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Bolsa fecha a 97.926 pontos, menor patamar desde julho de 2022

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

 

O mercado financeiro sentiu o impacto do embate entre o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o Banco Central, que não cedeu às pressões do governo e manteve a taxa básica da economia (Selic) em 13,75% ao ano e ainda deixou a porta aberta para aumento de juros em vez de corte. A Bolsa de Valores de São Paulo (B3) oscilou bastante ao longo desta quarta-feira (23/3) e perdeu o patamar de 100 mil pontos pela primeira vez no ano.

 

O Índice Bovespa (IBovespa) fechou com queda 2,29%, a 97.926 pontos, menor valor desde 18 de julho de 2022, quando o índice fechou em 96.916 pontos.  “A última vez que o Ibovespa atingiu a marca abaixo de 100 mil pontos foi no dia 26 de julho de 2022 quando fechou em 99.772”, recordou Einar Rivero, head comercial do TradeMap.

 

Rivero lembrou que apenas 12 papeis das 88 ações que compõem a carteira do IBovespa fecharam no campo positivo. As ações da Embraer registraram a maior alta do dia, de 1,78%, e as da Magazine Luiza, a maior queda, de 13,37%.

 

Enquanto isso, o dólar voltou a subir e encerrou a sessão de hoje com alta de 1,01%, cotado a R$ 5,290, refletindo o aumento da percepção de risco fiscal e político no mercado doméstico. De acordo com analistas, o comunicado duro do Comitê de Política Monetária (Copom) de ontem, as críticas de autoridades  e de governista ao BC e pedido da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, para que o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, peça demissão ajudaram a colocar mais fogo na fervura dos mercados.  Não à toa, a Bolsa refletiu o aumento da temperatura nos campos econômico e político bateu vários pisos ao longo do dia, chegando a cair mais de 3% e a ficar abaixo do patamar de 97 mil pontos.

 

“O derretimento da Bolsa hoje, tem muito a ver com a decisão de ontem do Banco Central, de manter os juros em 13,75% ao ano. Ele ainda soltou um comunicado altista para os juros, na verdade. O mercado, de alguma maneira, esperava que o Copom fosse arrefecer um pouco o discurso, mas ele elevou o tom e sinalizou que os juros devem permanecer mais altos  por mais tempo.  Isso está derrubando a Bolsa,  principalmente setores sensíveis ligados a uma restrição maior do crédito, por exemplo, setor de varejo caiu bastante hoje, como, por exemplo, a Magazine Luiza”,  destacou Anand Kishore, gestor de renda variável da Daycoval Asset.  “Setores mais sensíveis aos juros estão caindo bastante depois do comunicado do Banco Central sinalizando que vai manter a Selic elevada por mais tempo”, acrescentou.

 

 

Tensões políticas 

 

Mas a tensão em Brasília não ficou apenas no campo econômico, no Congresso, o cabo de guerra pelo poder entre os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), em torno da tramitação das medidas provisórias que estão paradas, 29 ao ano, também ajudou a aumentar as incertezas sobre a capacidade do novo governo em conseguir fazer com que pautas importantes para o país caminhem a passos largos e a contento no Legislativo.

 

O aumento da insegurança em meio ao movimento contínuo de alta de juros em países desenvolvidos, como Estados Unidos, Inglaterra e União Europeia, fazem com que investidores estrangeiros deixem de olhar com muito afinco para países emergentes, especialmente aqueles cujos governos não conseguem um consenso para desenhar um arcabouço fiscal. A dificuldade do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em apresentar logo a nova âncora fiscal ficou clara após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) postergar o anúncio para abril, que o chefe da equipe econômica vinha tentando antecipar para tentar transmitir algum senso de responsabilidade fiscal do novo governo ficou evidente.

 

Em meio aos rumores de atritos entre os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, os dois se reuniram rapidamente, na tarde de hoje, no gabinete do Ministério da Fazenda, e resolveram demonstrar um clima de amizade entre ambos e negaram qualquer conflito. 

 

“Olha só o sorriso dele e o meu aqui”, disse Rui Costa, ao lado de Haddad, aos jornalistas, na portaria do Bloco P da Esplanada, depois da reunião. Segundo ele, os dois atuam em conjunto para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dar certo. “Estamos trabalhando firme nessa parceria e, com certeza, vamos garantir emprego, renda e o que o Brasil melhore”, afirmou.

 

Descontraído ao lado de Costa, Haddad complementou o discurso amigável de Costa e contou que, na verdade, a visita de Rui partiu de uma reclamação dele. “Eu não tinha sido visitado ainda (pelo ministro da Casa Civil). Agora eu fui visitado por ele, como todos os outros ministros. Obrigado, Rui”, acrescentou. 

 

De acordo com Haddad, ambos conversaram “sobre tudo”, inclusive, sobre a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, que manteve, ontem, a taxa básica da economia (Selic) em 13,75% ano.  “Temos muita coisa para falar. Falamos sobre o Copom, falamos sobre a solução da tramitação das medidas provisórias. Uma agenda longa, mas o projeto vai vingar, isso é que é importante”, complementou.