O Silêncio que Alimenta o Crime

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Foto: ©Fernando Frazão/Agência Brasil

 

Ainda devem repercutir por muito tempo, nos meios políticos e diplomáticos, os resultados da recente operação policial no Rio de Janeiro, que deixou mais de cem criminosos mortos em confronto com as forças de segurança. Não se tratou de uma ação corriqueira, mas de um episódio emblemático de um país que, há décadas, vê-se encurralado pelo crime organizado e por governos que, em nome de um suposto humanismo, confundem direitos humanos com impunidade. O mundo observou estarrecido; as cenas de violência e as manchetes estrangeiras voltaram a associar o Brasil à imagem de um território hostil, inseguro e desgovernado. Cada ala política, como de costume, tratou de explorar o fato a sua maneira. Enquanto uns exaltam a operação como um marco da retomada da autoridade estatal, outros a condenam, sustentando o discurso de que é possível combater facções armadas com flores e discursos progressistas. Trata-se de um equívoco perigoso. O poderio bélico e econômico do narcotráfico não se desmantela com gestos simbólicos nem com negociações morais. O que está em jogo é a soberania nacional e a integridade das instituições.

Nessa altura dos acontecimentos, o governo dos Estados Unidos já chegou à conclusão de que o narcotráfico no Brasil, assim como no México, na Colômbia e na Venezuela, domina extensas áreas dentro e fora das fronteiras. Essa constatação, ainda que desconfortável, não surpreende: há muito tempo as organizações criminosas deixaram de ser meras quadrilhas locais para se transformar em redes transnacionais de poder, com braços no comércio, na política e até no sistema financeiro. O não reconhecimento, por parte do governo brasileiro, de que esses grupos não são movimentos sociais nem guerrilhas políticas, mas verdadeiras corporações do crime, só agrava a situação.

Pesquisas de opinião recentes indicam que a maioria da população apoia ações enérgicas da polícia contra os criminosos. O cidadão comum, que convive diariamente com o medo, já não se deixa enganar por discursos lenientes. Nas ruas do Rio de Janeiro, de São Paulo e de tantas outras capitais, cresce a percepção de que o Estado precisa reagir com firmeza — não por vingança, mas por sobrevivência. Cada território “pacificado” pelos bandidos é um pedaço de país que se perde. O problema já ultrapassou qualquer fronteira sociológica. Hoje, o tráfico é um poder paralelo que interfere em eleições, corrompe instituições e impõe leis próprias onde o Estado se ausenta. Adiar uma resposta firme é abrir espaço para que essa estrutura criminosa se infiltre de modo irreversível na máquina pública e na economia formal. A história recente de países como o México mostra o que acontece quando o poder político hesita diante do crime organizado: as fronteiras entre Estado e facção tornam-se indistintas, e a violência passa a ditar a agenda nacional. O Brasil não pode trilhar o mesmo caminho. É preciso reconhecer que não há democracia possível onde o Estado perdeu o monopólio da força. O país exige mais que discursos: exige ação, autoridade e coragem.

A operação no Rio de Janeiro, num processo lógico de combate a esses grupos, deveria ter tido continuidade até que o problema fosse debelado, dentro e fora daquele estado. A interrupção dessas operações por força da justiça e da pressão das altas cortes só servirá para que o crime volte a se fortalecer e ganhe mais áreas de controle. O que se viu no Rio de Janeiro, nas últimas semanas, não é apenas o retrato de uma cidade sitiada, mas o sintoma de um país que perdeu a capacidade de distinguir entre legalidade e complacência. A operação policial que resultou na morte de mais de cem criminosos foi uma resposta dura, porém necessária, a um problema que há muito tempo se arrasta sem solução: o domínio territorial e psicológico do crime organizado sobre o Estado. As decisões judiciais que paralisam operações ou restringem o uso da força policial sob o argumento de “proteger vidas inocentes” acabam, paradoxalmente, protegendo quem vive à margem da lei.

O Estado brasileiro vive um momento decisivo. Se continuar permitindo que decisões judiciais interrompam o trabalho das forças de segurança, a criminalidade deixará de ser uma ameaça e se tornará um poder consolidado com território, economia e influência política. A história ensina que nenhuma nação vence o crime quando o medo de agir supera a vontade de governar.

O combate ao crime organizado não comporta meias medidas. É tempo de restaurar o equilíbrio entre os Poderes e permitir que as forças de segurança cumpram seu papel. Só assim será possível evitar que o país se transforme, de vez, em um território onde o crime dita as regras e o Estado obedece.

 

A frase que foi pronunciada:

“O mundo não está ameaçado pelas pessoas más, e sim por aquelas que permitem a maldade.”

Albert Einstein

Albert Einsten. Foto: Arthur Sasse/Nate D Sanders Auctions/Reprodução

 

História de Brasília:

Um bom mercado para a industria naval brasileira tem sido o México. Esta, a razão da exposição que a marinha do Brasil está fazendo no México, onde o principal assunto é Brasília. Ontem, o comandante Renan fêz embarcar para aquele país um filme sobre o Distrito Federal, e diversos paineis mostrando diversas atividades em Brasília. (Publicada em 11.05.1962)

Cirurgia plástica para Brasília

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Foto: Minervino Júnior/CB/D.A.Press

 

Brasília é o espelho das contradições mais agudas do país. O que antes se apresentava como modelo de urbanismo racional, herdeiro das ideias de Le Corbusier e do conceito de cidade-jardim, vai-se dissolvendo diante de um cenário que combina abandono institucional, degradação social e impotência política.

Nas áreas que antes eram referência de planejamento urbano, erguidas sob o signo da utopia coletiva, proliferam agora moradias improvisadas, barracos de lona e madeira que se multiplicam sob o verde rarefeito do Eixão, nas margens de avenidas largas, perto da UnB, Ceub, 213 Norte, áreas outrora pensadas para o trânsito harmônico de uma sociedade moderna.

Segundo dados da Codeplan (2024), o número de pessoas em situação de rua no Distrito Federal aumentou 86% em quatro anos, saltando de 2.938 pessoas, em 2019, para 5.470 em 2023. Relatório da Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes/DF) indica que mais de 60% desses cidadãos vieram de outros estados em busca de trabalho, oportunidades ou, simplesmente, da miragem de uma capital onde o Estado ainda existisse como promessa de amparo. Ocorre que essa promessa se diluiu em meio à judicialização da política e à paralisia administrativa, fenômenos que se retroalimentam.

A decisão do Supremo Tribunal Federal, de 2023, que proibiu a remoção forçada de pessoas em situação de vulnerabilidade de espaços públicos, insere-se nesse contexto ambíguo. De um lado, reafirma princípios civilizatórios e de proteção social, impedindo práticas arbitrárias de despejo; de outro, transfere ao município e ao governo distrital o ônus de administrar o colapso urbano sem instrumentos eficazes de ação. O resultado, visível a olho nu, é a expansão silenciosa das ocupações em áreas verdes, canteiros e passagens subterrâneas — transformadas em moradias improvisadas, onde a dignidade disputa espaço com o lixo, a violência e o frio.

