Zerar tributos de combustíveis é o “Plano Real” de Bolsonaro

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Num jantar com a bancada mais afeita ao seu setor, o ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, disse em alto e bom som ao deputado Danilo Forte (União Brasil-CE): “Você salvou o governo. Muito obrigado”. Danilo Forte é autor do PLP 18/22, que limita a cobrança de ICMS dos combustíveis e energia, e serviu de pontapé para as negociações em torno de projetos para reduzir o preço do diesel e da gasolina. Se der certo, trará benefícios eleitorais ao presidente Jair Bolsonaro (PL). “Não interessa a cor do gato, o importante é que pegue o rato”, diz Forte, que acredita piamente na redução do preço do combustível na bomba, ou na amenização dos efeitos de reajustes.

O ex-presidente Lula já se posicionou contra o texto. Líder das pesquisas de intenção de voto, disse que Bolsonaro deveria ter coragem de pedir à Petrobras que parasse com os reajustes vinculados ao mercado internacional. Bolsonaro já tentou, mas ainda não conseguiu. A aposta na redução dos impostos é o que o governo considera viável no curto prazo. Se der certo, Lula ouvirá dos bolsonaristas o mesmo que ouviu, quando o Plano Real deu resultado, em 1994. O PT foi contra e o posicionamento lhe custou a eleição daquele ano, em que o petista também liderava as pesquisas. Alguns integrantes do PT têm o mesmo receio agora. Afinal, a história, muitas vezes, se repete.

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E por falar em Lula, o mapa da fome que apontou 33 milhões de brasileiros em situação de insegurança alimentar — uma alta de 14 milhões em relação ao último levantamento —, é visto no PT como a linha mestra do programa de governo. A aposta é de que a população tem a memória de criação do Bolsa Família e que, por aí, será possível assegurar a volta de Lula ao Planalto.

Muita calma nessa hora

O projeto que o PT encaminhou aos partidos com diretrizes para um plano de governo, com fim do teto de gastos e da reforma trabalhista, foi tão criticado por aliados que os próprios petistas estão pedindo calma a todos. Afinal, o texto não passa de uma carta a ser discutida e reformulada ao longo dos debates.

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Conversa paulista/ O ex-governador de São Paulo João Doria retoma suas atividades empresariais e políticas com um forte zunzum de que poderá ser candidato a deputado federal para puxar bancada.

Diferenças/ No Planalto, diz-se que Bolsonaro não pedirá para que Damares Alves desista de concorrer ao Senado. Isso porque a avaliação é de que a ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos é Bolsonaro raiz, enquanto Flávia Arruda (PL-DF), também pré-candidata ao Senado, está Bolsonaro por conveniência política.

Consulta/ No intervalo do CB.Poder de ontem, com Damares, ela vira para assessoria e pergunta: “Estou muito brava?”

Inversão dos fatores/ Uma parte do PSDB acredita que, embora o MDB resista a ceder a cabeça de chapa no Rio Grande do Sul, será possível insistir nisso quando os tucanos apoiarem Simone.

Frase de Lula implode negociações com tucanos

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O conselho político da pré-campanha de Luiz Inácio Lula da Silva já foi avisado de que a declaração do ex-presidente — “O PSDB acabou” — fez refluir o discurso ensaiado por setores do partido em defesa de uma frente ampla anti-Bolsonaro. Apesar das desculpas de Lula, os tucanos não vão entrar mais nesse barco, até porque o partido está dividido.

Com esse recuo do PSDB, Lula foi aconselhado, mais uma vez, a moderar as palavras. Afinal, para vencer a eleição — e governar depois —, precisará justamente dos partidos que os petistas desprezam, como PSDB e MDB — e aqueles do Centrão.

A avaliação interna é de que as legendas que hoje sustentam o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) têm tudo para chegarem fortes ao Congresso no ano que vem, uma vez que juntaram uma gama de prefeitos em apoio aos seus parlamentares. Portanto, não é hora de cutucar quem pode ser aliado amanhã.

