Autor: Denise Rothenburg
De Eduardo Bolsonaro, sobre a ameaça de aliados de Renan Calheiros, de levar o senador eleito Flávio Bolsonaro ao Conselho de Ética da Casa, por causa da movimentação financeira do ex-Assessor Fabricio Queiroz, relatada pelo Coaf como atípica: “Vai ser meio estranho, né? Flávio estar no Conselho de Ética e o Renan, não”.
Para aliados de Bolsonaro, Coaf vazou relatório para barrar mudanças
Entre os aliados do presidente eleito, Jair Bolsonaro, tem muita gente certa de que o relatório do Conselho de Administração Financeira (Coaf) vazou justamente para evitar que o futuro governo cumpra a promessa de mudar tudo por ali. Vale lembrar que, nos governos Dilma Rousseff e Michel Temer, todas as vezes em que se cogitava trocar o diretor-geral da Polícia Federal, logo a oposição reclamava que a intenção era estancar a Lava-Jato. O Coaf tem essas informações há tempos e, na transição, pergunta-se por que surgiu só agora.
A resposta de aliados de Bolsonaro é de que o Coaf se prepara para repetir o mesmo discurso usado na PF no passado, o de que qualquer mudança será para acobertar a movimentação de pessoas próximas ao governo eleito. Só tem um probleminha: o ex-juiz Sérgio Moro não chegou ali para acobertar ninguém. Doa em quem doer, ele fará o trabalho dele.
O prazo das redes sociais I
A equipe de transição já foi avisada de que o futuro governo terá um prazo de 90 dias para a população sentir alguma mudança mais efetiva no trato da política e no ambiente econômico.
O prazo das redes sociais II
Três meses é, segundo especialistas, o máximo de trégua que o pessoal das redes sociais, em que Bolsonaro lastrou a sua campanha, se permite, antes de perder a paciência. No mundo analógico, esse prazo vai de seis meses a um ano.
Barrados no baile
Quem circula pelo Congresso sai com a sensação de que o ambiente ali não está bom. E nem é por causa da deprê de muitos que não foram reeleitos. É de que prevalece o sentimento de exclusão do novo governo.
Número errado
A conversa da deputada eleita Joice Hasselmann (PSL-SP) com o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) afastou o senador eleito Major Olímpio (PSL-SP). Olímpio não quer nada que seja articulado por Joice. Em conversas reservadas, há quem diga que ela foi prometer a Tasso um voto que não pode garantir.
CURTIDAS
Parcerias/ A escolha do governador eleito como interventor em Roraima foi considerado um gol de placa do presidente Michel Temer. Há quem sugira mudar logo o decreto de intervenção no Rio de Janeiro, para garantir logo a posse do futuro governador, Wilson Witzel.
Final feliz para a Funai/ Quem conversa com a futura ministra de Direitos Humanos, Damares Alves, se impressiona com o conhecimento dela a respeito da questão… indígena. Sim. Ela adorou ter recebido a Funai em seu ministério. O presidente eleito, Jair Bolsonaro, conseguiu resolver o imbróglio, sem melindrar nenhum ministro.
#Ficaadica/ Quem for trabalhar com o ministro Sérgio Moro é bom aproveitar esses dias natalinos para descansar. O expediente ali começa cedo e vara a noite.
Presença/ A posse do ministro José Múcio na Presidência do Tribunal de Contas da União (TCU) promete reunir a nata da política nacional nesta terça-feira e de todos os partidos. Aliás, ele é visto como o único que conseguiu passar pelo Ministério de Relações Institucionais sem gerar atrito com nenhuma legenda.
Senadores já fizeram as contas e concluíram que a Casa será um ponto de preocupação para o futuro governo. Ali, Jair Bolsonaro não terá maioria. As contas indicam, pelo menos, 39 independentes, 24 de tendência mais oposicionista e apenas 18 mais afinados com o governo. No quesito “pau para toda obra” só mesmo os quatro do PSL.