O fenômeno, que muitos preferem reduzir à questão de ordem pública, tem raízes mais profundas. Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), publicada em abril de 2024, estima que o Brasil ultrapassou 281 mil pessoas em situação de rua, um aumento de 238% desde 2012. No Distrito Federal, o crescimento foi ainda mais expressivo proporcionalmente, refletindo não apenas a desigualdade, mas o esgotamento das políticas de moradia e a desarticulação entre os entes federativos. Em meio a um orçamento público cada vez mais engessado e programas habitacionais interrompidos ou mal executados, o Estado parece assistir de longe ao desmonte da própria cidade que deveria zelar.

Não se trata apenas de miséria material, mas de uma espécie de erosão simbólica: Brasília, que nasceu com o intuito de representar a harmonia entre o homem, o espaço e o poder, converte-se, gradativamente, em um território de ruínas sociais. A cidade-jardim de Lucio Costa e Oscar Niemeyer transforma-se em cidade-sombra, onde o contraste entre os pilotis monumentais e os barracos improvisados não é mais metáfora, mas evidência. Nas entrequadras, Setor Comercial Sul sob as marquises de concreto que antes abrigavam os ideais da convivência comunitária, multiplicam-se colchões, fogareiros e restos de esperança.

A ausência de política pública efetiva, somada à judicialização das ações administrativas, reforça um círculo vicioso: o poder local, paralisado entre a sensibilidade social e a impotência operacional, não consegue agir; o poder federal, ocupado em pautas mais vistosas, ignora o drama cotidiano que se desenrola à sombra dos ministérios. Enquanto isso, os moradores de rua tornam-se uma presença constante e silenciosa, símbolo de um país que falhou em garantir o mínimo de humanidade a seus cidadãos.

O GDF anuncia planos, elabora relatórios e promete abrigos, mas, segundo auditoria do Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF, 2024), apenas 35% das vagas em abrigos públicos estão efetivamente disponíveis, e muitos desses espaços carecem de infraestrutura básica. Na prática, a cidade funciona sob um regime de improviso, onde a compaixão individual substitui a política pública e a omissão institucional é justificada por decisões judiciais que, embora bem-intencionadas, acabam por cristalizar o desamparo.

Se nada mudar, o traço de Niemeyer será engolido pelo traço da sobrevivência, e o concreto curvilíneo se tornará mera moldura para a miséria. Brasília deixará de ser símbolo de um país em construção para se converter em alegoria de um país em colapso, onde o Estado, cercado de monumentos, já não consegue enxergar os homens que dormem aos seus pés.

 

A frase que foi pronunciada:

“Desenvolvimento é diferente de crescimento econômico. Dispor de recursos para investir está longe de ser condição fundamental para garantir um futuro melhor para a maioria da população. Mas quando o projeto social prioriza a efetiva melhoria das condições de vida dessa população, o crescimento se transforma em desenvolvimento e, portanto, trata-se de um processo de transformação social”.

Celso Furtado

Celso Furtado. Foto: Fabio Motta / Agência Senado

 

História de Brasília

Aqui estão os primeiros parlamentaristas: presidente, Hélio Marcos; Primeiro Ministro Domingos José, Vice 1o. Ministro Mário Jorge; ministro da Cultura, Dimer Camargo Monteiro; Ministro da Economia, Marcelo Magno de Oliveira Veloso; ministro da Presidência, Italo. Ministro da Divulgação, Rogerio Brant Martins. Chaves; ministro de Assuntos Sociais, Rui Lemos Sampaio; Ministro de Assuntos Missionários, Ivan de Oliveira Delforge; ministro de Assuntos literários, George Ney e presidente do Banco, Paulo Cesar Vasques. (Publicada em 11.05.1962)

Vida e morte do urbanismo

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Brasília – DF

 

É certo que as cidades, assim como os seres humanos, nascem, crescem, envelhecem e morrem, como mostra o livro famoso de Jane Jacobs: “Morte e vida das grandes cidades”, publicado em 1961. As razões são múltiplas, mas, no geral, tem a ver com as seguidas e desastrosas interferências do homem na vida urbana. Muitos arquitetos e urbanistas dizem que o que estraga muitos projetos é que, depois, eles, cedo ou tarde, irão ser habitados por pessoas alheias a questões como harmonia, beleza e bom senso.

Como ciência, o urbanismo não pode, nem deve ser concebido apenas para atender problemas de ordem social, econômica e política de determinada época, sob pena de se criar cidades como soluções para questões que nada têm a ver com o propósito urbano em si. Trata-se de uma questão delicada. Uma coisa é a cidade, outra, totalmente diferente, são as questões de ordem social e econômica momentâneas que devem ser resolvidas pontualmente. Querer adaptar a cidade, com seu urbanismo complexo, a problemas de ordem social não tem resultado em algo positivo para seus habitantes.

Cidades pelo mundo que tiveram seu desenho urbano alterado para atender questões de ordem social, como a pobreza, a mendicância e outras, tiveram abreviadas sua decrepitude e falência. Por todo o planeta, vêm-se, nos centros urbanos, cidades que entraram em estágio de ruínas e abandono por não levarem a questão urbana com seriedade. O caso particular de Brasília mostra que o centro urbano da capital parece ter entrado nesse estágio de decadência prematura, principalmente após a traumática emancipação política da cidade. A partir daquele momento, políticos de toda a espécie passaram a considerar que o projeto urbano da cidade deveria ceder espaços para as aventuras dos puxadinhos e das improvisações, num movimento populista no qual nada do projeto foi respeitado.

Exemplo disso foram as seguidas invasões de terras públicas para a instalação de bairros improvisados dentro da lógica: um terreno, um voto. As áreas públicas, como moedas de trocas, foram vilipendiadas. A proliferação de barracos de lata, espalhados por toda a cidade, inclusive nos pontos de ônibus, mostra que não temos apreço por coisas como projetos urbanos. A decadência de extensas áreas do centro da capital demonstra que questões sociais são uma coisa, questões urbanas são outra. As cidades não são meros cenários; são organismos complexos cuja saúde depende de um projeto contínuo e coerente.

Jane Jacobs nos ensinou que a vida urbana é dinâmica, frágil e vulnerável às intervenções desencontradas. Quando tratamos a cidade como um apêndice de políticas imediatistas, a urbe perde sua razão de ser. É compreensível que as emergências sociais exijam respostas rápidas, mas confundir remédio com cirurgia permanente é erro grave. Urbanismo não é exclusivamente engenharia de controle social; é arte, economia, ecologia e convivência. Projetos que ignoram a qualidade do espaço público acabam criando cenários propícios à exclusão e à degradação.