Sachsida no sal

O novo ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, mal chegou e já está deixando parlamentares e o setor elétrico irritados. Havia uma expectativa de que ele apresentaria aos congressistas um plano que ajudasse a aliviar a situação de preços no setor de energia (combustíveis e luz elétrica). Até aqui, esse programa não apareceu. Quem apresentou foi a Câmara, ao votar o projeto de limitação do ICMS nesses setores.

 

PT considera que o Sul é crucial para vitória no primeiro turno

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A região em que o presidente Jair Bolsonaro (PL) lidera as pesquisas é vista pelo PT como prioritária para tentar consolidar os votos que faltam para garantir uma vitória de Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro turno, conforme avaliam seus aliados. Os lulistas acreditam que se o ex-presidente melhorar a performance na região, a conta de chegada fecha e o partido pode conquistar a marca inédita em sua história. O trabalho, agora, será conquistar tudo o que for possível em termos de apoios e reforçar, no Sul, o discurso de ameaça à democracia. Lula irá ao Rio Grande do Sul com Geraldo Alckmin e, além desse tema, tentará organizar o palanque estadual e evitar que o PSB siga para Ciro Gomes (PDT).

Vale lembrar que, além do PT, quem vê o Sul com esperança de crescimento nas pesquisas é Simone Tebet, do MDB. Ela trabalha para levar o diretório gaúcho a apoiar a candidatura de Eduardo Leite a governador. Leite ainda não anunciou oficialmente que será candidato a mais quatro anos no Piratini. Simone aguarda apenas esse anúncio para tentar garantir a união de tucanos e emedebistas no estado.

Vai com calma

A pressa de alguns aliados de Lula em busca de declarações de apoio ao ex-presidente ainda no primeiro turno, por parte de adversários nos estados, é vista como um movimento que pode terminar prejudicando o próprio PT. Em São Paulo, por exemplo, os petistas não querem saber de conversa com o governador Rodrigo Garcia (PSDB), pré-candidato à reeleição. Apoio não se nega, mas os mais afoitos têm que entender que o lugar de Lula é ao lado de Fernando Haddad, avisam alguns.

Qualidade do gasto
Com dois presidentes na disputa ao Palácio do Planalto, a forma como os governos gastam o suado dinheiro dos impostos vai entrar na campanha deste ano. Os bolsonaristas vão lembrar dos financiamentos milionários ao porto de Mariel, em Cuba, e obras na África, além de aportes em projetos que não deram certo. Os petistas vão citar os gastos com as emendas de relator, que beneficiam os aliados do Planalto.

Memória
Os bolsonaristas, aliás, estão coletando todos os investimentos feitos nos governos petistas que terminaram dando em nada. Neste fim de semana, por exemplo, ao ler a entrevista do economista Marcos Mendes à Folha de S.Paulo, aliados do presidente já pediram a técnicos os gastos com estaleiros e sondas, inclusive caso da Sete Brasil, empresa criada para construir sondas para exploração do pré-sal, que terminou servindo ao propinoduto desvendado pela Lava-Jato.

Água fria
A fala do secretário de Fazenda de São Paulo, Felipe Salto, contra o projeto que limita a cobrança de ICMS sobre energia e combustíveis, terá reflexo no voto dos senadores. Salto dirigiu o Instituto Fiscal Independente (IFI) do Senado, e é respeitado por todos os partidos na Casa.

Mudança de hábito/ Bolsonaro fez a motociata em Goiás de capacete. A atitude veio depois que Genivaldo Santos foi parado pela Polícia Rodoviária Federal por estar sem o equipamento de segurança obrigatório e terminou morrendo depois de ser colocado dentro de uma viatura transformada em câmara de gás.

Neto na área/ Depois de saber que os adversários colocaram olheiros para acompanhar as andanças pela Bahia, o ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, decidiu fazer pirraça. Pede a todos os presentes que levantem as mãos e faz uma selfie num ambiente lotado. A presença dos olheiros, porém, é para tentar caracterizar as imagens como pedido de voto para ingressarem com ações na Justiça Eleitoral por campanha antecipada.

