Ele não é aquele amigo que vai na casa da gente ou que chora as agruras da vida, embora ouça um bocado. Não se deve esperar dele um grande conselho ou nada que vá além do consolo, até porque ele está trabalhando enquanto você está curtindo alegria ou fossa. Também não é o chapa que empresta dinheiro ou capaz de […]
Nem todo mundo sabe, mas Brasília – essa mesmo que completa 61 anos de vida – nasceu num botequim. Não podia dar errado. Ainda era madrugada no dia 19 de abril de 1956 quando o fundador assinou a Carta de Anápolis e a mensagem ao Congresso Nacional, apresentando o projeto de Lei para a mudança da capital. O cenário foi […]
A senhora chegou de repente, saiu do carro e esticou o pescoço, perscrutando o ambiente, obviamente a procura de alguém. Esperou mais um pouco sem falar com ninguém até que desistiu, entrou no carro e foi embora. Joãozinho, o atendente que também faz as vezes de fofoqueiro, disparou: – Salvo pelo gongo! Não estamos em Londres. Não há gongo, nem […]
Bares com as portas novamente abertas, o negócio agora é se adaptar ao horário. Para ver futebol, só se for campeonato europeu por causa do fuso horário, para ver os jornais da tevê, não se pode ir além dos programas vespertinos, regados a sangue; a opção é o velho papo. Mas não tem sido fácil. A turma vesperal dos botecos […]
Em outros tempos bicudos a música nos salvou. Compositores interpretavam a frustração das pessoas, transformada em canções que, de alguma forma, serviam de consolo ou mesmo desabafo. A repressão combatia por meio da censura oficial, mas havia alguma resistência, o que bastava para aplacar a angústia coletiva. Nos tempos do Estado Novo de Vargas, o samba era um inimigo tão […]
Risquem o nome de Casanova de seu caderno. O aventureiro veneziano, ex-padre que alegou ter seduzido mais de cem mulheres, incluindo casadas e freiras, está para ser banido da história, apesar de sua contribuição intelectual com Voltaire e Mozart, entre outros. Don Juan, libertino e sedutor personagem criado por Tirso de Molina, também está com os dias contados, assim como […]
O inferno são os outros, decretou Jean-Paul Sartre. É uma angústia que vem na mesma proporção da liberdade que os seres humanos têm de decidir sobre a própria vida, quase que na forma de uma condenação. Talvez isso explique – ou provavelmente não – o desprezo pela própria existência demonstrada por pessoas que se recusam a se proteger da covid-19. […]
Hoje é fácil amar Brasília. A cidade está pronta, bem cuidada – mesmo que viadutos despenquem na cabeça da gente, como aconteceu há quatro anos – e se transformou numa metrópole, com tudo de bom e de ruim que vem com o progresso. Esses dias estamos privados de nossos botecos, o que entristece bastante a cidade, mas a vida pulsa. […]
Engana-se quem pensa que os botecos são terra de ninguém. Mesmo o muquifo mais soez preserva a autoridade ditatorial do proprietário, quase sempre um sujeito – ou sujeita – de maus bofes, cara fechada e resmungão. As normas estão nas feições do dono, mas algumas estão escritas pelas paredes dos ambientes, caso clássico do “fiado, só amanhã”. Ultimamente tem aparecido […]
Quando um bar fecha as portas a cidade morre um pouco. É nos bares que a comunidade pulsa, que os humores se apresentam e as paixões afloram. Há poucos lugares tão democráticos; com o fechamento de um bar o cidadão perde sua embaixada, seu púlpito, espaço de reivindicação, protesto, lamento, desabafo. Como dizia o sábio Tetê Catalão, pode não mudar […]