Brasília é um exemplo doloroso de como decisões políticas podem corroer um projeto urbano visionário. A capital, em seu traçado original, tinha intentos estéticos e funcionais que vinham sendo gradualmente subvertidos. Transformar áreas públicas em moeda de troca revela a crise de princípios que atinge a gestão urbana. O loteamento improvisado e o “um terreno, um voto” são sintomas de um problema institucional mais profundo. Não se trata de demonizar medidas de emergência, mas de não torná-las permanentes. A proliferação de abrigos improvisados nos pontos de ônibus é sinal de falha coletiva. Falha do poder público que deixa de priorizar habitação digna e gestão urbana integrada. Falha da sociedade que naturaliza o improviso e a ausência de normas estéticas e funcionais.

O urbanismo que se reduz a remendos acaba por acelerar o envelhecimento e a morte da cidade. Cidades sem cuidado com o desenho urbano perdem capacidade de atrair investimentos, talentos e qualidade de vida. A decadência de centros urbanos não nasce do nada, é fruto de decisões cumulativas e de negligência. A preservação do espaço público exige vontade política, planejamento técnico e participação cidadã. Não basta erguer muros contra a pobreza; é preciso políticas integradas que unam urbanismo e justiça social. Isso significa programas de habitação planejada, equipados e localizados com sentido urbano. Significa também preservar a malha urbana que garante circulação, comércio e sociabilidade. Governar uma cidade é cuidar de suas infraestruturas, de seus equipamentos culturais, de suas praças. É preciso combater a ideia de que uma solução social é automaticamente uma solução urbana.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Temos orgulho da nossa constelação de arquitetos-estrelas, mas precisamos mais de arquitetos preocupados com as cidades. Menos egoarquitetos, mais equoarquitetos”.

Jaime Lerner

Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

 

Claro

Tão excelente quanto mal planejada a campanha agressiva da Claro. Por ligação telefônica incessante, o script diz que para preservar a Lei de Proteção de Dados é preciso que o interlocutor confirme endereço, CPF. Acostumado com golpes, o consumidor não dá trelas e desliga. Acontece que se trata de uma promoção que barateia a conta da Claro Internet que propõe a instalação de fibra ótica. Despreze ligações de ofertas. Para saber se tem direito a promoção, quem deve ligar é você para a Claro.

Logo: claro.com.br

 

História de Brasília

O bibliotecário tinha como incumbência encapar todos os livros. Não cumpriu com a sua missão e foi obrigado a renunciar. (Publicada em 11.05.1962)

Eleições 2026 em mar revolto

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Charge do Cazo

 

Daqui a um ano, em 4 de outubro de 2026, o país voltará às urnas para um pleito geral que, dificilmente, será um simples ato rotineiro. Na verdade, analistas políticos convergem para a conclusão de que esse será um ano que entrará para a história da democracia brasileira; não por acaso, mas porque um conjunto de variáveis se combina para torná-lo complexo, instável e possivelmente decisivo para os rumos institucionais, sociais e econômicos da nação.

Primeiro, há a extrema polarização política que marca o panorama atual. Já nas eleições municipais de 2024, o país assistiu a um jogo em que o eixo tradicional entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro pareceu perder alguma centralidade ainda que as facções à direita e à esquerda continuem fortíssimas. Segundo a imprensa independente, os resultados deixaram claro que o “centro” político captou força e que o eleitorado busca alternativas, mas não rompeu de vez com a divisão estrutural direita-esquerda.

Debates públicos prometem visibilidade sobre a ausência de um comprovante físico impresso durante as eleições, assunto que alimenta dúvidas sobre auditagem, publicidade e transparência. Segundo a Freedom House, no Brasil, há um “vibrante”, mas também “frágil” debate público, e as armas digitais constituem uma fonte relevante de interferência ou desinformação. Três variáveis merecem destaque especial. Legitimidade e confiança institucional: quando parcela expressiva do eleitorado questiona se as urnas ou a contagem podem ser “auditadas”, o sistema perde força para exercer sua função pacificadora. Estrutura partidária e fragmentação política: com dezenas de partidos, coligações efêmeras, “troca-troca” de partidos por parte dos parlamentares e governabilidade comprometida, cresce a instabilidade e Contexto socioeconômico adverso. O país vive ainda os efeitos da pandemia, a inflação persiste, o desemprego e informalidade são elevados, e o eleitorado está menos disposto ao risco. Um cenário econômico frágil gera maior volatilidade política, e quem confia que o “sistema eleitoral dê conta” tende a reagir com ceticismo.

Dessa conjunção resulta que o pleito de 2026 será menos um rito previsível e mais um momento de inflexão. A polarização não se limitará à direita vs esquerda: haverá disputa por narrativas, por controle da comunicação, por definir quem tem voz e quem se sente excluído.

É nesse contexto que se impõe, com urgência, uma reforma política profunda. Reformar não significa apenas trocar partidos, mas repensar como representamos, como elegemos e como garantimos que o resultado seja aceito por todos e, porque não, como viabilizar o recall do voto dado a quem promete e não cumpre.

Auditoria externa das urnas e contagem pública transparente, se queremos que a paz social dependa da aceitação do resultado, não basta que o TSE e as zonas eleitorais façam tudo “por trás das cortinas”: é preciso que o cidadão e a sociedade possam ver, tocar, entender os mecanismos. Reformar o sistema partidário e as coligações, diminuir a proliferação de partidos, tornar obrigatória a fidelidade partidária, limitar troca-partido pós-eleição; garantir que os partidos assumam compromissos reais perante os eleitores e que não se transformem em meros expedientes de poder. Regular fortemente a propaganda eleitoral digital, redes sociais, uso de IA, micro-segmentação; já vimos que o terreno digital virou campo de batalha, e sem regras claras e fiscalização eficaz os riscos de “efeito caixa preta” e de manipulação se tornam evidentes.

Se o 4 de outubro de 2026 for disputado sob nuvens de dúvida, com contestações à legitimidade em curso, há sério risco de convulsão, não necessariamente de um golpe clássico, mas de erosão lenta da confiança democrática e de crise recorrente pós-eleitoral. Não se trata de ser “catastrófico” por hábito, mas de realista frente à conjuntura.

2026 será um momento de tensão, risco e oportunidade. Risco, se mantivermos o sistema como está, sem reformas, alimentando incertezas, ficando à mercê de narrativas de fraude ou de veto institucional. Oportunidade, se aproveitarmos para modernizar a representação, reforçar a confiança, aprimorar transparência e fazer desse pleito um legado de fortalecimento da democracia. Em última instância, a pergunta é esta: queremos mais uma eleição onde a sociedade volte à normalidade ou um momento de ruptura de confiança democrática? A reforma política, o voto impresso conferível, a transparência eleitoral, a regulamentação da propaganda digital e a reconstrução da confiança institucional não são questões opcionais: são condição de sobrevivência democrática.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Uma eleição é feita para corrigir o erro da eleição anterior, mesmo que o agrave.”