Sabatina do Correio/ O Correio Braziliense tem encontro marcado com os pré-candidatos à Presidência da República na terça-feira. Vamos ouvir as propostas que a maioria deles defenderá na campanha.

Últimas semanas/ Com as festas juninas logo ali Nordeste afora, e a campanha eleitoral aquecida, essas duas semanas antes do dia de Santo Antonio, em 13 de junho, são consideradas cruciais para debate presencial de temas importantes no Parlamento.

Pesquisa Datafolha pode servir como embalo para acordos para o PT

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A pesquisa Datafolha que aponta uma vantagem de 21 pontos para Lula e o desenho de um cenário em que, pela primeira vez, o PT pode vencer uma eleição no primeiro turno, servirá de ferramenta para a busca de acordos nos estados. Inclusive em São Paulo.

Nem tanto
O pré-candidato do PSB a governador Márcio França, um exímio leitor de pesquisas, considera que pode ajudar a consolidar um quadro de primeiro turno, caso seja o candidato.

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Arruda, a volta/ A decisão do ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal, de reconhecer a competência da Justiça Eleitoral para julgar os processos contra o ex-governador José Roberto Arruda balança os acordos políticos no DF. Até o fim de julho, quando começam as convenções para a escolha de candidatos, todos vão trabalhar com um olho na pré-campanha e outro na Justiça Eleitoral. Os aliados do ex-governador têm esperanças de que ele possa concorrer às eleições deste ano.

Usa aí, vai/ O deputado Daniel Silveira, do PTB-RJ, foi aconselhado por advogados amigos a usar a tornozeleira eletrônica, a fim de evitar novas multas. Até aqui, já são mais de R$ 600 mil, e ele não tem recursos para pagar. Nesse ritmo, em vez de vaquinha para financiar a campanha, terá de buscar recursos entre os apoiadores para pagar as dívidas com a Justiça.

O perigo para ACM Neto/ O ex-prefeito de Salvador ACM Neto fará tudo o que estiver ao seu alcance para deixar a sucessão presidencial fora da Bahia. Só tem um probleminha: os petistas contam com Lula para alavancar o candidato do partido, Jerônimo Rodrigues. E Jair Bolsonaro, hoje, tem o deputado João Roma (PL), seu ex-ministro da Cidadania, como candidato a governador.

Assim, vai ficar aqui/ Conhecido, também, pelos quitutes mineiros que sempre leva para a Câmara às quartas-feiras, o deputado Fábio Ramalho (MDB-MG) animou a tarde de votações, esta semana, ao levar quibes e linguiça para o cafezinho do plenário. À mesa, um deputado comentou baixinho: “Os lanches do Fabinho vão fazer com que ele não ganhe a disputa para ministro do Tribunal de Contas da União. A turma não vai querer que ele saia da Câmara”.

PT fomenta polarização para tentar vencer no 1º turno

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Embora 90% das candidaturas estaduais do MDB tenham chancelado o acordo pelo lançamento da senadora Simone Tebet à Presidência da República, o PT e seus aliados vão trabalhar para conquistar o que puder ainda no primeiro turno. Na reunião que formatou o conselho político da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi dito que, em todos os anos de eleição presidencial, o PT nunca encontrou um cenário tão favorável em maio quanto o de agora. A expressão “primeiro turno” não foi dita por Marcos Coimbra, que fez a apresentação dos dados e comparações. Mas muitos dos presentes saíram com vontade de dizê-la, quebrando o histórico de que o PT não vence no primeiro turno.

A avaliação de que a polarização está consolidada será cada vez mais difundida e a ideia é tentar minar as demais candidaturas. Além do MDB, as investidas vão crescer sobre o PDT de Ciro Gomes e, conforme o leitor da coluna já sabe, vão se intensificar também sobre o PSDB, via Geraldo Alckmin.

Onde mora o perigo

O presidente Jair Bolsonaro ficou numa sinuca com o resultado da disputa interna do PL para decidir quem substituirá o deputado Marcelo Ramos no cargo de primeiro vice-presidente da Câmara dos Deputados. O vencedor Lincoln Portela é da bancada evangélica, aliada do Palácio do Planalto. Porém, o deputado Capitão Augusto (SP), bolsonarista de carteirinha, vai concorrer.