As dificuldades do governo no Senado, ao que tudo indica, não serão resolvidas pelo esquema tático em gestação na Casa Civil, onde só há ex-deputados. A esperança, comentam alguns muito atentos à formação da área política do governo, está na Secretaria de Governo, onde o general Santos Cruz deverá construir a ponte com o Senado.
Até aqui, entretanto, nada foi feito. E, sem essa interlocução, os adversários e independentes vão organizando o jogo longe do Poder Executivo. Vale lembrar que foi ali, entre os senadores, que o governo Lula, em 13 de dezembro de 2007, perdeu a CPMF, o imposto do cheque.
A novela Coaf está só começando
A movimentação financeira de Fabrício de Queiroz, ex-assessor do senador eleito Flávio Bolsonaro, é vista na transição como o maior ponto de desgaste que o presidente eleito enfrenta antes da posse. Se vai estancar ou não, depende das explicações do ex-assessor, que, até agora, não deu entrevistas.
Fio da meada
Uma das linhas de investigação sobre a movimentação de depósitos na conta de Fabrício Queiroz se refere a descontos nos salários dos servidores. Até aqui, entretanto, nada está provado. A única explicação, aliás, quem deu foi o presidente eleito, que mencionou um empréstimo a Queiroz, no valor de R$ 40 mil, que o ex-assessor do filho pagou em parcelas.
Visões dos fatos
O vazamento do relatório, aliás, foi lido por alguns mais próximos do presidente eleito como uma retaliação pelo fato de Bolsonaro ter dito que mudaria tudo por ali.
Chá de camomila nele
A irritação de Onyx Lorenzoni ontem, em São Paulo, durante entrevista que encerrou depois de discutir com um repórter, causou certa preocupação a alguns integrantes da transição. Já tem gente dizendo que, ou Onyx desliga o modo bélico, ou vai
ficar difícil.
CURTIDAS
Pregação no deserto/ O fato de o PSL ter nomeado um porta-voz não vai apaziguar a bancada. Há quem diga que, depois do “barraco” no WhatsApp, o partido vai ficar “pequeno demais” para Joice Hasselmann e Eduardo Bolsonaro. Já tem gente apostando que Joice seguirá para o PSDB, se o governador eleito de São Paulo, João Dória, conseguir dominar o partido.
WhatsApp e Tancredo Neves/ Depois do “barraco” no grupo do PSL entre Joice e Eduardo Bolsonaro, os mais experientes recorrem a Tancredo Neves para aconselhar mais parcimônia no uso das palavras na rede social. Dizia Tancredo: “Telefone serve no máximo para marcar encontro. De preferência no lugar errado”.
O jovem Alckmin/ O presidente do PSDB, Geraldo Alckmin (foto), gasta a maior parte do tempo, hoje, preparando-se para voltar a dar aulas na área de anestesiologia. Também pretende se dedicar à acupuntura. Dizem que parece um adolescente entrando para a faculdade.
O velho Alckmin/ Aficcionado pelo cafezinho na padaria, ele tem repetido o ritual diariamente em São Paulo, até mesmo nos postos de gasolina. Não são poucas as pessoas que param para falar com ele. Já tem gente apostando que o ex-governador não vai largar a política.
Grupo de oposição a Renan Calheiros na presidência do Senado fica dividido
O grupo de 12 senadores que se reuniu, há duas semanas, para traçar uma candidatura alternativa ao MDB do senador Renan Calheiros começa a minguar. No jantar mais recente, foram apenas sete. Nem todos fechados com o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). Alguns consideram que não será surpresa, por exemplo, se a senadora Kátia Abreu (PDT-TO), como já disse a coluna há alguns dias, manifestar preferência por Renan. Ex-ministra de Dilma Rousseff, Kátia não esquece que Renan trabalhou e votou para que a ex-presidente mantivesse os direitos políticos, quando da votação do processo de impeachment.