Carlos Drummond de Andrade

Carlos Drummond de Andrade. Foto: Arquivo Nacional

 

História de Brasília

Aqui estão os primeiros parlamentaristas: presidente, Hélio Marcos; Primeiro Ministro Domingos José, Vice 1o. Ministro Mário Jorge; ministro da Cultura, Dimer Camargo Monteiro; Ministro da Economia, Marcelo Magno de Oliveira Veloso; ministro da Presidência, Italo. Ministro da Divulgação, Rogerio Brant Martins. Chaves; ministro de Assuntos Sociais, Rui Lemos Sampaio; Ministro de Assuntos Missionários, Ivan de Oliveira Delforge; ministro de Assuntos literários, George Ney e presidente do Banco, Paulo Cesar Vasques. (Publicada em 11.05.1962)

O Tec-Existencialismo e o Labirinto do Minotauro Digital

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Imagem gerada por IA

 

É próprio da modernidade criar novos vocabulários para nomear a novidade e o espanto. Desde o início da Revolução Industrial, cada salto tecnológico obrigou o homem a reinventar as palavras  e, com elas, sua própria percepção de mundo. Agora, com o advento da Inteligência Artificial, não é apenas a linguagem que se transforma: é a própria essência da existência humana que parece passar por uma mutação silenciosa, porém profunda. O termo tec-existencialismo, cunhado pelo futurista Roge Spitz, surge justamente para tentar capturar essa transição, num chamado à reflexão sobre como a tecnologia, especialmente a IA, começa a moldar não apenas o que fazemos, mas o que somos. Spitz alerta que “a tecnologia não é neutra: ela cria realidades e redefine os contornos da existência humana”.

É próprio da modernidade criar novos vocabulários para nomear a novidade e o espanto. Desde o início da Revolução Industrial, cada salto tecnológico obrigou o homem a reinventar as palavras  e, com elas, sua própria percepção de mundo. Agora, com o advento da Inteligência Artificial, não é apenas a linguagem que se transforma: é a própria essência da existência humana que parece passar por uma mutação silenciosa, porém profunda. O termo tec-existencialismo, cunhado pelo futurista Roge Spitz, surge justamente para tentar capturar essa transição, num chamado à reflexão sobre como a tecnologia, especialmente a IA, começa a moldar não apenas o que fazemos, mas o que somos. Spitz alerta que “a tecnologia não é neutra: ela cria realidades e redefine os contornos da existência humana”.

Seu tec-existencialismo nos convida a olhar para a inteligência artificial não como ferramenta, mas como espelho um espelho que reflete e, ao mesmo tempo, distorce a nossa humanidade. Trata-se de um alerta contra a complacência: a de aceitar que as máquinas decidam por nós sob o pretexto da conveniência. É o risco de trocarmos a liberdade pelo conforto de uma mente coletiva programada por algoritmos invisíveis. Vivemos, talvez sem perceber, a entrada em um labirinto de alta tecnologia. Nele, cada passo é guiado por dados, sensores, câmeras e inteligências que aprendem com nossos erros e nossos hábitos.

Como o antigo mito do Minotauro, esse labirinto contemporâneo tem um guardião monstruoso não mais uma criatura mitológica, mas uma rede invisível de códigos, cálculos e logarítmos. Diferente do mito grego, entretanto, não há um fio de Ariadne que nos leve de volta à luz. O filósofo Byung-Chul Han, em Psicopolítica, adverte que “o homem contemporâneo acredita ser livre, mas vive em uma prisão de transparência e desempenho”. Na era digital, a submissão não se dá pela força, mas pela sedução dos sistemas inteligentes. Yuval Noah Harari, em Homo Deus, prevê que “quando os algoritmos nos conhecerem melhor do que nós mesmos, o livre-arbítrio deixará de existir como crença coletiva”. Estamos, portanto, diante de um ponto de inflexão histórico: a tecnologia que criamos começa a nos recriar à sua imagem e semelhança. A política, nesse cenário, parece cada vez mais impotente.

Estados e governos, outrora senhores da ordem social, se veem agora dependentes das máquinas que criaram e dos sistemas que não compreendem plenamente. A burocracia se digitalizou, o controle social se sofisticou e o poder tornou-se algorítmico. Spitz adverte que “quando a inteligência artificial começa a intermediar todas as nossas escolhas, a autonomia se torna uma ilusão polida”. A soberania das nações começa a ceder lugar à soberania das corporações tecnológicas, que operam acima das fronteiras e fora do alcance das leis. No campo religioso, a crise não é menor. Como responder à angústia de uma humanidade que já não crê na transcendência, mas confia cegamente na promessa da imortalidade digital? Quando o homem passa a se ver como um conjunto de dados, e não mais como um ser dotado de alma, o sagrado perde espaço para o simulacro da perfeição artificial.

Igrejas, templos e seitas talvez ainda resistam, mas o culto da era moderna é outro: o culto à máquina, ao cálculo, à eficiência. Surge, então, uma inversão simbólica: o Deus ex machina  expressão que, na tragédia clássica, designava a intervenção divina que resolvia o enredo  agora se transforma na própria máquina que assume o papel de deus, decidindo destinos, emoções e valores. O tec-existencialismo, portanto, é o espelho diante do qual precisamos ter coragem de nos olhar. Ele não propõe apenas uma crítica ao avanço tecnológico, mas uma reflexão sobre a erosão daquilo que nos tornava humanos  a dúvida, o erro, a imperfeição.

Hannah Arendt já advertia que “a perda do pensamento é o prelúdio de toda forma de totalitarismo”, e o totalitarismo digital talvez seja o mais sutil de todos: aquele que domina não pela violência, mas pela conveniência. O risco maior não é que as máquinas dominem o mundo, mas que nos convençam de que já não precisamos de alma para viver nele. Em um futuro não muito distante, talvez despertemos para perceber que o labirinto não tem saída. Que o Minotauro já não está fora de nós, mas dentro, integrado ao nosso modo de pensar, sentir e decidir.

A modernidade, que começou prometendo libertar o homem do trabalho e da ignorância, pode terminar aprisionando-o em um cativeiro de luzes e códigos. E, nesse ponto, nem a política, nem o Estado, nem mesmo as religiões terão a chave para abrir as portas do labirinto. O tec-existencialismo, se levado a sério, é um convite à resistência interior. À redescoberta da consciência humana em meio ao ruído digital. Porque, se há ainda uma chance de salvação, ela não virá das máquinas virá do homem que se atrever a desligá-las por um instante e voltar a escutar o próprio silêncio.

 

A frase que foi pronunciada:

“Para n⁠ão ser substituído por um robô, não seja um robô”.

Martha Gabriel

Martha Gabriel. Foto: online.pucrs.br

 

Rascunho

Entrada e saída do Lago Norte planejadas por quem não conhece o movimento da região. As faixas de pedestre recém-colocadas são prenúncio de muitos acidentes, prejudicando pedestres e motoristas. Sem sinalização prévia suficiente para prevenir os motoristas de uma parada repentina, a iniciativa deve ser revista e colocada em prática com mais técnica e estratégia.