Recua aí, talquei?
A avaliação dos aliados do presidente é de que o melhor caminho é o Planalto, agora, manter distância regulamentar dessa disputa. Não dá para brigar com a bancada evangélica em pleno ano eleitoral.

Não tem benefício grátis
Os estados vão pressionar para que o teto do ICMS de 17% sobre combustíveis, energia e transporte público, instituído pelo projeto do deputado Danilo Forte (União-CE), não baixe a arrecadação. Se hoje não se chegar a um “gatilho” em caso de perda de arrecadação de 5%, por exemplo, a União teria que arcar com a diferença. Aí, quem não quer é governo federal.

No Congresso passa
O problema é que, se for a votos, a proposta passa. Com ou sem gatilho. O projeto já ganhou fama de que ajudará a baixar os preços dos combustíveis. Para completar, até no Senado, a casa dos estados, há um mal-estar em relação aos pedidos dos governadores, porque os estados não cumpriram à risca a lei que tentou padronizar a cobrança de ICMS sobre os combustíveis.

Guedes na lida/ No Fórum Mundial de Davos, o ministro da Economia, Paulo Guedes, passou boa parte do dia tentando acalmar os investidores sobre as mudanças na Petrobras.

Por falar em Guedes…/ A prévia da inflação altíssima, divulgada esta semana, trará mais dores de cabeça para a equipe econômica. A ala política quer resultados imediatos para a população.

Ausentes/ O senador Renan Calheiros (MDB-AL) e o ex-senador Eunício Oliveira (CE) não foram à reunião da Executiva do MDB. O único apoiador de Lula presente era Veneziano Vital do Rego (PB), que elogiou Simone Tebet, mas foi direto: “Lá (Na Paraíba) estamos com Lula”.

Assunto da hora/ O Instituto de Direito Público (IDP) lança, hoje, às 19h, no Salão Nobre do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o livro Eleições e Democracia na Era Digital. A obra traz o olhar de mais de 40 pessoas sobre o tema, juristas renomados, entre ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do TSE. A coordenação é de Paulo Gonet, Reynaldo Soares da Fonseca, Pedro Henrique Gonet, João Carlos Banhos Velloso e Gabriel Campos Soares da Fonseca.

 

Saída de Doria fará PT pressionar Geraldo Alckmin por mais apoio

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A saída de João Doria da disputa presidencial fará com que o PT cobre mais protagonismo de Geraldo Alckmin (PSB) no sentido de buscar votos para o pré-candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas legendas de centro. Na reunião desta semana, por exemplo, Lula foi muito claro ao dizer que seu partido precisa ampliar o leque, ainda que não seja em alianças formais. E essa tarefa, avaliam os petistas, estará mais afeita a Alckmin.

A equação, entretanto, não é fácil. Ao sair do PSDB, o ex-governador de São Paulo não levou grandes puxadores de votos do centro. E, até aqui, ele se dirigiu mais à esquerda, deixando o espaço anti-PT que ele ocupava aberto a outros personagens. Nesse sentido, será difícil Alckmin cumprir o que esperam dele.

Longe da pacificação

A saída de Doria da disputa presidencial ainda não representa a pacificação do PSDB. Ao contrário. Aumenta a pressão sobre a cúpula partidária para encontrar um caminho viável a um partido que sempre teve candidato a presidente da República. De quebra, ainda deixa o presidente do partido, Bruno Araújo, com a obrigação de ajudar a manter São Paulo, a joia da coroa — que desde 1995 é comandado pelos tucanos.

Data limite é julho
Embora tenha restado apenas a senadora Simone Tebet (MDB-MS) entre os pré-candidatos da terceira via, o PSDB não fechará agora o apoio a ela. Uma ala do PSDB não se conforma com o fato de o partido não ter um candidato a presidente da República.

