualquer preço rendeu-lhe o epíteto do mais cruel dos monarcas que já existiu naquele mundo encantado de outrora.

Certa vez, ao passar pela rua, um morador local foi atingido na cabeça por um pedaço de madeira que se desprendeu da moldura de uma janela. Ferido, foi então procurar reparação e justiça com califa local. Relatou-lhe o ocorrido. O califa, imediatamente, mandou chamar o marceneiro que havia construído aquela janela para puni-lo. Conhecedor das maldades do califa, o marceneiro, por sua vez, culpou a qualidade da madeira que havia adquirido de um vendedor próximo. O califa, sedento em julgá-lo, mandou trazê-lo rapidamente.

Como a fama de maldade do califa era conhecida mesmo em terras distantes, o vendedor da madeira em questão, logo acusou o lenhador, de quem havia comprado a mercadoria. Diante do califa, o lenhador, temendo por sua vida, pôs a culpa na qualidade do aço do machado, que lhe permitia cortar apenas madeira verde. O califa ordenou, então, que lhe trouxesse o fabricante do machado. Tremendo de medo e diante de um monarca que assustava até os animais irracionais, o fabricante do machado culpou o comerciante que lhe havia vendido ferro de má qualidade para a fundição da lâmina.

Então, o califa mandou vir o tal comerciante. Por sua vez, o comerciante do minério de ferro, sem pestanejar, acusou o minerador que morava nas cercanias da cidade. Trazido à presença do califa, o minerador pôs a culpa em sua própria mulher que havia brigado com ele e, como vingança, misturou o ferro com areia do deserto. Apanhada de surpresa e diante de uma situação inusitada como aquela e sem ter como explicar como havia feito tal vingança, a mulher ficou sem uma explicação razoável para o califa. O califa então ordenou: enforquem-na no parapeito da janela que causou o acidente.

Em um mundo, como o nosso, onde as aparências vão se confundindo cada vez mais com a realidade, estórias como essa, por mais absurdas que pareçam, podem servir de alerta para os desencontros entre os fatos e as narrações. De fato, nada é o que nos parece à primeira vista, ainda mais quando estamos predispostos a tomar posição guiados pelo ego ou pelo fígado. Estamos imersos num oceano sem fim de narrativas, naquilo que os estudiosos passaram a classificar como um tempo de prevalência da pós-verdade, ou seja, num momento em que a opinião pública, por interferências diversas, passa a reagir mais impulsionada pelos apelos emocionais do que pelos fatos objetivos em si.

Essa tendência atual de colocar em segundo plano os fatos, detendo-se nas crenças e nas emoções das massas, tornam a população e a opinião pública suscetíveis a todos os tipos de manipulações. Conhecendo bem esse momento sui generis de nossa sociedade é que os manipuladores têm tirado proveitos sem fim desse comportamento. Não é por outra razão que os políticos atuais buscam parcerias com os técnicos de propaganda e merchandising, para dar forma a seus discursos.

Por sua vez, esses técnicos em comunicação ensinam aos políticos como conduzir as massas para o lugar desejado, “ensinando-lhes como educar a população”, não, sem antes, culpar os adversários. Ao empurrar a própria culpa para debaixo do tapete, ou para algo, ou para alguém, nossos políticos, pelo menos os mais espertos, repetem o comportamento do conto acima, repassando suas culpas e erros, temendo o califa moderno que é a própria população e a sua sede de justiça a qualquer preço. No caso em questão, não seria por demais ilógico culpar o rapaz que utiliza a maquininha de remarcação de preços no supermercado pelo aumento atual dos alimentos. Se a culpa não é dele, deve ser do fornecedor da tal maquininha ou, quem sabe, daquele que inventou esse equipamento desumano.

 

A frase que foi pronunciada:
“Todo homem é culpado de todo o bem que não fez.”
Voltaire

Voltaire. Imagem: reprodução da internet

 

Molhar o Sol
Alguma razão deve haver para o caminhão pipa molhar as flores da cidade em pleno Sol das duas horas da tarde. Mas é bom repensar a rotina. Não faz o menor sentido.

Arquivo pessoal

 

Abusivo
Uma forma bastante arriscada é pagar pelo serviço antes de ser feito. No caso das agências de modelo que cobram com antecedência o trabalho, a promessa é clara. Você paga, mas há possibilidade de não ser chamado. A mesma coisa ocorre com os garotos do futebol. Os pais que precisam pagar pelos testes devem ficar atentos. Há treinadores e olheiros que não cobram para isso.

Foto: guiadobebe.com

 

História de Brasília
O que está feito aqui é de concreto armado e nem as britadeiras, nem as picaretas dos inimigos poderão destruir. A obra tem alcance superior. (Publicada em 26/4/1962)

 

Bem-vindos ao passado

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Edifício sede do Mercosul (Foto: mercosur.int)

Criada oficialmente em março de 1991, com o Tratado de Assunção, a zona de livre-comércio do continente sul americano, conhecida como Mercosul, vem, desde então, enfrentando alto e baixos na questão de fomentar as relações econômicas entre os países signatários, sobretudo os países situados no Cone Sul, e de reforçar a união aduaneira com vantagens para os seus integrantes.