 

História de Brasília

O regime parlamentarista trouxe, também, alteração no sistema escolar. No Colégio D. Bosco, de Brasília, os alunos estão organizados de maneira parlamentarista, e o Primeiro Ano B, já elegeu o seu presidente e o Conselho. (Publicada em 11.05.1962)

Infância e desenvolvimento

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Foto: radardaprimeirainfancia.org.br

Governos contemporâneos, reconhecendo a correlação inequívoca entre proteção infantil e prosperidade societal, alocam recursos crescentes para políticas públicas integradas, com o Brasil destinando aproximadamente 1,8% do PIB a programas de educação infantil em 2024, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com o Ministério da Educação, embora ainda distante dos 6% recomendados pela UNESCO para garantir acesso universal a creches e pré-escolas de qualidade, meta que, se alcançada, poderia reduzir em 15% as desigualdades de aprendizado até o ensino fundamental, conforme projeções do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em seu Human Development Report de 2023.

Nesse ambiente metropolitano cada vez mais desconectado dos ritmos naturais e das interações espontâneas com o meio ambiente, o relatório da UNICEF Urban Child de 2023 revela que 68% das crianças em megacidades passam menos de uma hora diária em atividades ao ar livre, comparado a 85% nas áreas rurais, contribuindo para uma prevalência de obesidade infantil que atingiu 38 milhões de casos globais em 2022, segundo à OMS, enquanto o confinamento em espaços virtuais restringe o brincar lúdico a telas, com crianças de países de renda média dedicando, em média, 3,2 horas diárias a dispositivos eletrônicos até os sete anos de idade, conforme o estudo Global Kids Online da London School of Economics de 2024.

Para segmentos socioeconomicamente vulneráveis, a abreviação da infância assume contornos ainda mais dramáticos, com 72 milhões de crianças envolvidas em trabalho perigoso em 2021, de acordo com a OIT, incluindo 29 milhões em atividades que comprometem diretamente o desenvolvimento físico e mental, situação observável em centros urbanos brasileiros onde, segundo o IBGE PNAD Contínua de 2023, aproximadamente 1,7 milhão de menores entre cinco e dezessete anos exercem alguma forma de ocupação remunerada, muitas vezes em condições que violam convenções internacionais e perpetuam ciclos intergeracionais de pobreza, com uma probabilidade 45% maior de abandono escolar precoce.

A neuroplasticidade cerebral característica dos primeiros anos, período em que o cérebro pode formar até um milhão de novas sinapses por segundo, como destacado pela UNICEF em seu Early Moments Matter de 2023, torna imperativa a oferta de estímulos multissensoriais e relacionais de qualidade, pois privações nesse estágio reduzem em até 20% o volume do hipocampo em adultos, estrutura associada à memória e regulação emocional, conforme meta-análises publicadas na revista Nature Neuroscience em 2024, evidenciando que intervenções como programas de visitação domiciliar para famílias de baixa renda podem elevar o QI médio em sete pontos e diminuir em 30% os comportamentos antisociais na adolescência.

Pesquisadores que investigam as raízes da criminalidade e da violência social, compilando dados de cortes longitudinais em mais de 50 países pelo Instituto de Criminologia da Universidade de Cambridge em seu World Crime Trends de 2024, demonstram que indivíduos submetidos a infâncias marcadas por negligência ou abuso apresentam taxas de encarceramento 2,5 vezes superiores à média populacional, enquanto investimentos em educação infantil universal reduzem em 12% os índices de criminalidade juvenil a longo prazo, conforme avaliações de impacto do programa Head Start nos Estados Unidos, que acompanha beneficiários desde 1965.

A felicidade humana, perseguida com intensidade ao longo da existência adulta, encontra suas fundações mais sólidas nas memórias afetivas da infância, com o Gallup World Poll de 2025 indicando que 72% dos adultos que relatam altos níveis de bem-estar subjetivo associam essa condição a experiências de brincadeira livre e segurança emocional nos primeiros dez anos de vida, contraste que se aprofunda em sociedades onde o tempo infantil é comoditizado, com crianças de classes médias urbanas dedicando até 15 horas semanais a atividades estruturadas segundo o American Journal of Play em 2024, reduzindo o espaço para a imaginação espontânea que neurocientistas da Universidade de Yale identificam como precursora da criatividade inovadora em 65% dos casos estudados.

Outrora valorizado como a mais preciosa riqueza, o tempo descompromissado da infância, que se estendia em dias aparentemente infinitos e noites repletas de possibilidades, é agora quantificado pelo Relatório Tempo e Sociedade, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) de 2023, como o recurso mais escasso nas famílias urbanas brasileiras, onde pais empregados passam em média apenas 34 minutos diários em interações de qualidade com filhos menores de seis anos, contribuindo para uma geração que, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE de 2024, apresenta taxas de ansiedade 40% superiores às registradas na década de 1990 entre adolescentes de 12 a 17 anos.

A redescoberta desse tesouro perdido, abandonado nas veredas floridas que conduziam à maturidade acelerada, emerge como imperativo civilizatório à medida que o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento em seu relatório especial, Childhood in the Anthropocene de 2025, projeta que, sem reversão das tendências atuais de compressão temporal infantil, até 2030, cerca de 250 milhões de crianças sofrerão déficits de desenvolvimento cognitivo devido ao estresse crônico e à falta de brincadeira livre, demandando uma reconfiguração societal que priorize o tempo não estruturado como direito fundamental e motor de progresso humano sustentável.

 

A frase que foi pronunciada:

“Criar é tão difícil ou tão fácil como viver. E é do mesmo modo necessário.”

Fayga Ostrower

Foto: Acervo Instituto Fayga Ostrower/Divulgção

 

História de Brasília

O regime parlamentarista trouxe, também, alteração no sistema escolar. No Colégio D. Bosco, de Brasília, os alunos estão organizados de maneira parlamentarista, e o Primeiro Ano B, já elegeu o seu presidente e o Conselho. ( Publicada em 11.05.1962)

Cancelamento nosso de cada dia

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Ilustração: portaldacomunicacao.com

 

Infelizmente, o século XXI, com todos os avanços na ciência que estamos presenciando, não foi capaz ainda de se livrar dos vícios do mundo antigo. Não do mundo, propriamente dito, mas do comportamento dos homens nas suas relações entre si. Movidos pela força da seleção natural das espécies, herdada de nossos antepassados, prosseguimos ainda em disputas que só nos tem trazido decepções, guerras e mortes.