Bolsonarista na área
Com a destituição do deputado Marcelo Ramos (PSD-AM) do cargo de primeiro vice-presidente da Câmara, o PL tende a permanecer com o posto. O partido quer alguém ligado ao presidente Jair Bolsonaro a fim de evitar surpresas. A fila está grande, mas existe uma torcida para a indicação do líder do governo, Vitor Hugo (GO).

O recado aos estados
A Câmara se prepara para aprovar, esta semana, o teto do ICMS
para combustíveis, energia e transporte público. No Senado, a Casa dos estados, o tema é controverso. Ali, os governadores têm mais peso.

Lá e cá/ Com a terceira via caminhando para Simone Tebet, o líder do PSDB no Senado, Izalci Lucas (DF), ficará numa situação indigesta. Pré-candidato ao Palácio do Buriti, ele se vê, agora, no mesmo palanque que o governador-candidato Ibaneis Rocha (MDB). Izalci foi um dos maiores entusiastas da candidatura de Doria, a quem apoiou nas prévias de novembro.

Por falar em prévia tucana…/ O golpe da cúpula tucana em Doria acabou de vez com a credibilidade de prévias do PSDB. O partido sai menor e com a pecha de escolher seus candidatos por conchavo de gabinete, e não por livre escolha de seus filiados.

Por falar em candidatos…/ O governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, pré-candidato à reeleição, fez questão de ficar bem longe da capital paulista quando Doria anunciou que não iria concorrer à Presidência da República. Estava em Araraquara, junto com o deputado Wanderlei Macris.

Temer, o imortal/ Nesta quinta-feira, às 17h, o ex-presidente Michel Temer toma posse na Academia Paulista de Letras. Aliás, o emedebista nunca foi tão homenageado como nos últimos tempos.

Acusações e pouca proposta na corrida ao Planalto

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Coluna Brasília-DF, por Carlos Alexandre 

Mais uma vez, o Tribunal Superior Eleitoral asseverou a lisura, a transparência e a segurança da urna eletrônica, em resposta a questionamentos elaborados pelo Ministério da Defesa. Infelizmente, é improvável que as explicações concedidas pelo corpo técnico do tribunal dissipem a celeuma — ou cortina de fumaça — alimentada pelo presidente Bolsonaro, seus eleitores e as Forças Armadas. Faz parte da estratégia eleitoral do candidato à reeleição colocar em xeque o sistema que o levou ao Planalto.

Tão grave quanto o diversionismo utilizado para questionar a lisura do processo eleitoral, é o deserto de propostas para enfrentar os imensos problemas que aguardam o próximo presidente em 2023. Inflação de dois dígitos, taxa básica de juros em igual patamar, contas públicas em estado lastimável e pobreza a níveis assustadores formam o cenário dificílimo para o próximo inquilino do Planalto, seja ele quem for.

Os dois candidatos com mais chance de chefiar o Executivo pouco ou nada dizem para tratar dessas questões. Enquanto o ex-presidente Lula recorre à nostalgia de seus governos anteriores para prometer um futuro promissor — sem dizer de maneira clara, por exemplo, o que pretende fazer da economia brasileira em 2023 —, Bolsonaro aposta na escalada do confronto, quando o país precisa de pacificação. Com a Terceira Via em estado de inanição, o país segue perigosamente para a curva da incerteza.

Fico

O vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcelo Ramos (PSD-AM), se preparou para a contra-ofensiva do Planalto ao movimento da bancada amazonense em favor da Zona Franca de Manaus. Ramos recorreu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e o ministro Alexandre de Moraes concedeu liminar que permite ao vice-presidente continuar membro da Mesa Diretora. Cabe recurso à decisão.

Piauí e Ceará em disputa
Uma disputa territorial envolvendo o Piauí e o Ceará por uma área fronteiriça de 2,8 mil km² pode alterar o mapa dos estados. O litígio corre no Supremo Tribunal Federal (STF) desde 2011, quando a Procuradoria Geral do Estado do Piauí reivindicou áreas situadas na divisa entre os entes federados equivalente a treze municípios cearenses. Na última semana, a governadora do Ceará, Izolda Cela (PDT), disse que vai pessoalmente “defender o Ceará” na Corte.

