VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)
Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
jornalistacircecunha@gmail.com
instagram.com/vistolidoeouvido
Do ponto de vista internacional, a Rússia comprou também uma guerra econômica ao decidir invadir a Ucrânia. As sanções contra aquele país não param de crescer, embora tenha quem afirme que Moscou não está nem aí para essas restrições e segue a vida. Do ponto de vista teatral, o governo russo faz o que pode para induzir o Ocidente a acreditar que sanções não irão parar a máquina de guerra de Putin. Na realidade, o que acontece, e pouca gente sabe, é que essa invasão a um país soberano levou as tropas russas e o próprio governo de encontro a um imenso atoleiro, nas traiçoeiras areias movediças da Ucrânia.
A credibilidade do país foi reduzida à metade. Rússia, hoje, vale-se da ajuda e da intermediação de países periféricos, formado, na sua grande maioria, por Estados não democráticos. Até agora, a saída buscada pelos russos é feita à moda pirata. Na contramão dos tratados, burlando a vigilância do Ocidente, numa posição até certo ponto vexatória para um país com a riqueza histórica e cultural que a Rússia sempre foi. Putin levou seu país para a marginalidade internacional. De quebra, conseguiu para si um mandato internacional onde o acusam de crimes de guerra.
Mas, longe do que se pode crê, a Rússia ou seu governo está longe da figura apresentada no filme: “O rato que ruge”, de 1959, com Peter Seller no papel do comandante do pequeno Grão-Ducado que declara guerra aos Estados Unidos, na esperança de receber ajuda financeira, após a derrota certa. Putin ruge à frente do arsenal atômico assustador. Por outro lado, o sistema financeiro russo, que poderia servir de ponte entre Moscou e o resto do Ocidente, há muito não goza de boa reputação das mais transparentes.
O sistema bancário russo, comandado também por Putin e exilado do sistema internacional de bancos, teria servido, segundo diversas investigações, para guardar dinheiro vindo da corrupção praticada por ditadores em várias partes do mundo, além do dinheiro vindo do tráfico de armas, drogas e pessoas. A afirmação de que o sistema bancário russo, sob influência direta de Vladimir Putin, foi utilizado para ocultar dinheiro oriundo de corrupção, tráfico de armas, drogas e pessoas por ditadores de vários países é coerente com dados concretos, investigações internacionais e relatórios financeiros.
Embora parte dessas operações ocorra no nível de oligarquias e bancos específicos, há fortes evidências de conivência, proteção estatal e utilização do sistema financeiro russo como canal de lavagem de dinheiro em escala global.
Um panorama factual, dividido em tópicos e com base em fontes diversas garante que documentos como Panama Papers, FinCEN Files, União Europeia, OCCRP (Organized Crime and Corruption Reporting Project) necessitam ainda, além das investigações jornalísticas, esclarecimentos mais profundos. Desde o início dos anos 2000, Putin construiu um sistema bancário centralizado, onde os bancos estatais e aliados passaram a controlar o grosso das transações financeiras. Entre os bancos mais usados para movimentações de origem duvidos estão: VTB Bank, Sberbank, Gazprombank e Rossiya Bank (conhecido como o “banco dos amigos de Putin”). Oligarcas ligados ao Kremlin têm papel-chave no controle indireto de fluxos financeiros e redes de lavagem de dinheiro. Diversos foram os escândalos nesse sistema bancário a começar pelo The Russian Laundromat (OCCRP, 2014); o sistema financeiro russo foi usado para lavar mais de US$ 20 bilhões entre 2010 e 2014. Fundos de origem criminosa eram enviados para bancos moldavos e letões, e, posteriormente, para bancos ocidentais (Deutsche Bank, HSBC, etc.). Nesse caso, o dinheiro vinha de subornos, tráfico de armas e evasão fiscal — com envolvimento de funcionários estatais russos e juízes coniventes.
Foram descobertos ainda os casos da Troika Laundromat (2019), com o sistema de lavagem de dinheiro operado por Troika Dialog, um banco de investimentos russo ligado a figuras do círculo de Putin. Cerca de US$ 4,8 bilhões foram movimentados por mais de 75.000 transferências ilegais. Esse caso envolvia políticos corruptos da África, Ásia Central e Europa Oriental, além de empresas de fachada registradas em paraísos fiscais.
Por fim, o caso rumoroso dos Panama Papers / Pandora Papers (ICIJ, 2016–2021), que revelou como aliados de Putin e ditadores estrangeiros usaram bancos russos para criar empresas offshore, movimentar propinas e esconder fortunas. Putin não foi nomeado diretamente, mas associado, como o violoncelista Sergei Roldugin, estavam ligados a contas com centenas de milhões de dólares. Ditadores de todo o mundo correram para depositar fartas somas de dinheiro da corrupção, no sistema bancário russo. A relação é grande. Não por outra o sistema financeiro russo foi isolado do restante do mundo.
Após a invasão da Ucrânia em 2022, o Ocidente impôs sanções sem precedentes: Desconexão do SWIFT para vários bancos russos; Congelamento de ativos internacionais de oligarcas; Proibição de transações em dólares/euros em grande escala entre outros procedimentos.
A frase que foi pronunciada:
“Enviar cabeças vazias para negociações apenas destrói o significado da diplomacia.”
Zelensky à Putin sobre as negociações em Istambul.
História de Brasília
Uma caravana de jornalistas de Brasília irá a Goiânia, nestes próximos dias, buscar a Carta Sindical da Associação Profissional, e o Delegado do Trabalho para que a carta seja assinada pelo Ministro Franco Montoro. (Publicada em 04.05.1962)