Movidos por impulsos ainda muito ligados à seleção natural, à hierarquia, ao domínio, seguimos como homens das cavernas. Apesar de termos evoluído das armas convencionais para as digitais, seguimos numa disputa incessante que, ao invés de nos levar à utopia, nos arrasta ao palco de decepções, guerras e mortes. A era da informação de massas, das redes globais, dos algoritmos, nos dotou de poderosas plataformas de visibilidade e de invisibilidade. E é justamente nesse limiar que surge o fenômeno do cancelamento do indivíduo: a exclusão, a “ban” simbólica, a condenação pública que retira a voz, o trabalho, o espaço social, não necessariamente porque se cometeu um ato claro de violência, mas, muitas vezes, porque se ousou questionar o consenso, pôr em dúvida a narrativa dominante, desafiar o que está “aceito”. Com a tecnologia da informação de massas, passamos agora a ter em mãos a mais nova arma de aniquilação do outro, o cancelamento do indivíduo nas redes e no mundo virtual. A arma que mata a voz.

O que hoje se chama de “onda woke” ou “justiça social” emergiu com vocação crítica dirigida aos abusos, às minorias historicamente oprimidas, ao poder que silencia. Contudo, esse impulso tem um lado sombrio: a definição de quem “merece” permanecer ativo e quem deve ser retirado do palco. Basta que alguém postule um pensamento divergente, ainda que legítimo, para que surja o linchamento virtual, a pressão de públicos ou empresas, o “cancelamento”.

Como define de forma generalista o conceito: a retirada de apoio, o boicote, a expulsão social de alguém por algo considerado ofensivo ou incompatível com o discurso dominante. Esse movimento, que muitas vezes nasce com propósitos emancipatórios, corre o risco de se tornar opressor: quando a lógica do punir substitui o diálogo; quando o erro humano deixa de ser oportunidade de aprendizado e passa a ser sentença irrevogável; quando a pluralidade é trocada por conformidade. Em outras palavras: quando o “cancel” (o apagamento) se torna a nova forma de poder silencioso, implacável, mas ainda tão brutal quanto qualquer “carta de execução” do passado.

Vejamos alguns exemplos concretos. A autora J.K. Rowling, mundialmente conhecida, enfrentou boicotes e forte reprovação pública após declarações que muitos interpretaram como transfóbicas. O caso mostra como até figuras de enorme projeção se tornam vulneráveis quando se afastam do discurso aceito. Outro exemplo: o ator Liam Neeson, em 2019, ao contar uma história de intolerância que teve, sofreu forte reação negativa, cancelamento promocional imediato e prejuízos à divulgação de seu filme. E mais: a ativista digital Suey Park, ao lançar a hashtag #CancelColbert, em 2014, tornou-se símbolo de como o “cancel” também se volta contra quem julga expondo-se a represálias, ameaças, perseguição online. Esses casos expõem nuances importantes: nem todo cancelamento é igual, nem todo discurso “cancelado” é injusto, mas o padrão revela algo maior. O padrão de silenciar vozes incômodas, ou simplesmente diversas, elimina o risco, a diferença, a contradição. É uma forma moderna de “apagamento social”.

Em sociedades distópicas (e estamos perto disso), apreender quem pode falar e quem deve calar é um dos modos de controle mais eficazes invisível, digital, rápido. Um clique, um tweet, um julgamento coletivo: e lá se vai o indivíduo. Mais ainda: se considerarmos que a tecnologia da informação de massas está nas mãos de poucas plataformas, algoritmos, corporações percebemos que o poder de “cancelar” não é igual para todos. Aqueles dentro da bolha dominante disciplinam quem sai dela. Ser “fora do consenso” implica risco de exclusão. O “apagado” deixa de existir no feed, no trending, na visibilidade como se sua perda tivesse menos valor que a de uma árvore derrubada no deserto. Isso não significa que não haja responsabilidades ou que tudo deva ser aceito sem crítica. Muito pelo contrário: o combate ao ódio, à discriminação, à injustiça ainda é urgente, necessário, vital. Mas a questão central é: quem decide o que é ofensivo? Qual o critério para exclusão? Qual o direito de redenção, de retratação, de falha humana?

Porque se o mecanismo se torna automático, implacável, sem margem de erro ou recuperação ele cria uma nova tirania moral. E, para quem questiona, o maior perigo talvez seja que esse fenômeno se naturalize. Que a sociedade chegue a um ponto em que o simples ato de pensar diferente ou de questionar o “mainstream” seja suficiente para desencadear seu “apagamento”. A lógica da disputa permanece: seleção, porém, agora digital, social e não evolução. A guerra, não entre exércitos, mas entre narrativas, reputações, visibilidades. E o vencedor é aquele que permanece no palco, não necessariamente o que propõe o melhor argumento. É preciso, portanto, retomar o valor do debate, da heterodoxia, da contradição, mesmo quando incômoda. No fim, fica o desafio: viver sem a máscara do agrado, discordar sem o pânico da exclusão. E lembrar que a maior arma hoje pode não ser o rifle ou a bomba, mas o silêncio imposto. E que silenciados, por vezes, são aqueles que mais precisavam falar.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Eis uma definição de wokeismo: Há pessoas sentadas ali, esperando deliberadamente pela emoção de se sentirem ofendidas.”

John Cleese

John Clesse. Fotografia: Suzanne Plunkett/Reuters

 

História de Brasília

E’ preciso que se esclareça de uma vez por tôdas, que Brasília não pode ser dividida em capitanias políticas, e que interesses particulares não podem prevalecer em administração publica. (Publicada em 11.05.1962)

Antes que seja tarde

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Foto: REUTERS/Ricardo Moraes

 

A megaoperação policial deflagrada no Rio de Janeiro revela um país em convulsão e um Estado que perdeu o controle sobre vastas porções de seu território. As cenas de guerra urbana, helicópteros sobrevoando favelas e confrontos que duram horas, não são apenas sinais de um problema localizado, são sintomas de uma doença nacional. O crime organizado brasileiro já não se limita a ser uma ameaça doméstica; transformou-se em um poder paralelo, com tentáculos que alcançam o exterior, articulando-se como uma verdadeira multinacional do crime. Mais uma vez, o que está em jogo, neste momento, é a própria soberania do país.

As facções criminosas, outrora limitadas ao tráfico de drogas, expandiram suas operações para o garimpo ilegal, o contrabando de armas, o tráfico de pessoas e até a corrupção política. São conglomerados que movimentam bilhões por ano, lavam dinheiro com eficiência empresarial e impõem regras próprias em regiões inteiras. Em muitas áreas, o Estado já não dita as normas, apenas as observa impotente. A fronteira entre o legal e o ilegal se tornou porosa, e há cada vez mais evidências de que agentes públicos, empresários e políticos atuam como intermediários dessas organizações. Quando o crime penetra o tecido institucional e passa a influenciar decisões de governo, o país dá os primeiros passos rumo a um narcoestado. Esse processo de corrosão não se fez do dia para a noite. Décadas de descaso, de políticas públicas inconsistentes e de discursos ideológicos mal calibrados prepararam o terreno. A atuação de certas organizações e setores políticos, que, sob o pretexto de defender os direitos humanos, passaram a deslegitimar qualquer ação de enfrentamento, criou uma paralisia operacional.