Desde o Império
A atual divisa entre os dois estados foi traçada em 22 de outubro de 1880, por Decreto Imperial. Em 1920, Piauí e Ceará permitiram ao governo federal fazer uma revisão cartográfica, mas isso não ocorreu. Desde então, áreas conhecidas como Cerapió e Piocerá, localizadas na Serra da Ibiapaba, permaneceram sob disputa.

Elas no Senado
No próximo dia 30, o Senado promove o Seminário Mais Mulheres na Política, a fim de discutir os desafios que impedem a valorização do gênero feminino. Elas formam a maioria do eleitorado, mas estão longe de ter representatividade nos círculos do poder. Segundo a mais recente atualização do TSE, o Brasil conta com 149.836.269 eleitores, sendo 79.224.596 mulheres e outros 78.444.900 homens.

Do TST ao Planalto
O presidente Jair Bolsonaro recebeu ontem os quatro últimos ministros indicados para ocupar uma cadeira no Tribunal Superior Eleitoral. O presidente da Corte, Emmanoel Pereira, conduziu o quarteto, formado pela ministra Morgana de Almeida Richa e pelos ministros Alberto Bastos Balazeiro, Amaury Rodrigues Pinto Junior e Sérgio Pinto Martins.

Mais um
Bolsonaro já nomeou cinco integrantes da Corte trabalhista. Pode indicar mais um, com a aposentadoria do ministro Renato Lacerda, em setembro.

Bolsonaro citará escândalos de corrupção contra Lula

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Os estrategistas do presidente Jair Bolsonaro (PL) não pretendem mudar o discurso adotado até agora em relação à inflação, mas focará no cenário que cada presidente enfrentou. Os bolsonaristas ensaiam um discurso de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em seu primeiro mandato, pegou céu de brigadeiro na economia e poderia ter feito mais, mas não fez por causa dos malfeitos, a começar pelo mensalão.

Quanto ao quadro atual, de preços elevadíssimos dos alimentos, gás de cozinha e gasolina, o atual governo manterá o discurso de que a pandemia derrubou mercados e economia no mundo todo — e que Bolsonaro fez o que estava ao seu alcance, como o auxílio emergencial e as mudanças posteriores no Bolsa Família, que resultaram no programa Auxílio Brasil. Vai sobrar também para os governadores que adotaram o lockdown, quando os casos de covid-19 estavam num patamar elevadíssimo.

O comportamento das empresas com aumentos considerados abusivos também serão objeto do discurso bolsonarista. Daqui para frente, o presidente aproveitará as lives para reclamar dos preços dos combustíveis e fazer apelos à Petrobras, com um lucro líquido de R$ 44,5 bilhões, para que não promova aumentos, além de reforçar que “não pode intervir” na estatal.

Esse reforço da não-intervenção, aliás, agrada ao mercado e, entre os estrategistas do presidente, há quem diga que atrairá votos. Falta combinar com o eleitor que está pagando tudo mais caro.

Lula terá conselho de comunicação

Depois das derrapadas do ex-presidente no quesito comunicação, o PT montará um conselho para gerir essa seara da campanha. A equipe de comunicação da campanha terá que ter sincronia com a Secretaria de Comunicação do PT, comandada por Jilmar Tatto. Daí, a ideia de fazer um conselho com Edinho Silva, Rui Falcão, Tatto e profissionais de comunicação e marketing já contratados.

Separados
Em breve, Geraldo Alckmin começará a ter uma agenda própria de campanha, voltada ao eleitorado de centro. Especialmente, no interior de São Paulo, onde o ex-governador tem peso.

Por falar em Alckmin…
Nas redes sociais, os bolsonaristas massificam as declarações antigas de Alckmin criticando Lula. Os petistas acreditam que é melhor ser agora porque, quando chegar mais perto da eleição, esse material estará velho.