Meio Ambiente vira isca tucana
O presidente eleito começa a olhar com mais atenção para o PSDB. Para atrair tucanos, fez chegar aos ouvidos de alguns deles que planeja nomear
o ex-secretário do Meio Ambiente de São Paulo Ricardo Salles para o último ministério a
ser anunciado.
PSL queima a largada
O governo nem começou, e o PSL, partido do presidente eleito, Jair Bolsonaro, larga rachado e sob o signo da desconfiança interna e externa. Tudo por causa do vazamento do “barraco”, no grupo de WhatsApp do partido, entre os dois deputados mais votados da legenda, Eduardo Bolsonaro e Joice Hasselmann, divulgado, ontem à tarde, no site do jornal O Globo.
Ninguém ficou bem I
O teor dos diálogos esfarela o discurso de que Bolsonaro não pretendia influir na escolha do futuro presidente da Câmara. A turma do DEM, ligada ao atual comandante da Casa, Rodrigo Maia, está uma arara. Tudo porque, em resposta a Joice, Eduardo diz que, por ordem do pai, trabalha nos bastidores para interferir na escolha do futuro presidente da Câmara e afirma que faz tudo na surdina para não irritar Rodrigo.
Ninguém ficou bem II
A conversa deixou o PSL em pé de guerra, num clima de desconfiança interna. Estão todos se perguntando quem vazou o “barraco”. E as apostas são as de que, se Joice continuar nessa queda de braço com Eduardo, terminará isolada na bancada e no parlamento.
Incertezas na economia
Economistas do mercado estão cada vez mais sem entender exatamente qual será a verdadeira política econômica do futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, devido aos sinais trocados dele e do presidente eleito, Jair Bolsonaro. Além da reforma da Previdência, que Guedes pretendia mandar de uma vez, e Bolsonaro menciona o fatiamento, fala-se ainda no resgate da CPMF. O imposto do cheque cresce na mesa de apostas dos especialistas após a confirmação de Marcos Cintra na equipe econômica. Bolsonaro, entretanto, repete diuturnamente que não terá novo imposto.
O que une Moro e Lula/ O futuro ministro da Justiça, Sérgio Moro, divide uma paixão com o ex-presidente Lula. Ambos são loucos por fettuccine a carbonara. Lula costumava preparar essa delícia da culinária italiana para os petistas. Moro, idem.
O que une Moro a Lula/ Em Brasília, o ex-juiz costuma frequentar os restaurantes italianos e não perde a oportunidade de degustar um bom carbonara.
A força da esposa/ Há quem diga que a futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro, tem tido peso na escolha de alguns ministros, como a pastora Damares para ministra da Família e Direitos Humanos.
Por falar em Direitos Humanos…/ Em tempos de questionamento dos valores humanitários, a Esplanada foi tomada por enormes painéis afixados no alto de seus prédios, com cada um dos 30 artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que completa 70 anos em 10 de dezembro. De todos os pontos da larga avenida, pode-se avistar os princípios que reafirmam as condições da dignidade humana.
Colaboraram Leonardo Cavalcanti, Liana Sabo e Rosana Hessel
Em reuniões com partidos, Bolsonaro tenta evitar isolamento do PSL na Câmara
As reuniões do presidente eleito, Jair Bolsonaro, com partidos, nesta semana, foram vistas como um movimento que vai muito além da simples discussão das reformas. Ele passou a trabalhar para tentar conter a articulação anunciada pela coluna em 17 de outubro, que busca criar um terceiro polo na correlação de forças da Câmara, isolando as duas grandes legendas: PSL e PT.
A formação de um bloco com partidos de centro-direita e esquerda ganhou corpo, nesta semana, com reuniões que atraíram PP, PRB e PSD a discussões travadas desde outubro por legendas como PDT, PPS, PSB, PCdoB, DEM, PHS, MDB, PTB e Solidariedade. Se a ideia do bloco vingar, o sonho do PSL de conquistar presidências das comissões técnicas vai para o espaço. E é justamente para buscar aproximação com as legendas que Bolsonaro deflagrou essas reuniões. Até fevereiro, quando serão escolhidos os futuros comandantes da Câmara, outros movimentos virão.