Ao mesmo tempo, governos se alternaram no poder sem formular uma política de segurança nacional articulada, preferindo respostas imediatistas: operações espetaculares que produzem manchetes, mas não resultados duradouros. Combater o crime é necessário; mas sem inteligência, sem planejamento e sem vontade política, o esforço se converte em mero teatro.

No cenário internacional, a percepção sobre o Brasil se agrava. O governo dos Estados Unidos, em recente pronunciamento, classificou organizações criminosas latino-americanas como terroristas, equiparando-as a grupos que representam ameaça direta à segurança global. Essa decisão é um divisor de águas: ao redefinir a natureza desses grupos, Washington abre espaço para ações extraterritoriais e sanções financeiras que podem atingir inclusive o território brasileiro. O alerta americano soa como uma advertência diplomática e como uma constatação desconfortável  de que o problema aqui já ultrapassou fronteiras.
Se o Brasil continuar negando a dimensão internacional do crime organizado, poderá assistir, em breve, à ingerência de potências estrangeiras em sua própria política de segurança. A omissão do governo federal diante dessa escalada preocupa. O discurso de negação, a crítica automática às forças de segurança e a insistência em soluções puramente sociais necessárias, mas insuficientes — apenas aprofundam a crise. O que está em curso é uma simbiose entre crime, poder econômico e estruturas políticas, e enfrentá-la requer algo mais que slogans.

É preciso inteligência integrada, cooperação internacional em bases de soberania e, sobretudo, coragem para desmontar os esquemas de corrupção que sustentam o crime por dentro do Estado. Sem isso, o país continuará a reagir de modo errático, oscilando entre a violência e a impotência. O risco de o Brasil tornar-se um modelo acabado de narcoestado é real. Quando o poder das armas e do dinheiro ilícito se sobrepõem ao das instituições, a democracia se desfaz silenciosamente. O que se inicia nas vielas e fronteiras termina nas cúpulas do poder.

Evitar esse destino exige um pacto republicano que ultrapasse ideologias: segurança pública eficiente, justiça independente, fortalecimento das fronteiras e políticas sociais que retirem das facções suas principais forças de recrutamento: a miséria e o abandono. A operação no Rio não deve ser lida como um episódio isolado, mas como um grito de alerta.

Se o Estado não reconquistar sua autoridade, se a sociedade continuar a relativizar a gravidade da ameaça e se a classe política insistir em discursos de conveniência, em breve, o Brasil deixará de ser apenas um país violento para tornar-se algo pior: um território governado pelo medo, pela corrupção e pelas armas. A hora de reagir é agora.

 

A frase que foi pronunciada:
“Continuaremos firmes no enfrentamento ao tráfico de drogas e ao crime organizado.”
Lula

Lula. Foto: Getty Images

História de Brasília
Nada mais injusta do que a campanha que vem sendo mantida contra o engenheiro Waldemar Lucas, prefeito de Taguatinga. Até hoje ninguém assumiu aquele cargo para dedicar a mesma atenção, e o mesmo interêsse pela solução de milhares de lotes ocupados ilegalmente do que o atual subprefeito. (Publicada em 11.05.1962)

The Economist, o recado está dado.

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Lula. Foto: Getty Images

Nessa semana, a revista The Economist mostrou reportagem em que faz severas críticas à pessoa e à atuação política do presidente brasileiro. Tanta repercussão causou nos bastidores que o próprio Itamaraty teve que entrar em cena para em carta defender nosso comandante. Por mais que se pretenda defender o mandatário, as críticas, na sua grande maioria, são procedentes e mostram que o líder nacional está perdido no espaço, talvez pelo pesar dos anos de uma vida regada a álcool e a excessos de todo o tipo. O importante aqui é saber até que ponto o atual governo tem sido de fato o responsável pelo aprofundamento da crise econômica e política que, mais uma vez, vai empurrando o país para a periferia do mundo civilizado, transformando o Brasil numa espécie de pária internacional, ligado aos piores e mais falidos regimes do planeta.

Neste momento, vivemos um grave risco estrutural: à medida que o mundo se realinha geopoliticamente e fortalece cadeias de valor modernas, a atuação do governo sinaliza um recuo em suas capacidades como ator internacional relevante e coloca em xeque o projeto de retomada econômica sustentada. A recente avaliação da The Economist de que Lula “perdeu influência no exterior e é impopular no Brasil” traz, em forma de alerta editorial, o que está em jogo para o país. O primeiro grande problema é a política externa. O Brasil tem dado preferência visível a países como China, Rússia e Irã, numa guinada que a revista qualifica como “cada vez mais hostil ao Ocidente”. O alinhamento ou a aparência de alinhamento com regimes autoritários ou contestados internacionalmente compromete a credibilidade do país junto a mercados, investidores e parceiros tradicionais.

Em um mundo onde confiança, previsibilidade e integração global geram crescimento, o Brasil corre o risco de se tornar peripheral – menos interlocutor, mais espectador. Em segundo lugar, um perfil interno de fraqueza institucional parece crescer. The Economist destaca que a desaprovação popular atingiu níveis críticos, e que o Legislativo derrubou um decreto presidencial, algo inédito em décadas, mostrando que o Executivo perdeu fôlego político.

Se a política econômica e institucional perde sustentação, a estabilidade requerida para investimentos, reformas e credibilidade se esvai rapidamente. A economia, claro, sofre o impacto. Apesar de alguns dados pontuais positivos, a tendência é de estagnação ou de crescimento fraco se nada for feito para modernizar a estrutura produtiva, logística, regulação e geração de valor agregado. Um presidente que se isola internacionalmente e que acumula desgaste interno dificilmente mobiliza energias para reformas profundas. Assim, o Brasil pode estar prestes a repetir ciclos de baixo crescimento, déficit estrutural e falta de dinamismo, exatamente o oposto da narrativa de “novo ciclo” que muitos pregam. Além disso, a identidade internacional do Brasil que, há poucos anos, era de “potência intermediária” em ascensão corre o risco de se converter em país alinhado majoritariamente a regimes falidos ou contestados. Isso não só fragiliza o soft-power brasileiro, mas cria vulnerabilidades: mercados multilateralizados podem preferir fornecedores, parceiros ou blocos que ofereçam menor risco reputacional ou político.

Se o Brasil se torna aliado de regimes vistos como instáveis ou autoritários, ele se expõe e pode pagar o preço em barreiras comerciais, financiamento internacional e até insegurança geopolítica. No âmbito interno, a imagem de um presidente “perdido no espaço” fruto, segundo alguns críticos, de anos de vida pública marcada por excessos embora mereça cautela, simboliza para muitos a sensação de que não há uma liderança clara, renovadora e propositiva. A combinação de desgaste, rumor de alianças de conveniência e ausência de projeto claro de futuro configura um terreno fértil para que o país fique refém de “gestão do dia a dia” em vez de “dobradinha de rumo e execução”.