E o Doria, hein?
Esqueçam a proposta de colocar o ex-governador de São Paulo João Doria como candidato a vice numa chapa encabeçada por Simone Tebet (MDB-MS). Ele acredita que pode virar o jogo, da mesma forma que fez em São Paulo, nas duas eleições que disputou. Começou na casa dos 6% e venceu.

Na pista/ O ex-ministro Sergio Moro continua com uma agenda de pré-candidato a presidente da República como se nada tivesse acontecido. Hoje, por exemplo, tem um “debate para o futuro do Brasil” na Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham), em São Paulo, a partir das 9h30, com transmissão on-line.

Vai que…/ Aliados de Moro ainda têm esperança de que o União Brasil o coloque na vitrine.

… no futuro emplaca/ Esses mesmos aliados acreditam que Moro tem tudo para repetir Bolsonaro, que começou, em 2014, sua pré-campanha eleitoral de 2018 com andanças pelo país. Na época, a maioria dos profissionais da política não levava os movimentos do atual presidente a sério. Tal como fazem com Moro agora.

Vale emoldurar/ “Onde imprensa não é livre, Constituição é mera folha de papel” — do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux.

Sonho de uma candidatura única na terceira via acabou

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Esqueçam a união entre os partidos que deflagraram conversas para apresentarem uma candidatura única para tentar se contrapor à polarização da disputa presidencial entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula. O sonho do “juntos chegaremos lá” acabou. Simone Tebet, do MDB, tem dito que não será vice de ninguém e está com dificuldades internas. O PSDB não abrirá mão da candidatura do ex-governador de São Paulo João Doria e, internamente, não se descarta uma chapa com a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) no papel de vice. O União Brasil abandonou as conversas.

Logo, o 18 de maio, quando os partidos deveriam selar a coligação, será o momento de separação. Casamento, nesta data definida pelas legendas, só mesmo o de Lula com Janja, que terá Geraldo e Lu Alckmin como padrinhos.

Reclamação geral

A base aliada está indócil com a demora do governo em liberar as emendas de relator, as tais RP9. Se não sair até junho, só depois da eleição.

O que eles suspeitam
Tem muito parlamentar desconfiado de que é esse mesmo o objetivo do governo: amarrar toda a turma do Centrão à campanha de reeleição de Jair Bolsonaro (PL) e, passado o pleito, quem foi fiel terá sua cota. Os assessores do presidente, porém, pedem calma aos políticos e garantem que o dinheiro vai sair.

O que anima João Doria
As leituras aprofundadas das pesquisas de intenção de voto feitas pelo PSDB indicam que a eleição está em aberto. Aliados do tucano garantem que a decisão real do eleitor só se dá a três semanas do pleito. Ou seja, ainda tem muito terreno pela frente.

Por falar em terreno…
Nos bastidores da posse da diretoria da Anfavea, pela primeira vez em Brasília, a avaliação é de que ainda é cedo para definições em torno de qualquer candidatura à Presidência da República. O que o setor deseja mesmo é mostrar que é indispensável a manutenção de empregos no Brasil.

Melhor de três/ Em setembro do ano passado, falava-se em 10 nomes para a chamada terceira via: o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG); o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (União Brasil); o empresário Luciano Huck; o jornalista José Luiz Datena; o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE); a senadora Simone Tebet (MDB-MS); o ex-ministro Ciro Gomes (PDT); e os ex-governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS), ambos do PSDB. A seis meses do pleito, sobraram Tebet, Doria e Ciro.

Nome promissor/ O discurso de Rodrigo Pacheco, na solenidade de posse da diretoria da Anfavea, foi aplaudido diversas vezes. Alguns dirigentes de montadoras sentados nas fileiras mais atrás diziam para quem quisesse ouvir: “Esse seria o meu candidato”. Pacheco, porém, desistiu da empreitada.

O papel de Moro/ O ex-juiz Sergio Moro, que está praticamente fora do páreo presidencial, definiu a defesa da Operação Lava-Jato como a sua missão nesta quadra política. Por isso, não está descartado que seja candidato a um mandato eletivo para o Congresso.