Balança para ver se derruba
A onda de desgaste pela qual atravessa Onyx Lorenzoni vai se formar em breve em torno do futuro ministro da Economia, Paulo Guedes. Pelo menos é o que se comenta no fundo do plenário da Câmara.
O tempo é de esperar…
… para colher. Nos bastidores das reuniões partidárias prevalece a antiga fórmula de que, para apoiar um governo, o deputado gosta de se sentir “parte”, ou seja, indicar cargos. As excelências parecem não entender que Jair Bolsonaro foi eleito para fazer diferente e consideram que dá para esperar o momento certo para apresentar as faturas.
O medo dos temeristas
Aliados de Michel Temer têm sido unânimes em afirmar que, se não for respeitado o que chamam de “devido processo legal’, há o risco de o presidente ter o mesmo destino do ex-presidente Lula, quando deixar o cargo.
Pau pra toda obra
Até aqui, o único partido que anunciou apoio formal ao futuro governo foi o PR, liderado por José Rocha (BA). Os demais estão na linha de independência. A amigos, Rocha tem dito que o PR é o único que tem “coragem”.
Irmão é parente I/ O fato de o diretor da Empresa de Planejamento e Logística Maurício Malta, irmão do senador Magno Malta, ter trocado o trabalho na equipe de transição por uma viagem à Europa custeada pelos cofres da empresa foi mais um motivo para que o parlamentar ficasse longe do primeiro escalão.
Irmão é parente II/ A viagem de Maurício veio a público, ontem à tarde, em reportagem de Patrick Camporez, no site do jornal O Globo. A turma da transição, para a qual Maurício está nomeado sem remuneração, já sabia da “excursão” à Itália e a Portugal desde novembro. A escolha do diretor da EPL foi vista como um descaso para com o trabalho da transição.
Férias sem barulho/ Assim que terminar o governo de Michel Temer, a secretária executiva do Ministério da Fazenda, Ana Paula Vescovi, vai passar 60 dias em Portugal, de “calça jeans, camiseta e tênis”, passeando com os filhos. O chefe direto dela, o ministro Eduardo Guardia (foto), vai para a praia, assim como o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun.
Humor não falta/ Ao receber prefeitos do Vale do Ribeira, o presidente Michel Temer brincou: “Aqui, o cafezinho não está frio nem a água está quente, podem beber”, brincou.
Colaboraram Hamilton Ferrari e Rosana Hessel
Governo Bolsonaro tentará aprovar Previdência em partes e terá delicada negociação com deputados
A decisão de fatiar a reforma da Previdência está tomada no governo de transição e, a julgar pelo primeiro contato direto do presidente eleito, Jair Bolsonaro, com as bancadas dos partidos, a relação será projeto a projeto. Bolsonaro disse aos deputados que não tem partido dono de ministério. E ouviu dos deputados que não tem “efeito manada nas bancadas” — quando o governo fecha um texto e manda os deputados filiados a partidos com cargos no governo apertarem o botão “sim” na hora de votar as propostas de interesse do Executivo.
A “independência” declarada da maioria dos partidos em relação ao governo levará o presidente eleito a negociar cada votação e a ter de manter um contato muito mais próximo com os parlamentares, a fim de evitar dissabores de última hora. Aliás, há quem diga dentro da transição que caberá aos filhos de Bolsonaro, deputado Eduardo e senador Flávio, o papel de prestar atenção no humor das bancadas na hora de cada votação. É um novo desenho, que nem os Bolsonaros sabem como funcionará. Só sabem que o modelo do toma lá dá cá está falido.
