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Quatro livros para refletir sobre as lutas femininas

Publicado em ensaio, feminismo, filosofia, gênero, literatura, livro, machismo, racismo, sociologia

Quer aproveitar o embalo do dia 8 de março e ler algo relacionado às lutas femininas? A história do Dia Internacional da Mulher começa lá no fim do século 19, com as batalhas pelos direitos civis, pela igualdade, pelo voto e por uma série de reivindicações que, até hoje, ainda estão em processo de conquista. Então, para dar crédito ao movimento, conhecer um pouco da escrita produzida por mulheres que pensaram esses temas, seja na ficção, seja no campo da reflexão, sempre acrescenta. O mercado editorial brasileiro está bem-servido do tema, então vai aqui uma lista de quatro livros para mergulhar em discussões como o feminismo negro, as mulheres e a ditadura brasileira, o abuso e a espera pelo pedido de desculpas.  

 

E eu não sou uma mulher? Mulheres negras e feminismo

De bell hooks. Tradução: Bhuvi Libanio. Rosa dos Tempos, 320 páginas. R$ 39,90

O imperialismo racial e sua ligação com o sexismo, discriminação nos próprios movimentos feministas e racismo estrutural como arma ideológica são alguns dos temas tratados pela ativista norte-americana nesse ensaio cujo título ela toma emprestado de Sojourner Truth, que questionou a exclusão das mulheres negras dos movimentos sufragistas dos Estados Unidos. Os temas de hooks são árduos, mas tratados a partir de contextos, o que torna a leitura fluida e extremamente atrativa. O livro foi publicado originalmente em 1981, um tempo em que o intercâmbio entre os movimentos feministas e dos direitos civis tocados por mulheres negras não era muito evidente. Algumas coisas mudaram de lá para cá, mas o texto de hooks, que assina o nome com letras minúsculas para não concentrar a atenção em si mesma, continua extremamente atual. 

 

 

O corpo interminável

De Claudia Lage. Record,194 páginas. R$ 49

Daniel foi criado pelo avô. A mãe, guerrilheira durante a ditadura, entrou para a lista dos desaparecidos cujo destino permanece incerto. Pode ter morrido, mas nunca houve um corpo. E é em busca dessa figura que ele está quando conhece Melina em uma biblioteca. Ambos buscam o mesmo livro, mas por motivos bem diferentes. Daniel tenta, por meio das palavras, suprir uma ausência. Melina também busca a linguagem, mas ela não conhece a ausência, já que os pais decidiram nunca olhar para o ocorrido e passaram pelos anos de ditadura como passariam por quaisquer outros. O livro de Claudia Lage tem várias vozes, mas todas se unem para falar de um período sofrido e de personagens marcados por uma história coletiva. 

 

O pedido de desculpas

De Eve Ensler. Tradução:Gilson César Cardoso de Sousa. Cultrix, 128 páginas. R$ 32,90

A ativista e dramaturga passou boa parte da vida à espera de um pedido de desculpas. Durante a infância, foi vítima de abuso sexual e psicológico por parte do pai e, mesmo depois de morto, Eve ainda imaginava um pedido de desculpas, que obviamente nunca ocorreu. Com a intenção de transformar a escrita em uma espécie de tratamento, ela mesma decidiu formular o pedido e escreveu o texto do livro. A autora, que fez sucesso com Os monólogos da vagina, faz sua própria análise da personalidade paterna e dos caminhos violentos empreendidos por essa figura, mas sempre com a voz masculina do pai no comando da narrativa.

 

Com o corpo inteiro

De Lucila Losito Mantovani. Pólen Livros, 168 páginas. R$ 45

O corpo conduz as narrativas da autora nesse livro escrito em duas partes e que pode ser lido em dois sentidos. A história se divide e pode começar no início ou no fim do livro e em ambos é a mesma: a de um relacionamento abusivo, a de um encontro entre dois corpos que resulta em violência. Há poesia na escrita de Lucila, mas há também um peso que envolve a narrativa e conduz o leitor para lugares sombrios. “Não se combate realidade com realidade. Escrever ficção tornava-se para mim uma forma de romper com a separação. Talvez fosse possível integrar a própria quebra”, explica a narradora em um misto de autoficção e criação literária. “Em que tempo mora o destino? Presente, passado ou futuro? Camah-se ingenuidade ou cegueira aquilo que nos prende ao que nos faz mal? É a minha animalidade que te mete medo ou a sua?”, se pergunta a personagem.