Essa é a fórmula para que o país tenha muito a perder: a falta de influência externa, o declínio interno de legitimidade, a incapacidade de gerar crescimento robusto, o risco de isolamento diplomático e econômico, e a possível transformação de parceiro relevante em bem-menos-importante. A estagnação econômica pavimenta o caminho para o desemprego, a migração de cérebros, a fuga de capitais, e o retrocesso social. O prestígio perdido dificulta reformas estruturais porque reduz tanto o “capital político” quanto o “capital internacional”, que viabilizam grandes movimentos.

Para reverter esse quadro, o país precisa urgentemente que o presidente e a coalizão que o apoia retornem à lógica de construção de confiança: confiança internacional (parcerias sólidas, não conjunturais), confiança doméstica (instituições funcionando, execução crível) e confiança econômica (produto crescente, investimento privado, funcionamentos de mercado). Sem isso, o Brasil não apenas deixará de decolar, ele corre o risco de retroceder. O cenário ideal em vez de “país pária” não é inevitável, mas exige que se pare de repetir erros do passado e venha a assumir com humildade que, sob a liderança atual, há mais interrogações do que certezas.

A reportagem da The Economist não deve ser lida como simples provocação estrangeira, ela serve como espelho desconfortável de uma situação que parece melhor compreendida à distância, fora do alcance da censura e dos adesismos de ocasião.

 

A frase que foi pronunciada:

“O trabalho foi o primeiro preço, o dinheiro original que foi pago por todas as coisas. Não foi com ouro ou prata, mas com trabalho, que toda a riqueza do mundo foi originalmente comprada.”

Adam Smith

Adam Smith The Muir portrait. Imagem: wikipedia.org

História de Brasília

Na Quadra 7 do SCR as calçadas não estão completas. Onde há casa comercial, a calçada é feita. Onde há passagem para a W-2 é todo esburacado o piso. (Publicada em 10.05.1962)

“É mais fácil ali nos Correios”

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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil (12.mar.2018)

 

Graças às velhas, insistentes e corrosivas políticas de dilapidação das estatais, os Correios vêm a público anunciando que entraram, mais um vez, em estado de falência completa. Querer resultados diferentes usando os mesmos métodos dá nisso. Não é de hoje que tanto os Correios como outras estatais, submetidos às mesmas políticas de aparelhamento e razia, anunciam, uma após outra, que os prejuízos superam imensamente os lucros e não há reza forte que possa mudar o rumo dessa triste sina. Afinal, é para isso, justamente, que servem as estatais. Conhecendo o modus operante dos especialistas em vermelho, o balanço estranho seria se a estatal viesse a declarar algum lucro. Somente nesses dois anos de governo, mais de 550 agências franqueadas fecharam as portas por todo o país. Outras 38 foram fechadas pelo próprio governo. Para socorrer a estatal, o governo busca, com o aval do Tesouro, por bancos que possam emprestar R$ 20 bilhões de forma emergencial. Os bancos, obviamente, fogem desse tipo de negócio, pois sabem que a estatal prosseguirá submetida aos mesmos modelos de exploração tóxicos.

Empresas públicas, a rigor, não entram na prática, em regime ou estado de falência e insolvência, pois contam com os recursos ilimitados dos pagadores de impostos. O governo sabe disso e, talvez, por essa razão, prossiga com sua política de controlar as estatais. O curioso é que os Correios e milhares de empregados ainda experimentam as consequências ruins advindas da quebra do fundo de pensão Postalis. A falência anunciada das estatais e o rombo dos Correios já eram dados com ceros, era só uma questão de tempo.

No Brasil contemporâneo, a combinação de elevado poder estatal, modelos de gestão pouco transparentes e forte ingerência política tem se mostrado fatal para o desempenho de empresas públicas que deveriam servir ao interesse coletivo e abrigar especialistas em gestão. A crise dos Correios, cujos resultados do primeiro semestre de 2025 apontam para um rombo de cerca de R$ 4,3 ou 4,4 bilhões, acumulados entre janeiro e junho, é um dos casos mais emblemáticos desse declínio estrutural. Esse valor já supera o prejuízo total de 2024, ano em que a estatal registrou déficit de aproximadamente R$ 2,6 bilhões. No segundo trimestre de 2025, isoladamente, os Correios sofreram um prejuízo de cerca de R$ 2,64 bilhões, quase cinco vezes o valor negativo do mesmo período de 2024. Esse tipo de devastação financeira indica não apenas uma má fase conjuntural, mas problemas de fundo: modelo de negócio erodido, custos em aceleração, receitas em queda e, sobretudo, uma incapacidade de gestão. A receita líquida da estatal caiu de cerca de R$ 9,28 bilhões no primeiro semestre de 2024 para aproximadamente R$ 8,18 bilhões no mesmo período de 2025. As despesas gerais e administrativas saltaram de aproximadamente R$ 1,2 bilhões para R$ 3,4 bilhões. Além disso, houve crescimento expressivo de despesas financeiras e precatórios, que pesaram no resultado final. Do ponto de vista macro, o panorama das estatais federais como um todo é igualmente preocupante. Segundo o Banco Central do Brasil (BC), as empresas estatais federais acumularam déficit de cerca de R$ 5,52 bilhões no período janeiro-julho de 2025, um recorde para o conjunto da série histórica. Nos primeiros quatro meses de 2025, o mesmo conjunto já apresentava déficit de R$ 2,73 bilhões.

Esses números geram duas reações automáticas e legítimas: a primeira é a constatação de que os recursos públicos estão sendo drenados, em vez de investidos em retorno para a sociedade. A segunda refere-se à pergunta: por que, apesar dos alertas e dos sucessivos resultados negativos, o ciclo não se interrompe? Por que tantas estatais continuam operando em regime de prejuízo persistente? A forte presença política e instrumentalização das estatais como ferramenta de poder: indicações políticas, larguíssimo quadro funcional, estratégias que privilegiam manutenção de rede ou de presença sobre eficiência econômica, além do fato de que muitas estatais têm na missão social o elemento central, o que exige equilíbrio difícil entre função pública e sustentabilidade financeira. A junção desses fatores acaba em “resultados diferentes com os mesmos métodos”, como já foi destacado em críticas públicas.

No âmbito dos Correios, há ainda o agravante de que o governo federal tem buscado medidas de “socorro” para a empresa pública buscando valores emergenciais, que serão garantidos pelo Tesouro Nacional, por meio de buscas por linhas de crédito, o que evidencia que a estatal está, de fato, em “estado de falência” operacional, na medida em que depende de recursos públicos para manter funcionalidade.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Eu estou coletando assinaturas para a abertura de uma CPMI dos Correios”

Deputado Zé Trovão

Deptado Zé Trovão. Foto: camara.leg

 

História de Brasília

Na Quadra 7 do SCR as calçadas não estão completas. Onde há casa comercial, a calçada é feita. Onde há passagem para a W-2 é todo esburacado o piso. (Publicada em 10.05.1962)