O caldo do Judiciário
A vida do único poder que não se renova com eleição promete não ser fácil. Primeiro, a troca do fim do auxílio-moradia pelo reajuste. Depois, o Ministério Público reage, a favor desse auxílio. Ontem, foi a reação do ministro do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski de mandar prender o rapaz que o admoestou dentro do avião. O desgaste do poder está num crescente. E, ao que tudo indica, a deputada eleita Bia Kicis (PSL-DF), que ensaia um discurso de cobrança ao Judiciário, não estará sozinha.
A fila dos partidos
Depois do quarteto desta semana (MDB-PRB-PR-PSDB), Bolsonaro planeja conversar com o PSC, do Pastor Everaldo. A legenda deve ter um representante no Poder Executivo. Samuel Coelho de Oliveira, que preside a ala jovem do partido, está cotado para a Secretaria Nacional de Juventude.
Só os índios, por favor
Bolsonaro inverteu totalmente a relação com os partidos. Até aqui, tucanos e petistas conversavam com presidentes e líderes, deixando a massa de deputados para um convescote no Alvorada. O presidente eleito quer evitar o contato direto com caciques partidários. Romero Jucá e Valdemar Costa Neto nem pensar.
Contagem regressiva
A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal tem só mais uma reunião este ano. Significa que, pelo andar do trenó na Corte, Lula pode se preparar para passar o Natal na sede da Polícia Federal, em Curitiba.
CB.Poder
Hoje, o programa recebe o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, ao vivo, às 13h15, na TV Brasília e nas redes sociais do Correio Braziliense.
Sinais/ O presidente eleito, Jair Bolsonaro, cumprimentou o vice-presidente da Câmara dos Deputados, Fábio Ramalho, do MDB-MG, chamando-o de “meu presidente”. Em política, todo gesto vai além de um simples movimento. Houve quem saísse da reunião certo de que Bolsonaro prefere Ramalho na disputa de 2019.
Comes & bebes/ Fabinho Liderança, como o vice-presidente é conhecido entre os colegas, levou pé de moleque e dois queijos para o presidente eleito: um parmesão artesanal do Sul de Minas e outra variedade típica da Serra da Canastra.
E o Moro, hein?/ O futuro ministro da Justiça, Sérgio Moro, dispensou a camisa preta que costumava usar. Agora, só tem usado camisa de cor clara. Há quem jure que a mudança é para que as más línguas não o vinculem aos “camisas negras” da Itália, indumentária que marcou o grupo ligado ao fascismo de Benito Mussolini.
Por falar em Moro…/ O futuro ministro anda tão desconfiado das pessoas que todas as vezes em que vai falar ao celular chega a colocar o aparelho de um jeito que quem está ao seu lado não possa ver com quem ele está falando ou o que escreve. Na Espanha, chegou a passar a alguns a impressão de que o sempre elegante, educadíssimo e preparado embaixador Pompeu Andreucci estava de olho no seu celular. Pompeu jamais faria isso. Moro é que está desconfiado até da própria sombra. Não perdeu alguns tiques dos tempos de juiz da Lava-Jato.
STF tem de parar de atravessar a Praça dos Três Poderes para legislar, diz Bia Kicis
A depender do que disse a deputada Bia Kicis, ontem, em palestra no Sindilegis, o Poder Judiciário deve se preparar para ser mais cobrado daqui para frente. “O povo renovou o Executivo, o Legislativo, mas não o Judiciário. O Supremo Tribunal Federal tem de parar de atravessar a Praça dos Três Poderes para legislar. Esse papel é do Legislativo”, disse ela, num recado direto a todos os ministros que, provocados, muitas vezes, adotam decisões monocráticas. Enquanto ex-procuradora, Bia Kicis sabe muito bem do que está falando.
O que eles querem
Parlamentares do Centrão sonham em ouvir do presidente eleito, Jair Bolsonaro, que há perspectiva de abertura dos cargos de segundo escalão para indicações políticas. Tem gente, inclusive, ensaiando dizer que, quando um deputado não se sente participando do governo, não se sente “motivado” para votar as reformas. Parece chantagem. E é.