E a capa da Time, hein?/ Os petistas e aliados vibraram com a capa da revista norte-americana e a entrevista de Lula. Mas no corpo diplomático que serve em Brasília, a fala do ex-presidente sobre a guerra da Ucrânia e o papel da ONU deixou a desejar. Sinal de que o PT terá que trabalhar melhor o que apresentará em termos de política externa. Entre os petistas, porém, a avaliação é a de que esse tema não será tão crucial, e qualquer coisa que o partido fizer será melhor do que a diplomacia de Bolsonaro.

Lula contrata crise com o parlamento ao rechaçar semipresidencialismo

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Ao rechaçar a discussão do semipresidencialismo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) marca desde já um embate com os congressistas no ano que vem, caso seja eleito. O mundo mudou, a Câmara dos Deputados mudou. Hoje, graças às emendas impositivas — ou seja, de liberação obrigatória pelo governo —, tem muito mais independência do que 19 anos atrás, quando Lula foi eleito presidente pela primeira vez. Nos bastidores do Congresso, há quem diga que se Lula quer apoio, não vale começar apontando o que os parlamentares devem fazer ou debater.

Quem entende do andar da carruagem afirma que, antes de conversar sobre os temas em debate no Parlamento, há uma eleição no meio e que, passado o período eleitoral, será preciso um pacto sobre o Orçamento, condição preliminar para definir a agenda política do futuro. Ou seja, não dá para brigar com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), desde já.

Se o governo não retomar o controle de, pelo menos, parte dos investimentos, o Poder Executivo não terá capacidade de impor a sua pauta. Especialmente se vencer com um país dividido.

Caso à parte

Menos de 24 horas depois do encontro do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), com o Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, para tentar estabelecer a paz entre os Poderes e servir de ponte entre o Executivo e o Judiciário, a multa de R$ 405 mil que o ministro Alexandre de Moraes impôs a Daniel Silveira reaviva a exaltação dos ânimos. No Planalto, a reação à multa foi de palavrões e xingamentos. Moraes, porém, quer que o caso Daniel Silveira sirva de exemplo para mostrar que decisões judiciais precisam ser cumpridas.

Falem bem, falem mal…
… Mas falem de mim. Lula tem conseguido dominar a pauta da pré-campanha. Só tem um probleminha: em alguns casos, esse controle corre o risco de tirar mais votos do que agregar. O PT quer que ele concentre as falas em dois temas: economia (inflação) e ameaças à democracia. Fora isso, até aqui só deu confusão.

E a terceira via, hein?
Aos poucos, as candidaturas vão perdendo força. As apostas, hoje, indicam que restarão João Doria, pelo PSDB, e Ciro Gomes, pelo PDT. Simone Tebet está com dificuldades de segurar o MDB.

Enquanto isso, no PSD…
Gilberto Kassab não terá dificuldades em levar o partido a apoiar Lula, ainda que seja no segundo turno. A leitura de muitos por ali é de que alguns estados que querem o partido livre de coligação para presidente da República, se não houver uma candidatura própria, não descartam fechar com o petista — como deve acontecer no Rio e em São Paulo.

Paz relativa/ Ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que já acompanharam reuniões entre Alexandre de Moraes e o PT, com a presença do ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão, juram que os embates entre os dois ficaram no passado. O tempo dirá.

O corpo fala/ O semblante de Geraldo Alckmin, quando Lula defendeu os sindicatos ao receber o apoio do Solidariedade, foi lido por alguns dos presentes como de suma contrariedade. A impressão é a de que nem tudo são flores na aliança. Por enquanto, só impressão.

Encontro de gigantes I/ Os ministros aposentados do STF Marco Aurélio Mello e Nelson Jobim confirmaram presença como palestrantes no IV Encontro Nacional de Lideranças Empresariais, em 2 de agosto, no estádio Mané Garrincha.

Encontro de gigantes II/ O evento ocorre na largada da campanha eleitoral e reunirá 600 representantes dos principais setores da economia brasileira — indústria, bancos, fundos de pensão, inovação, ciência e tecnologia. Momento propício para discutir o Brasil.