O comércio a que se referia esse tratado era basicamente de produtos agrícolas. A ideia em si era boa e copiava outros modelos, como o da União Europeia. O problema era a grande disparidade regional, bem como as frequentes crises de instabilidade políticas. A cada novo governante eleito em cada um dos países membros, novas crises se abriam, com ameaças de debandada, novas reivindicações, novos protestos contra a perda de autonomia e outras questões políticas que passaram a travar a plena implementação do bloco.

O fato é que o Mercosul, na prática, continua muito distante daquele projeto descrito no papel, não conseguindo resolver de forma satisfatória os problemas econômicos da região. Até hoje, se discute, sem que se chegue a um consenso, as Tarifas Externas Comuns (TECs) e sobre a restrição às negociações com outros blocos, como era o caso dos acordos com a União Europeia (UE), que se arrastou por mais de um quarto de século.

Os dois anos de pandemia também trouxeram prejuízos incalculáveis para o Mercosul. Agora que os acordos com a UE foram praticamente selados, faltando ainda um consenso político dentro dos parlamentos da França e na Itália, parece que essa integração finalmente irá prosperar. Afinal, trata-se de um negócio com 718 milhões de consumidores, num mercado de U$ 22 trilhões. Mas, como em todo ajuste desse porte, os quesitos descritos no tratado são complicados e devem ser observados com todo o rigor e cautela a fim de
evitar decepção e, sobretudo, prejuízos econômicos e políticos de grande monta.

Os europeus conhecem bem a natureza desses acordos comerciais, pois, desde o século 16, vêm praticando com afinco a exploração de mercados do outro lado do Atlântico. Não é necessário lembrar que, por séculos, a América do Sul, assim como a África e o Oriente, foram colônias da Europa. O período do mercantilismo entre os séculos 15 e 18 marcou para sempre as relações entre a Europa e o Novo Mundo.

Naquela ocasião, o Estado intervinha na economia, buscando acumular o máximo possível de riquezas, na forma de ouro e prata. Monopólio, protecionismo e metalismo (ouro e prata) eram praticados abertamente e tinham as colônias, espalhadas pelo globo, apenas como economia complementar da metrópole.

Para isso, asseguravam o chamado pacto colonial, no qual as colônias vendiam seus produtos a preços irrisórios, ao mesmo tempo em que compravam por altos preços os produtos vindos da metrópole. Graças à intensa exploração das colônias, a Europa pôde enriquecer como nunca antes. Portanto, os europeus, dentro dess  novo tratado entre a União Europeia e o Mercosul, sabem o que estão fazendo e como tirar vantagens desses acordos.

Conhecem bem o estado de ansiedade e deslumbramento de muitos políticos envolvidos direta ou indiretamente nesses tratados. Ocorre que a questão toda desses acordos envolve um novo elemento: O Brasil é hoje uma potência agrícola considerável. Os parlamentares franceses e italianos sabem disso e, por isso, pressionados internamente pelos produtores locais, se mostram reticentes. O agronegócio brasileiro, que não tem  oas relações com o atual governo, não quer a intromissão política e ideológica em seus negócios, preferindo agir longe e independente dos ditames do governo.

Para muitos economistas que acompanham de perto essas negociações, o acordo Mercosul e União Europeia é ruim para o Brasil, pois repete erros do passado, levando nosso país a se manter como exportador de bens primários, ao mesmo tempo que traz empecilhos à plena industrialização nacional. A primarização de nossa economia nos remete ao passado durante o mercantilismo, trazendo dúvidas sobre sua repetição em outros moldes.

O acordo, alertam os especialistas, aprofunda a participação do Brasil e dos países do Mercosul no comércio com a UE como relegados ao papel de fornecedores de matérias-primas agrícolas e minerais, ao mesmo tempo em que acentua a dependência de importações de bens industrializados das metrópoles. O que se prevê com esses acordos e com outros, como é o caso dos Brics e com a China, é que o processo de desindustrialização do Brasil avance ainda mais, com a destruição de empresas e de empregos. Bem-vindos de volta ao mercantilismo e ao colonialismo.

 

A frase que foi pronunciada:
“Finalmente inventei algo que funciona!”
Dr. Emmett

Reprodução: Cena de filmee volta para o Futuro

 

História de Brasília

Quando o sr. Jânio Quadros surgiu como ganhador das eleições, quando o sr. Hélio Fernandes enche de elogios o presidente eleito, a turba que subia ao poder atirou-se desenfreadamente contra a Novacap e encontrou uma administração pronta a prestar contas de tudo que executara. O sr. Israel Pinheiro deixou de residir no Ipê, mas mudou-se para o Lago, onde ainda hoje está, intocável e admirado por todos. (Publicada em 24/4/1962)