Põe aí seis meses
Talvez, até mais. Esse é o prazo mínimo que os especialistas em gestão pública apontam para que as mudanças de estrutura do governo passem a funcionar. Ou seja, que ninguém espere muitos resultados na ponta da administração pública no período inicial do governo.
Presente de grego
Conforme antecipou a coluna Brasília-DF no fim de semana, Sérgio Moro não vai ficar com a Funai. O problema é que a futura ministra da Agricultura, Tereza Cristina, também está preocupada com a perspectiva de receber a Fundação em sua pasta. Ministros da Justiça sempre reclamaram que caciques chegam ao ministério e vão entrando, sem marcar audiência.
Opostos se atraem
A bancada do agronegócio, da qual Tereza Cristina faz parte, já teve embates homéricos com as comunidades indígenas no Congresso. Agora, essa tensão vai se transferir para sua porta.
Haja energia
O receio de aliados da ministra é de que ela termine sugada pelos conflitos indígenas e não consiga se concentrar nas demandas do agronegócio e da promoção das exportações brasileiras nesse setor.
O esquenta das damas I/ O encontro Café com Política, ontem, no Sindilegis, foi uma demonstração do que promete vir por aí no ano que vem, quando as deputadas Bia Kicis (PSL-DF) e Érika Kokay (PT-DF) estiverem no plenário.
O esquenta das damas II/ Aliada de primeira hora de Jair Bolsonaro, Bia lembrou os movimentos passados pelo impeachment e pela prisão de Lula e defendeu o projeto Escola sem Partido. Érika, por sua vez, foi direta ao se referir ao futuro governo como “faces do fascismo” e repetiu várias vezes que “não há provas” contra Lula.
O esquenta das damas III/ Érika Kokay, por sinal, não aplaudiu a fala da adversária. E Bia nem esperou para ouvir Érika criticar o futuro governo.
Incomodado/ Sempre elegante e cortês, o embaixador do Brasil na Espanha, Pompeu Andreucci (foto), fez questão de acompanhar de perto o futuro ministro da Justiça, Sérgio Moro, durante palestra na Fundação Internacional pela Liberdade. Moro, entretanto, não estava muito para conversa. Chegou a virar o celular para poder trocar mensagens de WhatsApp antes da sua palestra.
No papel de ministro da Justiça, Sérgio Moro dispensou a Fundação Nacional do Índio, conforme antecipou no fim de semana a coluna Brasília-DF. Assim, vai sobrar para a futura ministra da Agricultura, Tereza Cristina, abrigar o Fundação na Agricultura. A amigos, durante jantar na última quinta-feira, a ministra confidenciou que está preocupada. O agronegócio e as comunidades indígenas já tiveram duros embates no Congresso. Agora, vão todos protestar na sua porta.
Advogados europeus do vice-presidente da Guine Equatorial, Teodoro Obiang, desembarcam nesta terça-feira no Brasil para reunião com o a advogado Edgard Leite, defensor da Andrade Gutierrez e irmão de Eduardo Leite, ex vice – presidente da Camargo Correa, investigado pela Lava Jato e condenado pelo Juiz Sergio Moro. Leite terá a missão de liberar a fortuna em dólares e relógios do ditador apreendida pela Policia Federal em 14 de setembro.
Naqueles dias, faltando menos de 20 dias para a eleição, a comitiva procedente de Malabo, capital da Guiné Equatorial, tentou desembarcar sem passar pela inspeção. Justificou que as malas de Obiang estavam protegidas pela convenção de Viena e, por isso, deveriam ter o tratamento de bagagem diplomática. Foram mais de 4 horas de negociação, até que os fiscais conseguiram abrir as malas e encontraram US$ 1,4 milhão, além de 20 relógios cravejados de diamantes. O material apreendido foi avaliado em US$ 15 milhões. A briga jurídica para reaver essa fortuna está apenas começando.
Moro promete agir “contra a corrupção e jamais contra a democracia”
Em palestra hoje na Espanha, o futuro ministro da Justiça, Sérgio Moro, vislumbra para os próximos anos uma mudança significativa nos padrões de prevenção à corrupção no país. Realmente é necessário um endurecimento contra a grande corrupção, o crime organizado e o crime violento, mas jamais contra as liberdades democráticas. É um governo compromissado com as instituições e a democracia”, diz ele, explicando por que aceitou o cargo como um desafio para avançar nessa agenda de combate à corrução. “Não vislumbro um risco de autoritarismo ou à democracia. Não se está aqui simplesmente trocando uma posição ideológica autoritária por outra de sentido contrário. O próprio presidente eleito reiteradamente fez declarações com o seu compromisso com a democracia e com o estado de direito. Quem falava era o seu oponente político, que falava em controle social do Judiciário e da imprensa. Mesmo sofrendo críticas acirradas da imprensa brasileira e internacional, o presidente sempre reafirmou sua posição com a liberdade de imprensa e que ela não seria afetada”.
Moro afirmou que foi justamente isso que o levou a aceitar o convite. “Tive essa compreensão dos compromissos institucionais e democráticos do presidente eleito e vi uma oportunidade de avançar a agenda anticorrupção no Brasil numa outra esfera de Poder. A corte de Justiça é condição necessária para vencer, mas não é uma posição suficiente. São necessárias reformas mais gerais. Isso não posso fazer como juiz, mas posso tentar dentro de uma posição no governo, no caso ministro da Justiça”, diz. “Jamais aceitaria uma posição no governo se vislumbrasse qualquer risco de discriminação de minorias. Pessoas, às vezes, fazem afirmações infelizes no passado, mas isso não se traduz em políticas concretas contra as minorias”, acrescenta ele, garantindo que não haverá retrocessos nessa agenda. Também reitera que não há risco de “captura ou controle” dos demais Poderes.
Moro fala sobre o impeachment de Dilma
Pela primeira vez, o juiz deu uma opinião mais incisiva a respeito do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff: “Segundo o Congresso, foram fraudes orçamentárias, mas na minha opinião, o real motivo foram os crimes havidos na Petrobras. Mas isso não poderia ser utilizado como motivo, porque o próprio presidente da Câmara estava envolvido”, disse ele, referindo-se ao ex-deputado Eduardo Cunha, que continua preso.
Ele falou ainda do atual governo, do presidente Michel Temer, como aquele que, também, “permaneceu inerte quanto à adoção de políticas públicas de combate à grande corrupção”, contrariando as expectativas de milhões de brasileiros que saíram às ruas. “A corrupção não pode ser enfrentada apenas pelos agentes da lei. Policiais, procuradores, juízes têm um papel importante. Mas é preciso que casos de grande corrupção sejam sucedidos por uma resposta institucional, no caso de provada a culpa, a responsabilização, não importando o corruptor ou o corrupto. Só o trabalho das cortes de Justiça não é suficiente. É necessário que o governo e o Congresso tomem atitudes para prevenir a grande corrupção. Não só para facilitar a punição dos culpados, mas para diminuir incentivos e oportunidades da prática da corrução”, afirma ele.
Moro considera que foi justamente a ausência dessa posição mais firme por parte das autoridades que gerou a grande frustração e levou à eleição de Jair Bolsonaro. “Foi o presidente eleito quem conseguiu melhor representar esses anseios da população quanto à mudança, quanto à insatisfação e à falta de apresentação de propostas e respostas da grande maioria dos políticos tradicionais, seja na direita, seja na esquerda.”
Moro falou em Madri, na Fundação Internacional pela Liberdade, instituição presidida por Mario Varas Llosa, que apresentou Moro como um juiz desconhecido que foi implacável no combate à corrupção no Brasil.